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Como tirar o máximo proveito dos restaurantes

ATENÇÃO: Este blog se mudou. O novo endereço é www.trasel.com.br/garfada

Entramos no terceiro ano deste blog e, pela segunda vez, não preparamos nada especial para o Natal. Ano passado rolou uma gambiarra com receitas já publicadas para compor uma ceia. E, claro, a famosa lista de livros de culinária para presentear seus entes queridos. Neste Natal, não deu nem para pensar em alguma enganação como essas. Então, aqui vai uma coluna escrita para um guia de restaurantes e bares de Campinas.

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A grande verdade é que, apesar de editar um blog sobre gastronomia, vou muito pouco a restaurantes. O principal motivo é a falta de paciência para aturar comida de má qualidade servida por lacaios incompetentes. Sou um cara muito, mas muito chato. Quando pago bom dinheiro num restaurante, tenho mania de pensar que mereço saborear um prato preparado na hora e não deveria desenvolver uma bursite toda vez que preciso chamar o garçom. Essas idiossincrasias restringem muito o número de estabelecimentos freqüentáveis. Depois de alguns anos, porém, consegui desenvolver algumas técnicas para não me incomodar.

  • Evite restaurantes famosos ou que ficam em setores badalados da cidade. Não adianta, os proprietários raramente conseguem resistir ao apelo do dinheiro e terminam por diminuir a qualidade. Você pode ser o melhor cozinheiro ou o garçom mais atencioso do mundo, mas jamais conseguirá dar conta de um fluxo de clientes maior do que a capacidade da casa, atulhados em mesas tão próximas umas das outras que volta e meia alguém põe seu garfo na boca do vizinho. Além disso, nesses locais o preço tende a incluir o valor dos aluguéis e impostos mais altos que em outras zonas da cidade. Uma saída é procurar algum restaurante pequeno numa rua lateral de um bairro badalado.

  • Menor é melhor. Essa dica tem duas abordagens. Primeiro, passe longe de restaurantes com mais de 30 ou 40 mesas, porque certamente vai enfrentar os mesmos problemas descritos acima. Segundo, levante e vá embora se o cardápio tiver mais de uma página para cada categoria de pratos (entradas, pratos principais etc.). Se o chef se propõe a preparar de tudo, é porque não gosta de nada ou faz concessões demais aos clientes.

  • Desconfie do garçom. Um bom profissional tenta compreender o desejo do cliente, mas a triste verdade é que em geral os garçons vão indicar um prato indiscutível, para não se arriscar a decepcionar, ou tentarão desovar algo com pouca saída e mais caro. A mesma regra serve para vinhos. Ainda assim, vale a pena perguntar ao serviçal do que o chef mais gosta no cardápio. Escolha esse prato. Se o garçom responder “de tudo”, desconsidere qualquer outra sugestão sua.

  • Peça o prato mais bizarro/difícil de preparar do cardápio. Sabe qual é a grande diferença entre a comida do restaurante e a de sua casa? É que eles só fazem cozinhar na vida. Podem se dar ao luxo de passar 12 horas fervendo ossos para fazer um caldo de carne que preste. Além disso, têm fornecedores para produtos raros como carnes de caça, frutas exóticas e vegetais inomináveis. Reconheça, você nunca vai ter paciência de descascar feijão fradinho para fazer aquele acarajé, nem de encomendar caldo de tucupi e camarão seco de Belém do Pará pelo correio para um tacacá. Deixe algum chef de cozinha se dar esse trabalho e coma sua carne de panela com batatas cozidas em casa, porque essa, sim, certamente será melhor que a do restaurante.

    É claro, essas regras devem ser quebradas quando as circunstâncias assim o exigirem. Nenhuma delas se aplica a estabelecimentos com três estrelas no Guia Michelin, por exemplo, mas servem para quando se está em uma cidade ou região em que não se conhece os restaurantes.

    Marcelo Träsel | 24.12.2007, 8:29 | Comentários (3)