Comentários sarcásticos, crítica vitriólica e jornalismo a golpes de martelo por Marcelo Träsel


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jornalismo vs. blogs 357 - a missão

A resposta abaixo, dada a uma estudante de jornalismo, pode ser usada por quem mais quiser perguntar sobre este tipo de assunto. É interessante também para quem nunca entrou em uma redação saber como se fazem o jornalismo e as salsichas.

Vc. é contra ou favor do Jornalismo Participativo [levando-se em conta que qualquer pessoa pode publicar noticias/ escrever matérias]? Pq? Quais as vantagens e desvantagens dos "repórteres-cidadãos"? Como vc encara essa nova prática?Como avalia a credibilidade das informações? Como acreditar na autenticidade/veracidade dos dados?E a imparcialidade/neutralidade/transparência dessas matérias. Por exemplo, em matérias de cunho político? Como podemos identificar os possíveis "erros de conduta"? Qual o seu prognóstico quanto ao futuro do "fazer jornalismo"? O jornalista ainda será necessário, a partir do momento em que todas as pessoas podem gerar notícias, com no Wikinews, OhmyNews e no Centro de Midia Sem Fronteira, por exemplo? Isto pode abalar o mercado de trabalho? Vc. considera o Blog um tipo de jornalismo participativo? Pq?

Não acho que seja questão de ser contra ou a favor. A Internet está aí para ficar e, assim como a troca de arquivos P2P, não há jeito de impedir o jornalismo participativo. Acho engraçado ver repórteres e comunicólogos que defendiam a democratização dos meios de comunicação há 20 anos reclamarem do jornalismo participativo. É exatamente o que eles pediam.

É preciso saber dividir as coisas. O jornalismo de massa feito por jornalistas não vai terminar. É uma exigência da democracia que existam veículos para cobrir a generalidade da vida social. Mas os repórteres cidadãos podem contribuir para aumentar a pluralidade de pontos de vista, hoje ainda restrita, deste jornalismo tradicional. Podem produzir matérias que tenham muito mais a ver com as necessidades de suas comunidades. Hoje em dia, o cidadão pode se informar sobre como anda a sociedade em um jornal comum. Depois, entra na internet e procura publicações do mundo inteiro [revistas online, rádios online, até televisão online, blogs, sites pessoais, etc.] que tenham a ver com seus interesses. Ou vai a uma banca e compra uma revista especializada. Uma coisa não exclui a outra.

Quanto à credibilidade: e como acreditar no que um jornalista formado escreve em um jornal cujo dono é um empresário, e não um jornalista? Repórteres formados também erram — e muito. Agem com má fé, ou simplesmente são preguiçosos. Tem gente boa e tem gente ruim, como em qualquer outro campo. Não vejo diferença entre um jornalista e um cidadão que, incomodado com algum problema, pegue sua câmera digital, seu bloco de notas e saia à rua para arranjar uma explicação. Talvez ele até faça melhor o trabalho, já que o faz por prazer, em geral, e não simplesmente para justificar o salário.

Quanto à imparcialidade:
1- Ela não existe. O repórter tem de ser honesto, e não imparcial. Ou alguém vai ser imparcial numa matéria sobre assassinato, por exemplo? Ou sobre corrupção no governo?
2- Existe algo aproximado à imparcialidade nos jornais de massa, na medida em que não se posicionam politicamente, aqui no Brasil. Quem quiser imparcialidade, pode ler um deles.

A Veja comete erros de conduta jornalísticos o tempo inteiro. O Estadão, a Folha de São Paulo, a Zero Hora, todos fingem imparcialidade, ou são parciais até de maneira inconsciente. Acho que nesse sentido os repórteres cidadãos são mais honestos, porque deixam explícito logo de cara qual é o posicionamento político. O leitor pode levantar seus filtros, a partir daí.

Com as novas tecnologias, finalmente se abrem grandes possibilidades para o jornalismo. Hoje, um repórter pode pegar sua câmera, seu notebook, montar um blog e transmitir notícias diretamente do local, sem um editor ou proprietário de jornal para encher o saco. Um sujeito que fez isso muito bem foi o autor do Back to Iraq. Levantou alguns milhares de dólares entre seus leitores com a promessa de ir para o Iraque e cobrir de forma independente a guerra. E conseguiu. Como a tecnologia fica cada vez mais compacta e simples de usar, enquanto a Internet se massifica, o futuro é promissor para os repórteres com espírito empreendedor.

Claro que o jornalista continuará necessário. Cada vez mais, por sinal. Talvez a profissão mude um pouco de foco e passe a ser cada vez mais o de editor, no sentido de pegar toda profusão de informação circulante e dar um sentido a ela para seu leitor. Já é bastante assim hoje em dia: boa parte das notícias vêm de agências. Um repórter da Reuters ou AP vai lá, faz a matéria e depois a mesma é distribuída para jornais ao redor do mundo inteiro. Os redatores então só pegam aquela informação e dão sentido a ela, enquadrando-a no contexto local.

Quanto ao mercado de trabalho, dificilmente os repórteres cidadãos terão algum impacto. Mas os jornalistas terão de ser cada vez mais "multimídia" para se manter no mercado. Creio que a maioria das críticas aos efeitos das novas tecnologias vem daí: medo de se tornar obsoleto. E, claro, sempre haverá setores que vão precisar de um jornalismo com a credibilidade conferida por repórteres com formação acadêmica. Empresários não podem basear suas decisões em matérias da Wikinews. precisam de um Valor Econômico ou Gazeta Mercantil para operar.

De resto, quem é competente sempre dá um jeito de se manter no mercado.

Avaliar se um blog é jornalismo participativo ou não é complicado. Um blog coletivo é um caso evidente. Mas num blog escrito por uma só pessoa há algumas nuances. Se o sujeito pega uma sugestão de leitor e transforma em pauta — o que aliás acontece na maioria dos casos — pode-se considerar participativo, creio. Os comentários também são uma forma de participação, já que os leitores podem acrescentar dados e corrigir erros. Mas acho que participativo mesmo é o resultado jornalístico de todo um conjunto de blogs tratando de algum assunto. Observados em particular são apenas a opinião de uma pessoa, mas em conjunto, dão uma idéia muito melhor da verdade sobre um assunto do que um jornal tradicional.

9 de junho de 2005, 12:42 | Comentários (2)



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