Comentários sarcásticos, crítica vitriólica e jornalismo a golpes de martelo por Marcelo Träsel


luta pela mudança na lei de direitos autorais

O resultado do seminário realizado pelo Fórum Nacional de Direito Autoral realizado em agosto na USP-Leste, em São Paulo, é a Carta de São Paulo pelo acesso a bens culturais. Ela foi elaborada por participantes do seminário que entendem ser necessária uma mudança na legislação que regula o uso de obras protegidas por direitos autorais. Leia e, se concordar com as propostas, assine e divulgue.

2 de dezembro de 2008, 21:22 | Comentários (2)

vencemos batalhas, a guerra contra a lei azeredo segue

No dia 13 de novembro aconteceu a audiência pública sobre o PL 89/2003, mais conhecido como Lei de Cibercrimes, ou Lei Azeredo -- em homenagem a seu maior defensor, o senador tucano Eduardo Azeredo, mais famoso por ter sido apontado como o pioneiro do Valerioduto --, ou ainda, se quisermos ser mais cínicos, Lei da Socialização dos Problemas Digitais do Setor Bancário.

Porque no fim das contas é disso que se trata: os bancos estão tentando impor uma legislação estúpida para deixarem de assumir a responsabilidade por tornar seus sistemas de transação eletrônica mais seguros. Afinal, garantir a segurança de dados custa dinheiro. E dinheiro é o que os bancos deram, coincidentemente, para a campanha a senador de Azeredo e muitos outros deputados. Estão pouco ligando se vão emperrar o processo cultural ou o avanço da inclusão digital no Brasil. O projeto também atende aos interesses dos que defendem o uso de DRM em produtos culturais (o que é considerado lesivo ao consumidor pelo Idec). E, claro, atende ao interesse de qualquer governo em vigiar seus cidadãos o mais extensa e arbitrariamente possível.

Você pode ter uma idéia de como foi a audiência pública lendo a cobertura via Twitter ou assistindo ao vídeo. Na verdade não se viu nada de muito novo. A maioria dos argumentos está reunida no Xô, Censura! e no site do Ministério da Cultura. Aqui mesmo vários dos argumentos já apareceram. Confira o arquivo de posts.

O que fazer a respeito? Bem, o PL 89/2003 ainda será votado pela Câmara. O projeto pode ser aprovado na íntegra, rejeitado na íntegra ou ter certos artigos vetados. Conforme a Lu Monte já mostrou, nem todos os aspectos do PL 89/2003 são ruins. Então, sugiro que o caro leitor entre em contato com os deputados por correio eletrônico ou pelo telefone 0800 619 619 e exija o veto aos artigos que lhe parecerem problemáticos ou mesmo a todo o projeto.

Este texto é uma contribuição ao Dia de blogagem política.

15 de novembro de 2008, 13:40 | Comentários (3)

cursos de artes da uergs estão sendo desmontados

Não é segredo para ninguém que um dos principais desejos dos governos Rigotto e Yeda é desmontar a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul. Não que o projeto de Olívio Dutra esteja isento de defeitos, mas o fato é que a universidade foi construída e tem uma proposta interessante: levar o ensino para o interior, para que os jovens possam se profissionalizar sem ter de deixar o pago.

É claro, o governo petista não conseguiu estabelecer a instituição em apenas quatro anos. Rigotto veio depois e instalou um não-reitor para garantir que, por exemplo, não fossem feitos concursos adequados para professores, muito menos eleições para a reitoria. O reitor do governo Yeda, Carlos Callegaro, segue na mesma toada. Ninguém quer colocar uma azeitona na empada do PT fazendo a universidade funcionar direito, mas também não podem simplesmente fechá-la, então estão deixando morrer à míngua. Tenho acompanhado bastante o caso, porque minha mulher é professora no curso de graduação em Dança da Fundarte. A Fundarte é uma instituição da prefeitura de Montenegro com a qual a UERGS mantém um convênio. O problema é que há alguns anos o governo está se empenhando em sufocar os cursos de artes oferecidos lá. O último vestibular foi realizado em 2006, embora o reitor todo ano garanta que a situação será resolvida.

É uma pena. Os cursos da Fundarte são os que apresentam maior índice de empregabilidade dos alunos formados pela UERGS. Os cursos ficam sempre entre os melhores nas áreas de Teatro, Dança, Música e Artes Visuais no Brasil. Foi a primeira faculdade da UERGS a consolidar grupos de pesquisa e uma revista científica com classificação Qualis A da Capes. Ou seja, mesmo do ponto de vista de um discurso meramente utilitário sobre a educação e seus objetivos, é preciso reconhecer que, se alguma faculdade da UERGS tem de ser mantida, é essa. Nem vou entrar na questão da importância da Fundarte para o meio cultural. Deixo isso para a carta aberta endereçada pela professora e artista plástica Maria Helena Bernardes à governadora do Estado, Yeda Crusius (PSDB). Clique no "continue lendo" ao final deste texto para ver a carta.

O desmonte da UERGS é ruim em vários níveis. É verdade que o Estado não tem dinheiro, mas justamente por isso parece um desperdício abandonar investimentos feitos ao longo de quase uma década, bem quando começariam a dar retorno. Além disso, se há investimento que dizem valer a pena, é o investimento em educação. Um ranking realizado pelo MEC inclusive considerou a UERGS melhor do que a UFRGS. E o gasto nem é tão grande: o orçamento da instituição para esse ano é de meros R$ 28,3 milhões. O custo anual dos cursos de graduação da Fundarte, que têm capacidade para atender 320 alunos, está em torno de R$ 1 milhão.

Só com incentivos fiscais para a General Motors, na época da implantação da empresa em Gravataí, foram gastos quase R$ 1 bilhão em renúncia fiscal e financiamentos. Só em Lei de Incentivo à Cultura, o Estado gastou cerca de R$ 46 milhões no ano de 2005, o último com relatórios publicados. O projeto Multipalco, sozinho, tem orçamento total de R$ 23 milhões, segundo o próprio governo do Estado, e só vai beneficiar a moradores da Região Metropolitana que possam/queiram pagar para assistir a espetáculos cujo maior atrativo em geral é contar com atores da Globo. Com o dinheiro gasto pela dona Eva Sopher daria para formar mais de 1,8 mil pessoas em Música, Artes Visuais, Teatro e Dança na Fundarte.

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14 de novembro de 2008, 14:30 | Comentários (11)

abrindo o voto

Como já é tradição neste blog, listo abaixo os candidatos que contarão com o meu voto neste primeiro turno de eleições no próximo domingo:

Prefeito - Vera Guasso, número 16
Dado o cinismo geral que tomou conta de todo o processo democrático, não é mais possível escolher um candidato com base no programa de governo. Durante mais de uma década fiz campanha para o Lula. Na eleição que o guindou à presidência, em 2002, já havia me desiludido com o petismo, mas sufraguei o nome do companheiro por curiosidade intelectual. Como previsto, o governo do PT implodiu qualquer esperança de melhorar o mundo através da política partidária.

Nesse contexto, só resta premiar de alguma forma aqueles que tornam sua vida um pouco melhor. O PSTU sempre criou os melhores slogans, como "contra burguêis, vote dezesseis", ou "contra FHC, o FMI e tudo isso que está aí". Infelizmente nunca aceitaram minha sugestão de "contra torneiro, vote maconheiro" para a eleição presidencial. Enfim, o objetivo aqui é incentivá-los a continuar participando das campanhas. No mais, até onde sei Vera Guasso é boa pessoa.

É claro, meu candidato original era o do PCO, cujo presidente regional Guilherme Giordano propôs na eleição passada o desmantelamento do "aparato repressivo da PM" e a criação de milícias populares para combater a criminalidade, mas ele desistiu de concorrer. O segundo turno a Deus pertence, vemos o que fazer após 3 de outubro.

Vereador - Professor Filipe, número 43.010
O candidato a vereador pelo Partido Verde é marido de uma de minhas tias, portanto sei ser uma pessoa honesta e comprometida com o objetivo de botar ordem no circo que se tornou o Plano Diretor da capital. Engenheiro, Filipe é um dos fundadores e professor de Física do cursinho Unificado. Participa ativamente de movimentos contrários à especulação imobiliária desenfreada em Porto Alegre. É um tema que sempre me preocupou, então voto nele não apenas por parentesco familiar, mas também intelectual.

P.S. E pensar que se eu lesse um texto como esse meu há dez anos eu classificaria o autor como um analfabeto político brechtiano, sem pestanejar. Hoje já acho que Brecht era o idiota. Sacaneou Helene Weigel e Elizabeth Hauptmann, mulher e amante. Depois de se salvar dos nazistas se refugiando nos Estados Unidos, transformou em palhaçada uma audiência do Comitê de Atividades Anti-Americanas, que, OK, também era uma palhaçada. Em vez de ficar e lutar contra isso junto a outros artistas, porém, emigrou para a Alemanha Comunista, onde desfilava em um DKW, carro de luxo na época, e mantinha cidadania austríaca e contas na Suíça enquanto o governo o usava como mito do proletariado. Apoiou a repressão a um levante popular contra a ditadura comunista pouco antes de morrer.

30 de setembro de 2008, 16:31 | Comentários (16)

PT é o primeiro partido a usar a lei azeredo

Para quem acha que a Lei Azeredo é uma invenção e projeto de tucanos direitistas e reacionários, vale a pena ler o post do Imprensa Marrom a respeito do assunto. De posse da decisão liminar, Gravataí Merengue descobriu que toda a argumentação para retirar o Twitter Brasil -- opa! -- o perfil falso no Twitter da candidata à prefeitura de Fortaleza Luizianne Lins foi baseada na Lei Azeredo. Não surpreende, já que a redação final foi dada pelo senador petista Aloízio Mercadante.

Os nomes dos advogados ignorantes que não sabem diferenciar um serviço de rede social/microblog de um blog independente são: José Aroldo Cavalcante Mota, Isabel Cristina Silvestre de Mota, Rodrigo Cavalcante Dias, Lúcio de Melo Freitas e Erlon Albuquerque de Oliveira. A seguir, os melhores trechos:

Alegam que a primeira postulante (coligação) tomou conhecimento da existência de um falso perfil em nome da candidata Luizianne Lins "em site de relacionamento divulgando absurdos e iludindo as pessoas que acessam o endereço eletrônico" , denegrindo a sua imagem e deturpando "seu conceito perante a opinião pública" .

Disse, ainda, que tal site - Twitter, ¿é uma iniciativa estrangeira" , mas, possui escritório no Brasil "hospedado no domínio http://twitterbrasil.org/".

Aí em cima a prova de que realmente foi culpa da equipe de Luizianne Lins, não do TRE-CE, a barbeiragem de retirar o blog do ar em lugar do perfil falso no Twitter.

Por fim, requereu a concessão de provimento liminar, a fim de determinar, incontinenti, a cessação da veiculação apontada e a intimação do site responsável pela hospedagem "para que a TWITTER retire o microblog falso/fake de Luizianne Lins, bem como no sentido de promover a identificação do responsável pela conduta transgressora" , assim como que seja fornecida "a relação de IPs utilizados na alimentação do microblog por parte de seu criado, bem como os utilizados no cadastro de criação do mesmo, dados os quais deverão estar disponíveis em arquivos LOG ou salvaguarda semelhante" , tendo protestado, ainda pela intimação do MP e a procedência da representação com a confirmação da liminar e a "condenação dos responsáveis pela veiculação fraudulenta" .

Em todo caso, é preciso reconhecer que os advogados solicitaram apenas a retirada do perfil falso e a identificação do criador do mesmo, o que é bastante justo, ainda que contraproducente do ponto de vista do marketing, por ignorar o Efeito Streisand. Parece que, neste caso, foi o provedor de hospedagem do Twitter Brasil que, apavorado com a multa por descumprimento de R$ 50 mil por dia e provavelmente tão ignorante quanto a equipe de Luizianne, retirou do ar o blog sem nem mesmo se dar conta de que a petição errou de alvo. Ou seja, pelo jeito a prática dos provedores é arriar primeiro e perguntar depois.

O interessante, em todo caso, é que os termos usados na argumentação, como "log ou salvaguarda semelhante", parecem ter sido retirados do PLC 89/2003, que ainda nem foi aprovado. O autoritarismo petista deve estar esfregando as mãos de ansiedade para iniciar uma chuva de processos assim que essa lei for aprovada. Isto é, se o for. Ainda há espaço para combater a aprovação dos artigos mais despóticos e ridículos do projeto.

Quanto à Luizianne Lins, se permite uma barbeiragem dessas por conta de sua equipe em plena campanha eleitoral, imaginem governando o que não deixa passar.

15 de setembro de 2008, 12:25 | Comentários (8)

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9 de setembro de 2008, 20:46 | Comentários (2)

entrevista sobre o projeto de lei de cibercrimes

O Arthur Puls, mais conhecido na Fabico por Sorin, fez uma entrevista comigo sobre o PLC 89/2003. Ele também entrou em contato com a assessoria do senador Eduardo Azeredo, que respondeu com algumas observações interessantes -- como não sei nada de Direito, não posso avaliá-las.

Notem que dei a entrevista um dia após a aprovação do projeto, antes de ler a versão final do texto. Depois, mudei de idéia sobre algumas coisas.

25 de julho de 2008, 18:12 | Comentários (0)

restrições do TSE à internet prejudicam a democracia

A Zero Hora de hoje traz uma reportagem especial sobre as restrições impostas pelo TSE à campanha eleitoral na Internet. Contribuí com uma pequena entrevista sobre a campanha de Barack Obama, nos Estados Unidos. Há um resumo das restrições feito por Marciele Brum, uma entrevista com o juiz eleitoral Ricardo Hermann e uma coluna da Vanessa Nunes praticamente incitando a desobediência civil na Web.

A verdade é que o Tribunal Superior Eleitoral demonstra ignorância sobre o funcionamento da Internet e, principalmente, sobre suas implicações sociais. Lendo a íntegra das orientações para a campanha, percebe-se que as regras para a Internet são muito vagas, limitando-se a regular o uso dos domínios .can.br e a equiparar a rede mundial de computadores com as emissoras de rádio e televisão, para fins jurídicos. Os problemas são os seguintes:

  • Ao contrário de rádio e televisão, a Internet não é uma concessão pública. Ou seja, ninguém precisa de autorização do governo para criar um site, postar um comentário num blog, divulgar um vídeo no YouTube, gravar um podcast. As emissoras de rádio e TV, por usarem um recurso escasso, que é o espectro eletromagnético, devem prestar contas ao governo e se pautar pelo interesse público. O espaço nas redes de computadores pode ser tudo, menos escasso. Portanto, o apoio de qualquer pessoa a um candidato não estará competindo pelo mesmo espaço com o interesse público. A equiparção com meios que usam comunicação via ondas eletromagnéticas não faz o menor sentido.

  • Mesmo que o TSE tivesse equiparado a Internet com jornais, a comparação ainda seria equivocada. Considero a regulação da atividade jornalística impressa durante as campanhas eleitorais um desserviço, porque o veículo é obrigado a dar o mesmo espaço tanto aos candidatos importantes quanto aos que só entram no pleito para aparecer. Os nanicos raramente oferecem tanto assunto quanto aqueles dos partidos maiores. O resultado é que em geral é preciso cortar espaço dos candidatos que a população realmente quer ouvir, para manter o equilíbrio. Além disso, a argumentação da concessão pública também se aplica: ninguém precisa de autorização para abrir um jornal ou revista. De qualquer modo, pode-se afirmar que os jornais contam com uma credibilidade maior, são os veículos oficiais da democracia, portanto devem seguir certas regras por exigência ética. OK, mas o mesmo não se aplica à Internet, onde qualquer pessoa com meia dúzia de reais para comprar algumas horas em uma lan house ou acesso a um telecentro pode publicar sua opinião. Se é para haver regras na Web, elas devem se aplicar somente às empresas de comunicação, não às pessoas físicas.

  • A falta de regulação mais específica cria insegurança jurídica para os candidatos. O TSE se furtou a definir regras claras para o uso da Internet e prometeu analisar caso a caso. O problema é que as multas são bastante pesadas, podendo chegar até acima de R$ 50 mil. Isso significa que os candidatos de partidos com maior poder econômico poderão se arriscar numa campanha mais ousada nas redes, porque se levarem multa terão como pagá-la. Já os candidatos nanicos, por não terem ao menos algumas indicações do pensamento do TSE, fatalmente irão se manter dentro do limite mais estrito da lei, realizando campanhas menos eficientes. O resultado será exatamente o contrário do objetivo da Lei Eleitoral, que é evitar o abuso de poder econômico.

  • O argumento de que liberar geral causaria abuso de poder econômico é o mais ignorante de todo esse debate. O juiz Hermann diz na entrevista que "quem tem mais recursos financeiros não pode povoar a internet em detrimento dos demais candidatos". Porém, a Internet é o único meio em que existe a possibilidade de fazer uma campanha totalmente gratuita, ou quase. É o meio que melhor evidencia o real apoio popular a um candidato. Um pretendente a vereador que consiga mobilizar seus eleitores a criar comunidades no Orkut, publicar vídeos da campanha no YouTube, listas e fóruns de discussão do Google, artigos e comentários em blogs, não estará tirando um centavo sequer do próprio bolso e terá uma presença melhor na Web do que um candidato que pague uma centena de capiaus para fazer spam em redes sociais e na blogosfera. Aliás, as estratégias baseadas em spam costumam ser desmascaradas em poucos segundos pela própria comunidade de usuários da rede. O princípio de auto-organização das redes sociais daria conta das distorções naturalmente.

  • Além de restringir a ação dos candidatos, a decisão do TSE pode emudecer a manifestação da opinião política dos cidadãos. Um blogueiro deverá pensar duas vezes antes de apoiar um candidato, porque o apoio poderá se voltar contra o candidato, caso um concorrente resolva reclamar ao Tribunal Eleitoral. Do mesmo modo, um militante que vá a um evento e porventura grave um vídeo no celular estará arriscando prejudicar seu candidato se divulgá-lo via YouTube. De novo, quem sai prejudicado são os candidatos com maior apoio popular. É uma distorção da democracia. O juiz Hermann apela ao princípio de igualdade, mas esquece que, em paralelo à igual oportunidade de acesso aos direitos políticos, é da democracia que os pontos de vista com maior apoio sobressaiam na esfera pública. Tanto é verdade que a própria Lei Eleitoral dá mais espaço no horário político em rádio e TV aos candidatos de partidos com maior representação no Congresso.

    Esses são apenas alguns defeitos da Lei Eleitoral imposta pelo TSE para esse pleito. Um detalhe: a reportagem pergunta ao juiz se apenas um promotor eleitoral em todo o Estado tem condições de fiscalizar. É ele o responsável por fazer denúncias ao TRE, os tribunais não podem dar início a ações judiciais. Pois em um seminário da PUCRS em junho o promotor Daniel Rubin deixou bem clara sua posição favorável à liberalidade da campanha na Internet e sugeriu que pretende fazer vista grossa ao que for considerado uso justo da rede, ainda que contrário às regras do TSE. Restará aos eleitores e partidos fazerem denúncias ao TRE gaúcho.

    No fim das contas, as novas regras acabam favorecendo justamente quem tem mais dinheiro para investir em um site de campanha. Publicação de vídeo e áudio, gerenciamento de comunidades e fóruns, aplicativos de galerias de fotos e de agenda, são todos sistemas complexos e que custam uma fortuna para implementar. Os candidatos mais ricos poderão contar com todas essas facilidades. Aqueles que não conseguem levantar tantos recursos para a campanha, no entanto, não poderão contar com os serviços gratuitos do YouTube, Orkut, Flickr, Google. Aqui vai uma dica a tais candidatos: o Ning oferece todos esses serviços e, por míseros US$ 5 ao mês, permite criar uma comunidade de usuários com possibilidade de uso de foto, vídeo, áudio, agenda etc. com um domínio próprio. É a melhor opção dentro da restrição a um site por candidato, porque reúne os principais tipos de serviços. Há uma versão em português, inclusive.

    22 de julho de 2008, 15:03 | Comentários (8)

    réplica

    O senador Eduardo Azeredo respondeu à carta abaixo para TODOS os senadores dizendo que sou uma pessoa de má-fé e eu transferi a discussão para uma instância mais alta: A Nova Corja.

    7 de julho de 2008, 23:19 | Comentários (6)

    fazendo a minha parte

    Carta enviada hoje aos senadores da República:

    Prezados senadores,

    Como eleitor, cidadão e professor universitário atuante na área de Comunicação Digital da PUCRS, venho solicitar que votem contra o projeto de cibercrimes que substitui os Projetos de Lei da Câmara 89/2003 e Projetos de Lei do Senado n. 137/2000 e n. 76/2000.

    Com a atual redação, o simples fato de acessar uma página na Internet vai se tornar uma atividade ilegal. A cópia de qualquer material sem autorização do proprietário dos direitos autorais será considerada crime. Porém, os redatores do projeto parecem não saber que na verdade, ao "entrar" numa página, nosso computador está é baixando o conteúdo dela temporariamente em seu disco rígido e/ou memória RAM. Isso significa que o computador SEMPRE faz uma cópia de qualquer página, legal ou ilegalmente.

    O equívoco acima é apenas um dos inúmeros que acometem o projeto aprovado pela CCJ. Alguns outros problemas estão listados aqui: http://www.petitiononline.com/veto2008/. Neste endereço, os senhores também encontrarão um abaixo-assinado contra a aprovação da lei de cibercrimes.

    Se esse projeto for aprovado pelo Senado, os caros parlamentares, além de estarem passando um atestado de ignorância e legislando sobre assuntos que desconhecem, estarão impedindo o avanço da tecnologia digital no país, entrevando a comunicação entre os cidadãos e prejudicando todos os usuários da Internet, especialmente os honestos, visto que os crackers têm habilidade suficiente para burlar todos os impedimentos legais ora propostos.

    Como os V. Sas. deveriam saber, metade da população brasileira usa regularmente a Internet, na maior parte dos casos para atividades completamente legais. Ao puni-los, os parlamentares estarão incorrendo na ira de seus próprios eleitores. Não esperem que a comunidade de brasileiros, uma das mais ativas da rede, fique calada frente a esse atentado à privacidade e à liberdade de expressão.

    Não custa lembrar que o Senador Eduardo Azeredo, principal incentivador do projeto de Cibercrimes, recebeu doações do banco Bradesco para sua campanha. Coincidentemente, esse banco é proprietário da empresa Scopus, que entre outras coisas trabalha com certificação digital e será imensamente beneficiada pela redação desta lei.

    Caso queiram enviar suas próprias cartas, seguem os endereços de correio eletrônico dos senadores -- podem copiar e enviar a minha carta à vontade também; aproveitem enquanto a lei ainda permite ;-).

    adelmir.santana@senador.gov.br; mercadante@senador.gov.br; alvarodias@senador.gov.br; antval@senador.gov.br; arthur.virgilio@senador.gov.br; augusto.botelho@senador.gov.br; cesarborges@senador.gov.br; cicero.lucena@senador.gov.br; cristovam@senador.gov.br; delcidio.amaral@senador.gov.br; demostenes.torres@senador.gov.br; edison.lobao@senador.gov.br; eduardo.azeredo@senador.gov.br; eduardo.suplicy@senador.gov.br; efraim.morais@senador.gov.br; eliseuresende@senador.gov.br; ecafeteira@senador.gov.br; expedito.junior@senador.gov.br; fatima.cleide@senadora.gov.br; fernando.collor@senador.gov.br; flexaribeiro@senador.gov.br; flavioarns@senador.gov.br; mozarildo@senador.gov.br; francisco.dornelles@senador.gov.br; garibaldi.alves@senador.gov.br; geraldo.mesquita@senador.gov.br; gerson.camata@senador.gov.br; gilvamborges@senador.gov.br; heraclito.fortes@senador.gov.br; ideli.salvatti@senadora.gov.br; inacioarruda@senador.gov.br; jarbas.vasconcelos@senador.gov.br; jayme.campos@senador.gov.br; joaoribeiro@senador.gov.br; papaleo@senador.gov.br; joaodurval@senador.gov.br; jtenorio@senador.gov.br; joaopedro@senador.gov.br; raimundocolombo@senador.gov.br; j.v.claudino@senador.gov.br; jonaspinheiro@senador.gov.br; jose.agripino@senador.gov.br; almeida.lima@senador.gov.br; jefperes@senador.gov.br; josenery@senador.gov.br; renan.calheiros@senador.gov.br; renatoc@senador.gov.br; sarney@senador.gov.br; jose.maranhao@senador.gov.br; katia.abreu@senadora.gov.br; leomar@senador.gov.br; lucia.vania@senadora.gov.br; magnomalta@senador.gov.br; maosanta@senador.gov.br; crivella@senador.gov.br; marco.maciel@senador.gov.br; marconi.perillo@senador.gov.br; maria.carmo@senadora.gov.br; mario.couto@senador.gov.br; marisa.serrano@senadora.gov.br; neutodeconto@senador.gov.br; osmardias@senador.gov.br; patricia@senadora.gov.br; paulo.duque@senador.gov.br; paulopaim@senador.gov.br; simon@senador.gov.br; romero.juca@senador.gov.br; romeu.tuma@senador.gov.br; rosalba.ciarlini@senadora.gov.br; roseana.sarney@senadora.gov.br; tiao.viana@senador.gov.br; siba@senador.gov.br; sergio.zambiasi@senador.gov.br; serys@senadora.gov.br; sergio.guerra@senador.gov.br; tasso.jereissati@senador.gov.br; valdir.raupp@senador.gov.br; valterpereira@senador.gov.br; wellington.salgado@senador.gov.br

    7 de julho de 2008, 14:01 | Comentários (6)

    atentado à liberdade na internet

    Publiquei na Nova Corja um artigo a respeito do substitutivo de vários projetos de lei que tentam regular o uso da Internet, aprovado pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado semana passada. O projeto é um absurdo capitaneado pelo senador tucano Eduardo Azeredo, mais conhecido por ser um dos fundadores do Valerioduto.

    27 de junho de 2008, 22:05 | Comentários (1)

    troque seu carro por um investimento

    Há algumas semanas eu defendia na Nova Corja que os moradores da zona central de Porto Alegre abandonassem seus automóveis em favor do transporte público, como forma de desafogar as ruas da cidade e ainda poupar dinheiro. Eis que o leitor Gabriel Britto levou a sério a sugestão. O relato do homem:

    Já estou há um mês e meio sem carro (foi roubado em um seqüestro-relâmpago, lembra?) e anotando todos os meus gastos com transporte. Às vezes pego ônibus e lotações para ir a alguns lugares, às vezes arranjo uma carona, mas na maioria das vezes vou de táxi. Não tenho me privado de nada por não ter carro. Me obrigo a agir da mesma forma que seria se tivesse um carango. Se tiver que sair do Centro pra ir no Big da Sertório, pego um táxi e vou. Claro que estou tendo que me adaptar um pouco porque as coisas não podem mais ser imediatas como eram. Antes eu saía do prédio e meu carro tava lá me esperando. Hoje eu tenho que ligar pro táxi e esperar que ele chegue, ou tenho que caminhar algumas quadras pra chegar na lotação/ônibus. Também tive que comprar um guarda-chuva, porque tenho que andar mais e preciso estar preparado. Mas no fim das contas, tô gostando e tá valendo a pena. Olha só:

    - Com carro, meu gasto médio mensal ficava em 514 reais por mês (IPVA, seguro, gasolina e flanelinhas).

    - Com táxi/ônibus/lotação, meu gasto tá girando ao redor de 650.

    - Porém, o dinheiro do carro aplicado numa poupança vai me render, no mínimo, 220 por mês (0,5%). E mais ainda se eu aplicar em fundos diferentes.

    Sem contar a desvalorização do carro, que no meu caso ficou na média de 230 reais por mês

    Como tu pode ver, dependendo do esilo de vida da pessoa, ter um carro é realmente perder dinheiro. Mas, no meu caso, tô achando ótimo. Pesando todas as vantagens e desvantagens de ser um desmotorizado, tô preferindo continuar assim. Não me estresso no trânsito (e tu não tem idéia de como eu me estressava em qualquer saída rápida), não me exponho a seqüestros-relâmpagos (pelo menos enquanto não começarem a abordar as pessoas na rua, enfiarem elas para dentro de um carro e seguir o roteiro de sempre) e ainda ganho dinheiro.

    Ah, sobre o transporte público de POA, continuo com a mesma opinião: é uma merda. Vivo perdido tentando descobrir qual ônibus me leva pra qual lugar e já peguei alguns coletivos errados. Mas ainda assim acho que vale a pena.

    Quando escrevi o primeiro artigo, nem me dei conta de que o dinheiro do carro bem investido poderia render o necessário para cobrir uma parte dos custos com táxi. O negócio é ainda melhor do que parecia.

    Pessoalmente, pretendo só adquirir um carro no dia em que tiver filhos. Porque daí a vida complica demais.

    20 de junho de 2008, 19:09 | Comentários (27)

    jornalismo-verdade

    16 de junho de 2008, 14:50 | Comentários (1)

    para os revolucionários de pijama

    A chapa está quente no Tibete.

    Não custa nada assinar essa petição ao presidente chinês Hu Jintao, para que cesse com a repressão e inicie um diálogo. Se não sabe inglês, os campos são, na ordem: nome, e-mail, telefone, país e CEP. Depois, é só clicar em "send".

    18 de março de 2008, 21:05 | Comentários (10)

    faroeste gaudério

    Alguns dizem que Porto Alegre fica à mercê dos criminosos em janeiro, quando toda a Brigada Militar é deslocada para fazer a segurança dos veranistas no litoral norte. Bobagem. Porto Alegre está à mercê dos criminosos o ano inteiro.

    Morei 20 anos em uma rua do bairro Auxiliadora. Nos três ou quatro últimos desses anos, deixamos um carro estacionado todas as noites em frente ao prédio. Nunca nem soou o alarme. De um ano para cá, porém, pelo menos três pessoas relacionadas comigo tiveram carros furtados ou roubados à mão armada, com direito a um seqüestro-relâmpago. Isso sem falar em todos os vizinhos que tiveram problemas dos quais ficamos sabendo. O último caso foi na segunda-feira, quando ladrões arrombaram o carro do meu sogro para levar o estepe. Brabo é que os malandros cortam o cabo da bateria e ainda deixam o cidadão a pé.

    Que fazer? Não vale a pena entrar em uma lengalenga sobre a falta de investimento do governo em segurança pública, mas uma coisa é óbvia: alguém compra esses estepes, rádios e carros roubados. Como não existe oferta sem demanda, a solução é evidente, embora talvez não seja simples. É preciso punir severamente os receptadores de objetos roubados.

    Não apenas isso. Muitas vezes, nós mesmos fingimos não saber que o pneu baratinho -- e sem nota fiscal, claro -- que compramos provavelmente foi roubado, assim como os vales-transporte oferecidos a preço menor que a passagem de ônibus no centro da cidade. Os cidadãos costumam reclamar que não sabem como fazer a sua parte, mas há uma ação preventiva acessível a todos, que é não colaborar com o crime. Isso inclui desde desconfiar de negócios bons demais até exigir sempre nota fiscal. E, claro, evitar o consumo de produtos contrabandeados, drogas, sonegação de impostos, dirigir alcoolizado, todas essas infrações que as pessoas "de bem" julgam irrelevantes, mas que incentivam o clima de anarquia.

    16 de janeiro de 2008, 12:17 | Comentários (31)

    não custa nada

    O trecho abaixo foi reproduzido do site Avaaz.org:

    Depois de décadas de uma ditadura militar repressiva, o povo de Mianmar está se manifestando - e eles precisam da nossa ajuda. Monges budistas deram início a uma marcha pacífica que vem ganhando o apoio de toda a população do país. O número de manifestantes já chega a 100.000 em mais de 25 cidades.

    Na última manifestação contra a ditadura em 1988 o governo militar massacrou milhares de pessoas. Não podemos deixar isso acontecer de novo, precisamos e podemos defender os manifestantes. Vamos enviar uma mensagem ao Conselho de Segurança da ONU incluindo a China, o principal apoiador do regime em Mianmar, assim com toda a mídia presente no encontro da ONU essa semana.

    Duvido que o Conselho da ONU faça qualquer coisa a respeito, muito menos que isso influencie na política de Rangun — até porque o massacre já começou. Por outro lado, nunca é demais as pessoas deixarem claro aos políticos que são contra a violência estatal.

    27 de setembro de 2007, 21:50 | Comentários (1)

    retrato do bananão

    Estava prestes a enviar um e-mail de desculpas ao governo e a Lula, ao ver a manchete da Veja da semana passada, mas nem o erro cometido pelo comandante do vôo TAM 3054 consegue eximir esse governo da parcela de culpa que se imaginava terem no acidente: a boa e velha falta fiscalização e planejamento. Em resumo, ausência de Estado.

    O piloto cometeu um erro durante o pouso, deixando o manete em posição errada e impedindo o avião de frear — ao menos é o que as informações das caixas-pretas sugerem, mas a investigação da Aeronáutica ainda precisa comprovar. Isso já aconteceu duas vezes com o Airbus de mesmo modelo, uma em Taipei, outra em Manila. Nessas duas ocasiões, apenas três mortes. Motivo? Não existe uma megalópole em volta de uma pista curtíssima de aeroporto.

    Como o Solon já apontou no caso da queda do avião da Gol, raramente um desastre aéreo acontece por uma causa isolada. Mesma coisa nesse caso. Os fatores envolvidos até agora no acidente parecem ser:

    1. Erro do piloto.
    2. Preguiça da Airbus em melhorar o sistema de travamento do reverso (se é que isso é possível).
    3. Submissão ao lobby imobiliário pelo governo paulista, que permitiu até a construção de um hotel de 50 metros nas cercanias de Congonhas (Kassab, prefeito chegado num factóide, prometeu cassar o alvará).
    4. Submissão ao lobby das companhias aéreas, que desviam até vôos Porto Alegre-Buenos Aires para São Paulo, porque é mais lucrativo.
    5. Preguiça dos passageiros em pousar em Guarulhos e depois viajar até São Paulo, para evitar o congestionamento em Congonhas.

    Onde entra o presidente? Não entra, esse é o problema. É verdade que a situação chegou a esse ponto por décadas de descuido. Mas essa explicação não serve. Se não queria resolver os problemas deixados pelos militares, por Sarney, Collor, Itamar e FHC, que Lula não tivesse se candidatado à presidência. E o governo nem mesmo pode se dizer surpreso com problema, porque o caos aéreo está instalado já há mais de um ano e nada foi feito para resolver.

    Pior, quando Lula decidiu se meter, foi para quebrar a hierarquia da Aeronáutica e aprofundar ainda mais o problema com os controladores de vôo. Todas as medidas que foram tomadas pelo governo na semana do acidente deveriam ter sido tomadas há um ano, pelo menos. O fato de se ter resolvido agora desafogar Congonhas mostra apenas que o governo não teve vontade de fazer isso antes, porque não queria contrariar os interesses das companhias aéreas, nem irritar ainda mais os passageiros. Tentou evitar perdas maiores de popularidade. Inclusive, a rapidez com que as medidas foram anunciadas prova que os planos já deveriam existir, mas não foram concretizados sabe-se lá o porquê.

    Isso sem falar na escolha de um político, em vez de um especialista em aeronáutica, para dirigir a agência responsável pelo setor, e na manutenção de um ministro da Defesa que se mostrou incompetente para eliminar o problema. Ambos se preocuparam apenas em jogar a responsabilidade um no outro pelas pendências estruturais. Pode até ser que exista um vácuo de responsabilidade hoje no setor aéreo, mas o responsável último pela aviação é o governo federal.

    Repito: Lula e seus assessores e ministros poderiam ter começado a fazer algo para resolver a crise aérea há mais de um ano. Não fizeram nada. Agora que mais centenas de pessoas morreram, diz que, para variar, não sabia de nada. Trata-se em minha opinião de um irresponsável cuja única preocupação é se aferrar com unhas e dentes ao poder. Enquanto isso, algumas pessoas afirmam com a maior nonchalance que a mídia está se aproveitando do caso para derrubar o governo. Deve ser por isso que estão se adiantando às investigações e condenando os pilotos, o que livra a cara do governo. Aliás, é preocupante que o vazamento no mínimo impróprio de informações das caixas-pretas, que interessa apenas ao governo, tenha ocorrido em uma CPI cujo relator é do PT.

    Para finalizar, dois comentários. Não critiquei a TAM por reconhecidamente adotar práticas selvagens de capitalismo, o que leva a esse tipo de coisa, porque no fim das contas esse é o papel de uma empresa. O papel dos governos é fiscalizá-las e não permitir que os interesses dos acionistas ponham os cidadãos em risco.

    Em segundo lugar, engana-se quem diz que essa é uma indignação burguesa, porque só a classe média alta seria prejudicada pelo caos aéreo. Quando negócios deixam de ser fechados, cargas deixam de ser transportadas, investidores começam a procurar outros países porque o Brasil não oferece infraestrutura decente, o proletariado têm menos empregos à disposição.

    7 de agosto de 2007, 15:10 | Comentários (11)

    o problema do brasil é falta de laço
    Para o grupo formador de opinião, mudou o ideal de felicidade, que hoje é o bem-estar corporal, o prazer físico. Além desse ideal de felicidade sensorial, há uma idéia da vida como entretenimento. Ou seja, a pessoa deixa de pensar nas consequências morais do que faz. Quem compra droga simplesmente desliga o botão que avisa qual será a consequência disso. Parece que tudo é uma brincadeira. Multidões de pessoas que deveriam ter responsabilidade agem dessa forma. Na moral do espetáculo, o outro é sempre o responsável pelas mazelas e não eu. Eu estou corrompendo, sou venal, sou leviano, mas o que eu faço não tem nenhuma consequência. O que o vizinho faz com certeza terá. É uma posição típica dessa falta de compromisso.

    Bem que o Guy Debord avisou.

    O trecho acima, de uma entrevista do psicanalista Jurandir Freire Costa, expressa com toda clareza algo que sempre tentei comunicar, mas nunca consegui, a julgar pelos comentários de leitores aos meus posts sobre política e sociedade. Não se deixe enganar pelo título infeliz que o editor pôs na matéria, não é bem isso que Jurandir diz durante a conversa. Ele diz é que temos de parar de criticar a corrupção, a imoralidade e o egoísmo, apenas para em seguida sonegar impostos, subornar guardas de trânsito e tentar vencer a burocracia com a ajuda de amigos poderosos. Indignar-se e não ser o exemplo do cidadão que se quer para o Brasil é farisaísmo, é cinismo, é hipocrisia.

    O Hermano também curtiu a entrevista, mais pelo lado do vácuo de autoridade que tomou conta da cultura brasileira. É outro aspecto importante. Hoje em dia, os pais parece que acham feio educar os filhos. Francamente, acho que as palmadas e castigos que levei, além de bem merecidos, colaboraram muito para que me tornasse uma pessoa útil à sociedade. Não que sejam a melhor forma de se educar alguém, porém não são fonte de trauma algum, se não passarem dos limites. E tem coisas que só na palmada se resolve.

    Um sintoma da demência moral, aliás, é termos de agüentar uma campanha contra os castigos físicos protagonizada por ninguém menos que Xuxa, apresentadora de programas infantis famosa por filmar cenas eróticas com crianças e por beliscar os baixinhos mais exaltados em seu auditório.

    26 de julho de 2007, 11:01 | Comentários (14)

    falando em ser bom cidadão...

    ...incomodar a Net é sempre uma forma de aprimorar a vida em sociedade. Anda rolando por aí um e-mail que fala dos telefones de suporte da empresa de TV a cabo e acesso à Internet. O número que os operadores dão é sempre o 4004-7777 e variações. A questão é que esse é um telefone pago. A tal corrente, em tom de teoria da conspiração, diz que a empresa não divulga o 0800, uma exigência do Procon, mas na verdade ele pode ser encontrado no site.

    Em todo caso, está bem escondido e é meio confuso, porque o telefone que dão para a Central de Relacionamento é o 4004, pago -- deve ser por isso que os atendentes deixam você mofando por horas com o fone no ouvido --, enquanto o 0800 está listado como "Telefone Exclusivo NET Vírtua SCM", seja lá o que isso for. Podem não estar fazendo nada francamente ilegal, mas estão dificultando o acesso a um serviço obrigatório. Qualquer pessoa com alguma noção de arquitetura de informação botaria o número logo na página principal, bem grande. Mas também, isso não é exclusividade da Net. Desafio os leitores a encontrarem o 0800 do Terra a partir da página principal, por exemplo.

    Enfim, o número grátis é 0800 701 03 58. Se é para fazer o cliente perder tempo, que ao menos eles paguem por isso. Agora, se quer MESMO resolver seu problema, vá direto na ouvidoria.

    11 de julho de 2007, 10:41 | Comentários (15)

    está começando a ficar preocupante

    No dia 20 de abril de 1997, cinco filhinhos de papai brasilienses atearam fogo ao índio pataxó Galdino dos Santos. A idéia era apenas "dar um susto" no pobre coitado que dormia em uma parada de ônibus da capital nacional, mas dois dias depois ele morreu no hospital. De todo o caso, o mais marcante foi a explicação de um dos criminosos: pensavam que era apenas um mendigo.

    Sábado passado: três filhinhos de papai cariocas assaltam e espancam uma empregada doméstica. Motivo: pensavam que ela era apenas uma prostituta. É uma maravilha perceber assim de uma forma tão clara o quanto o ser humano pode evoluir em dez anos.

    Há dez anos, os pais dos criminosos vieram com um papo de que não era bem assim, os sujeitos eram na verdade bons meninos, mas tinham cometido um erro. Hoje, o pai de um dos espancadores apareceu na televisão dizendo que meninos que estudam, trabalham, NÃO PODEM ficar presos. Enquanto isso, lembro bem do pai de um dos bandidos que matou o garoto João Hélio arrastado no asfalto por quilômetros dizendo que o filho tinha mais é de mofar na cadeia por causa disso. Era um sujeito pobre.

    Parece que tem alguma lição sobre o Brasil aí.

    25 de junho de 2007, 22:22 | Comentários (20)

    embananamento mundial

    Se der chance, o Estado não hesita dois segundos em controlar o cidadão e diminuir as liberdades civis. Depois do Brasil, Índia, Grécia e Estados Unidos se juntarem à China, Irã e Cuba na censura à livre expressão no ciberespaço, agora a França, queridinha dos freqüentadores do Fórum Social Mundial, decidiu transformar qualquer cidadão que filme atos de violência ou divulgue os mesmos em criminoso — exceto se ele for jornalista profissional.

    Isso quer dizer o seguinte: se um francês filmar um policial descendo a porrada de forma abusiva em cidadãos, por exemplo, e publicar o vídeo ou fotos na Internet, pode ser preso por até cinco anos e pagar até US$ 100 mil em multas. O objetivo principal supostamente é prevenir o que se chama por lá de happy slapping: enquanto um amigo filma, outro vai lá e dá uns tabefes em qualquer transeunte, para deleite dos espectadores. O problema é que essa lei vai proteger bandidos que eventualmente sejam capturados em vídeo cometendo crimes. Outro problema é definir o significado de "ato violento". Um bate-boca entre dois políticos pode ser considerado violento? Ou só quando os protagonistas forem às vias de fato o vídeo estará dentro do espectro dessa lei?

    Dica do Láudano.

    9 de março de 2007, 11:02 | Comentários (4)

    confissão de um ex-comunista

    E começou um novo Fórum Social Mundial.

    Foi só lá pelo terceiro FSM aqui em Porto Alegre que eu deixei de ser comunista. Tive uma epifania enquanto caminhava pelo "acampamento da juventude". Ao ver todas aquelas barracas torrando no sol de verão, as pessoas bêbadas, descalças e seminuas tocando Raul Seixas e Manu Chao em volta de fogueiras, os banheiros imundos [quando havia algum], a poeira que se grudava em qualquer pedaço exposto de pele, as discussões sobre o calendário maia, a dúvida subitamente me atingiu: "peraí, é essa gente que vai comandar o tal outro mundo possível?".

    Prefiro continuar oprimido pelo capital, mas manter o ar-condicionado e o acesso de banda larga à Internet, obrigado. Por isso, virei anarco-financista.

    21 de janeiro de 2007, 12:22 | Comentários (44)

    trocando seis por meia-dúzia

    A Prefeitura quer, definitivamente, acabar com a Cidade Baixa. Por causa da mania de mudar o nome dos equipamentos públicos, muita gente não percebeu que o largo Zumbi dos Palmares, onde está prevista a instalação de um terminal de ônibus, é na verdade o largo da Epatur. Esse largo é famoso pelas feiras livres e por ser local de espetáculos e festividades de Porto Alegre. A Prefeitura não poderia ter escolhido pior.

    O principal objetivo do projeto é desafogar o Centro, tirando boa parte da circulação de ônibus na região. Para isso, resolveram afogar a Cidade Baixa. O grande problema é que se trata de um bairro residencial, ao contrário do Centro. Os moradores terão de agüentar ruído de ônibus indo e vindo até altas horas da noite e rafuagem de uma maneira geral. O terminal atrairá camelôs e criminosos e a vida noturna ficará ainda mais lotada. De qualquer modo, o trânsito no bairro será prejudicado.

    A idéia fica ainda mais ridícula quando se pensa que há vastos espaços livres perto do Centro Administrativo do Estado. Um bom local para esse terminal seria o espaço entre a avenida Praia de Belas e a Borges de Medeiros, no limite da zona residencial da Cidade Baixa. Ou ainda mais longe, perto do prédio da Receita Federal, conhecido como "chocolatão". Lá não mora quase ninguém. Talvez fosse até uma forma de despovoar a região de todos os moradores de rua e pivetes cheiradores de cola.

    21 de novembro de 2006, 12:17 | Comentários (16)

    mais uma chance de criar caso

    A Secretaria Municipal de Planejamento promove nesta terça-feira, dia 14, uma oficina sobre a revitalização do Centro. Supõe-se que os participantes poderão dar suas sugestões para o programa Viva o Centro. Infelizmente a oficina acontece no horário de trabalho da maioria dos mortais, das 8h30 às 18h, no Hotel Everest — cujo coffee break, por sinal, é muito bom.

    13 de novembro de 2006, 10:10 | Comentários (0)

    as palavras não valem mais nada
    Assim, o antigo aliado dos Estados Unidos foi sentenciado à morte por crimes cometidos quando era o melhor amigo de Washington no mundo árabe.

    Sobre a condenação de Saddam Hussein à forca, pouco mais pode ser dito do que a coluna de Robert Fisk reproduzida abaixo. E que qualquer ser humano consciente deveria ser contra a pena de morte, mesmo para — e talvez principalmente — os monstros.

    Continue Lendo...

    8 de novembro de 2006, 11:12 | Comentários (25)

    leitura na escola é um fracasso

    O Ibope fez uma pesquisa sobre os hábitos de leitura dos gaúchos e concluiu que o índice no Estado é quase três vezes maior do que a média no resto do Brasil e o dobro da América Latina. Outro ponto interessante é que os livros de auto-ajuda, sempre no topo da lista de mais vendidos, não são os mais lidos. Mas as boas notícias terminam aí.

    Os livros religiosos respondem por 24% do total de leitura dos gaúchos. Outros tipos de ficção, como romance, conto e infantil, ficam com 20% cada um. A auto-ajuda soma apenas 9%. Nada contra ler sobre religião, o problema é saber até que ponto este tipo de livro não compreende a auto-ajuda classificada de forma errônea. De qualquer modo, não se pode dizer que todo mundo está lendo Balzac, Dostoiévski, Rosa ou Melville, como o alto índice de leitura poderia fazer pensar. A pesquisa também jogou por terra a idéia de um mercado literário gaúcho, já que somente 32% dos entrevistados costumam comprar livros.

    O mais grave, entretanto, é o seguinte dado: "Do público geral da pesquisa, 12% lê para a escola ou universidade, mas a porcentagem aumenta para 35% entre aqueles com até 15 anos, caindo para 21% entre os 16 e 24 anos." Ou seja, depois de ler obras abjetas como Escrava Isaura e Ana Sem Terra ou difíceis como Memórias Póstumas de Brás Cubas, boa parte das pessoas desiste de manter a leitura como hábito. Isso, mesmo com a média relativamente alta de livros lidos por ano. É preciso mudar urgentemente o modelo da disciplina de literatura no ensino médio, se a idéia for mesmo formar leitores.

    6 de novembro de 2006, 11:16 | Comentários (19)

    essa é para quem gosta de criar caso

    A Secretaria Municipal de Planejamento promove na terça e quarta-feira da semana que vem um encontro sobre reabilitação de centros urbanos, com a exposição de experiências feitas em Lisboa, Quito, Córdoba, Bogotá, Santos e Belo Horizonte. O debate vai servir para a redação do plano de revitalização do Centro de Porto Alegre. Ou seja, é uma daquelas raras chances do cidadão ir ao Estado dizer o que pensa sobre as coisas.

    20 de outubro de 2006, 11:19 | Comentários (17)

    2006: um idiota no espaço

    Consistente com sua política de união e entendimento entre os povos, George W. Bush decidiu unilateralmente que vai derrubar as naves espaciais de quem quiser. Assim como invadiu o Iraque, que com suas armas de destruição em massa era claramente uma ameaça ao estilo de vida norte-americano, impedirá qualquer outro país "do Mal" de chegar ao espaço.

    Há partes secretas no decreto presidencial que, supõe-se, indicam a estratégia para levar a democracia a Marte, Vênus, Saturno e onde mais norte-americanos conseguirem chegar. Bush também já avisou que nem adianta vir falar com ele, porque não vai nem ouvir propostas de acordo internacional.

    Como contra a estupidez a força é o único argumento, propõe-se aqui uma lei de caráter mundial, a ser aplicada sobretudo pelos residentes nos Estados Unidos: a partir deste momento, é direito e dever de todos negar o acesso de imbecis aos cargos de comando das nações. Qualquer proposta de tratado internacional em favor da idiotice será desprezada. Enfatiza-se, entretanto, que esta política está comprometida com o uso pacífico da inteligência por todas as nações.

    19 de outubro de 2006, 10:49 | Comentários (12)

    anarco-financismo é o futuro

    A esquerda está sem rumo. Governos democratas nos Estados Unidos e social-democratas na Europa se sucedem sem fazer mudanças significativas. Na América Latina, a esquerda não produz nenhuma mudança fundamental nas estruturas sociais, mas limita-se a adotar políticas anestésicas, como a nacionalização dos hidrocarbonetos na Bolívia, ou das reservas de petróleo na Venezuela. Após quatro anos de Lula no Brasil, é impossível acreditar em mudar o mundo pela democracia representativa. O PT passou anos prometendo mudar tudo e fez o contrário.

    Os ativistas e bichos-grilos de maneira geral continuam com a mesma estratégia de protestar com ladainhas intermináveis e tentar convencer as pessoas apelando para argumentos racionais ou emocionais. Esqueçam. Isso não adianta mais nada. Em vez de ler Negri e Hardt, Rushkoff, Melanie Klein, Chomsky, deviam é estar lendo a biografia de George Soros. Embora alguns considerem o mega-especulador um vilão pós-moderno, ele é na verdade o maior anarquista contemporâneo. Um modelo que todo ativista devia seguir.

    soros.jpg
    Nosso amigo se prepara
    para foder com mais um bando
    de porcos capitalistas.

    A estratégia para mudar o mundo em um ambiente ultracapitalista como esse é clara: entrar no jogo, ficar bilionário e usar sua força para impor as políticas que achar adequadas. Um de seus maiores lances foi quebrar a libra esterlina e impor um severo golpe ao imperialismo britânico, ganhando US$ 1 bilhão na jogada. Há ação mais anarquista do que essa?

    Não apenas isso, como Soros vem usando o dinheiro para sustentar políticas de esquerda. Contribuiu para tentar tirar George W. Bush do poder e apoiou mudanças de regime na Europa Oriental, ajudando por exemplo Vaclav Havel na República Tcheca e colaborando para derrubar Milosevic na Sérvia. Soros vem fazendo com sua Open Society tudo que os ativistas de esquerda sempre sonharam.

    Obviamente, melhorar o mundo não é a preocupação mais importante de Soros. Sua preocupação é encher os bolsos de dinheiro, mas cuidando para manter uma imagem de bom homem. Agora, imaginem se, em vez de se acorrentar a árvores, os ambientalistas fossem ricos o suficiente para comprar a porra da floresta inteira e mantê-la a salvo? Comunistas poderiam usar o dinheiro para fundir dezenas de instituições bancárias, só para depois fechá-las e distribuir o dinheiro aos pobres. Aqueles preocupados com abusos de direitos humanos no Tibete poderiam jogar contra a economia chinesa e tentar enfraquecer o país até que se dispusesse a negociar. Enfim, as possibilidades são infinitas.

    A única forma de ser anarquista hoje em dia é se tornar o maior especulador financeiro do mundo.

    16 de outubro de 2006, 11:26 | Comentários (23)

    pais fundadores se reviram no túmulo

    Depois de sancionar o uso da tortura e outros abusos de pessoas detidas na guerra ao terror, os norte-americanos dão mais um passo em sua marcha para descer à categoria de república bananeira: estão tentando impedir a criação de uma lei contra abusos trabalhistas na China. Não, você não leu mal: as multinacionais norte-americanas com negócios por lá querem que os trabalhadores chineses continuem a ser tratados pouco melhor do que se trata escravos.

    Difícil entender como essas ações se coadunam com a idéia de exportar a democracia para o resto do mundo.

    13 de outubro de 2006, 17:57 | Comentários (11)

    golpe baixo

    aracruz.jpg

    Anúncios como este estão espalhados por todo o Espírito Santo, onde a Aracruz tem problemas com os índios locais. A empresa se sente injustiçada, mas retaliar com mensagens de ódio como essa é fazer um papel muito feio.

    11 de outubro de 2006, 10:47 | Comentários (23)

    retrato do brasil
    O processo é esquizofrênico e hipócrita, bom ressaltar. Provavelmente nenhum brasileiro está mais previamente disposto a corromper o policial da esquina do que o carioca. Mas o tipo de moralidade que cobra – com toda sinceridade – dos políticos, não vale para si. Ele pensa que o sistema é corrupto e que ele, cidadão, só está jogando o jogo que lhe foi imposto. Sujeito complicado este carioca da Zona Sul e Grande Tijuca. Mas ele vota em Fernando Gabeira e em Cesar Maia ao mesmo tempo sem perceber a contradição.

    A coluna de hoje do Pedro Doria sintetiza o traço mais irritante do brasileiro: seguir, agora e sempre, a Lei de Gérson. Brasileiro acha que a culpa é sempre dos outros: do governo corrupto, dos pobres que são vagabundos e preferem roubar a trabalhar, dos portugueses que nos colonizaram. A culpa nunca é dos próprios crimezinhos que comete todos os dias, no varejo. Sonega um impostinho aqui — "porque vão roubar mesmo, né?" —, suborna um guardinha ali — "ah, pára, eles não estão preocupados com a lei, querem é fazer caixa às custas do motorista" —, joga um papelzinho na rua lá — "pô, todo mundo joga!".

    O projeto político mais importante para o Brasil ainda é mudar a mentalidade do povo. Deixar de ser o país do "não dá nada", como diz a Tainá.

    5 de outubro de 2006, 13:12 | Comentários (20)

    eleições comprovam que gaúchos são vanguarda

    Minha tradicional avaliação das eleições está no Nova Corja este ano.

    4 de outubro de 2006, 17:46 | Comentários (2)

    perguntinha

    Afinal, por que todo mundo está dizendo que o acontecimento do segundo turno entre Lula e Alckmin faz bem seria um avanço da democracia? Se Lula tivesse conseguido votos suficientes para se eleger no primeiro turno, não haveria problema algum. O povo escolheu em quem votar, votou e pronto. A não ser, claro, que democracia seja apenas quando o povo referenda as vontades de um ou de outro.

    Considerando que escolher entre Lula e Alckmin — ou Yeda e Olívio no Rio Grande do Sul — é um arremedo de democracia, a vitória de algum deles no primeiro turno ao menos pouparia o cidadão de ser aporrinhado por mais duas ou três semanas de campanha.

    3 de outubro de 2006, 23:29 | Comentários (21)


    insanus_votenu.jpg

    1 de outubro de 2006, 0:00 | Comentários (5)

    mais um voto para cristovam

    Se a minha opinião sobre o candidato do PDT à presidência não tem autoridade suficiente para lhe convencer, talvez a de Ricardo Noblat tenha. O jornalista foi diretor de redação do Correio Braziliense durante o governo Cristovam. Se ele não sabe de nenhuma falcatrua do candidato, é porque não há mesmo.

    Interessante que Noblat faz a mesma avaliação que fiz há um mês sobre Cristovam Buarque: honesto e racional, mas sem perder a capacidade de imaginar projetos, como se espera de um bom político em uma democracia. Ei, Estadão, aceito fazer o mesmo trabalho por metade do salário do Noblat!

    28 de setembro de 2006, 10:16 | Comentários (17)

    voto aberto

    Vejam vocês como são as coisas. O sujeito fica defendendo o voto nulo por alguns meses e acaba se decidindo por votar em todas as instâncias dessa eleição — ainda que em protesto nos cargos executivos. Lembre-se de que os cargos legislativos são muito mais importantes. Apesar das medidas provisórias, quem manda mesmo no país são deputados e senadores. Pense nisso com carinho.

    Cristovam Buarque — Foi o candidato que melhor manteve a dignidade nessa eleição. Lula deixou de ser digno durante os últimos quatro anos. Alckmin nunca foi digno de nada além de pena. Já Heloísa Helena quis se mostrar digna demais e acabou pondo tudo a perder na campanha, tornando-se uma mera grasnadora arrogante. Cristovam argumenta racionalmente e tem um projeto, enquanto os outros se limitam a papagaiar clichês. Sem entrar no mérito do projeto e de suas idéias, talvez uma votação expressiva do trabalhista incentive os marqueteiros a investir em um verdadeiro debate daqui a quatro anos. Ou seja, em vez de passar um recado niilista votando nulo, voltei a acreditar na democracia.

    Guilherme Giordano — Até votaria no candidato do Partido Verde ao governo do Estado, mas depois da patuscada do vídeo falso é impossível. Além disso, Edison Pereira não sabe fazer o verbo concordar com o sujeito. Meus dedos não digitarão o 13 esse ano, então Olívio está fora, embora seja um dos poucos petistas a ter saído com dignidade quando Lula chamou os vendilhões ao Planalto. Por outro lado, Giordano é o candidato mais divertido, trazendo leveza e humor ao horário eleitoral. Seria triste vê-lo cair fora por conta da cláusula de barreira. E não deixa de ser um voto de protesto, exigindo mais espaço para a esquerda.

    Vera Guasso — O PSTU sempre me divertiu com slogans criativos como "contra burguês, vote 16", ou "contra o FHC, o FMI e tudo isso que está aí". Infelizmente não aceitaram minha sugestão de "contra petista, vote comunista", mas tudo bem. Outro partido que merece ficar acima da cláusula de barreira. E Vera Guasso é honesta, conforme averigüado com relações pessoais indiretas. Até votaria em Simon pelo mesmo motivo, se ele não estivesse ameaçando morrer antes de completar o mandato de oito anos, abrindo o caminho para um suplente qualquer. Se quiser me seguir, digite 161 na urna.

    Manuela D'ávila — Fiquei bastante bem impressionado ao entrevistá-la para o Nova Corja. Não é nada ranheta enquanto comunista e também parece ser uma boa pessoa, isto é, alguém que não vai roubar. A candidata a deputada federal pelo PCdoB não parece, porém, ter grandes projetos, mas neste momento o importante mesmo é impedir que corruptos voltem ao Congresso. O número é 6565.

    Filipe Oliveira — É professor do cursinho Unificado e tem como plataforma combater a depredação arquitetônica das cidades gaúchas pelos interesses econômicos das incorporadoras. Certamente não rouba: conheço-o desde criança, por ser casado com uma tia minha. É o único candidato a deputado estadual em que confio o suficiente para dar um voto. Concorre pelo PV, o que ainda tem a vantagem de colaborar para manter o partido de Gabeira acima da cláusula de barreira. O número é 43010.

    27 de setembro de 2006, 11:19 | Comentários (20)

    como dar um jeito no brasil

    José Paulo Kupfer dá a receita para trazer desenvolvimento econômico e social ao país. A solução é tão simples quanto difícil de ser posta em prática: educação de qualidade e reforma agrária. Diz o economista que nenhum país de alto IDH chegou onde está sem tratar dessas duas questões. Faltou comentar se uma funciona sem a outra.

    Reforma agrária e educação parecem estar bastante ligadas. A primeira melhora a vida das pessoas aqui e agora, dando-lhes de onde tirar o sustento. Mas propriedades pequenas são inviáveis a longo prazo, porque à medida em que o proprietário vai gerando herdeiros, ela corre o risco de acabar dividida até um tamanho improdutivo. Assim, é preciso investir em educação para que ao menos alguns dos filhos dos pequenos agricultores encontrem um meio de vida em outras áreas e aliviem a pressão sobre o pedaço de terra da família. Caso contrário, ou a terra acaba estilhaçada em micropropriedades, ou a família se vê obrigada a aumentar seu lote, contribuindo para um retorno da concentração no futuro.

    Interessante constatar que, fora da esquerda folclórica, ninguém fala em redistribuição de terras nessa campanha à presidência.

    21 de setembro de 2006, 17:53 | Comentários (39)

    visões do centro

    Participei nesta segunda-feira de um grupo focal sobre o Centro de Porto Alegre, organizado pelo professor Walter Nique, da Escola de Administração da UFRGS. Fui convidado por ser morador do bairro e, suponho, blogueiro. Conversando com o professor Nique, sujeito simpático e aparentemente entusiasmado com a vocação, descobri que a iniciativa foi dos alunos, que em sua cadeira devem produzir uma pesquisa em marketing a cada semestre. No site da disciplina pode-se baixar PDFs com todas as pesquisas já feitas. Uma boa fonte de informação sobre a cidade.

    Entre os colegas, o major Maciel, da 1ª Companhia do 1º Batalhão da Brigada Militar, responsável pelo policiamento da região, Cláudio Klein e Fortunato, da associação dos concessionários do Mercado Público, Clarissa Ciarelli, editora dos cadernos de Bairro da Zero Hora, e Maria Erni, arquiteta da secretaria de Planejamento. Foi uma boa oportunidade de ter uma idéia do que se pensa sobre o Centro. A discussão girou em torno principalmente da questão da segurança e da deterioração dos aparelhos públicos.

    O major Maciel certamente foi corajoso em comparecer. Era óbvio que ele teria de se defrontar com a ira dos cidadãos presentes. A maioria parece compreender que o comando da BM não tem tanta culpa pela falta de efetivo para policiar o Centro da capital, mas isso não aliviou as reclamações. Eu, por exemplo, comentei com o major que é inaceitável não se ver um só PM durante quase dois anos de trajeto diário pela praça Argentina. Todos os dias passo lá e todos os dias há vidro de carro quebrado no chão ao longo do meio-fio. Ou seja, até os minerais sabem que se rouba um monte de carros lá. Por outro lado, o major afirma que já prendeu um mesmo sujeito 60 vezes. Em todas ele foi liberado pelo Judiciário. Assim, realmente, fica difícil trabalhar.

    Major Maciel trouxe algumas estatísticas interessantes: o Centro tem 42 mil moradores e 8 mil pontos de comércio regular. Suspeita-se que existam mais 2 mil pontos de comércio irregular, além dos camelôs. Há mais ou menos 1400 moradores de rua adultos, além de 300 que dormem em um abrigo perto da rodoviária e durante o dia "vão para onde podem conseguir dinheiro e comida", ou seja, furtam ou cometem pequenas trapaças. Há também um abrigo para 50 menores. Uma das campanhas do major é para que esses abrigos sejam mandados para outra área da cidade, o que diminuiria os problemas no Centro, onde há pouco efetivo. Também reclamou que as delegacias da Polícia Civil ficam na Riachuelo, fora do miolo mais populoso, e na Ramiro Barcelos, longe demais. Isso sobrecarrega a BM com a necessidade de redigir boletins de ocorrência. Para piorar, gente que mora na periferia faz os boletins no batalhão do centro, porque o Tudo Fácil fica na Borges. Essa gente, por não saber como funciona o sistema policial, diz que foi roubada no Centro, quando na verdade o crime ocorreu em outros bairros, o que infla as estatísticas. Conforme dados das associações de transportadores e Trensurb, o Centro tem uma população flutuante de 600 a 800 mil pessoas por dia.

    De qualquer modo, a percepção geral é que no Centro há poucos crimes violentos. Em geral ocorrem furtos e estelionatos. Os próprios moradores não se sentem muito ameaçados, embora certamente não andem tranqüilos por aí.

    O maior atrativo do centro parece ser mesmo a grande diversidade comercial, cultural e social. Pode-se comprar desde DVD pirata no camelô a roupas de grife, pode-se comer cachorro-quente a R$ 1 com três salsichas ou bacalhau no Gambrinu's, pode-se falar com a elite política ou com mendigos. Cláudio Klein, da Banca 43 do Mercado Público, perguntado sobre sua percepção do Centro, respondeu: "se for pedir para o meu cliente responder em uma palavra, ele vai dizer que é uma esculhambação". Meio que se arrependeu quando, na minha vez, peguei sua definição e disse que a tal esculhambação é justamente o charme do bairro. Como tem um cargo político, deve ter achado que pega mal. Mas penso que ele tem toda razão. O Centro certamente parece uma esculhambação para muita gente. Há quem goste de diversidade, porém. Tanto que a editora dos cadernos de bairro, Clarissa Ciarelli, identificou uma tendência crescente de artistas e intelectuais de ocupar o Centro. No fim das contas, todos os participantes mais ou menos concordaram que o Centro reflete todas as vantagens e desvantagens da situação cultural e social do Brasil. Ou seja, resolver o problema do Centro exige resolver os problemas não apenas de Porto Alegre como um todo, mas também da Região Metropolitana.

    Outra questão levantada foi da falta de higiene. Com poucas lixeiras e 1400 moradores de rua, além dos camelôs, fazendo suas necessidades nas calçadas, as ruas ficam uma porcaria. O problema é que, no Mercado, por exemplo, as pessoas levavam até torneiras e lâmpadas, antes de começarem a cobrar uma taxa pelo uso dos banheiros. Sugeri que se instalassem vespasianas, como as que existem em Amsterdam.

    Na verdade, fugimos um tanto do objetivo do grupo focal, que era levantar categorias de percepção do Centro de Porto Alegre entre seus moradores e freqüentadores. Falou-se mais na questão da segurança, mesmo, e os representantes de instituições pareciam estar falando de palanques. Os dados recolhidos serão usados na criação de um questionário, a ser aplicado entre os habitantes da cidade toda. Pretende-se descobrir o que pensam do bairro. Os resultados serão publicados no site da disciplina ao final do semestre.

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    Este texto foi republicado no Palegre, blog sobre a capital editado pelo jornalista e webdesigner Solon Brochado.

    19 de setembro de 2006, 17:23 | Comentários (13)

    11/9 visto por bush

    O repórter Matt Lauer encosta Bush na parede quanto aos casos de tortura contra suspeitos de terrorismo, praticada em bases secretas da CIA ao redor do mundo. O presidente norte-americano não apenas admite que existe, como se coloca bastante a favor. Perguntado se não há preocupação em se transformar naquilo que tentam combater, Bush apenas assegura estar tentando proteger as famílias norte-americanas.

    15 de setembro de 2006, 16:17 | Comentários (6)

    abaixo o seqüestro do futebol

    Certamente esse assunto já foi discutido na mídia e em outros blogs e mesas de bar por aí. Ainda assim, vale martelar um pouco mais em cima. É um absurdo o seqüestro do futebol pelos interesses comerciais no Brasil. Os pobres não têm mais como assistir aos jogos de seu time legalmente.

    A Globo sempre compra os direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro apenas para veicular os jogos do Flamengo, mesmo que sejam contra o Santa Cruz ou a Ponte Preta, e outros jogos de times do eixo Rio-São Paulo. Grêmio e Inter só passam na televisão jogando contra algum desses times, ou se a partida cair no mesmo horário. Caso contrário, os torcedores têm de agüentar a novela Sinhá Moça ou o Faustão no lugar.

    A Globo jamais se atreveria a fazer isso, não fosse a invenção do cabo. Assim, pode fechar o sinal dos jogos que interessam à maior parte do Brasil e cobrar pelo acesso. É claro que muita gente vai ficar de fora da brincadeira. Mas só as pessoas que não interessam aos anunciantes: aquelas sem dinheiro para gastar. O pior é que nem aos clubes esse povo deve interessar, já que não tem como pagar ingresso e muito menos comprar os produtos anunciados em todos os cantos do estádio.

    Isso obriga quem não tem dinheiro a ir a algum boteco assistir. Difícil aferir quantos desses botecos realmente pagam pelo acesso ao pay-per-view. É certo que muitos aderem ao sistema GatoNet, assim como grande parte das pessoas. Não deixa de ser uma boa vingança contra toda a palhaçada dos clubes e da mídia, mas é ilegal. Irônico que a Globo trabalhe contra si mesma nesse caso.

    Aí vão dizer que é preciso "profissionalizar" o futebol, para pagar os salários nababescos exigidos por um bando de analfabetos. O problema é que essa espiral de aumentos de salários começou, justamente, por conta da necessidade de agradar aos patrocinadores. Como jogador mais talentoso atrai mais atenção, passaram a ganhar mais. E os times tiveram de atraí-los com salários maiores, para atrair mais patrocinadores. E assim vai. Mas isso não é problema só do futebol, o mundo inteiro hoje funciona nesse sistema de celebridades. Para quem se pergunta o quanto a mercantilização de tudo e a publicidade podem prejudicar o mundo, aí está um bom exemplo.

    Alternativas existem. A Globo poderia, por exemplo, usar no Rio Grande do Sul a TVCOM para a transmissão dos jogos em horários de novela. Seria até bom para o Ibope da emissora, que hoje é um traço. Freqüências vazias também poderiam ser usadas. Ou, como sugeriu um leitor do Impedimento, os próprios clubes poderiam ter emissoras e negociar direto com quem quisesse transmitir. Quem sabe, a Band, "o canal do esporte", ou a Record. Ou até mesmo a Rede Pampa.

    Certo é que o povo quer futebol. Tanto é assim que, quando o Grêmio faz promoções de trocar um vidro de Nescafé por um ingresso, pagando meros R$ 5, o estádio enche. Vê-se que os capiaus nas ruas ficam animados dias antes, comentando que já fizeram a troca. Afinal, quem é dono dos clubes, a torcida, os patrocinadores ou a Globo?

    13 de setembro de 2006, 11:18 | Comentários (13)

    para achar bin laden, tente os camelôs de peshawar
    The merchandise hidden under the glass counters, however, caters to a different kind of thrill. For a discreet inquiry and 75p, the smiling traders offer a wide selection of jihadi DVDs. Slickly edited footage shows beheadings of alleged collaborators, bombs that flip American Humvees into the air, and the last words of suicide bombers. And then there are the images of the lanky Saudi tycoon's son with a bad back, a scraggly beard and a placid, dead-fish glare. "I've sold about 100 since Friday," says Abdul at one of the stalls, sifting through a stack of discs. "Some ask for [Afghan militant] Gulbuddin. Some ask for Taliban. Some ask for Osama."

    The sheikh, the director, the emir, even "the Samaritan" - Bin Laden violently changed the course of our world in 2001, and then began his own audacious flight from justice. Six days after the twin towers folded into Manhattan, while dazed Americans fumbled for meaning, President George Bush promised to lasso in the al-Qaida leader, Texan style. "There's an old poster out west, as I recall, that said, 'Wanted: dead or alive'," he told a press conference at the Pentagon. The order went down the line. Cofer Black, the CIA's counterterrorism chief, later told a subordinate, "I want Bin Laden's head shipped back in a box filled with dry ice." Yet five years on, a pokey video stand on the Pakistani frontier is about as close as anyone has got.

    Reportagem de Declan Walsh faz um balanço da caça a Bin Laden, que promete se tornar um dos maiores fiascos da história da espionagem. Uma invasão militar e milhões e milhões de dólares para nada.

    12 de setembro de 2006, 10:23 | Comentários (14)

    11 de setembro

    luto.gif

    11 de setembro de 2006, 11:13 | Comentários (14)

    revendo o voto

    Há um mês, quando abri meu voto, a campanha na televisão ainda não havia começado. Nenhum debate fora transmitido. Nesse tempo, Heloísa Helena cada vez mais passou demonstrar péssimos sinais. Isto é, sinais de lulismo. O primeiro foi a forma arrogante como se comportou no Jornal Nacional e em outras situações de conflito, típica de nosso presidente. A candidata do P-Sol também adotou uma imagem "paz e amor", lembrando sempre que pode sua condição de mãe derretida e católica fervorosa. Nada disso combina com uma líder socialista, desculpem, nem aliás com a própria senadora, sempre combativa. Dá uma impressão muito densa de jogada publicitária. Nesse caso, Heloísa Helena estaria desistindo antes mesmo de começar. Lula ao menos perdeu três vezes, antes de trair seus ideais.

    Cristovam Buarque, por outro lado, supreendeu em sua entrevista ao Jornal Nacional e continua surpreendendo. O ar de coitado combina com ele e isso o faz ao menos parecer honesto, se é que não o é mesmo. Por outro lado, tem sido ponderado em seus pronunciamentos, mas sem se deixar intimidar. É um sujeito racional, o que hoje em dia significa quase um suicídio político. Como se não bastasse, o brasileiro parece ter gostado de seu projeto para a educação, porque todos os outros candidatos andam martelando sobre esse assunto. Não admira. É o único a realmente ter algum projeto. Pode-se argumentar que seja imbecil, ou gostar, mas que Cristovam tem um projeto de Brasil, isso tem.

    Criou-se o impasse. Por um lado, votar em Heloísa Helena seria uma boa maneira de lembrar o PT pragmático que ainda existem pessoas cujos ideais de esquerda restam intactos. Uma votação expressiva sua talvez chamasse o partido à consciência. Por outro lado, ela tem cada vez mais deixado transparecer semelhanças com os piores aspectos da esquerda, não os melhores. Por um lado, Cristovam pertence ao PDT, um partido com tendências caudilhescas e responsável por muitas desgraças no Rio Grande do Sul. Por outro lado, o P-Sol é um partido tão ruim quanto, embora por outros motivos. Votar em uma esquerdista duvidosa e dar um recado ao PT, ou então em um político divorciado da realidade, mas incentivar as boas práticas da racionalidade e ponderação no Brasil? Inclino-me a cada dia mais para Cristovam.

    31 de agosto de 2006, 10:11 | Comentários (25)

    stalinismo na banca de revistas

    O jornaleiro e estudante de história Fábio Marinho, de Porto Alegre, parou de vender as revistas Veja, Época e a falecida Primeira Leitura. A gota d'água foi uma reportagem do semanário da Abril sobre Hugo Chávez em que " tudo era escrito num tom muito ofensivo, sem o menor respeito por um presidente de Estado, de uma nação soberana, eleito pelo voto popular". O semanário da Globo e o do PSDB foram barrados por "perseguir" o governo Lula. A parte mais educativa da entrevista é a seguinte:

    Isso não pode prejudicar o seu trabalho, visto que a Veja é uma das publicações mais vendidas e que, portanto, gera grande retorno à banca?

    Sobre perder vendas, bem, entre ganhar dinheiro com a Veja ou perder algumas vendas e contribuir para que os meus clientes descubram a Caros Amigos, a CartaCapital, a Reportagem, fico com esta segunda opção, sem falar no componente ético que em mim é muito forte.

    É isso aí. Como todo bom estudante de história, Marinho é comunista. E como todo bom comunista, pensa saber o que é melhor para os outros. E pretende fazer com que o tenham, gostem ou não. Mas, evidentemente, os clientes da banca são pobres alienados, incapazes de decidir por si mesmos qual revista faz o melhor jornalismo, não é? O pior de tudo é ver gente que deveria proteger a pluralidade no jornalismo apoiando essa bobagem. Na praça em Berlim onde uma placa lembra a queima de livros de judeus e "escritores decadentes" pelos nazistas, há ao lado uma frase do poeta Heinrich Heine: "lá, onde se começa a queimar livros, ao final se está queimando homens".

    22 de agosto de 2006, 22:08 | Comentários (41)

    a arte da guerra ao crime
    Uma das exigências dos seqüestradores da equipe da TV Globo em SP era aparecer na televisão. No vídeo eles fazem uma série de exigências, mas seqüestram o jornalista pedindo em troca a exibição do vídeo. A partir dessa constatação, gostaria de perguntar se a sociedade está se dividindo entre pessoas e não-pessoas, entre visíveis e invisíveis?

    – Não, mas estamos nos dividindo entre aqueles que têm uma vida para viver e os que não têm. Na economia contemporânea é o contrário do capitalismo industrial clássico. No capitalismo contemporâneo, que se move à velocidade do sinal eletrônico e que aplica intensa, ininterrupta e sucessivamente tecnologia à produção da riqueza material, criou-se uma nova categoria que é o refugo humano. O velho Marx falava em exército industrial de reserva, mas o exército industrial de reserva acabou. Não existe mais. O exército industrial de reserva eram as pessoas que não estavam alocadas na divisão social do trabalho, mas que iriam ser integradas, mais cedo ou mais tarde, ou poderiam vir a ocupar um lugar na divisão social do trabalho. O refugo humano é gente que não ocupou, não ocupa e não ocupará lugar nenhum na divisão social do trabalho. Isso acontece no Brasil, assim como na Ásia, na África e nos demais países da América Latina. Com a presença do terceiro mundo no primeiro mundo, também vai acontecer no primeiro mundo. O último filme do Costa Gravas, O Corte, trata dessa questão, só que ao nível dos executivos. Aquilo é a insegurança com o emprego, o efeito daqueles que estiveram empregados no mundo do desemprego estrutural.

    O sociólogo Luiz Carlos Fridman explica, sem mostrar aliás nenhuma simpatia pela bandidagem, por que as políticas de segurança pública baseadas APENAS na repressão estão todas fadadas ao fracasso. Quem não tem vida própria, não valoriza a vida dos outros. Os criminosos não têm nada a perder e, como já ensinava Sun Tzu, quem combate esse tipo de inimigo sempre sai perdendo. Por outro lado, Fridman dá alguma esperança ao dizer que esse "refugo humano" sem vida própria não precisa necessariamente entrar para o crime. Está disposto a qualquer coisa, desde ir para a igreja a entrar em uma oficina de artesanato ou música. Só é preciso que alguém ofereça uma alternativa. Ou seja, para vencer essa guerra, é preciso dar ao inimigo algo a perder.

    19 de agosto de 2006, 12:41 | Comentários (8)

    estamos cercados de idiotas

    Norte-americanos conhecem melhor Krypton do que planetas do nosso sistema solar. Além disso, 74% conseguem lembrar dos nomes dos três patetas — Larry, Curly e Moe —, mas só 42% sabem quais são os três poderes — Judiciário, Legislativo e Executivo. E lá as escolas públicas são boas. A pesquisa também mostrou que mais norte-americanos conhecem Harry Potter do que Tony Blair, mas isso faz bastante sentido, já que Blair não influi diretamente em suas vidas. Os outros dados, porém, são preocupantes. Sobretudo porque essa gente controla bombas nucleares e o maior aparato militar da Terra.

    A suposta ignorância dos norte-americanos é sintoma de um mundo em que conhecer o sistema solar ou compreender o sistema político não faz a menor diferença. A posição de Mercúrio, afinal, só influi na vida de quem acredita em astrologia. Por outro lado, saber que é o planeta mais próximo ao Sol não faz tanto sucesso nas reuniões sociais quanto lembrar o planeta do Super-Homem ou saber toda a cosmogonia de Harry Potter. As pessoas vão ao cinema, lêem livros ou assistem à televisão quase todos os dias. A política aparece só de dois em dois anos, quando são chamadas a eleger seus representantes. O conhecimento emancipador do iluminismo não faz mais parte da vida do ser humano comum. Aliás, nunca fez.

    Isso é bom? Nem um pouco. Mas é compreensível.

    16 de agosto de 2006, 10:20 | Comentários (23)

    o lado bom

    Por incrível que pareça, o seqüestro de um repórter da Globo pelo PCC pode ser um bom sinal. Os criminosos queriam a divulgação de um vídeo em que reclamam do Regime Disciplinar Diferenciado. Isso significa que o RDD funciona e realmente está atrapalhando a vida dos bandidos. Não o suficiente para impedir ações como essas, mas já indica um caminho a seguir pelo governo, caso queira dar um jeito na situação.

    ATUALIZAÇÃO: Leia aqui a íntegra do comunicado do PCC, pedindo respeito à lei no trato com prisioneiros. Embora a reação instintiva seja pensar "ora, ladrões e assassinos exigindo direitos que não dão às suas vítimas!", o caminho não é esse. Se o Estado quer ver os cidadãos cumprindo a lei, tem de cumpri-la ele mesmo.

    13 de agosto de 2006, 20:42 | Comentários (16)

    votar nulo é direito. ponto.
    A patrulha do bem tem uma característica inconfundível: se move sempre com a certeza de carregar a verdade absoluta. Daí o feitio quase religioso de suas cruzadas. Os virtuosos estão em campo de novo, agora para mostrar aos distraídos que o voto nulo é ruim para a democracia. Não ouse discordar. Você será tachado de alienado, ignorante ou agente involuntário da corrupção.

    Votar nulo está errado, avisam os éticos. E não fique chateado, eles só querem o seu bem. Você é um sujeito distraído que não sabe o que é bom para você, mas para sua sorte tem alguém que sabe. E que vai lhe dizer o que fazer.

    Nem sempre dá para concordar com o Guilherme Fiúza, então é bom aproveitar. Essa é dedicada aos leitores que criticam a opção pelo voto nulo.

    6 de agosto de 2006, 12:16 | Comentários (20)

    revendo o voto nulo

    Agora que as candidaturas estão formalizadas e o cenário eleitoral mais ou menos definido, é uma boa repensar a proposta de anular tudo. Em março, dizia que era uma boa opção usar o voto nulo como forma de transmitir um recado aos políticos. Isso continua valendo. Por outro lado, o boato de que 50% de nulidade levaria a novas eleições não se confirmou. Embora o artigo 224 do Código Eleitoral preveja que "se a nulidade atingir a mais de metade dos votos do país nas eleições presidenciais, do Estado nas eleições federais e estaduais ou do município nas eleições municipais, julgar-se-ão prejudicadas as demais votações e o Tribunal marcará dia para nova eleição dentro do prazo de 20 a 40 dias", ele só faz sentido quando cotejado com o artigo 220, que descreve o conceito de nulidade:

    É nula a votação:

    I - quando feita perante mesa não nomeada pelo juiz eleitoral, ou constituída com ofensa à letra da lei;
    II - quando efetuada em folhas de votação falsas;
    III - quando realizada em dia, hora, ou local diferentes do designado ou encerrada antes das 17 horas;
    IV - quando preterida formalidade essencial do sigilo dos sufrágios.
    V - quando a seção eleitoral tiver ido localizada com infração do disposto nos §§ 4º e 5º do Art. 135.

    Ou seja, nada a ver com o voto nulo. Falta agora explicar por que ele tem esse nome. Em todo caso, anular perde muito da graça. A questão dos Sanguessugas também se impôs neste período de quase seis meses. Um quinto do atual congresso está comprometido e muitos dos suspeitos são também candidatos. Não se pode arriscar que sejam reconduzidos ao Congresso. A Câmara e o Senado são muito mais importantes do que presidentes e governadores para os rumos do país. Afinal, apesar da aberração das Medidas Provisórias, são essas casas que decidem o que pode ou não ser feito, e como deve ser feito. Se fosse composto por gente mais honesta e trabalhadora, o Executivo seria naturalmente posto nos eixos. Só para dar um exemplo, se os parlamentares trabalhassem de verdade, as votações seriam mais rápidas e as MPs perderiam muito de sua utilidade.

    A proposta, então, é a seguinte: votar a sério apenas para cargos legislativos e anular os votos para cargos executivos. Assim, une-se o útil à agradável sensação de levantar o dedo médio para toda essa corja.

    O problema, é claro, é definir quem é honesto e trabalhador entre os candidatos. Comecemos pela deputância federal, que é mais fácil. Aqui, abro meu voto em Manuela d'Ávila, do PCdoB. Em primeiro lugar, ninguém do partido está envolvido em qualquer escândalo. Claro que, quando se é um partido sem poder, ninguém quer corromper seus quadros, mas a curto prazo o PCdoB pode ser considerado honesto. Em segundo lugar, a própria Manuela é honesta, até onde se pode perceber em duas horas de conversa ao vivo e pelas avaliações de outras pessoas que a conhecem. Finalmente, ela não apresenta a principal desvantagem da maioria dos comunistas: a tacanhice. Na entrevista para o Nova Corja, mostrou ter mente aberta e criticou a esquerda sectária. Difícil saber se vai fazer algo digno de nota na Câmara, propor Leis interessantes, mas mesmo que não faça nada por quatro anos, não se corromper já é suficiente. Outra opção é esperar que o Transparência Brasil adicione logo dados de gaúchos a seu dossiê.

    No caso do Senado, a situação se complica. Os únicos candidatos com chances reais são Pedro Simon, do PMDB, e Miguel Rosseto, do PT. O primeiro até é honesto, mas infelizmente está metido em um partido mais sujo que pau de galinheiro. O segundo não está num partido muito melhor, mas pertence a uma tendência menos dada a meter a mão no dinheiro público. Porém, Rosseto é um imbecil. Jogo duro. A melhor escolha, por incrível que pareça, seria Vera Guasso, do PSTU. Motivo? Honestidade, aferida com base em relacionamentos pessoais. O partido tem os melhores slogans. Além disso, são grandes humoristas, a galera do PSTU. Seria bastante divertido. Enfim, o ideal seria pesquisar o comportamento legislativo de Simon e Rosseto, mas é proibitivo se afundar naquele lamaçal de salamaleques que são os dados à disposição. Por outro lado, não se pode contar com nossos valorosos jornalistas, que deveriam fazê-lo, para fazê-lo. Quanto a Simon, é preciso notar que seu suplente, ao menos agora, é Hermes Zanetti. Quem é esse cara? Simon está velho, afinal. Como não há mais muita diferença entre PT e PMDB, ou Simon e Rosseto, vou de Vera Guasso.

    Restam os candidatos a deputado estadual. Em geral, os deputados que aí estão são todos um lixo. É o caso de se escolher um partido para votar, já que são 499 candidatos e é difícil obter informações, mas hoje em dia nenhum partido merece a distinção do voto na legenda. Nem os próprios sites dos partidos ajudam nesse sentido. Estou aceitando sugestões de bons candidatos.

    Na eleição para presidente, no primeiro turno, votarei em Heloísa Helena, só para encher o saco do PT e mostrar que ainda há quem flerte com as idéias de esquerda nesse país, gente insatisfeita com o governo tucano de Lula. No caso trágico de ela ir ao segundo turno e ter reais chances de vencer, é tapar o nariz e votar no outro candidato. Senão, o melhor caminho é o litoral catarinense e a abstenção.

    4 de agosto de 2006, 20:46 | Comentários (25)

    cada eleição tem os fatos que merece

    É impossível ficar entediado nesta vida, entre outras coisas, porque o mundo vive ironizando a si mesmo. Em 1993, Lula comandava a Caravana da Cidadania, visitando os cafundós mais perdidos do Brasil para conhecer a realidade das pessoas. Em uma chicana da direita, imagens externas foram proibidas no horário eleitoral gratuito, e por isso o candidato então de esquerda ficou sem seu melhor material.

    2006. A mesma Globo, no mesmo Jornal Nacional que detonou as chances de Lula com uma matéria distorcida sobre o debate final em 1989, faz a sua própria Caravana pelo Brasil. O objetivo é mostrar os anseios dos brasileiros em todos os cantos. Comanda a empreitada o mestre de cerimônias, poeta esportivo e jornalista áulico Pedro Bial. O primeiro texto dele dá o tom do que está por vir:

    Alô, alô, segura aí as últimas, ou melhor, as primeiras da “Caravana Rolidei”! Eu sei que certo povo de língua grande, excitável como só, prefere chamar nossa expedição de “Priscilão”, tudo certo, cada um dá o que quer, inclusive o apelido que bem lhe apraz. Prefiro citar o belo filme de meu sogro Cacá Diegues, “Bye Bye Brasil”, pois naquela história de ficção o Brasil se reconheceu – ou melhor não se reconheceu, e se surpreendeu...

    Sim, continuaremos suportando poeminhas como aquelas narrações em câmera lenta da Copa. Interessante que não há em lugar algum menção à Caravana da Esperança. Talvez a Globo não queira deixar tão patente a reapropriação marqueteira da idéia. Reapropriação que não é condenável em si. As reportagens inclusive são muito boas, quando o Bial fica de boca fechada. Só é triste ver que a esperança de um país melhor pela via política se tornou um carnaval midiático inócuo, em que as celebridades televisivas substituem os representantes do povo.

    31 de julho de 2006, 20:38 | Comentários (17)

    cotas raciais ou sociais?

    Quando o sujeito se pega concordando com Ali Kamel, contra Elio Gaspari, algo está muito errado. Mas o diretor de redação do Globo tem toda razão em ser contra as cotas para negros nas universidades — ou para índios, judeus, maoris, seja lá o que for. Até reproduziria alguns trechos de sua coluna, se a versão digital do jornal permitisse copiar texto, ou ao menos gerasse páginas estáticas para as colunas. Pelo jeito, estão em guerra contra os blogueiros. Em todo caso, o argumento principal é que nem todos os excluídos brasileiros são negros. Por isso, as cotas deveriam ser dadas conforme a renda, não conforme a cor.

    É verdade. Quem mora no Rio Grande do Sul sabe que no Vale do Taquari, por exemplo, há descendentes de alemães tão pobres quanto os negros. Dar benefícios a uns e não a outros é, no mínimo, imoral. Por outro lado, reforça as diferenças baseadas na cor da pele, quando o objetivo é ter o efeito contrário. Outro problema, no Brasil ao menos, é definir onde começa e onde termina a negritude. Se meu pai fosse negro e minha mãe branca, e eu fosse um pouco moreno, teria direito a cotas? O avô do ruivo Cardoso é negro. Ou seja, ele é 1/4 negro. Teria direito? Aliás, negros e brancos não têm DNA igualzinho, exceto por um gene ou dois em meio a trilhões? Então, tecnicamente, todo mundo é negro, ou ninguém é. Outra questão é a diferença entre os Estados. Uma pessoa considerada branca no Rio de Janeiro ou Salvador poderia virar mulata ao chegar em Porto Alegre.

    As cotas sociais são baseadas no currículo escolar e, por isso, precisas. Não há espaço, salvo fraude, para discussão. Quem cursou escola pública ganha pontos e pronto. Inclusive, incluiria um mecanismo para levar em conta a renda familiar e impedir que filhinhos de papai entrassem em uma escola pública no último ano de ensino médio, bem como para diferenciar os remediados, que poderiam fazer cursinho, dos miseráveis. A Unicamp vem usando cotas sociais com muito sucesso. Em geral, os alunos são muito mais disciplinados e motivados que os outros. Claro que, ao propor cotas sociais, o governo admite que não cuida direito de suas escolas. Melhor faria destinando mais recursos a elas. Mas levaria tempo até consertar toda a lambança que se instaurou, então, ao menos por enquanto, dar um empurrãozinho aos mais pobres é a melhor opção.

    Raramente aparece nestas discussões o argumento de que, em termos raciais, o vestibular é uma das seleções mais igualitárias existentes. O computador que analisa as folhas óticas com respostas não sabe se o candidato é branco ou negro, muito menos teria capacidade de discriminar uns ou outros. A lógica das cotas raciais é que, como são discriminados desde a infância, como seus pais tiveram menos chances por ser negros e por isso não puderam lhes dar maiores confortos e educação em escolas particulares, os candidatos negros teriam direito a preferência. Mas isso é cota social, não racial, mesmo que a causa mais anterior da pobreza seja a discriminação. Outro objetivo seria aumentar a representatividade dos negros na formação superior, já que são metade da população. No entanto, como em geral fazem parte também da metade mais pobre, acabariam recebendo preferência de qualquer maneira. E os brancos pobres do Vale do Taquari não teriam motivos para detestá-los.

    A Raquel Recuero lançou há um tempo a pergunta sobre como fazer quanto ao ingresso em mestrado e doutorado. Seriam necessárias cotas? Não. Em tese, quem já passou por uma universidade e se graduou está no mesmo nível dos outros candidatos, seja qual for a cor. Inclusive, quem se formou em universidade pública tem vantagens, ao contrário do que ocorre no ensino básico. Este argumento fecha a questão por si mesmo, mas há mais.

    Uma pós-graduação pressupõe um tipo de relação diferente entre a instituição e o aluno. O comprometimento das duas partes é muito maior. Um aluno da graduação pode abandonar o curso quando quiser e o problema é dele. Se um mestrando ou doutorando não defende sua tese, porém, a instituição é penalizada. O candidato precisa se adequar às linhas de pesquisa, aos projetos do orientador e, pode ser chato dizer isso, mas é preciso haver uma relação de simpatia entre um e outro. Não se passa dois ou quatro anos trabalhando com alguém com quem se antipatiza. Uma seleção para pós-graduação não pode ficar refém de um mecanismo que a obrigue a aceitar um aluno sob qualquer outro critério que não o de uma união de conhecimento, carisma e histórico que podem ser sintetizados na palavra competência.

    29 de julho de 2006, 20:32 | Comentários (47)

    não existe vida fora da banda larga

    Graças a uma operadora de telemarketing imbecil, ainda estou sem banda larga em casa. Porém, dois assuntos exigem comentários imediatos.

  • Não é preciso ler o site da Fenaj e dos sindicatos, ou a Carta Capital, para saber que vão acusar Lula de ter se dobrado aos interesses da "grande mídia" ao vetar a lei que ampliava o leque de atividades que exigiriam diploma de jornalista. Talvez. Por outro lado, ainda não encontrei nenhum bom jornalista que defendesse a idéia.

  • Se ataque "inteligente" de Israel acerta até prédios da ONU, mesmo com diversos alertas das forças de paz, imagine-se o quanto conseguem separar os civis inocentes dos terroristas.

    Porém, existe esperança nessa vida.

    ATUALIZAÇÃO: Quem diria, nem o Mino Carta. De fato, nenhum bom jornalista defende a proposta.

    26 de julho de 2006, 21:18 | Comentários (22)

    façam o que eu digo

    Então, fica combinado assim: quando palestinos matam civis israelenses, é terrorismo. Quando Israel bombardeia alvos civis no Líbano, mesmo longe da área de concentração do Hizbolá, é legítima defesa.

    14 de julho de 2006, 13:34 | Comentários (64)

    guerra civil

    Até que ponto deverá chegar o caos em São Paulo, para que se declare Lei Marcial e invada as ruas com o exército? Vinculada a isso está outra questão: até que ponto colocar os direitos dos presos acima da segurança nacional? Todos sabem quem são os comandantes dos ataques. Seria possível colocá-los em um isolamento ainda maior do que já estão no regime restritivo. Ou mandá-los para alguma cadeia de localização desconhecida.

    Quem diria que o Brasil teria de lidar com os constrangimentos da guerra ao terror um dia? Por um lado, dar poderes de exceção à polícia e ao exército é sempre perigoso. Por outro, estão queimando ônibus e prédios públicos e matando gente à pampa.

    14 de julho de 2006, 10:29 | Comentários (15)

    tempos difíceis

    Anda difícil manter o otimismo com toda a idiotice que corre solta pelo mundo. Harold Bloom que o diga, em entrevista ao Polzonoff:

    PPJ: O senhor faz declarações muito interessantes sobre as distinções entre Javé, Jesus e Jesus Cristo, que seria um outro personagem. Fico aqui me perguntando: o leitor comum é capaz de compreender seus argumentos? Será que este tipo de leitor, que cresceu lendo autores vulgares, está capacitado para discutir suas idéias?
    HB: Realmente, as pessoas não estão preparadas. Elas não querem… É complicado, porque é um livro que exige educação. Não quero impor nada. É um livro de idéias. Não sei como anda a educação no Brasil, mas tenho a impressão de que a educação no mundo como um todo tem piorado. Vivemos na Era da Informação, pessoas conseguem informação que querem a todo o momento, vivem na frente do computador. Mas não tenho certeza se isso se traduz em educação. Se elas estão abertas a discutir idéias, se conseguem compreender. Vivemos tempos estranhos…

    PPJ: Há quem diga (eu digo), que vivemos uma segunda Idade das Trevas. Vivemos tempos obscurantistas...
    HB: Acho que é uma boa definição. Vivemos, sim, numa Idade das Trevas. Obscurantistas, sem dúvida.

    Bloom também diz na entrevista que Harry Potter e qualquer outra literatura do gênero, ao contrário do que se diz, não é a porta de entrada para a boa literatura. É a porta de entrada para Stephen King.

    Faz sentido. Os livros do aprendiz de feiticeiro certamente não são literatura com L maiúsculo. São entretenimento. Bom entretenimento, mas tão somente. É provável que apenas mantenham as crianças acostumadas a se anestesiar, como faz a televisão. Por outro lado, comecei a vida de leitor com diversas porcarias e acabei chegando a bons livros, de algum modo. O livro que realmente me fez gostar de ler foi Vinte mil léguas submarinas, de Júlio Verne, que embora seja muito divertido, é literariamente pobre.

    15 de junho de 2006, 17:37 | Comentários (11)

    vale a pena ver de novo

    Reproduzido aqui o texto publicado no Nova Corja, porque o assunto é importante:

    Ligue 0800-619619. Não digite nada. Espere para falar com uma atendente. Diga que é para votar a favor do cancelamento da taxa de telefone fixo, que custa R$ 37,02. A Lei é a nº 5476. O assunto não está sendo veiculado na TV ou rádio porque as empresas não têm interesse neste tipo de divulgação. O telefone é da Câmara dos Deputados. Mesmo se não for você quem paga o telefone da sua casa, exerça seus direitos. As ligações são aceitas de segunda à sexta-feira, das 08h às 20h.

    As ligações são rápidas. É necessário informar apenas seu nome completo, a cidade onde mora e o número do telefone fixo de sua residência. Quando a lei entrar em vigor, quem estiver cadastrado só pagará pelas ligações efetuadas. Este projeto está tramitando na Comissão de Defesa do Consumidor na Câmara. Quanto mais pessoas ligarem, mais fácil será para o projeto ir à votação.

    Pode ser que as ligações fiquem mais caras para aqueles que usam todos os minutos oferecidos no plano básico. Seria lógico para as empresas tentar compensar a perda da assinatura básica com alta na tarifa. Para aqueles que jamais passam de 15 minutos ao telefone todo mês e só instalaram a porcaria do aparelho por causa da banda larga — o que aliás configura crime de venda casada, mas parece que só a consumação nos bares incomoda —, o projeto é essencial.

    25 de maio de 2006, 12:38 | Comentários (6)

    epifania no churrasco de domingo

    Sempre fui a favor do parlamentarismo. Sobretudo depois de conhecer o sistema de governo alemão. No entanto, basta lembrar de como a Câmara elegeu Severino Cavalcanti, para apoiar com todas as forças o presidencialismo.

    23 de abril de 2006, 23:03 | Comentários (17)

    mais um se junta às fileiras

    O 10 anos a 1000 se junta à campanha pelo voto nulo. O vídeo tem péssima qualidade, mas dá para se ter uma idéia do que foi a distribuição de dinheiro com "vote nulo" carimbado, no que parece ser a Avenida Paulista. Os dados do autor dizem que ele é head trader de um banco de investimentos, o que coincide com o local de trabalho e a abundância de recursos para a campanha.

    Há uns anos, influenciado por Hakim Bey, costumava escrever coisas como "você é o que consome?" e "quanta felicidade você pode comprar com esta nota?". Acho que é o momento de retomar o terrorismo poético, agora com objetivos políticos.

    Dica do Charles Pilger.

    20 de abril de 2006, 17:23 | Comentários (25)

    nuke the hippies

    Um ambientalista defende a energia nuclear. Os argumentos de Patrick Moore são bastante razoáveis:

  • O custo é comparável ao da força hidrelétrica ou termelétrica;
  • são relativamente seguras, quando se seguem as regras — o que não foi o caso em Chernobyl;
  • o lixo nuclear decai em apenas 40 anos e já existem tecnologias para reaproveitá-lo;
  • é verdade que o lixo pode ser usado para fabricar armas nucleares, mas para evitar isso também já existe tecnologia e, de qualquer modo, quase toda tecnologia é perigosa.

    O principal argumento, no entanto, é a possibilidade de substituir as 600 termelétricas norte-americanas, responsáveis por nada menos que 10% das emissões globais de dióxido de carbono. Problema muito mais urgente do que qualquer uma das possíbilidades trágicas da energia nuclear.

    Sugestão do Gabriel.

    17 de abril de 2006, 21:09 | Comentários (15)

    perguntar não ofende

    Por que um bando de estudantes franceses pode pôr fogo em tudo devido a um projeto de lei, mas muçulmanos que tiveram seu mais importante símbolo religioso avacalhado em um cartum sacrílego não podem pôr fogo em embaixadas? Por que se aplaude a ação de uns e se condena a de outros? Vendo bem, o motivo por trás das duas badernas é o mesmo: ameaças ao imaginário, religioso num caso, político no outro.

    31 de março de 2006, 19:03 | Comentários (18)

    somos todos gérson

    Pesquisa mostra que 75% dos brasileiros cometeriam atos ilegais. Foi feita pelo Ibope. Conforme os dados, os brasileiros mais honestos são os menos instruídos e mais pobres. A classe média já aceita muito melhor dar uma gorjeta para o guarda esquecer a multa, sonegar impostos ou empregar um parente em cargo público.

    Ainda mais interessante, as pessoas mostraram uma tendência a condenar os atos, mas praticá-los mesmo assim. Assim, 78% acham inaceitável fazer trem da alegria com parentes em viagens oficiais. Mas só 57% disseram que não fariam isso. Outra boa:

    40% dos entrevistados nunca compraram produtos que copiam os originais de marcas famosas, mesmo sabendo que são falsificações. Mas eles dizem que apenas 11% dos seus conhecidos tiveram o mesmo comportamento. E acreditam que míseros 2% dos brasileiros nunca fizeram algo parecido.

    Os dois conjuntos de dados acimam só podem ter um significado: o brasileiro tem tendência a mentir em pesquisas. É óbvio que todo mundo já comprou produtos piratas, ou fez gato na TV a cabo. Só que mentem ao responder aos questionários, talvez por medo de represálias. Ou para não encarar a própria falta de ética.

    Por outro lado, indicam também o quanto esse é um país de merda. O sujeito tenta garantir o seu porque nunca sabe como será o futuro. Tem consciência de que determinadas atitudes são erradas, mas no contexto em que vive, sabe que é preciso ser desonesto às vezes. A isso se chama sobrevivência. Por que pagar impostos se vão ser roubados e poderiam financiar uma boa parte da escola das crianças? Ou multas? É chato botar meu irmão como meu assessor, mas por outro lado o mercado de trabalho está difícil... Estou orgulhoso do brasileiro. Essa pesquisa mostra que é completamente realista.

    Claro que, enquanto continuar assim, o país também não melhora. Se toleramos a corrupção no cotidiano, é natural que o Congresso ainda esteja em pé depois de tudo o que rolou por lá nos últimos meses. Fosse em um país onde a transgressão não vale a pena no dia a dia, já estaria em chamas. Só toleramos o que se parece conosco. O problema é que uma mudança de atitude viria só a longo prazo e a maioria das pessoas, aliás muito sabiamente, não pretende ser trouxa sozinha até que a massa crítica se forme.

    Isso é um trabalho que fica para gente idealista.

    29 de março de 2006, 10:07 | Comentários (10)

    cagando lei

    Marcos Sá Corrêa pede ajuda para redigir um projeto de reforma política para o Brasil. É domingo, o sujeito não tem nada para fazer, acaba enviando uma idéia:

    A TV Câmara e a TV Senado transmitirão o Big Brother Brasília em horário integral. No programa, o contribuinte poderá acompanhar o cotidiano de seus representantes, desde o café da manhã até o copo de leite antes de deitar-se, passando por reuniões, telefonemas e encontros com outros políticos, grupos de interesse e lobistas. Exceção para as visitas ao banheiro, desde que o parlamentar esteja desacompanhado.

    12 de março de 2006, 19:06 | Comentários (3)

    proud to swim home

    Para quem anda se perguntando como andam as coisas em Nova Orleans, Idelber Avelar faz um excelente relato com olhos de morador.

    11 de março de 2006, 16:31 | Comentários (1)

    rio 40 graus

    O que deu nos traficantes cariocas? Em geral esses fuzis roubados do exército apareciam rapidinho, assim que os militares ameaçavam chegar perto das favelas. Desta vez, estão deixando o Rio virar zona de guerra. Não é preciso ser o Delfim Netto para saber que isolar os morros e cortar o fluxo de drogas é ruim para os negócios. Os clientes, afinal, estão na praia. E não é preciso ter servido para saber que os milicos vão encontrar essas armas, nem que tenham de jogar napalm nas favelas.

    Chega-se a duas possíveis conclusões: ou os chefões do tráfico não sabem quem roubou as armas e assim não podem entregá-las ao exército junto com um cadáver, ou então eles têm muito mais poder de fogo do que imaginamos aqui fora. De qualquer jeito, fica o risco de as pessoas gostarem da idéia de ter os militares patrulhando a cidade permanentemente. Daqui a pouco, vão começar a achar que a ocupação deve se estender ao Planalto.

    8 de março de 2006, 14:48 | Comentários (10)

    o que é bom para a itália é bom para o brasil

    — Senhor Berlusconi, como o governo pode ajudar um trabalhador a ganhar pelo menos 1500 euros ao mês?
    A resposta de Berlusconi, o empresário, é... tentem ganhar mais.

    Taí. Esse conselho tem tudo para resolver as mazelas sociais do Brasil também. Ainda bem que existem homens como Berlusconi no mundo.

    7 de março de 2006, 10:57 | Comentários (10)

    política aqui e lá

    O curso de alemao que estou fazendo aqui inclui seminários sobre literatura, política e "comunicacao intercultural". Nosso professor, Herr Westerhoff — aquele que sofreu uma revista proctológica pela polícia — é bastante interessado no assunto e em geral passa metade da aula nos fazendo perguntas sobre a política em nossos países. Em uma destas ocasioes comentou-se sobre o mensalao.

    Herr Westerhoff entao lembrou de um caso igual ocorrido na Alemanha. O ex-chanceler Helmut Kohl recebeu dinheiro de alguma fonte privada para o seu partido, a Uniao Crista Democrática [CDU]. Eram uns trocados, coisa de poucos millhoes de euros. Pois bem, quando o caso foi descoberto, o parlamento pediu explicacoes a Kohl. Ele admitiu tudo, mas se negou a revelar a fonte do dinheiro, dizendo que havia °dado sua palavra" quanto a manter sigilo. Com isso, teve de pagar os impostos cobrados sobre doacoes privadas a partidos, algo como € 600 mil. Até hoje todos se perguntam quem ressarciu o ex-chanceler, que depois de tudo isso ainda ficou mais 14 anos no poder. O SPD, social-democrata e oposicao ao CDU, ameacou investigar a fundo o caso, mas voltou atrás quando os conservadores prometeram investigar casos parecidos na esquerda.

    A licao é: política é igual no mundo inteiro. Nao precisamos continuar com nossa síndrome de vira-latas. A política no Brasil é feita como no primeiro mundo.

    Aliás, a política é tao parecida nos dois países, que aqui na Alemanha também existem partidos tao imbecis quanto o PCO ou o PAN. Meu preferido é o Partido dos Cristaos Fiéis à Bíblia. Ou entao o Partido dos Nao-Votantes. E, claro, o Partido Anarquista, cujo slogan é Arbeit ist Scheisse [Trabalho é uma merda].

    14 de fevereiro de 2006, 10:13 | Comentários (14)

    paranóico é alguém com uma vaga noção da realidade

    — Você já parou para pensar em como os habitantes da Cidade do Kuwait, após serem mantidos reféns por sete longos e dolorosos meses, foram capazes de conseguir bandeiras norte-americanas — aliás, de outros países da coalizão também?

    Bem, agora sabe-se a resposta: era parte do trabalho de John Rendon, do Rendon Group. A revista Rolling Stone tem uma extensa e profunda reportagem sobre como Rendon ajudou a criar as condições para a invasão do Iraque na opinião pública norte-americana e, em menor extensão, mundial. A matéria mostra ainda como os grupos com poder político e econômico influenciam a mídia de forma sutil, um trabalho chamado de "gerenciamento de percepção".

    Rendon considera seu trabalho como um ajuste das "impressões erradas sobre a realidade" que os jornalistas passam à sociedade em seu afã pelo furo:

    Although his work is highly secret, Rendon insists he deals only in "timely, truthful and accurate information." His job, he says, is to counter false perceptions that the news media perpetuate because they consider it "more important to be first than to be right." In modern warfare, he believes, the outcome depends largely on the public's perception of the war — whether it is winnable, whether it is worth the cost. "We are being haunted and stalked by the difference between perception and reality," he says. "Because the lines are divergent, this difference between perception and reality is one of the greatest strategic communications challenges of war."

    É, pois é. Burroughs talvez tivesse razão, mesmo.

    17 de dezembro de 2005, 16:31 | Comentários (3)

    para onde ir

    O Canadá tem as melhores cidades para se visitar, segundo a revista The Economist. Visitar a negócios, bem entendido, muito embora isso provavelmente signifique que são boas de morar, também. O Brasil conseguiu apenas um 87º lugar para o Rio de Janeiro, atrás de Bucareste, na Romênia, e até de Asunción, no Paraguai. Provavelmente devido à violência, fator que contou muito na pesquisa. Aliás, fizeram a gentileza de publicar a metodologia.

    Nesta mesma edição com previsões para 2006, Philip Eden sugere que nos próximos 20 anos o clima será mais quente e seco na maioria dos lugares, enquanto as tragédias como furacões e inundações provavelmente serão mais freqüentes e terão maior duração. Além disso, Emerson fala sobre o futuro do futebol. Infelizmente, boa parte do conteúdo é fechada para não-assinantes.

    17 de dezembro de 2005, 12:18 | Comentários (1)

    o que fazer com os criminosos?

    O Cisco e o Solon quase têm razão sobre a lenga-lenga em volta da execução de Tookie Williams. Apesar de ele ser péssimo garoto-propaganda para os contrários à pena de morte, o debate gerado em torno do tema tem seu mérito. De qualquer modo, sua execução serve até melhor na luta contra a pena capital, até porque comprova que esta tem a ver somente com vingança, não com benefícios à sociedade, já que hoje em dia o condenado era militante contra a violência e valia mais vivo.

    Por outro lado, a grande verdade é que, no fundo, nenhuma pena de reclusão tem em vista benefícios à sociedade. Trata-se sempre de mera vingança. Qualquer um que conviva duas semanas com detentos descobre logo que é muito difícil alguém se regenerar ali. Cadeias são apenas um depósito de lixo para a escória de que a sociedade quer se ver livre. Neste sentido, talvez fosse mais útil enviar todos os condenados a uma ilha no meio do oceano, como se fazia antigamente. Ou para trabalhos forçados em minas de carvão. Ou ainda para seminários evangélicos isolados. Por incrível que pareça, somente as seitas evangélicas mostram ter algum poder de regeneração sobre os criminosos. Nem tão incrível, pensando bem: praticam a boa e velha lavagem cerebral.

    14 de dezembro de 2005, 21:07 | Comentários (13)

    cai fora, zé

    Ricardo Kotscho entrevista José Dirceu. Entrevista entre compadres, claro:

    Às vésperas do teu julgamento pela Câmara, como você se sente? Em que tem pensado nos poucos momentos em que fica sozinho?

    Eu me sinto profundamente reconfortado pelo apoio que venho recebendo. Evidentemente, estou triste, mas não amargurado, por tudo o que aconteceu. E eu tenho feito uma reflexão profunda sobre os erros que nós cometemos e como posso ajudar a superar esta situação. Minha vida pessoal não mudou. Faço exercícios todos os dias, acabei de ler “A Aventura de Miguel Líttin Clandestino no Chile”, de Gabriel Garcia Marques (a história de um cineasta que consegue escapar do fuzilamento nos anos Pinochet) e agora estou lendo “O Diário de Nina”, de Nina Lugovskaia (o terror stalinista nos cadernos de uma menina soviética). Já li mais de dez livros nesta crise. Vejo filmes em casa, vou à Câmara, cuido da minha defesa. E durmo razoavelmente bem para a situação que estou vivendo.

    As leituras mostram que não, José Dirceu não se recuperou ou arrependeu. Das duas uma: ou está lendo estes livros para se inspirar em um movimento de vingança stalinista, ou então os citou apenas como forma de provocação a seus acusadores, querendo indicar que se sente como perseguido político em um período de totalitarismo.

    20 de novembro de 2005, 1:17 | Comentários (4)

    bem coisa de comunista

    graffiti.jpg

    Havia uma grafitagem interessante nesta parede da praça Argentina, em frente ao prédio da Engenharia da UFRGS, em Porto Alegre. É a segunda vez que os integrantes do DCE, militantes do PSOL, apagam os graffiti para fazer propaganda. Afinal, a revolução não pode ser impedida por mera arte, não é mesmo? Tomara que percam a eleição.

    16 de novembro de 2005, 19:04 | Comentários (49)

    o ódio

    Esses distúrbios em Paris são o acontecimento político mais importante do ano — a crise no governo Lula não é fato político, já desceu ao nível de palhaçada. Conforme a resposta do governo francês, será definido não apenas o futuro da imigração na Comunidade Européia, como até mesmo o futuro das relações entre o Ocidente e o Oriente.

    O Libération, como bom comunista, publicou uma das primeiras matérias com alguns dos jovens hidrófobos contando seus motivos. Basicamente, eles consideram o governo arrogante, especialmente a "falta de respeito" com que foram tratados pelo ministro do Interior, Nicolas Sarkozy. Contribuiu muito o fato de policiais terem atacado uma mesquita com gás lacrimogêneo.

    É interessante a diferença entre os favelados franceses e os brasileiros. Não lhes falta acesso às benesses do Estado de Bem-Estar social, mas justamente por isso eles odeiam a França. Sentem-se tutelados demais pelo governo. Ah, a adolescência e sua rebeldia contra os pais!

    No Brasil, apesar de não terem acesso a nada, os jovens favelados não odeiam o Estado. Talvez nem saibam de sua existência, a não ser na figura da polícia. Então despejam sua raiva sobre o cidadão de classe média. De forma desorganizada, ao contrário dos colegas francófonos. Será devido à falta de educação formal, o que não ocorre entre os gauleses?

    A unir os dois grupos de bárbaros, um só problema: falta do que fazer. O desemprego e a ausência de perspectivas são tão grandes lá quanto aqui. Por ser o único ponto em comum, deve ser a causa. Há apenas duas opções: dar alguma atividade a eles, ou então prendê-los todos.

    Um bom momento para finalmente assistir La haine.

    7 de novembro de 2005, 10:08 | Comentários (11)

    que os favelados não leiam as notícias

    Aux armes, citoyens.

    ATUALIZAÇÃO: les citoyens foram mesmo aux armes.

    6 de novembro de 2005, 11:01 | Comentários (6)

    barômetro das américas

    O brasileiro parece estar a cada dia mais maduro. De acordo com uma pesquisa publicada pela Economist, só 37% dos brasileiros acham a democracia preferível a qualquer outro tipo de governo — uma queda de 13 pontos desde 1996. Por outro lado, cada vez menos brasileiros acreditam que um governo autoritário seria melhor: apenas 15%, uma queda de 9 pontos desde 1996. Ou seja, achamos a democracia uma bela bosta, mas também não acreditamos em outros sistemas. Viramos niilistas. Tendência igual à do resto da América Latina.

    É de fato difícil acreditar na democracia quando se vê todos os dias na imprensa os parlamentares perdendo tempo em disputas pelo poder e picuinhas irrelevantes. Quem está na oposição vive apenas para impedir que quem está no governo possa governar, com o objetivo de tomar o cargo na próxima eleição. Basicamente, Brasília é isso.

    Quando resolvem se mexer, os políticos só nos fodem. Ou aumentam os próprios salários, ou nos fazem perder tempo em um domingo de sol para votar em um referendo inútil. De qualquer modo, só torram nosso dinheiro — ou roubam. Como diz Michel Maffesolli, o trabalho do político hoje é nos convencer de que ele é necessário. Ao menos no Brasil, estão indo mal.

    Pior de tudo: os jornalistas nem mesmo se surpreendem mais. Arthur Virgílio, líder do PSDB, diz no Jornal Nacional que o governo terá de arregar muito mais agora para aprovar qualquer medida. O repórter nem sequer replica algo como "mas onde fica o interesse público, excelência?". Aceitam tudo. Brasília não estraga somente os políticos, estraga os repórteres também. É muita distância do povo e muito pouca distância do poder. Suruba total.

    29 de outubro de 2005, 10:15 | Comentários (6)

    critical art ensemble na berlinda

    Você é um artista que trabalha com bactérias inofensivas, professor em uma universidade e criador do Critical Art Ensemble. Um dia, acorda, vê sua esposa morta a seu lado, chama a polícia. E aí, é acusado de bioterrorismo pelos panacas do FBI. É o que está acontecendo a Steve Kurtz.

    20 de outubro de 2005, 12:24 | Comentários (4)

    felicidade interna bruta

    Não chega a ser uma grande novidade, mas a matéria do New York Times sobre o índice de Felicidade Interna Bruta, usado pelo Butão para calcular o desenvolvimento do país, é bastante extensa e profunda. Um país fundado por Drukpa Kunley só podia ser do cacete.

    5 de outubro de 2005, 20:04 | Comentários (3)

    furacão político

    Enquanto o vice-presidente dos Estados Unidos tenta se explicar à CNN, um transeunte manda Dick Cheney se foder em uma área atingida pelo Katrina. Cortesia de Gabriel Britto.

    Bob Harris encontra mais uma alarmante evidência de incompetência da administração George W. Bush no caso do furacão. Aproveite o ensejo e Meet the Fuckers.

    9 de setembro de 2005, 14:41 | Comentários (0)

    nem pangloss concordaria

    Para a mãe do presidente George W. Bush, a vida dos pretos e pobres atingidos pelo furacão Katrina em Nova Orleans melhorou. Ela também mostrou preocupação com a possibilidade de muitos deles resolverem ficar no Texas, estado onde mora.

    Enquanto isso, agora que a tormenta já se acalmou, a polícia resolveu evacuar à força a cidade. Espera um minutinho, não deveriam ter feito isso ANTES do maldito furacão passar e matar milhares? É foda ser pobre e preto nos Estados Unidos, mesmo.

    8 de setembro de 2005, 11:54 | Comentários (9)

    idéias em risco de extinção

    A revista Foreign Policy traz artigos sobre 16 conceitos em perigo de desaparição nos próximos 35 anos. Entre os autores está nosso excelentíssimo ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso. Ele sugere que os partidos políticos podem sumir, mas infelizmente não se pode acessar o texto sem ser assinante da revista.

    Peter Singer abre os trabalhos sugerindo que a santidade da vida humana vai desaparecer sob o peso do progresso científico, que agora começa a trabalhar com genética e embriões. Além disso, a eutanásia provavelmente será legalizada na maioria dos lugares, já que a maioria da população será idosa e estará pensando a sério se prefere apodrecer em um hospital ou dar um fim digno à própria vida. O resultado, para Singer, é que ser um indivíduo da espécie Homo sapiens já não será requisito para ter os direitos humanos.

    Lawrence Lessig vê riscos para o domínio público. O jurista acredita que a reação hidrófoba das corporações contra a pirataria pode levar à extensão do direito de copyright pela eternidade e sobre todas as coisas. Além disso, a tecnologia permite um controle muito maior do uso de obras sob proteção.

    Esther Dyson supõe a hipótese de que as redes telemáticas levarão ao fim do anonimato, mas isto não é necessariamente ruim. Para ela, um mundo em que todos sabem todos os erros e falhas de caráter dos outros pode levar também a uma maior tolerância entre as pessoas.

    Christopher Hitchens acha que a extrema burocratização da União Européia vai transformar o euro em algo como o esperanto. Simplesmente porque comitês não entendem o papel das emoções na política, muito menos que as pessoas têm afeição por sua língua e por sua moeda. Enfim, por sua nacionalidade.

    Os hedonistas de plantão ficarão felizes com as previsões de Peter Schwartz e Jacques Attali. O primeiro pensa um futuro com drogas personalizadas, um tanto ao estilo de Admirável Mundo Novo, mas sem ser necessariamente uma distopia. Já Attali acredita no fim da monogamia, com cada ser humano tendo a liberdade de viver mais de um amor ao mesmo tempo.

    Ligando-se os pontos entre os autores, na maior parte otimistas, pode-se ter uma boa idéia do mundo que virá. Quem ainda perde algum tempo para contemplar o mundo já percebe os sinais inequívocos de todos estes movimentos. O "amor livre" e as drogas, por exemplo, já fazem parte da formação dos jovens de elite e dos jovens pobres, restando apenas conquistar a classe média-média.

    No entanto, pode ser tornar um mundo em que a cultura sufoca sob o peso dos interesses dos acionistas das corporações e herdeiros de artistas. Não morre, obviamente, mas quem violar as regras ficará na marginalidade cultural, talvez mesmo fique mofando na prisão, caso a previsão de Dyson se concretize. Ou pode se tornar um mundo que aceita a pena de morte sem pestanejar, bem como a eliminação de seres humanos "inúteis". Finalmente, o fracasso da União Européia pode aprofundar a descrença em um mundo melhor através da política.

    1 de setembro de 2005, 17:11 | Comentários (3)

    negros saqueiam, brancos acham

    Absurdo. Simplesmente absurdo.

    31 de agosto de 2005, 0:31 | Comentários (7)

    era tudo mentira

    Pelo jeito, as circunstâncias da morte do brasileiro pela polícia britânica eram absolutamente diferentes das primeiras versões sobre o caso. Jean Charles não correu, não vestia um casaco pesado e pagou o tíquete do metrô. Bem que se tentou aqui entender o lado dos agentes da lei neste caso, mas pelo jeito eram somente mais uns WASPs preconceituosos, mesmo. E covardes, diga-se de passagem. Agora, o governo Blair deve se ajoelhar e pedir mais mil desculpas ao Brasil. Isso sem falar na família do pobre coitado.

    Em todo caso, o ponto central da análise anterior continua válido. Os terroristas sempre acabam por conseguir, no mínimo, pôr em risco os direitos civis nos países atacados. Não deixa de ser uma vitória parcial.

    17 de agosto de 2005, 21:35 | Comentários (6)

    panelaço da independência

    Há uma daquelas horrendas apresentações em Powerpoint circulando por email. Conclama a população a fazer barulho com panelas, buzinas, tiros, o que for, às 17h do Sete de Setembro.

    É pouco, muito pouco. A suposta indignação nacional merece muito mais do que um minuto de expressão. Havia iniciado uma comunidade no Orkut para discutir possibilidades e arranjar participantes para um protesto sério e coordenado em todo o país, mas não fez sucesso.

    Em todo caso, a sugestão para Porto Alegre seria uma reunião na Redenção, onde gritos de guerra bem-humorados e baderna generalizada correriam soltos. Na hipótese de pouca gente se pilhar, seria uma boa ir até a Assembléia Legislativa carregando material de limpeza e lavar o prédio. Esta segunda possibilidade provavelmente renderia boas imagens para jornais e televisão.

    No mais, onde estão os DCEs e centros acadêmicos? Os líderes estudantis? Ah, é verdade, eles eram todos correligionários do Partido dos Trabalhadores e agora insistem que é tudo uma tentativa de golpe da elite. De qualquer modo, essa trupe do movimento estudantil é insuportável. Melhor ficarem quietos mesmo.

    10 de agosto de 2005, 15:42 | Comentários (28)

    rosa de hiroshima

    Cisco, incrivelmente, tem razão em sua opinião sobre as bombas de Hiroshima e Nagasaki. Os japoneses não se renderiam assim tão fácil e provavelmente, apesar do horror, os bombardeios pouparam vidas. Mas na vida as coisas não se resumem à contabilidade, daí parecer muito pior lançar as bombas do que destrinchar na baioneta.

    Posição antipática de se tomar, mas basta fazer uma pergunta muito simples: os japoneses não teriam feito o mesmo, se tivessem chance? Teriam. Ah, se teriam! De modo que ninguém tem o monopólio da ética.

    A completa inutilidade se jogar a segunda bomba é um detalhe que mancha a decisão norte-americana. Se o objetivo era demonstrar poderio, Little Boy já seria suficiente. Fica parecendo é que os militares resolveram testar a diferença nos efeitos do urânio desta e do plutônio de Fat Man.

    O problema maior foi a mudança na natureza das guerras do século XX. Enquanto na Idade Média e até um certo período do renascimento as batalhas eram travadas entre soldados em campos inabitados, a nova guerra trouxe as bombas para as casas dos civis. Uma bomba atômica só poderia ser criada em um mundo em que o cavalheirismo e a honra eram valores em baixa.

    9 de agosto de 2005, 17:15 | Comentários (23)

    ruim para os negócios

    É incrível como o mundo do crime sempre parece mais organizado do que os Estados. Basta ver como os traficantes garantem a segurança da clientela nos morros bem melhor do que a polícia a mantém nos calçadões.

    27 de julho de 2005, 13:54 | Comentários (10)

    lamentável engano

    O The Guardian de hoje traz na capa as desculpas de Jack Straw pela morte de um brasileiro durante uma perseguição policial. Os agentes suspeitaram que ele fosse um terrorista, por motivos ainda não muito bem explicados. Acertaram cinco tiros na cabeça antes que o sujeito conseguisse entrar em um vagão.

    A imprensa brasileira, felizmente, está tratando o caso de maneira sóbria. Afinal, pelo que se sabe até agora foi mesmo um engano. A polícia diz que o brasileiro tinha uma atitude suspeita, usava roupas suspeitas e, provavelmente, tinha cor suspeita — um europeu confunde facilmente a tez morena de um brasileiro com a dos árabes. O sujeito saiu correndo e pulou a cancela da estação de metrô. A família insiste que ele tinha visto de residência, então o mais provável é que estivesse viajando sem pagar e tenha pensado que os policiais eram agentes do metrô querendo multá-lo. A polícia talvez tenha errado por preconceito, mas a maior parte da culpa é do brasileiro mesmo.

    No fim das contas, o caso mostra que as ações terroristas em geral atingem o objetivo de restringir as liberdades civis. Muita gente inocente vai presa ou ao menos passa por diversos constrangimentos, o direito de ir e vir é cerceado pelo reforço do controle nas fronteiras, e, no caso dos EUA, gente é mantida presa sem acusações e a imprensa sofre pressões.

    A polícia britânica, é claro, não tem muitas opções senão atirar em suspeitos antes que eles acionem suas possíveis bombas e matem muito mais gente. Nestes momentos é preciso deixar o individualismo de lado e privilegiar o bem da espécie. E cuidar de combater as causas. Como a The Economist mostrou em uma reportagem recente, abundância econômica não impede ninguém de virar terrorista, mas a pobreza leva gente normal ao terror.

    ATUALIZAÇÃO: De acordo com o governo britânico, o visto estava vencido. Assim, Jean Charles já tinha motivo para correr da polícia e gerar toda a confusão.

    24 de julho de 2005, 13:58 | Comentários (17)

    pelo amor de deus, parem de nos ajudar!

    Para o economista africano James Shikwati, "infelizmente, a necessidade devastadora dos europeus de fazer o bem não pode mais ser contida pela razão". Após Kadafi, ele é outra voz a pedir que a África pare de "mendigar". Um trecho:

    Der Spiegel - A África seria realmente capaz de solucionar esses problemas por conta própria?

    Shikwati - É claro. A fome não deveria ser um problema na maioria dos países ao sul do Saara. Além disso, existem vastos recursos naturais: petróleo, ouro, diamantes. A África é sempre retratada como um continente de sofrimento, mas a maior parte dos números é enormemente exagerada. Nos países industrializados existe a sensação de que a África naufragaria sem a ajuda ao desenvolvimento. Mas, acredite-me, a África já existia antes de vocês europeus aparecerem. E não fizemos tudo isso com pobreza.

    Conhecendo o gosto dos alemães por qualquer causa em favor do terceiro mundo, um verdadeiro vício naquele país, muitos deles devem ter ficado de cabelos em pé ao ler esta entrevista. Mas o economista tem certa razão. Os países ricos ajudariam muito mais a África e todos os países subdesenvolvidos se cancelassem suas dívidas e acabassem com os subsídios à agricultura.

    Sugerido pelo Mojo.

    9 de julho de 2005, 14:48 | Comentários (10)

    pedro e o lobo

    Nunca demora muito para surgir alguma teoria sobre a incompetência dos serviços de inteligência nos casos de terrorismo. Desta vez é mais grave, porque Israel teria alertado o Reino Unido com dias de antecedência sobre o ataque. Mas, para não estragar a cúpula do G8, o governo Blair nada fez e rezou para que fosse outro alarme falso — pois Israel já alertara para outros esquemas, depois de eles terem sido desmontados.

    Roubado do Pedro Dória.

    8 de julho de 2005, 13:03 | Comentários (5)

    quem vê dinheiro não vê sangue

    Capitalismo é o seguinte: dezenas de pessoas inocentes morrem em um ataque terrorista em uma das maiores e mais importantes cidades do mundo, mas o mercado só se preocupa em investir em ações de empresas de segurança e apostar contra o petróleo.

    7 de julho de 2005, 20:46 | Comentários (15)

    perdendo o fôlego

    Quando do 11/9, escrevi diversos textos pedestres tentando analisar a situação política envolvendo o ato. Quando de Madri, também, mas um pouco menos, já que o atentado foi menor. [É possível dizer que um atentado foi maior ou menor? Certamente as pessoas feridas diriam que não.] Desta vez, não tenho nada de mais a dizer. A não ser que, definitivamente, o mundo mudou. Que nem mesmo a polícia mais especializada em terrorismo no mundo, com anos de prática combatendo o IRA, pode impedir bombas de explodirem em ônibus. E que isso está com uma tendência a acabar muito, mas muito mal, se os próprios países muçulmanos não tratarem de caçar os grupos radicais em suas terras. O melhor a fazer diante de tudo isso é manter um silêncio fúnebre.

    7 de julho de 2005, 11:15 | Comentários (13)

    o pai dos financistas

    Nos últimos dois anos, Lula conseguiu um crescimento de 30% na produção de milionários. Não há notícia de outra coisa que tenha crescido tanto nesse mesmo período.

    No último ano do mandarinato tucano, o Brasil tinha 75 mil pessoas com um patrimônio financeiro superior a 1 milhão de dólares. Em 2004, eles chegaram a 98 mil. O companheiro produziu 23 mil afortunados.

    (Em janeiro passado, o rendimento médio real do trabalhador paulista caiu para R$ 1.006,00, o nível mais baixo registrado nesse mês desde 1985.)

    Nem Fernando Henrique faria melhor. Elio Gaspari recolheu estes dados de um estudo norte-americano sobre a riqueza mundial.

    Dados como esse, aliados à mais recente bandalheira envolvendo o Legislativo e o Executivo, deixam dura a vida das pessoas que acham a política algo digno de atenção. É difícil evitar a sensação de que na verdade tanto faz quem se eleja para comandar o país. Em Brasília instalou-se um presidente petista, depois de 16 anos de mandatos da direita, e nada mudou. Em Porto Alegre defenestrou-se os petistas depois de 16 anos e nada mudou.

    A política terminou neste país. Sobrou só politicagem. Então, como dizem os argentinos: que se vayan todos!

    12 de junho de 2005, 18:11 | Comentários (16)

    troque seu cachorro por uma criança pobre

    Ari Almeida e seus desocupados agora andam aporrinhando os donos de cães em um parque de Curitiba. Em sua comunidade, os passeadores de cachorros respondem com indignação:

    seu eu vou no parque, se eu gasto mais de 100,00 por mês com meu cão, se ela tem lugar preferencial no meu carro, se ela tem uma caminha O PROBLEMA É MEU!!!!!

    EU PAGO MEUS IMPOSTOS QUE JÁ SÃO MUITOS!!!! se eu quiser dar uma vida de gente, vestindo meu cão com roupa (não sei se vc sabe mas cães tb sentem frio, dor, fome) O PROBLEMA É MEU!!!!

    E pq q ao invés de fazer manifestações contra esses cães não fazem uma mostrando para as pessoas mais humildes que existem meios contraceptivos, que filho sai caro?????

    2 de junho de 2005, 14:59 | Comentários (16)

    morrendo na praia

    Mesmo com todos os esforços do presidente Lula, da equipe econômica, da elite industrial e empresarial e dos deputados, amargamos um mero segundo lugar em má distribuição de renda. Atrás de Serra Leoa, um pequeno país africano subdesenvolvido, em guerra civil e sem nenhuma tradição futebolística. Mas não há de ser nada. Corrente pra frente! Um dia a gente chega lá e consegue ter a pior distribuição de renda do mundo.

    1 de junho de 2005, 13:45 | Comentários (15)

    malditos burocratas

    Prezado Senhor,

    O procedimento de envio de mensagens ao Presidente da República mudou.Por favor, na página www.planalto.gov.br, entre na opção "fale conosco", escolha o destinatário e envie sua mensagem.

    Por questões de segurança, o nosso sistema não permite o envio de anexos. Assim, caso necessite remeter algo diferente de sua mensagem de texto, deverá fazê-lo por via postal, para o seguinte endereço:

    Luiz Inácio Lula da Silva
    Presidente da República
    Praça dos Três Poderes, Palácio do Planalto.
    CEP 70150-900 Brasília/DF

    Contamos com a sua compreensão,
    Diretoria de Documentação Histórica
    Gabinete Pessoal do Presidente da República

    Uma forma de burlar a segurança é publicar a foto em algum álbum online ou flog e então enviar o link ao presidente.

    28 de abril de 2005, 14:49 | Comentários (5)

    subversão redux

    Com o fim da Fraude, o Pequeno Manual de Subversão Cotidiana saiu do ar. Mas graças ao Concentration e ao Ari Almeida ele pode ser baixado aqui.

    28 de abril de 2005, 12:48 | Comentários (5)

    jânio à italiana

    Ao contrário do que disse há dois dias, Silvio Berlusconi decidiu renunciar. Na verdade, trata-se da velha manobra Jânio Quadros. Berlusconi pretende é voltar ao posto máximo da Itália carregado nos braços dos parlamentares. Mino Carta certamente prepara mais um editorial malhando o caráter bufão do primeiro-ministro.

    20 de abril de 2005, 15:22 | Comentários (8)

    antepenúltimo papa

    Como bem apontou o Pedro Doria, a escolha de Bento XVI como papa está de acordo com a profecia de São Malaquias. Conforme as previsões, este papa seria a "glória das oliveiras". A ordem de São Bento tem como símbolo a oliveira. Cabe lembrar que, depois do representante das azeitonas, restariam apenas mais dois pontífices. Depois viria ou o fim da igreja católica, ou o apocalipse.

    19 de abril de 2005, 16:21 | Comentários (5)

    habemus papam

    E está escolhido o novo papa, Bento XVI. O alemão Joseph Ratzinger é o chefe da antiga Santa Inquisição, que hoje adotou um nome um tanto mais eufemístico e evita enviar hereges para a fogueira. Alguns acham que ele é um nazista, porque tem o costume de silenciar as vozes dissonantes na igreja.

    É difícil prever, entretanto, como será o pontificado de Ratzinger. Provavelmente será curto, pois ele já tem 78 anos. Espera-se que seja conservador, ao menos no que tange a manter a política do falecido Karol. Mas talvez um exame dos Bentos anteriores possa jogar alguma luz sobre o futuro.

    Bento XV, que reinou de 1914 a 1922, gastou a maior parte de seu mandato lidando com os efeitos da Primeira Guerra Mundial. Tentou se manter neutro, embora tenha reconhecido o direito de a Áustria atacar a Sérvia. De qualquer modo, achava que uma possível derrota da Rússia — aliada da Sérvia — fosse abrir espaço para a expansão do catolicismo na terra dos czares.

    Bento XIV foi eleito sem querer. De saco cheio após 34 votações no conclave, nas quais as facções se dividiam na liderança, mas sempre com três votos a menos que o necessário, brincou: "Se vocês querem um santo, fiquem com Giotti, se querem um político, fiquem com Aldovrandi, se querem um bom homem, fiquem comigo." Levaram a sério.

    Bento XIII não fez piada alguma durante os dois meses de conclave, mas se negou a aceitar o cargo de Papa até que seu superior Dominicano aparecesse e o mandasse deixar de frescura. Esse sujeito também renegou seus direitos à primogenitura e à herança da família e trocou a cama palaciana por seu velho catre da abadia. Inaugurou o gesto de beijar o chão ao visitar sua terra natal, perto de Nápoles.

    O francês Jacques Fournier sagrou-se Bento XII em 1334, em Avignon. Teólogo, manteve as mesmas vestes de monge durante o papado e foi uma espécie de caçador de marajás na corte. Era conhecido entre seus comandados por ser pão-duro e teimoso.

    O pontificado de Bento XI durou apenas oito meses e suspeita-se que ele tenha sido envenenado.

    Acusado de comprar os votos no conclave, Bento X foi deposto por Nicolau II. Fugiu para as terras do Duque de Tusculum e lá guerreou contra o novo papa. Acabou perdendo e passando o resto da vida preso em um hospício.

    Bento IX foi feito papa com 12 anos de idade, dizem algumas fontes. Era conhecido por levar uma vida dissoluta e foi expulso de Roma duas vezes, em uma das quais foi substituído por Silvestre III durante o ano de 1045. Voltou, mas depois um monte de outros candidatos entrou na briga pelo trono de Pedro e virou tudo uma confusão. Bento IX acabou deposto novamente e foi excomungado.

    Abaixo disto fica difícil conseguir informações mais detalhadas. Bento VIII foi o primeiro pontífice da casa do Duque de Tusculum. Bento VII foi morto por um antipapa — termo dado aos reclamantes do trono da Santa Sé — chamado Franco, que em vez de ficar no trono, saqueou o Vaticano e foi embora. Sobre Bento VI, sabe-se apenas que enfrentou uma rebelião dos cidadãos de Roma e foi estrangulado por um padre. Bento II é o santo padroeiro da Europa. Há ainda menos informação sobre os outros Bentos na lista, mas a maioria teve fins trágicos. A vida realmente não era fácil na Idade Média.

    19 de abril de 2005, 15:33 | Comentários (9)

    decepção

    E não, Silvio Berlusconi não renunciou.

    18 de abril de 2005, 23:19 | Comentários (1)

    todo poder à blogosfera

    Este manifesto pelo uso dos blogs como meio de concretizar a tão falada "democratização da informação" tem seus problemas, mas ao menos propõe uma discussão mais articulada sobre o assunto.

    Enquanto em certas salas de certas faculdades de Comunicação os alunos de jornalismo desprezam os blogs como "diarinhos", os mentores da Verbeat, Tiago Casagrande e Leandro Gejfinbein, percebem melhor o potencial de uma ferramenta de publicação simples de usar e de baixo custo. Nos Estados Unidos, os blogs cada vez mais são fonte de informação primária para os internautas. Por aqui, a discussão sobre o valor da informação, e mesmo a produção da informação, recém começou.

    Continue Lendo...

    12 de abril de 2005, 0:35 | Comentários (16)

    papa don't preach (anymore)

    Foi-se o João de Deus. E nada vai mudar, exceto os índices de audiência dos jornais, revistas, emissoras e portais durante duas ou três semanas.

    Se bem que, de acordo com alguns, a morte de João Paulo II dá início aos eventos que levarão ao Apocalipse.

    Trocadilho cortesia involuntária de Danilo.

    2 de abril de 2005, 19:06 | Comentários (13)

    só matando

    É o fim da picada. O Senado, parece, aumentou em mais de R$ 11 milhões as verbas de gabinete. Pior é saber que nada é de fato decidido dentro do processo democrático nas casas legislativas. Pouquíssimas leis não são apenas uma grande ação entre amigos, ou simplesmente irrelevantes. Mesmo quando não há fisiologismo, grassa a ignorância dos deputados e senadores. Na Argentina, já teriam queimado o Congresso. Aqui, o melhor seria simplesmente passar a ignorar Brasília — e deixar de pagar impostos, bien sûr.

    23 de março de 2005, 1:48 | Comentários (9)

    ironia do destino

    Clérigos muçulmanos da Espanha decretaram a primeira fatwa contra Bin Laden. De acordo com eles, os atentados promovidos pelo saudita vão totalmente contra os preceitos do Corão. O terrorista é acusado de apostasia — de acordo com o companheiro Houaiss, "renúncia a uma religião ou crença, abandono da fé".

    11 de março de 2005, 1:41 | Comentários (9)

    mais do mesmo

    O maior problema com os políticos incompetentes que temos de agüentar é o tédio. Nada nunca muda. Sempre as mesmas respostas e reações. Como por exemplo, Lula dizer que a oposição está radicalizando sua declaração sobre corrupção no governo FHC, que estão tentando criar uma crise política e econômica no Brasil. Além disso, José Dirceu e outros petistas de alto escalão estão dando declarações tachando a oposição de irresponsável e de se pautar só por objetivos políticos. Os atores mudarem de lado no palco, mas tudo é igualzinho ao governo anterior — dizer que tudo no governo Lula é igual ao de FHC, nestas alturas, é até chover no molhado.

    1 de março de 2005, 2:56 | Comentários (4)

    aí tem

    Os Estados Unidos enviaram agentes do FBI ao Pará, acompanhar a apuração do assassinato de Dorothy Stang, missionária americana. Muito prestativos, ofereceram-se para "ajudar" a nossa polícia. Está certo que o caso é típico de república de bananas, mas os EUA não podem tratar o Brasil como tal. Se policiais federais nossos fossem lá oferecer "ajuda" para apurar mortes de brasileiros, seriam provavelmente convidados a se retirar do país.

    É duro não ver indignação alguma com o caso na imprensa daqui. By the way, o birô não é "federal"? Então como pode enviar agentes ao exterior oficialmente? Ou seriam de outra agência? E se não estão aqui oficialmente, por que o Brasil os deixou entrar? Carta Capital estaria certa?

    26 de fevereiro de 2005, 20:51 | Comentários (10)

    ligue os pontos

    Durante o ano de 2003, a renda média dos 40% mais pobres entre os brasileiros declinou 3% sobre 2002, enquanto o rendimento dos 10% mais ricos cedeu 9% - a imprensa, é claro, comemora a diminuição do fosso entre uns e outros, em vez de denunciar o empobrecimento geral. Ao mesmo tempo, o número de pessoas desocupadas aumentou sobre o ano anterior, atingindo 9,7% da população, e o rendimento médio do trabalhador caiu 7,5%.

    A taxa selic passou a maior parte de 2003 acima dos 25%. O Banco Central segue elevando os juros, atualmente em 18,75%.

    Enquanto isso, o banco Itaú teve o maior lucro de todos os tempos em 2004, atingindo R$ 3,776 bilhões. Os lucros do Bradesco e do Banco do Brasil também cresceram no ano passado.

    24 de fevereiro de 2005, 13:36 | Comentários (11)

    só cristo salva

    Se os grupos progressistas tivessem um décimo da organização dos grupos religiosos, o Brasil — e quiçá o mundo — seriam muito diferentes. Um exemplo é a rede de emissoras de rádio e televisão Canção Nova.

    Eles mantém uma programação sem comerciais há mais de 20 anos apenas com doações. Produzem horrores de conteúdo todos os dias, veiculado para todo o país. Construíram instalações enormes Cachoeira Paulista e pretendem ter uma retransmissora em cada cidade que tenha agência dos Correios. Tudo com o único objetivo de evangelizar. Isso que se chama organização da sociedade civil.

    O conteúdo veiculado é de qualidade, muito embora seja por vezes irresponsável. Como quando saem anunciando que os preservativos não evitam a aids, neutralizando anos de campanhas de esclarecimento e expondo os espectadores a risco de vida. Também fazem propaganda massiva em favor das bandeiras católicas. No momento, tentam derrubar a lei que permite o aborto de fetos anencéfalos e a permissão do uso de embriões para o uso de suas células-tronco.

    Imaginem agora todo este poderio voltado para disseminar idéias progressistas. Ou qualquer idéia. Fomentar o debate, enfim. É clássica a falta de máquinas midiáticas defensoras de ideais liberais no Brasil, nos moldes de um The Guardian.

    O caso da rede Canção Nova faz suspeitar que falte mesmo é um objetivo, uma meta, ou algum tipo de cimento ideológico às forças progressistas nestes tempos em que todo sólido se desmancha no ar. Qualquer um que já tenha participado de um debate entre esquerdistas se lembrará de indivíduos mais preocupados em defender suas interpretações das sagradas escrituras de Marx do que em elaborar um programa comum. Problema desconhecido dos cristãos, já que eles têm dogmas para guiá-los e fé para reuni-los.

    22 de fevereiro de 2005, 3:25 | Comentários (7)

    proposta para o novo milênio

    Os comentários de MARTELADA sempre se posicionaram em favor do Estado forte e intervencionista. Seria a solução mais indicada para diminuir as diferenças sociais e levar uma nação ao progresso político, social e econômico.

    As insistentes decepções proporcionadas pela realidade forçam uma mudança de opinião. Parcial, na verdade, porque sobretudo nos países da Europa — e mesmo nos EUA, embora o pessoal por lá não goste de admitir — o Estado tem um papel importante no desenvolvimento.

    A questão é que, no Brasil, talvez fosse mais negócio aderir ao anarco-capitalismo do que continuar sustentando um bando de, na melhor das hipóteses, inocentes inúteis em Brasília. O presidente Lula não se cansa de comprovar que pelo voto nada nunca vai mudar. Temos ainda por cima de apreciar o triste espetáculo de dublês de políticos perdidos na disputa pelo poder, completamente divorciados da realidade.

    Pagamos impostos oficiais tanto quanto os dinamarqueses, isto não é novidade para ninguém. Mas pagamos duas vezes, porque devido aos serviços de qualidade africana oferecidos pelo Estado, somos obrigados a comprar educação, saúde e segurança em instituições privadas. Enquanto isso, todos os dias temos de jantar assistindo às últimas notícias de desvios de verbas públicas.

    Fôssemos um povo sério como os argentinos, já teríamos queimado o Congresso duas ou três vezes e faríamos piquetes em frente aos palácios dos governadores, ameaçando enforcá-los no meio da praça se não nos garantissem os serviços básicos. Em vez disso, de dois em dois anos voltamos às urnas para atualizar nossos atestados de patetice.

    A proposta aqui é simples. Antes de mais anda, paremos todos de votar. Em segundo lugar, paremos de pagar quaisquer impostos. Usemos o dinheiro para contratar planos de saúde, pagar escolas particulares e seguranças privados para nossas ruas. Que a iniciativa privada ou comissões de moradores assumam a manutenção da infra-estrutura e garantam o saneamento — é perigoso, mas dificilmente as coisas poderiam piorar.

    Delírios à parte, a hora é de revolta popular e desobediência civil. O recente caso da desocupação de um terreno invadido em Goiânia lançou alguma esperança, quando os posseiros montaram barricadas e se armaram. Infelizmente, desistiram de resistir. É, ia morrer gente, sim. Mas num mundo em que a natureza de vez em quando mata centenas de milhares como quem passa um pano sobre a mesa da cozinha para tirar os farelos...

    21 de fevereiro de 2005, 13:47 | Comentários (27)

    déspota cachaceiro

    O que Lula conseguiu com o Conselho Federal de Jornalismo e a palhaçada da quase-expulsão de Larry Rohter? Um relatório da Human Rights Watch indicando ameaças à liberdade de expressão no Brasil. Muito bem. Todo esforço feito pelo Itamaraty de um lado, inclusive mandando nossos soldados para o Haiti e ajuda à Ásia, Lula consegue neutralizar com decisões infelizes que levam menos de um dois minutos.

    14 de janeiro de 2005, 2:52 | Comentários (8)


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