Comentários sarcásticos, crítica vitriólica e jornalismo a golpes de martelo por Marcelo Träsel


luta pela mudança na lei de direitos autorais

O resultado do seminário realizado pelo Fórum Nacional de Direito Autoral realizado em agosto na USP-Leste, em São Paulo, é a Carta de São Paulo pelo acesso a bens culturais. Ela foi elaborada por participantes do seminário que entendem ser necessária uma mudança na legislação que regula o uso de obras protegidas por direitos autorais. Leia e, se concordar com as propostas, assine e divulgue.

2 de dezembro de 2008, 21:22 | Comentários (2)

mestrado em comunicação na alemanha

A Deutsche Welle Akademie está com edital de seleção aberto para o mestrado em International Media Studies que começa em setembro de 2009. O prazo final para se inscrever é 31 de maio de 2009. Seguem informações da nota enviada pelo DAAD:

O primeiro ano letivo do novo master começará em setembro de 2009 em Bonn. O curso terá a duração de quatro semestres em período integral. O master objetiva uma formação profissional tanto prática quanto com fundamentos científicos. Seu programa abrangerá meios de comunicação e desenvolvimento, jornalismo, ciência da comunicação e gestão de meios de comunicação.

Os candidatos têm ser de países em desenvolvimento e possuir bacharelado, além de pelo menos um ano de experiência profissional na área de comunicação, como jornalista, gestor de veículo de comunicação ou assessor de comunicação. É necessário ter proficiência tanto em inglês quanto em alemão, uma vez que o curso é bilíngue.

Só não explica se o curso é lato sensu ou strictu sensu. É uma boa se informar antes.

27 de novembro de 2008, 12:36 | Comentários (1)

precisava mostrar isso a vocês

placasbpjor.jpg

Desculpem por perder o controle do meu umbigo, mas não consegui deixar de publicar essa foto da placa que ganhei no 6º Encontro da SBPJor. Juro que tentei manter meu habitual ar blasé, mas a verdade é que esse prêmio me deixou feliz demais. É uma prova de que meu investimento existencial na carreira acadêmica faz sentido, está começando a dar frutos. Em outras palavras, uma afirmação de que minha vida está no caminho certo. Aí está algo para fazer o sujeito dormir bem à noite.

Não houve a oportunidade de dizer algumas palavras ao receber o prêmio, então gostaria de expressar aqui a importância de recebê-lo. O fato de uma dissertação sobre webjornalismo participativo ter sido escolhida como a melhor de 2007 transcende o mero afago no ego. Os pesquisadores em jornalismo costumam ser vistos com certa desconfiança por estudiosos de outras áreas da Comunicação. Há uma impressão de que a Sociedade Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo é um grupo de nostálgicos da mídia de massa ou corporativistas que se fecham em copas e não abrem espaço para outras idéias a respeito de como o Jornalismo é ou deveria ser. Já ouvi colegas se referirem à SBPJor como uma associação de "xiitas do Jornalismo".

Creio que o resultado do Prêmio Adelmo Genro Filho deste ano mostra o contrário. A área do jornalismo está, sim, aberta a novas idéias e pesquisas que testem os limites dessa prática. O que não é bem aceito são estudos que tentem falar de Jornalismo sem partir da, ou ao menos se referir à, Teoria do Jornalismo. Abundam por aí artigos que tentam trabalhar práticas jornalísticas sem tentar entender as especificidades da produção da notícia. Em geral, eles chegam a conclusões ingênuas. Sociólogos, psicólogos e outros ólogos muitas vezes crêem que podem dar conta do jornalismo usando apenas conceitos e métodos de suas áreas -- afinal, todo mundo sabe o que é o jornalismo e como ele funciona, não? Enfim, trata-se apenas de seriedade acadêmica, não de alergia à contradição.

As portas estão abertas e o jornalismo precisa mais do que nunca de visões de outras áreas, que ajudem a dar conta da reconfiguração provocada nessa atividade pelas novas tecnologias de comunicação e informação. Como membro da SBPJor, ficarei feliz em trocar idéias com sociólogos, psicólogos e todos os ólogos que queiram aceitar o convite de abordar o jornalismo.

23 de novembro de 2008, 14:35 | Comentários (15)

dissertação premiada

Recebi hoje a tarde a notícia de que minha dissertação de mestrado, A Pluralizacão no Webjornalismo Participativo: uma análise das intervenções no Wikinews e Kuro5hin, foi considerada a melhor dissertação na área de Jornalismo no ano de 2007 pela SBPJor e portanto agraciada com o Prêmio Adelmo Genro Filho.

É uma grande recompensa pelo esforço que dediquei a esse trabalho e, também, um sinal de que os pesquisadores em Jornalismo no Brasil estão cada vez mais com os olhos voltados para os desafios e mudanças colocados pela Internet. Prova disso é que Marcos Palácios foi premiado como pesquisador sênior e a melhor tese foi a de Suzana Barbosa. Ambos são da UFBA, referência em Jornalismo Digital no país.

Em novembro estarei na Universidade Metodista, em São Bernardo do Campo, apresentando um trabalho sobre o Twitter e recebendo o prêmio no 6º encontro da SBPJor.

22 de outubro de 2008, 16:34 | Comentários (15)

a questão do diploma de jornalismo

O Alex Primo recentemente publicou um texto criticando o movimento em defesa da manutenção de exigência do diploma de jornalismo para exercer a profissão, por ter objetivos corporativos e perder de vista questões mais profundas, como a qualidade da formação dos jornalistas. Vinha acompanhando o debate meio de longe, mas como o Alex perguntou o que tinha achado do texto e não se ignora pergunta de orientador de mestrado, andei refletindo sobre o problema.

A conclusão é que as ferramentas de publicação na Web contemporâneas permitem a qualquer pessoa com acesso a um computador conectado manifestar-se na esfera pública e, portanto, neutralizam de saída argumentos em ambos os lados do debate.

Por um lado, é ridículo e absurdo o argumento de defesa da liberdade de expressão apresentado pelos que exigem o fim da exigência de diploma. Dizem eles que essa exigência bloqueia o acesso de todos aos meios de comunicação de massa e, assim, seria inconstitucional. Porém, hoje em dia ninguém precisa ter acesso aos meios de comunicação de massa para expressar sua opinião. Basta criar, gratuitamente, um blog, ou mesmo enviar artigos para os dezenas de projetos de webjornalismo participativo que existem por aí -- muitos deles, aliás, dentro dos próprios veículos digitais da mídia de massa.

Além disso, a exigência de diploma não impede ninguém de fazer jornalismo. Qualquer um pode se inscrever no vestibular de qualquer boa universidade, estudar, passar na seleção, freqüentar o curso de Jornalismo por quatro anos e obter seu diploma. Aliás, o melhor argumento da oposição ao diploma encontrável na Web pode ser resumido da seguinte forma, nas palavras de seu próprio autor:

1. Não se verifica essa condição necessária porque existem pessoas capacitadas para exercer o jornalismo sem serem graduadas em jornalismo.

2. Não se verifica a condição suficiente não é válida porque existem pessoas graduadas em jornalismo e que não são capacitadas para exercer essa profissão.

3. Conseqüentemente, a graduação em jornalismo não é condição necessária nem condição suficiente para a capacitação para o exercício dessa profissão.

Nessa linha de raciocínio, se alguém estudar a bibliografia do Direito e conseguir responder corretamente o suficiente à prova da OAB, deve-se imediatamente eliminar a exigência de formação na área para ser "doutor". Da mesma forma, se juízes elaboram sentenças completamente desprovidas de conhecimento de causa em, digamos, processos envolvendo o uso da Internet, a condição suficiente do diploma em Direito não seria válida, porque existem pessoas graduadas na área incapazes de exercer a profissão. Aliás, o fato de existirem médicos, contadores e engenheiros incompetentes levaria à mesma conclusão sobre a exigência de diploma nessas profissões. Esse argumento é tão falacioso que faz acreditar quando as associações de jornalistas e acadêmicos denunciam uma conspiração dos empresários do setor.

Por outro lado, o diploma pode até garantir um nível mínimo de qualidade para o jornalismo, mas isso se restringirá apenas à mídia de massa e a alguns portais de notícias. Os jornais cada vez mais perdem leitores para a mídia social na Web, onde de qualquer maneira conteúdo produzido por amadores se mistura ao conteúdo produzido por profissionais em um grande carnaval. Não se pode negar que muitos desses amadores são mais competentes em suas áreas do que jornalistas, embora a maioria esteja bem abaixo do nível dos profissionais. É saudável que os amadores hoje possam disseminar suas idéias e opiniões via Internet, porque em casos específicos sabem mais sobre determinados assuntos do que os profissionais. Porque essa possibilidade se concretizou, também, os jornais podem ser deixados para os jornalistas.

É difícil simpatizar com a Fenaj e os sindicatos, no entanto, porque estão adotando estratégias de luta política em lugar de promover um debate racional. Isso não seria problema se estivessem tentando avançar uma agenda trabalhista qualquer. Quando se defende a formação universitária em Jornalismo como forma de garantir a qualidade da notícia, porém, espera-se que ao menos os defensores do diploma pratiquem bom jornalismo. Só que bom jornalismo raramente combina com agendas políticas. Um exemplo: na academia e nos círculos de debate ético da profissão é comum criticar o uso de sondagens de opinião como material noticiável durante campanhas eleitorais. Porém, a Fenaj não se furtou de usar as armas do inimigo na luta pelo diploma e está se valendo de uma sondagem como se ela representasse a verdade. Atitudes como essa servem apenas para dar argumentos a quem os acusa de mero corporativismo.

As associações também têm sido acusadas de não dar espaço para o outro lado no debate. Não que o "outro lado" esteja se comportando melhor, mas, de novo, é preciso dar o exemplo se queremos defender o jornalismo.

O fato é que atualmente a comunicação é um bem não-rival. Há 20 anos faria sentido combater a exigência de diploma com base no direito à liberdade de expressão. Apenas aqueles que tinham concessão do governo para usar o espectro eletromagnético com emissões de rádio e TV ou aqueles com poder econômico suficiente para imprimir um jornal ou revista podiam atuar midiaticamente. A. J. Liebling sintetizou essa situação em sua célebre frase: freedom of the press is guaranteed only to those who own one. Hoje, não mais. A Internet contrabalança o poder da mídia de massa. É claro, ainda é mais fácil um discurso ganhar relevância aparecendo em rede nacional de televisão do que num blog, mas há casos suficientes de denúncias partindo da mídia social e ganhando a imprensa para se postular a insuficiência do argumento da liberdade de expressão.

Infelizmente não se tem visto essa idéia sendo levantada pelos defensores do diploma. Talvez a explicação esteja na desconfiança que determinados setores da imprensa e academia nutrem pela mídia social -- desconfiança da qual o Sindicato dos Jornalistas gaúcho dá um exemplo em sua posição sobre os blogs informativos. Se não estivessem preocupados em colonizar os novos canais de comunicação com interesses corporativos, talvez pudessem perceber que a mídia social é a maior aliada do Jornalismo nesse momento, porque permite o acesso à esfera pública por vias exteriores à imprensa.

Se a exigência de diploma não garante por si só uma maior qualidade da informação, como lembra o texto do Alex Primo, muito menos é um atentado à liberdade de expressão e à Constituição. Os interesses da qualidade da informação e da liberdade de expressão estão assegurados, a meu ver, pela mídia social. Isso torna a exigência do diploma mais uma questão trabalhista do que de democratização da comunicação. E avaliando a exigência de diploma como questão trabalhista, considero melhor mantê-la.

Os sindicatos e a Fenaj têm razão quando dizem que a eliminação da necessidade do diploma pode dar margem a abusos por parte do patronato. Também têm razão quando denunciam as estranhas coincidências nas manifestações do poder Judiciário e Executivo sobre a questão. Pode-se até discutir o fim do diploma, mas particularmente prefiro que não seja através do ministro Gilmar Mendes, presidente do STF, ou de um governo petista com histórico de autoritarismo nas relações com a imprensa. Como estratégia política de curto prazo, é necessário garantir a manutenção da exigência de diploma para o exercício profissional do jornalismo.

ATUALIZAÇÃO: Como o artigo estava ficando longo, não abordei o papel da formação universitária específica em Jornalismo e como ela influi no debate. Isso já foi discutido por gente suficiente, dei preferência a abordar os pontos relativamente inéditos. Fica para um próximo post desenvolver, mas considero a educação na área uma vantagem importante para repórteres e, principalmente, empresas. Não à toa, futuros jornalistas continuam freqüentando faculdades de Comunicação onde o diploma não é exigido.

14 de outubro de 2008, 14:00 | Comentários (32)

área vip da abril ainda repercutindo

O caderno Link, do Estadão, traz essa semana uma matéria sobre o caso, para a qual fui entrevistado:

Marcelo Träsel, de 30 anos, do blog Martelada (www.insanus.org/martelada), não aceitou. “Teria de montar um blog novo. Seria muito trabalho. Se me pagassem, daí poderia considerar.”

Tenho a impressão de que essas aspas me fazem parecer preguiçoso (sou, mesmo) e mercenário (não sou).

A editora responde através de Aline Sordilli: "A Abril já produz muito conteúdo. O que queremos com os VIPs é povoar a nossa nova ferramenta de blogs.”

Deveras! Conforme inclusive sugere a matéria principal sobre o assunto, as empresas de mídia estão buscando não o conteúdo dos blogs, mas a infinidade de novas páginas diárias que são capazes de gerar todos os dias. Cada novo post é uma nova página que pode ser usada para veicular anúncios. E anúncios significam dinheiro para a Abril ou qualquer outro portal que esteja recrutando blogueiros, mas em geral não para os blogueiros.

A exigência de cessão de direitos autorais provavelmente era apenas uma proteção jurídica para a Abril, embora em tese permitisse à empresa usar textos de blogueiros em suas revistas sem remuneração, por exemplo.

O engraçado nisso tudo, no fim das contas, é que se a Abril simplesmente tivesse pedido para reproduzir trechos dos meus blogs em suas páginas, fornecendo o devido crédito na forma de um link, teria permitido na boa -- como, aliás, aconteceu com o Yahoo! Posts. Sou daqueles ingênuos dos primórdios da Internet que acreditaram no ideal de Tim Berners-Lee: um grande repositório de documentos perfeitamente intercambiáveis e relacionáveis. O que está na Web é para ser linkado. Ter de pedir autorização para citar um trecho e criar um link para determinada página é uma degradação causada por uso excessivo de advogados.

E como se ganha dinheiro com isso? -- perguntarão os probloggers. Ora, da mesma forma que os criadores da infraestrutura usada para publicar blogs, veicular anúncios contextuais e banners de programas de afiliados: convertendo reputação em oportunidades. Os inventores do modem, do correio eletrônico, do IRC, do HTML, todos o fizeram por amor à causa. Uma resposta que o repórter não usou na matéria:

Com os blogs eu angario muita reputação na Web. Esse capital social eu converto em capital financeiro através de oportunidades de emprego. Não tive um emprego sequer até hoje em cujo processo seletivo minha produção cultural na Internet não tenha contado muitos pontos.

Infelizmente, não há ideal que resista ao capital.

7 de outubro de 2008, 12:50 | Comentários (9)

21º SET universitário

Meus alunos no estágio de Jornalismo Online estão cobrindo ao vivo o 21º SET Universitário da Famecos/PUCRS. O streaming de vídeo e o minuto-a-minuto via Twitter podem ser acompanhados nesta página.

Hoje às 19h30 acontece o RBS debates com, entre outros, Ricardo Noblat.

Amanhã às 9h a Ana Brambilla fala sobre webjornalismo participativo.

22 de setembro de 2008, 18:08 | Comentários (0)

íntegra do artigo sobre o #rodaviva e o twitter

O artigo foi aceito para apresentação no próximo encontro da SBPJor, na Universidade Metodista de São Bernardo do Campo, ABC Paulista. Com prometido, quem quiser ler na íntegra pode baixá-lo aqui:

O uso do microblog como ferramenta de interação da imprensa televisiva com o público

Estarei lá discutindo esse artigo entre os dias 19 e 21 de novembro com a Gabriela Zago, do Twitter Brasil, que apresenta o trabalho O Twitter como suporte para produção e difusão de conteúdos jornalísticos. Por favor, façam observações e correções aí embaixo no espaço de comentários.

11 de setembro de 2008, 17:42 | Comentários (1)

#direitoautoral

Além da transmissão em vídeo e do ChatCast, vocês podem acompanhar o seminário "Direitos autorais e acesso à cultura" via Twitter:


follow cyberfam at http://twitter.com

27 de agosto de 2008, 15:44 | Comentários (2)

bolsas para acompanhar as eleições americanas

A embaixada dos Estados Unidos está oferecendo 20 vagas a estudantes brasileiros de ciências políticas, jornalismo ou relações internacionais em um programa na universidade da Carolina do Norte. Os selecionados ficarão lá de 25 de outubro a 8 de novembro, participando de cursos e seminários. Tudo por conta do governo americano.

Mais informações no site www.usembassyprograms.org.br. As inscrições vão até 14 de setembro.

15 de agosto de 2008, 10:44 | Comentários (4)

análise de conteúdo do #rodaviva no twitter

Enviei um artigo sobre a cobertura do programa Roda Viva no serviço de microblog Twitter para o 6º Encontro da SBPJor. O que eu fiz foi uma análise de conteúdo sobre todas as ocorrências de #rodaviva no Twemes entre 16 de junho e 17 de julho. No total, foram 323 tweets, divididos nas seguintes categorias:

  • narração: textos cujo foco principal é relatar ações ocorridas dentro do estúdio ou as reações de telespectadores (mudar o canal, por exemplo);
  • comentário: opiniões a respeito das manifestações dos entrevistadores e/ou do entrevistado, links para páginas relacionadas ao tema, ou brincadeiras;
  • conversação: troca de mensagens entre usuários do Twitter sobre a entrevista;
  • institucional: atualizações com dados de serviço sobre o programa;
  • outros: textos que não puderam ser enquadrados nas outras categorias.

    O resultado está na tabela abaixo:

    tabela_twitter.jpg

    O fato de narração, conversação e comentário somarem quase 80% das manifestações comprova, a meu ver, que a cobertura é relevante. Como eu tentei mostrar em minha dissertação, o comentário adicionado pelo público aos conteúdos veiculados pela imprensa é um grande avanço para a democratização da comunicação, na medida em que pluraliza os pontos de vista necessariamente limitados pelas rotinas de produção das redações. No caso do programa em questão, o fornecimento de informações oriundas de outras fontes e questionamentos dos convidados e telespectadores permite melhor contextualizar os pontos abordados e corroborar ou colocar em xeque as declarações do entrevistado. Como sugerem os resultados, há também um diálogo entre os integrantes do público e desse público com a emissora.

    A conclusão é que se trata de um modelo que merece ser levado em conta pelas organizações, empresas e indivíduos preocupados em equilibrar a lógica emissor→receptor da televisão com uma lógica mais participativa através da Web – sobretudo no momento em que a TV digital resulta em um retumbante fracasso de adesão e maior ainda em termos de "interatividade". Por outro lado, o acesso à Internet fica mais pervasivo a cada ano, chegando a já a 34% da população, conforme o relatório do Cetic mais recente.

    O uso do Twitter consegue integrar a um programa de televisão as características de memória e interatividade, típicas do webjornalismo, e com isso reverter a atomização provocada pelos meios de massa, transformando a massa em rede social.

    Quando e se receber o aceite da SBPJor, publico aqui a íntegra do artigo. Agradecimentos ao Pedro Markun e à Isabel Colucci, que me responderam algumas perguntas.

    1 de agosto de 2008, 19:27 | Comentários (3)

    campanha na internet está liberada, ainda bem

    Finalmente consegui editar a entrevista que fiz via Skype com o Pedro Doria. Está em duas partes e foi originalmente apresentada no seminário Legislação Eleitoral e Internet - a relação da comunicação digital nas próximas eleições municipais. O interessante é que o promotor convidado, Daniel Rubin, concordou que a primeira resposta do TSE à consulta sobre o uso de blogs, redes sociais e quetais, do ministro Ari Pargendler, foi equivocada, porque limitou a presença na rede à página oficial da candidatura. Esperávamos ter um bate-boca violento com um bacharel tacanho, mas encontramos um companheiro no movimento de esclarecer a Justiça brasileira a respeito da Internet.

    Considerando que Rubin é o coordenador do setor do Ministério Público gaúcho que vai fiscalizar as eleições, podemos esperar pouca interferência no uso da Web para divulgação das plataformas dos candidatos. De qualquer modo, ontem o TSE rejeitou a consulta, na prática liberando a propaganda na rede a partir de 6 de julho.

    Usamos o serviço Ustream para a transmissão ao vivo. Também rolou um minuto-a-minuto no Twitter.

    12 de junho de 2008, 15:15 | Comentários (2)

    seminário sobre lei eleitoral e internet

    Amanhã, às 9h, acontece no auditório da Famecos, prédio 7 da PUCRS, o seminário "Legislação Eleitoral e Internet - a relação da comunicação digital nas próximas eleições municipais".

    Os convidados são o promotor de justiça Daniel Sperb Rubin, coordenador do Gabinete de Assessoramento Eleitoral do Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul, e o jornalista e blogueiro Pedro Doria, colunista do caderno Link.

    A entrada é franca e, se São Isidoro colaborar, transmitiremos tudo ao vivo pelo site da Cyberfam.

    9 de junho de 2008, 14:15 | Comentários (0)

    autopromoção

    Acompanhem amanhã, a partir das 18:00, um exemplo de como usar tecnologias da Web 2.0 para o jornalismo. Sou um dos coordenadores da Cyberfam e devo dizer que estou orgulhoso dos alunos que se propuseram a levar adiante essa empreitada. Segue o rilíze:

    Maratona de 24 horas na Famecos discute uma década de jornalismo na internet

    Para discutir o jornalismo praticado em uma década de internet, a Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da PUCRS realizará durante 24 horas ininterruptas o evento “10/24 – Notícia não tem hora”. As atividades ocorrerão das 18h desta quarta-feira (28/5) até as 18h de quinta-feira com um duplo objetivo: integrar a programação do + SET (série de eventos preparatórios para o 21º SET Universitário) e comemorar os 10 anos de funcionamento da Cyberfam, a pioneira das revistas eletrônicas desenvolvidas em um estágio de jornalismo online no Brasil.

    Pela primeira vez no país, ocorrerá uma transmissão em alta definição (HD) via internet. Tudo que ocorrer nesta maratona poderá ser acompanhado no site http://cyberfam.pucrs.br. No site, haverá links para teleconferências, bate-papo online e apresentação de imagens captadas por câmeras instaladas na Famecos. Ainda ocorrerá transmissão de aulas do curso de Jornalismo por celular.

    Para marcar os 10 anos da Cyberfam, serão entrevistados professores e alunos que já trabalharam na publicação. Um time de profissionais que atuam em Porto Alegre e em outras cidades do Brasil, dos Estados Unidos e da China foi convidado para a discussão sobre o impacto da internet no jornalismo. Os vários debates e entrevistas planejados podem ser acompanhados pelo site da Cyberfam ou por meio de televisões de plasma instaladas no saguão da Famecos (Av. Ipiranga, 6.681, prédio 7 – Porto Alegre).

    Profissionais que participarão das atividades:

    Alexandre Matias – O Estado de São Paulo (SP)

    Ana Brambilla – Editora Abril (São Paulo)

    Analú Fischer – RBS Corporação (Porto Alegre)

    Fabrizzia Cinel – webdesigner

    Felipe Truda – ClicRBS (Porto Alegre)

    Fernanda Morena – Correio do Povo e Comitê Olímpico Chinês (China)

    John Pavlik – Universidade de New Jersey (EUA)

    Juliano Schüler – ClicRBS (Porto Alegre)

    Luísa Berlitz – Gullane Filmes (São Paulo)

    Marina Wentzel – Correspondente da BBC (China)

    Michele Iracet – Zerohora.com (Porto Alegre)

    Militão de Maya Ricardo – professor

    Núria Saldanha – Canal Rural (São Paulo)

    Priscilla Oliveira – Agência Escala (Porto Alegre)

    Renata Simões – Multishow (São Paulo)

    Entrevistas

    Mágda Cunha – diretora da Famecos

    Cristiane Finger – coordenadora do curso de Jornalismo da Famecos

    Gilberto Leal – professor da Famecos

    Vitor Necchi – professor da Famecos

    27 de maio de 2008, 11:19 | Comentários (3)

    internet e legislação

    Em seu mais recente podcast, Diogo Mainardi defende que os culpados de crimes de opinião na Internet sejam responsabilizados judicialmente. Concordo. A rede mundial de computadores é um ambiente privilegiado para a expressão da opinião e de pontos de vista divergentes da média, e precisa continuar assim. Por isso mesmo, não deve se tornar -- ou continuar, se quiserem -- uma casa da mãe Joana jurídica. A impunidade só dá argumentos àqueles que são contra a liberdade de expressão.

    Diogo comenta:

    Digamos que um dos comentaristas anti-semitas de Caio Blinder seja professor de uma universidade pública. Como ele pode ser punido administrativamente? Só o Ministério Público tem a autoridade para pedir seu IP e tirá-lo do anonimato, identificando-o como autor do crime.

    Está corretíssimo. Toda máquina que se conecta à Internet recebe um endereço IP que permite rastreá-la. Digamos que Fulano acesse um blog usando o provedor X às 15:00 do dia Y. Digamos que ele cometa calúnia, injúria ou difamação no espaço de comentários desse blog (ou fórum, ou rede social) usando o pseudônimo "Sicrano". Caso o autor do blog se sinta lesado, pode entrar na Justiça contra o comentarista. A vítima analisa os dados de "Sicrano" e passa o IP a seu advogado, além de documentar a injúria, calúnia ou difamação. O advogado então pedirá ao MP que solicite ao provedor X os dados do usuário que acessou a Internet no dia Y às 15:00 com determinado IP. O provedor, que deve guardar essa informação por cerca de dois a três meses, levanta os dados e aponta Fulano como o cliente culpado. Assim, pode-se processar fulano por calúnia, injúria ou difamação.

    Infelizmente, Diogo cai na lengalenga de se criar leis específicas para a Internet:

    A internet precisa de regras, de normas, de leis. E ninguém me amole dizendo que isso é coisa de estados totalitários, como a China. Nos campeonatos de futebol da Europa, quem é pego cantando coros nazistas é afastado dos estádios. A internet tem de fazer o mesmo: arrumar um jeito de desconectar seus hooligans.

    A Internet não precisa de leis específicas. Injúria, calúnia e difamação continuam sendo injúria, calúnia e difamação, não importa se publicadas em um jornal impresso ou na Web. Fraude e estelionato continuam sendo fraude e estelionato, mesmo que se use e-mails e sites falsos. No máximo, necessita-se de uma ou outra regra que permitam maior rapidez no acesso aos dados de IP e um ou outro ajuste nalguma lei. O Congresso já tentou criar leis para a Internet e, obviamente, só conseguiu criar demência.

    Mais importante do que criar leis e regras seria forçar uma reciclagem dos funcionários do poder Judiciário, que em geral demonstram um desconhecimento preocupante dos conceitos mais básicos relacionados à Internet e outros meios eletrônicos.

    23 de maio de 2008, 14:36 | Comentários (3)

    mais algumas respostas para o FAQ

    Acabei de responder a algumas perguntas sobre jornalismo participativo para uma estudante de São Paulo que está fazendo um trabalho de conclusão focado nesse tema. Aí lembrei da Lei de Lavoisier e que este blog não é atualizado há tempos. Resolvi repubicar aqui, até para ajudar outros estudantes que vivem me enviando perguntas.

    1- O que é jornalismo colaborativo para você?

    O webjornalismo participativo acontece quando um site ou uma seção de um site jornalístico permite interferênias tão profundas no conteúdo (e por vezes na forma) que a divisão entre escrita e leitura começa a ficar indistingüível.

    Em outras palavras, há webjornalismo participativo se as colaborações do público forem essenciais para a manutenção de um site ou parte dele. O VC Repórter não aconteceria se as pessoas não enviassem textos, fotos e vídeos para lá, assim como o Ohmynews estaria vazio se não fossem os repórteres-cidadãos espalhados pelo mundo.

    2- Qual é o papel do jornalista dentro do jornalismo colaborativo?

    Orientação, edição e, claro, participação. Nos dois exemplos citados acima há jornalistas selecionando as melhores matérias e checando fatos.

    Porém, existem projetos de jornalismo participativo em que os colaboradores mesmos regulam o processo de coleta, edição e publicação de notícias, como no Kuro5hin ou no Wikinotícias. Nada impede que jornalistas colaborem com esse tipo de site, porém. De fato, alguns repórteres escrevem para webjornais participativos ou criam blogs com o objetivo de abordar assuntos em que não podem tocar em sua vida profissional.

    3- Você acredita que existe jornalismo colaborativo no Brasil? Qual é a maior diferença entre os sites colaborativos daqui e sites de outros países?

    Existe e não vejo diferença alguma, exceto pela língua, o que nos limita em termos de audiência. Outra coisa que nos limita é o analfabetismo funcional da população, que impede um ganho de escala nas colaborações. Por causa disso, há pouca atualização nos webjornais totalmente participativos.

    4- Quais são as diferenças entre o jornalismo colaborativo e o jornalismo tradicional?

    Em primeiro lugar, é preciso ter sempre em mente que o jornalismo participativo é complementar ao jornalismo tradicional. Há indícios de que a maioria dos valores-notícia do jornalismo tradicional valem para o jornalismo participativo, mesmo quando não há supervisão de um profissional qualificado. Assim, eu diria que o jornalismo participativo é uma subcategoria do jornalismo, não uma atividade
    completamente separada.

    O que é característico do jornalismo participativo é a interferência direta do público, que não precisa mais esperar pelos repórteres profissionais para divulgar uma informação. Isso, é claro, traz implicações boas e ruins. Por um lado, há mais pluralidade de pontos de vista e maior variedade de acontecimentos divulgados. Por outro, nem sempre as informações são checadas adequadamente antes de serem
    publicadas.

    5- Acredita que conteúdos colaborativos podem substituir o jornalismo tradicional?

    Não. O jornalismo participativo é uma forma que as empresas de mídia e a sociedade encontraram de enfrentar o problema da falta de recursos nas redações, que impede a cobertura de todos os assuntos de interesse do público. É, portanto, complementar.

    Além disso, há a questão da credibilidade. O público pode ser bom para noticiar um buraco na rua onde moro ou uma foto de um acidente, mas eu não basearia o investimento da minha poupança em uma dica de algum blogueiro anônimo, por exemplo. Nesse caso, procuraria ler o Valor Econômico ou Wall Street Journal. É tudo uma questão de bom senso.

    6- Você acredita que o blogueiro pode vir a ocupar o lugar do jornalista?

    Não, pelos mesmos motivos acima e por um motivo mais forte: blogueiros em geral não têm recursos para a apuração de pautas. Mesmo um telefonema interurbano é um custo alto quando não se ganha nada em troca do trabalho. Imagine pagar os custos de um inevitável processo judicial no caso de você descobrir e publicar alguma denúncia de
    corrupção no governo, por exemplo.

    Os blogueiros podem vir a substituir os jornalistas em alguns assuntos de nicho, e nesse caso talvez com muito mais qualidade. Os jornais têm espaço limitado ou, no caso da Web, limitações de força de trabalho. O jornalismo tradicional não tem condições técnicas ou econômicas de tratar com profundidade todos os assuntos. Aí entram os blogs, para dar profundidade.

    7- Hoje, qual é a importância dos blogs?

    Os blogs são importantes em vários níveis, dependendo dos objetivos de quem os lê ou escreve. No caso da mídia, diria que são importantes para preencher as lacunas deixadas abertas pela escassez de recursos do jornalismo, e como fiscalizadores do "quarto poder", apontando erros e denunciando falcatruas de jornalistas, publicitários e
    relações públicas.

    8-O que é necessário para cativar e manter o público?

    Ser honesto. :-)

    9-Quais são as falhas que a mídia tradicional comete nos projetos de jornalismo colaborativo?

    A principal falha é pretender abrir um espaço de participação sem abdicar do controle sobre o processo de comunicação, ao menos em parte. Empresas que não têm uma cultura de participação por vezes criam um canal participativo com o único objetivo de "não ficar para trás" da concorrência. Isso acaba quase sempre sendo um tiro no pé, porque criam sistemas engessados, que terminam por morrer melancolicamente de falta de participação.

    10-Por não existir legislação na internet, como fica a questão da ética?

    Bem, a ética não é nem nunca foi uma questão de legislação, mas sim de caráter. Assim como há blogueiros e repórteres amadores antiéticos, há jornalistas antiéticos. Casos não faltam para provar que nossos colegas estão no mesmo nível do resto da humanidade em termos de caráter.

    Por outro lado, toda a legislação já existente para coibir casos de calúnia, difamação, má-fé e outros crimes de imprensa vale para a Web e para o jornalismo participativo. Qualquer pessoa que se sinta lesada por um veículo de jornalismo participativo pode requerer seus direitos na Justiça.

    11-Como você vê o jornalismo colaborativo daqui a cinco anos?

    Um avanço interessante poderia ser a abertura de espaços colaborativos em infográficos e animações, coisa que ainda não vi em nenhum webjornal.

    1 de abril de 2008, 16:36 | Comentários (18)

    jornalistas x blogueiros, episódio 347
    [...] o erro está sempre de tocaia e ataca quando a gente está relaxado, quando a gente acha que aquilo que está fazendo é fácil e simples. Por isso, como ouvinte, telespectador e leitor, como consumidor de informação, desprezo o excesso de interatividade. Quando ligo o rádio e ouço "esse programa é feito pelo ouvinte", mudo de estação. Não quero ouvir algo que é feito pelo ouvinte, nem ler o que o leitor escreve. Quero o trabalho do especialista, do jornalista de comprovadas experiência e competência. Quero consumir a elite, não a mediocridade. Até democracia demais cansa.

    David Coimbra não gosta da invasão de leigos no jornalismo. Prevejo que muitos blogueiros vão denunciar o colunista de Zero Hora como tacanho, conservador e corporativista, mas estarão errados. Em primeiro lugar, Coimbra tem razão. O público raramente tem o conhecimento e, principalmente, os recursos à disposição dos repórteres profissionais para coletar e publicar informação. Em segundo lugar, as pessoas simplesmente têm o direito de não confiar no público que faz o webjornalismo participativo, ou de não gostar do resultado em termos estéticos e técnicos.

    Existe muita porcaria sendo publicada Web afora em espaços destinados à participação da "ex-audiência". É muito raro encontrar um blog realmente bom. Mais raro ainda encontrar verdadeiros esforços de reportagem em sites como Wikinews ou Kuro5hin. Já o Digg se resume, no mais das vezes, a um repositório de todo tipo de lista ou tutorial. Nós que fazemos o webjornalismo participativo acontecer precisamos admitir que estamos deixando a desejar em muitos aspectos.

    Isso dito, não dá para entender como Coimbra critica a participação do público quando em seu próprio jornal existe um dos melhores exemplos de webjornalismo participativo: a seção leitor-repórter. Trata-se de uma combinação excelente entre os "milhares de globos oculares" da audiência e a técnica jornalística. Os repórteres da RBS não podem estar em todos os lugares ao mesmo tempo, ainda mais com as reduções de força de trabalho pelas quais as redações passaram nas últimas décadas. O público, então, se encarrega de publicar pequenas notas a respeito de problemas para os quais David Coimbra e seus colegas jamais teriam tempo ou vontade de dar atenção. A equipe da Zerohora.com, por sua vez, usa seu conhecimento e acesso a fontes para dar voz a quem tenha sido implicado em alguma informação enviada pelo público. A audiência começa a fazer o serviço do pauteiro, doando seu próprio tempo à RBS, mas ganha em compensação uma cobertura melhor dos problemas que realmente lhe interessam.

    Não é demais lembrar também que em geral os programas "feitos por ouvintes" nas grandes empresas de mídia são editados por jornalistas qualificados. Logo, se o resultado é ruim, a elite também precisa ser responsabilizada. É assim que funciona na RBS, empresa onde Coimbra trabalha. Inclusive, o próprio jornalista citado como exemplo de competência, Túlio Millman, usa fotos de telespectadores na vinheta do Teledomingo, e há também um quadro chamado "Meu mundo em um minuto", para o qual as pessoas são convidadas a enviar histórias. Millman está listado apenas como âncora do programa, mas sua participação implica em uma aceitação de que a audiência vai participar.

    Coimbra não chega a afirmar isso, mas em geral quem critica a participação do público tende a achar que a mídia é um jogo de soma zero. Isto é, que é uma questão de eles ou nós, um ou outro, jornalistas profissionais ou "ex-audiência". A questão é que, com a televisão a cabo e a Web, a esfera midiática deixou de ser um latifúndio com escassez de espaço, onde realmente um tirava o lugar do outro, e passou a ser um espaço praticamente infinito. Ou seja, não é mais necessário barrar o material medíocre, pode-se publicá-lo e deixar à disposição de alguém que se interesse. E sempre há quem se interesse por qualquer coisa.

    Ao ler o texto de Coimbra, fica-se com a suspeita de que ele não conhece direito o assunto do qual está pretendendo falar. Se tivesse se dado o trabalho de investigar a Web -- ou mesmo o próprio site do jornal em que trabalha --, poderia perceber que existe muita "elite" escrevendo em blogs, fóruns, webjornais participativos e quejandos. Um dos primeiros blogueiros do mundo é para além de 1337: Dave Winer, desenvolvedor de grande parte dos programas que usamos hoje para criar mídia na Web. Há alguém mais elite no Brasil do que o blogueiro Alexandre Soares Silva? Escreve melhor do que um batalhão de colunistas. Algum jornalista explicou de maneira mais simples a Web 2.0 do que o antropólogo responsável por esse vídeo? Os próprios veículos de webjornalismo participativo que critiquei acima volta e meia publicam matérias muito boas. Isso para não citar todos os fóruns em que especialistas regularmente dão informações técnicas de alta qualidade sobre suas áreas de atuação, de graça, para quem quiser saber.

    O público participante erra, e muito. Porém, jornalistas profissionais também erram. E muito -- que o diga o Luís Nassif, inquestionável membro da elite, que matou Hélio Gama em seu blog semana passada. E vários deles têm um texto nada menos do que tenebroso. É difícil encontrar um cientista ou técnico em qualquer assunto que tenha sido entrevistado e considerado boa a matéria resultante. Sempre apontam erros crassos de compreensão por parte dos repórteres -- se não acredita, basta ver a seção media do blog Bad Science.

    Antes da Web e da mídia social, webjornalismo participativo ou como queiram chamar, os verdadeiros detentores do conhecimento dependiam da boa vontade dos jornalistas para se comunicar com o público. Hoje, tudo o que os separa do público é um pouco de boa vontade desse público em garimpar a Web. Tarefa que nem sempre a elite da qual Coimbra faz parte desempenha corretamente, apesar de receber salário para isso.

    17 de março de 2008, 11:57 | Comentários (15)

    post pago é tiro pela culatra

    Por favor, prezados marqueteiros, convençam-se de uma coisa: pagar blogueiros para publicar textos favoráveis a seus clientes, além de moralmente questionável, é desnecessário e quase sempre acaba em humilhação. Mesmo quando não acaba em desmoralização do blogueiro e conseqüentemente da empresa, fica chato, porque as pessoas não são tão idiotas assim e, em geral, percebem um ruído no fluxo normal do discurso do blog contratado.

    Pior do que pagar por um post, só não pagar: a agência paulista Riot convidou o pessoal do Futepoca a escrever um texto elogiando Ronaldo, o fenômeno, que anda em baixa até com o Galvão Bueno. Ofereceram em troca uma promessa de, quem sabe, no futuro, rolar um post pago de verdade. Isso, claro, se tudo corresse bem com a laudatória ao jogador patrocinado pela Nike. O resultado foi um texto denunciando a prática da Riot e o previsível sacrifício de um bode expiatório para aplacar a fúria do cliente.

    O mais engraçado é que as agências pagam (ou não) os blogueiros, mas fazem uma autossabotagem ao pedir que o texto esteja dentro de um certo roteiro. Há algum tempo um blogueiro de alto nível confessou ter sido convidado a fazer um post pago, mas acabou não aceitando, porque a agência exigiu uma publicação ipsis litteris do texto que um redator havia criado. Ele tinha certeza que seus leitores perceberiam. A agência bateu pé e ele recusou.

    Trata-se de uma suprema ignorância sobre o mundo dos blogs, exigir que se publique um modelo de texto. Uma das características mais interessantes desse tipo de veículo é justamente a subjetividade, a originalidade na expressão de cada autor. De fato, empresas como a Microsoft e o Google adotaram o formato blog para se comunicar com o público como forma de "humanizar" a marca. A idéia da Riot seria muito mais interessante se tivessem apenas dito ao pessoal do Futepoca para criar uma campanha de apoio ao Ronaldo eles mesmos. Fizessem isso com um número suficiente de blogs, certamente alguma idéia genial iria emergir.

    Outro tabu entre as agências e clientes que ainda não se ambientaram à blogosfera é a identificação de posts pagos, ou seja, a admissão do contrato por parte do blogueiro. A verdade é que o público não dá muita bola para esse tipo de aviso, mas fica realmente chateado quando é engambelado. Logo, melhor ser transparente desde o início. Na verdade, algumas sugestões mais eficientes e moralmente aceitáveis do que os posts pagos identificados seriam:

  • Cobertura de eventos, com os blogueiros atuando como repórteres. A marca aparece igual, o blogueiro não precisa esconder nada dos leitores, e podem até trabalhar em troca do simples acesso ao evento, como aconteceu com alguns blogueiros na Campus Party.

  • Patrocínio de blogs a longo prazo. Pode ser um banner ou até um selinho discreto que mostre aos leitores do apoio da empresa àquele veículo de mídia independente. Por exemplo, ficaria muito feliz se, digamos, a Tramontina me oferecesse um valor mensal para ter o logotipo em algum lugar do Garfada.

  • Apoio em forma de produtos é outra ação de relações públicas com blogs que tende a dar certo. Ainda usando o exemplo do Garfada, seria muito bom receber produtos da Tramontina ou da La Gourmandise para resenhar.

    O grande desafio nessas três possibilidades é a agência e o cliente cederem o controle das campanhas aos blogueiros. Por exemplo, após enviar um produto, é preciso resistir à tentação de cobrar os autores por eventuais críticas recebidas. Gosto de elogiar sempre a postura do Dado Bier quando critiquei as cervejas novas que gentilmente haviam me enviado. O cervejeiro fez questão de telefonar, dizer que eu tinha razão e me convidar para visitá-lo -- o que rendeu um novo post. O principal ao planejar campanhas de marketing em blogs é ter em mente sempre que ninguém, por mais premiado em Cannes que seja, conhece melhor a linguagem de uma audiência do que o blogueiro a quem ela pertence. Deixem algumas decisões com ele e confiem.

    O Dahmer, comentando o caso Futepoca, aconselha: "Façam como eu. A partir de hoje, leiam as notícias dos blogs com a mesma desconfiança com que assistem aos noticiários de TV." Sugestão saudável, mas não acho que exista tanto motivo para pessimismo. Afinal, o Futepoca não apenas rejeitou a promessa de jabá, como ainda denunciou. Com isso, ganha credibilidade entre seus leitores. E assim o princípio da autorregulação vai separando o joio do trigo na Web.

    14 de março de 2008, 15:29 | Comentários (13)

    biblioteca brasileira sobre blogs

    As pesquisadoras Raquel Recuero, Adriana Amaral e Sandra Montardo montaram uma lista de artigos sobre blogs escritos por autores brasileiros desde o ano 2000. Farto material para monografias, dissertações e teses.

    Se alguém aí tiver publicado um artigo que não está na lista, as pesquisadoras pedem que se manifeste. A lista é parte de um panorama da pesquisa em blogs no Brasil, que vai figurar num livro a respeito do tema. Também vai figurar no livro um artigo escrito por mim, sobre as definições de weblog. Uma versão mais estruturada do texto "blogs já eram", como havia prometido um tempo atrás.

    4 de março de 2008, 11:09 | Comentários (10)

    nova geração

    Alguns de meus alunos da Famecos criaram a comunidade de blogs Sopa de Letras. Nada agrada mais a um professor do que ver a gurizada levando adiante suas próprias idéias, participando de projetos que transcendem a sala de aula. Cumprir o currículo do curso é importante, mas tão importante quanto é aproveitar o tempo livre da vida de estudante para criar algo.

    3 de março de 2008, 10:55 | Comentários (9)

    finlândia com tudo pago para jornalistas

    Mas só se você for jornalista recém formado ou estudante dos últimos semestres.

    O Ministério de Relações Exteriores finlandês está oferecendo uma bolsa para participar de um programa de correspondentes estrangeiros no país, durante o mês de agosto. O contemplado ganha as passagens de avião, acomodação, alimentação e passe para o transporte público em Helsinque.

    Pena que já me formei há tempos.

    28 de fevereiro de 2008, 11:21 | Comentários (5)

    como se transformar em um escândalo na web

    Na semana passada a atriz Preta Gil ameaçou processar o Google. A celebridade -- não sei como classificar a filha do ministro da Cultura, Gilberto Gil; atriz, cantora ou o quê? -- se irritou quando soube que as buscas pelas palavras-chave "atriz gorda" no Google Imagens retornam junto com os resultados a sugestão "Experimente também: preta gil". Preta, que de fato é gorda, cometeu um grave erro, como mostra a imagem abaixo:

    atriz_gorda.jpg

    Agora a busca normal do Google por "atriz gorda" resulta apenas em artigos relacionados à ameaça de processo. Se o objetivo de Preta Gil era evitar danos à sua auto-estima e à sua imagem, e não desencadear uma nova série de factóides para se manter na mídia, ela errou feio na estratégia, ou foi mal assessorada. O aceno com um processo judicial baseia-se numa completa ignorância do funcionamento da ferramenta de busca.

    Em primeiro lugar, o Google Imagens não tem absolutamente nenhuma culpa pela sugestão relacionada aos resultados da busca por "atriz gorda". Essas sugestões são fornecidas automaticamente por um algoritmo que contabiliza links remetentes, isto é, links apontando para uma ou outra página. Quando muitas páginas da Web criam links com as palavras "atriz" e "gorda" apontando para outras páginas cujo conteúdo seja relacionado com Preta Gil, algoritmo entende que Preta Gil é considerada uma atriz gorda pelos criadores das páginas e passa a relacionar a busca à celebridade. (Para mais informações sobre o funcionamento do Google, leia esse artigo.)

    Ou seja, o Google Imagens não tomou nenhuma atitude discriminatória ou difamatória ao sugerir que o usuário busque por fotos de Preta Gil quando procura por uma atriz gorda. Se é para arranjar culpados de discriminação ou algo do gênero, melhor buscar por todas as pessoas que criaram páginas que tenham contribuído para o estabelecimento dessa relação pelo algoritmo de busca. No entanto, o Google Imagens pode bloquear essa sugestão específica, para que não apareça mais, caso seja obrigado por uma decisão judicial ou queira fazer uma gentileza à moça.

    Em segundo lugar, a ameaça de processo contra o Google foi uma estratégia ignorante porque não levou em conta os efeitos da reação na mídia e em blogs nos resultados da própria busca do Google. Como se vê acima, a criação de centenas de páginas da Web comentando o caso reforçou ainda mais a relação das palavras "atriz gorda" com Preta Gil. Casos anteriores, como a da modelo-e-apresentadora Daniela Cicarelli vs. YouTube, já mostraram que em termos de redução de danos o confronto judicial é a pior opção — embora seja um grande sucesso em termos de aumento da exposição na mídia. O Google é praticamente um serviço público e qualquer atitude que interfira com a qualidade da operação tende a irritar profundamente os usuários. E na Web o público irritado tem uma notável tendência a criar posts em blogs, tópicos em fóruns, banners avacalhadores, circulares via correio eletrônico etc. etc. etc. Tudo isso significa mais páginas relacionando Preta Gil a "atriz gorda" e, portanto, reforço da associação entre a celebridade e a gordura nos resultados das buscas.

    Quase toda semana aparecem casos de celebridades tentando abafar escândalos na Web por meio do confronto. É um tiro no pé, sempre. Nada melhor do que o silêncio para fazer um assunto sumir da rede mundial de computadores. O advogado de Preta Gil poderia muito bem ter enviado um pedido informal ao Google Imagens para bloquear a sugestão, antes de criar uma tempestade midiática baseada na ignorância. Isso, é claro, se o objetivo desde o início não era fazer marola.

    Porém, se você é um assessor ou advogado de celebridade e realmente quer evitar ter o nome de seu cliente arrastado em lama digital, sugere-se estudar um pouco o funcionamento do site ou serviço que está incomodando. Até para não ficar parecendo um idiota perante este e outros clientes, quando a ação não der em nada mais que xingamentos Internet afora.

    18 de fevereiro de 2008, 12:53 | Comentários (42)

    entrevista para o comunique-se

    A repórter Izabela Vasconcelos me entrevistou sobre o Twitter para o Comunique-se. Confesso que não entendi o que eu quis dizer com "[o Twitter] divulga o blog convencional, já que dá espaço para isso". Talvez deva entrar em contato com a jornalista e perguntar.

    Segue a matéria.

    -------------------------

    Twitter: ferramenta útil também para os jornalistas

    Escola de Comunicação

    "O que você está fazendo?", A pergunta foi o ponto de partida para a criação, em 2006, do Twitter, servidor para microblogging que permite aos usuários o envio de atualizações de, no máximo, 140 caracteres.

    A ferramenta, criada pela a Obvious, não demonstrava grandes pretensões. Com atualizações via SMS, comunicador instantâneo, e-mail, site ou programa especializado, o Twitter começou somente com tarefas corriqueiras dos internautas. Aos poucos, novas utilidades foram criadas.

    Exemplo recente disso foi a repercussão do assassinato da ex-primeira ministra do Paquistão Benazir Bhutto. As primeiras informações começaram a chegar pelo Twitter e rendeu um grande debate entre os internautas.

    Dan York, do blog Disruptive Conversations, enumerou os 10 principais usos que ele faz do Twitter, como: fonte de notícias, rede de perguntas e respostas, ferramenta de interação, descontração e atualização, diário de viagens, diário de eventos, ferramenta para marketing/relações públicas, ferramentas de aprendizagem, diversão e, por último, nas próprias palavras dele, lição de humildade e brevidade, já que os 140 caracteres máximos, pedem objetividade e síntese.

    O Twitter já virou tema de listas de discussões em muitos grupos. Alguns acreditam que a ferramenta trouxe uma novidade e também praticidade, mas outros afirmam que o Twitter não trouxe nada diferente de um blog convencional, e que não representa mudanças no trabalho dos jornalistas.

    "Não vi nada demais na ferramenta, acho que está havendo um entusiasmo exagerado em relação ao Twitter", afirma o jornalista Alexandre Carvalho. Ele diz que a ferramenta pode ser melhorada com o tempo ou não, mas acredita que outras ferramentas podem fazer coisas muito parecidas com as que o Twitter faz.

    Nas mãos dos jornalistas

    O Twitter é usado por muitos na narração de eventos em tempo real. Marcelo Träsel, jornalista e professor da PUC-RS, usou o Twitter para fazer a cobertura de um evento da faculdade, com narrações em tempo real. "Os alunos gostaram muito. Ajudou, inclusive, as pessoas que estavam fazendo matérias sobre o evento", explica.

    "O Twitter traz um fluxo de informações contínuas e curtas. O melhor é a velocidade, as respostas chegam muito rápido", analisa a estudante de jornalismo Gabriela Zago, que escreveu um artigo sobre a ferramenta para o Observatório da Imprensa.

    Gabriela fez um mapeamento em seu blog com as utilizações do Twiiter pelo mundo, como o uso da ferramenta para acompanhar as prévias das votações de 2008 em Iowa, informações sobre a greve dos roteiristas dos EUA, cobertura dos incêndios na Califórnia em outubro de 2007, política no Quênia, entre outros.

    Para Träsel, o Twitter não trouxe grandes novidades, mas simplificou uma ferramenta e a tornou eficiente. Na sua opinião, o Twitter apresenta duas diferenças principais dos blogs convencionais: dá vazão a idéias e pensamentos curtos e ainda divulga o blog convencional, já que dá espaço para isso.

    No CES (Consumer Electronics Show), maior feira de tecnologia do mundo, muitos jornalistas fizeram a narração do evento pelo Twitter. Veículos como o New York Times, CNN, BBCBrasil e IG usam a ferramenta para divulgar suas atualizações.

    Outra novidade, fruto do Twitter, é o ReportTwitters, site que reúne jornalistas que usam a ferramenta para encontrar fontes e divulgar atualizações.

    14 de fevereiro de 2008, 23:21 | Comentários (3)

    blogs envergonham a imprensa argentina

    Aconteceu semana passada em Buenos Aires a Personal Fest, um festival de música patrocinado pela Motorola e Personal, mas de responsabilidade da produtora Popart. Durante o show de Snoop Dogg, na sexta-feira, houve uma briga entre pelo menos três integrantes da platéia. Dois deles foram feridos com uma faca. O entrevero causou uma debandada em um público de 25 mil pessoas. A jornalista Letícia Menetrier estava lá e relata:

    leca diz: eu to com um roxo gigante na perna dessa corrida foi punk nem deu pra ver nada....so escutar o barulho das pessoas correndo como loucas na nossa direcao parecia um estouro de cavalos so um troteo ....um estampido e nos abracamos gian e eu e deixamos as pessoas passarem correndo por no s mas depois comecou de novo houve duas corridas master acho que a briga se mudou de lado tipo foram brigando e abrindo espaco mas tinha um cara com uma faca e poderia ser uma arma porque nao te revistavam na entrada como diz um cara no blog....poderias entrar com rambo e chuck norris na mochila que ninguem via hahahahahaah

    Um dos feridos acabou no hospital para sofrer uma cirurgia e segundo consta, passa bem. Até aí, seria um caso de potencial desastre que fez o menor número de vítimas possível e terminou sem nenhuma morte. A parte pitoresca mesmo é que a organização e a imprensa se calaram sobre o incidente, com direito a relatos sobre pressão da produtora e dos patrocinadores sobre a imprensa e atitudes esquisitas de muita gente.

    O blogueiro Eduardo Fabregat publicou um texto resumindo todo o caso, então não vale a pena entrar em muitos detalhes aqui. Importante é dizer que os jornais não deram nada, ou deram notas minimizando o acidente, que os comentários à nota sobre o assunto na revista especializada em música Rolling Stone marotamente desapareceram, e que o único jornal grande a dar atenção suficiente ao ocorrido foi o Página 12, cujo texto é de autoria do próprio Fabregat.

    A imprensa comeu mosca, na melhor das hipóteses, ou fez corpo mole, na pior. As informações se espalham feito rastilho de pólvora na blogosfera argentina. Até um blog dedicado exclusivamente ao incidente foi criado, o Personal Fest: organización desastre. Enquanto isso, os jornalistas passam vergonha.

    11 de dezembro de 2007, 16:13 | Comentários (8)

    dissertação for dummies

    Para quem não tem disposição de ler minha dissertação de mestrado inteira, acaba de sair na edição 9 da revista E-Compós um artigo que resume os principais achados da pesquisa. O arquivo em PDF pode ser baixado neste link.

    7 de dezembro de 2007, 10:18 | Comentários (8)

    ficarei milionário

    Fui citado no Blog de Guerrilha pelo Mr. Wagner, que dividiu comigo esta edição do periódico de tendências Y-Trends, da Abril -- dêem uma lida nos dois, se conseguirem suportar a horrenda navegação em flash. Escrevi um artigo na tentativa de educar as empresas sobre como anunciar em blogs, para evitar os problemas descritos nesse texto.

    Um trecho do artigo de Wagner, que tenta chamar os abobadinhos do vídeo viral à consciência:

    ...em teoria, fazer vídeos legais mencionando seu produto direta ou indiretamente pode sim ser um excelente canal para propagar a sua mensagem de maneira espontânea. O problema é que empresas, marcas e propaganda em geral não são legais.

    Tem razão. Há momentos em que nada bate o apelo de um ator global ou a força de alguns links bem colocados em redes sociais. Nem sempre é preciso ser cool para ser eficiente em propaganda.

    24 de novembro de 2007, 10:04 | Comentários (7)

    os blogs já eram

    Desde terça-feira da semana passada falta tempo para publicar um comentário a respeito da palestra na Semana Acadêmica da Ecos/UCPel. Antes de mais nada, gostaria de agradecer ao Eduardo, Davi, Juliana e Reizel, do Diretório Acadêmico, que me receberam muito bem e foram gentis e eficientes o tempo inteiro. Fiquei com uma ótima impressão da faculdade e seus alunos. A maior surpresa foi o comparecimento de mais de cem pessoas na platéia, sobretudo porque os estudantes ganharam uma semana de folga das aulas para participar do evento. Nos meus tempos de Fabico, provavelmente teria ido à praia.

    Como sou adepto da escola Juremir Machado da Silva de apresentações, passei a semana anterior me perguntando qual seria a proposição mais chocante que poderia expor aos alunos de Jornalismo e Publicidade. Como o tema era "A força dos blogs como mídia alternativa", brinquei com a idéia de decretar o fim dos blogs.

    O problema é que comecei a levar essa brincadeira a sério e acabei me convencendo dessa afirmação. Os blogs terminaram. Acabaram. Foram comer capim pela raiz. São um ex-formato de mídia alternativa na Web. E o motivo principal dessa desaparição é justamente o sucesso que o formato blog obteve, tornando-se onipresente.

    Veja aqui os slides da palestra

    Fazendo-se uma análise das definições mais difundidas para blog, a conclusão é que esse formato envolve:

  • conteúdo tipicamente produzido por um autor, ou um pequeno grupo de autores, em geral como hobby;
  • publicação freqüente, no mais das vezes diária a semanal;
  • o conteúdo assume a forma de posts, publicados em ordem cronológica reversa, sendo o mais recente no topo da página;
  • os posts trazem quase sempre atrelados a si espaços para comentários do leitor.

    Além disso, os blogs costumavam ser vistos como diários pessoais na Web e repositórios de links e impressões sobre a vida, o universo e tudo o mais, mas como essas definições são referentes ao conteúdo, e não ao formato, ficarão de lado. O que define um blog não é seu conteúdo, mas o modo como ele é produzido, apresentado e as opções de interação oferecidas.

    O problema é que os elementos listados acima como sendo típicos dos blogs se disseminaram por todo tipo de site. Por outro lado, sites que em geral seriam reconhecidos como blogs não apresentam mais esses elementos. Torna-se cada dia mais difícil diferenciar uma coisa da outra. Os blogs estão se integrando tão profundamente à estrutura mesma da Web que estão em vias de desaparecer do campo de visão.

    Abaixo, uma desconstrução das definições mais comuns de blog.

    AUTORIA INDIVIDUAL

    Tome-se como exemplo o blog do Noblat. Ele atende a todas as características definidoras de weblogs, como ordem cronológica reversa, espaço para comentários e publicação freqüente. Apesar de ter a foto e nome do jornalista Ricardo Noblat, é um site de autoria coletiva. Noblat conta com uma equipe profissional para ajudá-lo a cobrir os bastidores da política. Aí é que as dúvidas começam.

    Qual é a diferença entre o blog do Noblat e um jornal ou revista de pequeno porte? Já trabalhei em revistas produzidas por quatro ou cinco pessoas, em que as matérias eram assinadas por diversos repórteres contratados ou free-lance, capitaneados por um editor. É mais ou menos o que ocorre neste caso.

    Pode-se argumentar que o blog do Noblat é um blog coletivo como tantos outros que existem por aí, inclusive aqui no próprio Insanus.org. Mas há uma grande diferença neste caso, que é a profissionalização. Noblat e seus colaboradores precisam se ater às técnicas e valores do jornalismo, significando um texto impessoal e equilibrado, o mais livre de opinião possível. Basta comparar com a Nova Corja para perceber do que estou falando.

    Nos blogs coletivos, a autoria costuma se manter individual em cada post. Isto é, cada autor tem sua própria linguagem, seu estilo retórico. As exigências do texto jornalístico profissional matam qualquer retórica individualizada. Por conseguinte, não se pode falar em autoria no mesmo sentido da definição clássica de blog.

    PUBLICAÇÃO FREQÜENTE

    Foi-se o tempo que a maioria dos sites na Web mostrava nas páginas um monte de GIFs animados de "em construção". A Web deixou de ser estática há anos. Mesmo empresas de fundo de quintal já têm condições de criar páginas que possam ser atualizadas constantemente com listas de notícias. Os webjornais, por outro lado, tiveram antes mesmo de surgirem os blogs seções de "últimas notícias" ou "plantão", em que as informações mais recentes são publicadas à medida que aparecem.

    Assim, não se pode usar como parâmetro definidor de blog o fato de a publicação de novos posts ter freqüência diária a semanal. O que se pode atribuir aos blogs, com toda certeza, é a disseminação das páginas dinâmicas para toda a Web. Ferramentas como o Blogger abriram caminho para o WordPress e o Joomla!, que permitem criar estruturas hipertextuais complexas sem a necessidade de um conhecimento profundo em HTML e outras linguagens. Mais do que isso, educaram o público para esperar de qualquer site uma atualização constante. Não se admite mais uma Web que não seja dinâmica.

    ORDEM CRONOLÓGICA REVERSA

    Observe-se o site do Judão. Seu autor, Thiago Borbolla, trabalha praticamente sozinho e se apresenta como blogueiro. A ferramenta por trás dele é o WordPress. Porém, a organização da informação é muito mais semelhante à de um webjornal do que à de um blog. Isso porque os posts não estão ordenados cronologicamente, mas hierarquicamente. Os considerados mais importantes ganham mais destaque.

    Tradicionalmente, todo post em um blog é uma manchete. Todo novo conteúdo assume o lugar mais privilegiado na página, seja qual for sua importância, até ser substituído por conteúdo ainda mais recente. Na blogosfera valor máximo é o imediatismo. Porém, cada vez mais autores que se apresentam como blogueiros estão usando as possibilidades das novas ferramentas de publicação para criar sites organizados hierarquicamente, não cronologicamente.

    Isso significa que ou eles não estão produzindo blogs, ou os blogs não podem mais ser definidos pela ordem cronológica reversa dos posts. Em compensação, webjornais como o falecido No Mínimo e o Observatório da Imprensa passaram a organizar a informação cronologicamente, não hierarquicamente, seguindo o modelo estabelecido pelos blogs.

    ESPAÇOS PARA COMENTÁRIOS

    Quando até a Zero Hora abre para o leitor a possibilidade de fazer comentários às notícias, é porque essa prática já é mais do que aceita pelo resto da mídia. Todo webjornal que se preze hoje oferece espaços para comentar as matérias diretamente. Por outro lado, percebe-se que os blogs da "nova geração", como o Jacaré Banguela, e da antiga geração, como o Imprensa Marrom, estão deixando de lado os comentários.

    Aí está mais uma azeitona na empada dos blogs: educaram o público a tal ponto para a interação que ninguém mais admite uma notícia qualquer sem um fórum atrelado. As empresas de comunicação certamente não têm o menor interesse na opinião dos leitores. O que interessa a elas é atender a uma demanda do público e ainda fazê-lo permanecer mais tempo no site, voltando muitas vezes ao dia para conferir a caixa de comentários de que está participando. Depois, as empresas somam esses números de audiência e vendem anúncios.

    De qualquer modo, a ferramenta de comentários não pode mais ser usada como um traço definidor dos blogs.

    ONIPRESENÇA DOS BLOGS

    Como espero ter conseguido mostrar acima, as ferramentas e funcionalidades típicas dos weblogs estão sendo integradas à estrutura de toda a Web, fenômeno que borra a fronteira entre os blogs e outros sites. É isso que entendo por onipresença dos blogs.

    Um outro aspecto dessa onipresença é o fato de muitas empresas terem adotado as ferramentas de publicação usadas em blogs para criar seus sites institucionais, ou então ter criado blogs em seus sites corporativos, como forma de "humanizar" sua imagem. O caso clássico desse efeito de humanização é o de Robert Scoble e seu blog sobre a Microsoft. Também se pode lembrar que muitos veículos estão adotando o formato de blog para seus colunistas, embora seus textos muitas vezes continuem idênticos aos do jornal impresso.

    O fenômeno das colunas de jornal em formato de blog apontam para uma faceta importante da onipresença dos blogs, que é a "canibalização" de suas funcionalidades por outros tipos de serviços e sites. O Orkut e o Twitter, por exemplo, oferecem a seus usuários uma plataforma para manter diários pessoais na Web, um dos usos mais conhecidos dos blogs. Serviços de social bookmarking como o Del.icio.us e o Stumble Upon são ferramentas muito melhores para armazenar e compartilhar links, uso primevo dos blogs. Outra utilidade específica dos blogs costumava ser a hiperespecialização. Isto é, se você gosta apenas de esportes, podia ler um blog de esportes em vez de acessar todas as editorias de esportes de todos os webjornais, e assim ter as notícias já filtradas para você. Com o RSS, no entanto, é possível montar listas com todas as notícias de esportes de todos os jornais e lê-las de forma mais eficiente do que nunca.

    Essa dispersão das funcionalidades dos blogs em diversos outros serviços e sites da Web colabora para a lenta desaparição dos blogs como os conhecemos -- embora na verdade tenhamos uma imagem de blogs que remonta há coisa de 5 anos atrás. As pessoas no Brasil recém começam a deixar de lado o preconceito de que blogs são meros "diarinhos adolescentes" na Web, mas o desenvolvimento desse gênero informativo já está bem adiante.

    Finalmente, outro motivo que contribuirá para a desaparição dos blogs é a histeria da monetização. Nada contra querer ganhar dinheiro, mas percebo que muitas pessoas já entram na blogosfera pensando no Google AdSense. Isso resulta naqueles blogs horrendos, cheios de anúncios por todos os lados, que prejudicam a leitura. Podem me chamar de romântico, mas no meu tempo o sujeito primeiro se preocupava em ter algo de que falar, e os anúncios só eram aceitos se não interferissem no objetivo principal do blog, que é publicar uma informação ou opinião original e honesta.

    Tendência ainda mais prejudicial é a dos posts pagos -- o blogueiro recebe dinheiro de alguma empresa para citar ou falar bem de seu produto. Infelizmente, os autores mais preocupados em ganhar dinheiro com blogs, a ponto de venderem sua alma tão barato, não percebem que estão degradando seus próprios recursos. Qualquer empreendimento que viva de informação ou opinião tem como principal ativo a credibilidade, que é construída historicamente, à medida que os leitores verificam a honestidade do autor e a precisão das informações.

    O problema dos posts pagos é que as pessoas não são burras e logo se darão conta dessa mutreta, o que vai prejudicar não apenas os blogs que vendem seu espaço editorial, mas a blogosfera como um todo. Ninguém mais vai acreditar que não recebo um centavo sequer para falar de restaurantes no Garfada. Com a perda de credibilidade dos blogs, as pessoas voltarão à imprensa profissional ou então migrarão para outro tipo de serviço.

    ONDE ISSO VAI PARAR?

    Antes de mais nada, os blogs continuarão existindo. Ao menos, ninguém no Insanus.org pretende fechar seus veículos no futuro próximo e passar a usar outras ferramentas, ou arranjar um emprego em uma redação. Os blogs como ferramenta seguirão muito úteis, mas seu sentido de mídia alternativa revolucionária vai se perder. A maioria das pessoas passará a usar uma diversidade de ferramentas e serviços para inúmeros fins de que antes apenas os blogs davam conta. Só em casos muito específicos o formato atual continuará sendo o melhor.

    O futuro está em um killer app ainda não inventado, mas que terá o poder de reunir de maneira simples todo o conteúdo produzido pelas pessoas nos Twitters, Diggs, Last.fms e YouTubes da vida -- e, claro, em seus blogs. Em minha opinião, o Facebook e o Ning apontam o caminho. O que vocês acham disso tudo?

    12 de novembro de 2007, 19:59 | Comentários (42)

    blog é literatura?

    semana_academica_peq.jpg

    Fui convidado pelos alunos da Ecos/UCPel a palestrar em um painel durante a semana acadêmica deles. O tema é o papel dos blogs no jornalismo alternativo. Se algum leitor da região de Pelotas quiser me apresentar aos melhores bares ou restaurantes da região após o painel -- ou aproveitar a chance de me jogar tomates podres --, apareça lá na segunda-feira, a partir das 19:00.

    31 de outubro de 2007, 16:56 | Comentários (11)

    podcast acadêmico

    Acho que havia esquecido de recomendar o debate semanal dos professores do núcleo de Comunicação Digital da Famecos. Toda sexta-feira, uma nova conversa com André Pase, Andréia Mallmann, Eduardo Pellanda e Silvana Sandini sobre algum tema nerd.

    25 de outubro de 2007, 15:20 | Comentários (3)

    a integração do público na propaganda

    Depois de dominar o jornalismo, a interação mediada por computador começa a causar mudanças mais profundas na propaganda. Hoje em dia, todo webjornal que se preze tem uma seção de notícias enviadas pelos leitores. As diretorias das redações se deram conta de que as pessoas gostam de aparecer na mídia e estão dispostas a trabalhar de graça para isso — e faço esse comentário sem qualquer intenção de condenar esse tipo de jornalismo participativo como "exploração" do público. Colaborar com um jornal sem receber dinheiro não é pior do que usar uma camiseta com o logotipo de uma marca famosa na rua: você está beneficiando uma empresa privada em troca de algum tipo de satisfação pessoal. Seja feliz.

    As agências de publicidade mais antenadas já andavam produzindo ações que integram o consumidor, em geral fazendo com que ele participe de alguma atividade online ou offline. No entanto, esse tipo de propaganda — e uso o termo aqui de propósito, porque essas ações de publicidade seguem a lógica da propagação, não mais a da difusão — cada vez mais se torna um item importante nos orçamentos de marketing de grandes empresas. A vantagem é que em geral custam muito menos do que um anúncio na televisão e atingem apenas os consumidores interessados. E na televisão sempre existe a chance de a pessoa trocar de canal ou botar o aparelho no mute durante os comerciais.

    Durante os últimos meses, tive a satisfação de participar do que talvez seja a primeira campanha no Brasil a usar peças em vídeo desenvolvidas somente para a Web. A LiveAD criou para a marca Ilhabela, da Grendene, uma série em três capítulos, protagonizada por um ator da Malhação. Até aí, seria apenas um anúncio normal em vídeo usando um suporte diferente.

    O novo mesmo está na forma de escolha das atrizes: foi feita uma seleção entre as potenciais consumidoras da sandália, através de recrutamento em colégios, uma parceria com a revista Capricho e o YouTube. Dez meninas foram selecionadas para participar da websérie como atrizes. Mas o importante mesmo é que muito mais meninas receberam a mensagem da Grendene nos colégios, na revista e no YouTube, onde foram postados mais de 90 vídeos, somando 30 mil visualizações. O primeiro episódio está no ar.

    Esses vídeos vão continuar lá, nos perfis das meninas que participaram, espalhando o nome da marca indefinidamente, mesmo quando a campanha acabar e for esquecida. Trata-se de um grande acerto o uso do YouTube. Primeiro, poupa-se espaço de servidor e incomodação, porque caso a websérie gere muito tráfego pode derrubar o servidor onde o site da marca está hospedado. Segundo, conta-se com todo o élan comunitário do YouTube, que pode fazer esse conteúdo emergir através das listas de vídeos relacionados e pela facilidade de se trocar links.

    Além disso, o site da campanha oferece conteúdo interessante para quem é fã de Malhação e permite que o público faça comentários em um "videofotolog". Não há maneira melhor de encantar o público do que fazê-lo se sentir parte da construção de um "bem público". Essa é a lição que o Linux e a Wikipedia ensinaram, a imprensa seguiu e agora a publicidade começa a levar bastante a sério. Pode-se até considerar a websérie boba e a idolatria de um ator da Malhação uma enorme bobagem, mas a verdade é que as meninas que comprariam as sandálias da Grendene acham esse conteúdo muito interessante. Sejam felizes.

    9 de outubro de 2007, 11:32 | Comentários (9)

    imprensa contra os blogs

    Que Estadão que nada! Ataque aos blogs de verdade vem do Diário do Nordeste, jornal de Fortaleza afiliado à Rede Globo — que, aliás, usa muito o formato blog em seus veículos. Em um editorial de agosto, fazem parecer que os blogueiros são responsáveis por todas as mazelas culturais do mundo.

    A pretensa democratização da mídia alegada pelos titulares de blogs estaria, pelo contrário, ocasionando o surgimento de nova oligarquia, pela qual inúmeras pessoas, em alguns casos agindo de má-fé, podem usar seu talento de persuadir a favor de causas desonestas. Sobretudo os mais jovens, pela natural falta de experiência característica da idade, tendem a acreditar em tudo aquilo que lêem, principalmente se as mensagens chegam numa linguagem que lhes pareça simpática e envolvente. Essas são as principais vítimas de blogs com intenções indisfarçáveis de fomentar preconceitos e disseminar tendências extremamente perniciosas à sociedade.

    Na verdade, o editorialista do jornal cearense parece ter lido mal o livro de Andrew Keen — ou as entrevistas que ele deu à Época ou à Folha — e resolvido macaquear suas idéias para se defender do concorrente, o jornal O Povo, segundo conta Glaydson Lima. O blogueiro — ô raça! — também dá a entender que a publicação, pertencente ao Grupo Edson Queiroz, é pelego do clã Jereissati comprometido com interesses políticos. Sabendo disso, o trecho a seguir do editorial fica até engraçado:

    O pior, no caso, é que também se constata a existência de blogs que, aparentando ser de indivíduos, são, na verdade, manipulados por grandes grupos ligados a objetivos inconfessáveis.

    É, jornalistas nunca são guiados por objetivos inconfessáveis, não é? Os repórteres de jornais, redes de televisão e rádio ligados a políticos e a grandes grupos financeiros, especialmente, jamais se deixam influenciar por interesses escusos. Nunca os objetivos inconfessáveis de deputados, governadores ou empresários maculam a edição de uma notícia. Só essa plebe sem diploma de jornalismo que de repente tomou conta do espaço público comete erros ou distorce os fatos, pura e simplesmente.

    Blogueiros não são piores nem melhores do que jornalistas. Como qualquer outro ser humano, têm seus preconceitos, opiniões e interesses e muitas vezes nem percebem que um texto está sendo guiado por eles. Por outro lado, os blogs são muito diferentes dos jornais e não deveriam representar uma ameaça. Se representam, é porque as empresas de comunicação do Brasil preferiram se restringir à irrelevância cultural do que investir em jornalismo de qualidade. Não estão falando a mesma língua do público. Não mostram os problemas que interessam de verdade aos cidadãos. De fato, em lugar de investir no jornalismo, as empresas têm cada vez mais reduzido suas equipes e as verbas para coberturas internacionais e reportagens longas. Para compensar, dão quinquilharias aos assinantes.

    A vantagem dos blogs é poder cobrir as lacunas deixadas pela mídia. Se a Globo não mostra as competições de esgrima do Pan 2007, os que se interessam por esse esporte terão de buscar informação noutros lugares. Se os cadernos de gastronomia de sua cidade só elogiam todo mundo e reproduzem releases, crie um blog dedicado a isso. Se o jornal da sua cidade não dá notícias de seu bairro, publique-as na Web. A imprensa não tem como estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Se o Diário do Nordeste ou o Estadão acham isso ruim, que contratem mais repórteres e cubram todos os assuntos.

    21 de agosto de 2007, 10:41 | Comentários (17)

    o que todos estavam esperando

    Depois de uma demora inexplicável, está no ar a versão oficial da minha dissertação: A pluralização no webjornalismo participativo: uma análise das intervenções no Wikinews e no Kuro5hin. Baixem, leiam as 271 páginas e confiram se valeu a pena o governo ter usado seu dinheiro para me manter dois anos dedicado aos estudos.

    O Scribd, o serviço em que está hospedado o arquivo, é bem interessante. Promete ser um tipo de YouTube dos documentos. Você pode subir textos, imagens e áudio, definir palavras-chave, a forma como quer compartilhá-los e inclusive o tipo de direitos que prefere manter sobre a obra. Bem útil, sobretudo para PDFs imensos e pesados.

    2 de agosto de 2007, 10:10 | Comentários (14)

    vai dar merda

    Legal esse protesto no Arroio Dilúvio, não? A Zero Hora e outros veículos de Porto Alegre também acharam.

    A verdade, porém, é que mais uma vez todos jornalistas embarcaram em uma ação de marketing viral. Nesse caso, o principal produto a anunciar era um dos próprios autores da ação. Ambos são alunos do curso Perestroika. Felipe Anghinoni, um dos professores, é também diretor de criação da LiveAD. Pediu a um dos alunos que mostrasse algum talento para ser motorista de buzz. Segue relato do próprio Vinícius:

    Eu precisava dum material diferente pra segunda, mas não tinha nada. Então saí da agência e fui pra Fabico. Na sinuca, contei pra dois colegas sobre o problema. Era fato que eu precisava de, no mínimo, uma matéria na Zero Hora. Começamos o brain. Eu e Pinho, Felipe Fornari. Ainda tivemos ajuda do Augusto, um colega da faculdade.

    Poderiam ter parado por aí, mas arranjaram inclusive um cliente para aproveitar o eventual sucesso da ação: a revista O Dilúvio. Algo me diz que esse guri vai longe.

    Em tempo: a verdadeira motivação não tira o mérito do protesto. Chamar a atenção para a quantidade de esgoto que o arroio despeja todo dia em nossa água de beber é importante, ainda que por tabela. Quando a propaganda pode aliar uma certa parcela de interesse público a seus objetivos, por que não fazê-lo?

    24 de julho de 2007, 15:16 | Comentários (11)

    pode vir, boca júniors!

    O fenômeno dos vídeos produzidos por torcedores é uma das coisas mais interessantes do YouTube. São propagandas muito bem feitas para incentivar a ida ao estádio, nascidas espontaneamente. Como se viu desde o ano passado, torcida é uma coisa que conta muito, ao menos no caso do Grêmio. É difícil saber o quanto esses vídeos influenciaram na moral dos tricolores, mas o fato é que boa parte deles tem dezenas de milhares de visualizações. Inclusive, não sei como ninguém ainda teve a idéia ou o empreendedorismo de patrocinar as pessoas que produzem esses vídeos. Audiência garantida.

    Quanto à final dessa Libertadores, será um dos maiores encontros de titãs já visto no futebol. Sandro Goiano que o diga. Infartarei, com toda certeza.

    9 de junho de 2007, 18:48 | Comentários (15)

    jabá acadêmico

    Finalmente saiu o livro Interação Mediada por Computador, de autoria do meu orientador no mestrado, professor Alex Primo. Altamente recomendado para quem estuda qualquer coisa relativa ao uso da Internet, ou trabalha em empreendimentos com base na rede. No site, que oferece material de apoio, é possível ler a introdução e a conclusão do livro. Quem quiser ter uma idéia melhor do tipo de pesquisa que o Alex faz, pode ler uns artigos aqui.

    7 de junho de 2007, 14:46 | Comentários (3)

    orgulho de pai

    Ter filhos deve ser o máximo. Ao menos é o que eu posso imaginar a partir da experiência de ser professor. Agora que os alunos começam a apresentar os primeiros resultados do semestre, não consigo deixar de me sentir orgulhoso ao ver alguns excelentes trabalhos. Fico especialmente emocionado verificando o crescimento de alguns que tiveram mais dificuldade no início, mas superaram os obstáculos e realizaram coisas muito boas. Se é tão legal presenciar o crescimento de pessoas que nem sabia existirem até março deste ano, imagino o prazer que deve dar a um pai ver seu filho falar palavras novas a cada semana e dar os primeiros passos.

    Começo a entender melhor o Firpo.

    7 de maio de 2007, 0:13 | Comentários (20)

    mestre träsel

    Informo aos caros leitores que a banca de dissertação foi muito bem. Tirei nota máxima, com direito a estrelinha. Em breve publicarei aqui um link para quem quiser baixar o trabalho. Agora vou ali descansar, com licença.

    P.S: Carmencita, pode parar de ameaçar as pessoas da banca. Todas me trataram bem.

    31 de março de 2007, 16:09 | Comentários (24)

    BarCamp POA 2.0

    Na próxima sexta-feira e sábado, acontece o segundo BarCamp em Porto Alegre. Será na Faculdade de Educação da UFRGS, no campus da reitoria, sala 101. Aqui tem um mapa. O pessoal está organizando uma transmissão do evento de sábado pela TV Software Livre. Dessa vez, infelizmente, acho que não poderei participar, mas recomendo muito. Como o evento é grátis e auto-organizado, vale a pena levar um pacote de bolachas para contribuir no coffee-break — no primeiro BarCamp em Porto Alegre, um sujeito levou até bolo feito em casa.

    Segue o programa do evento:

    Educação e novas tecnologias, laptop US$100, direito autoral, formas de compartilhamento, software livre, inclusão digital, jornalismo participativo, movimentos sociais e comunicação, blogs...

    Estes temas e muitos outros atravessam a mídia, os corredores das faculdades, as conversas de bares, os círculos acadêmicos formais... porquê não fazer um evento diferente, onde as pessoas possam trocar informação, de forma descontraída, mas com muito conteúdo?

    O BarCamp é uma desconferência, modelo de evento baseado nos princípios de colaboração. O objetivo é proporcionar interação e descontração entre os participantes.

    Ao contrário das conferências tradicionais, não há uma pauta pré-definida de apresentações e grupos de trabalho. Os participantes decidem a grade de programação e formam os círculos de debate conforme seus interesses, invertendo o modelo top-down das reuniões de especialistas e adotando um modelo emergente, bottom-up. O trabalho da organização é mais facilitar do que comandar.

    Nesta segunda edição pretendemos demonstrar/debater/conhecer o projeto UCA (Um computador por Aluno) e a proposta do modelo pedagógico da OLPC (One Laptop Per Child), também conhecido por "laptop de 100 dólares".

    O LEC, Laboratório de Ensinos Cognitivos da UFRGS, apresentará de forma descontraída a experiência desenvolvida da Escola Luciana de Abreu, onde as crianças já estão utilizando os laptops como ferramenta educacional.

    Então traga seu chimarrão, sua térmica de café, e venha participar deste evento. As inscrições são livres.

    Em São Paulo, o primeiro BarCamp aconteceu neste final de semana. A cobertura pode ser conferida no site do BarCamp Brasil.

    26 de março de 2007, 4:28 | Comentários (4)

    ainda em recesso

    A dissertação de mestrado já foi entregue, então eu teoricamente deveria voltar a postar. No entanto, preciso retomar alguns assuntos que ficaram pendentes nos últimos meses. Além disso, a vida profissional tem dado tão certo que mal estou com tempo para dormir, quanto mais postar aqui.

    Esse blog volta a ser atualizado no ritmo de sempre em breve. Espero.

    8 de março de 2007, 14:11 | Comentários (7)

    por que você não bloga?

    Porque estou terminando minha dissertação de mestrado, a respeito do webjornalismo participativo no Kuro5hin e no Wikinews.

    Agora, com um incentivo a mais: dar aulas de jornalismo digital e online I na Famecos a partir de março.

    26 de janeiro de 2007, 18:13 | Comentários (22)

    Por que você bloga?

    Responda ao questionário — em inglês — e concorra a um iPod shuffle.

    23 de janeiro de 2007, 20:09 | Comentários (4)

    barcamp POA é amanhã

    Só para lembrar que amanhã e domingo acontece o BarCamp. O evento é totalmente gratuito — embora contribuições sejam bem vindas — e o local é a Federação dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação, na Jerônimo Coelho, 303, centro da cidade. Começa às 10:00. Mais informações, inclusive lista de hotéis, aqui.

    Sábado

  • 10h-12h: Organização dos grupos de trabalho e apresentações
  • 12h-14h: Intervalo para almoço
  • 14h-20h: Desconferência

    Domingo

  • 10h-12h: Desconferência
  • 12h-14h: Intervalo para almoço
  • 14h-18h: Desconferência

    É bastante importante que os interessados preencham a ficha de inscrição e cliquem em "sign-up", mesmo ainda hoje à noite. Caso não consiga, porém, não há problema algum. Faça como quiser, mas apareça.

    8 de dezembro de 2006, 17:26 | Comentários (0)

    de como o jornalismo pode não ajudar em nada

    Uma jovem de 13 anos e um professor de 31 são encontrados mortos em um motel, em um aparente pacto de suicídio. Deixaram cartas às famílias. Em que a principal rede de mídia gaúcha se concentra? Em discutir os motivos que levam dois amantes a cometer um ato desses? Entrevistar psicólogos, criminalistas? Em tentar descobrir por que os dois se viram em um beco cuja única saída era a morte? Não. Concentra-se no fato de os motéis permitirem a entrada de menores. Assistindo aos telejornais do grupo RBS, tem-se a impressão de que a ida ao motel foi a principal causa da tragédia.

    É um grande desserviço. Está certo, os motéis estão infringindo a lei e é papel do jornalismo noticiar infrações e crimes. Mas também é papel do jornalismo colocar as coisas em perspectiva e, nesse caso, a lei é hipócrita e inútil. Motéis servem para pessoas que moram com os pais — ou cônjuges, ou etc. — transarem em paz. A maioria dos adolescentes faz sexo. A maioria mora com os pais. Logo, motéis são úteis para eles. Não apenas isso, como qualquer menino ou menina de 14 anos hoje em dia sabe o que é sexo, se é que já não pratica. Com 16 anos, podem até votar, isto é, são considerados cidadãos responsáveis o suficiente para decidir quem vai foder com o país, mas não para quem vai foder só com eles mesmos. O mais lógico seria que a maioridade fosse reduzida para essa idade. Nem sombra dessa discussão toda nas matérias sobre motéis. Ninguém dizendo "ei, vamos deixar de besteirol, deixem a gurizada trepar em paz".

    De todas as outras possibilidades de abordagem do fato, nenhuma daria tanto trabalho quanto visitar cinco motéis da cidade com uma atriz de 14 anos, apenas para mostrar o que todo mundo já sabe: ninguém dá bola para a lei da Criança e do Adolescente. Então não existe a desculpa de falta de recursos, comum para justificar a ausência de reportagem que preste. O único recurso escasso nesse caso talvez fosse capacidade intelectual, mesmo.

    Há alguns dias, publicou-se aqui um link para um artigo reclamando de como os jornalistas só usam as declarações mais idiotas de pesquisadores. Agora, o Mojo envia a dica de um blog dedicado exclusivamente às bobagens que se diz sobre resultados científicos, sempre com uma grande ajuda da imprensa:

    The constant bombardment of news of hypothetical dangers, and our increased intolerance of risks, contrasts with the reality that we live in a safer world and are healthier than ever. The media could be a positive influence and help us understand complex issues so that we can make health decisions that are best for ourselves. As much as we think we don’t, most of us on some level do believe the health news we see on television and printed in prominent publications. The way that a risk is depicted and how often it is repeated can make a big difference in how serious it seems. Even the most wary of us can be seized by alarming soundbytes. It is easy to scare us in a soundbyte, but impossible to really confer understanding of an issue in a few words.

    Por que isso acontece? De uma forma geral, porque os repórteres são ignorantes. A maioria não sabe nada de matemática e estatística e cada vez menos estudantes têm uma boa formação humanista, embasada em história, sociologia e filosofia. Por causa disso, são facilmente enrolados pelas fontes, ou facilmente entendem errado as declarações das mesmas. Isso para não entrar na questão dos salários baixos e carga absurda de trabalho, que realmente pouco incentivam um jornalista a fazer algo além do necessário para enviar a matéria ao editor, atendendo a padrões mínimos de publicação. Quando o repórter é bom, em geral o editor barra suas idéias. E se calhar de ambos serem bons, aí o mais normal é subestimarem o leitor, crendo que não entenderá qualquer texto mais complexo.

    A solução seria transformar os cursos de jornalismo em uma especialização, obrigando os candidatos a repórteres a se aprofundar em alguma outra área, como economia, ciência política, história ou mesmo engenharia e biologia, antes de chegar às redações. Na especialização, sim, seriam ensinadas as técnicas de reportagem e algumas noções de teoria seriam fornecidas. Melhoraria bastante a qualidade do que lemos, ouvimos e vemos.

    28 de novembro de 2006, 10:41 | Comentários (25)

    só a ficção se aproxima da verdade

    Ontem falei mal da Globo, hoje falarei bem. A série Antônia está muito boa. Assisti ao primeiro e ao segundo capítulos. Até agora, conseguiram mostrar a periferia de São Paulo sem cair no oba-oba paternalista daquele tenebroso Central da Periferia. Nada contra as bandas péssimas que a Regina Casé põe a tocar, mas a tentativa de fazer lugares miseráveis parecerem mais divertidos que o Leblon é patética. Nesse sentido, a série de ficção sobre as rappers de Brasilândia é muito mais verdadeira do que o programa supostamente não-ficcional.

    Destaque do capítulo de ontem foi quando a personagem Bárbara, logo após sair da cadeia, encontra um agroboy e vai com ele para o motel. Depois da putaria, ele vira para ela e diz: "esqueci de perguntar uma coisa superbásica: quanto custa o programa?". Como é televisão, os dois acabam fazendo as pazes, mas sem cair em melodrama, porque quando o sujeito diz que faz qualquer coisa para perdoá-la, ela manda pagar o programa. Com o dinheiro, ajuda uma colega. Mas também, a direção foi de Tata Amaral, com roteiro de Jorge Furtado e Cláudia Tajes. Assim é fácil sair coisa boa.

    A Globo, é claro, não resolveu colocar negros pobres como protagonistas porque percebeu que black is beautiful. Percebeu mesmo foi o mercado potencial: os filhinhos de papai que admiram a cultura hip-hop e serão vendidos como público-alvo às agências de publicidade. Se conseguirem favorecer a causa negra e ainda fazer boa dramaturgia no caminho, tanto melhor.

    25 de novembro de 2006, 19:17 | Comentários (5)

    barcamp porto alegre vem aí

    O BarCamp é um modelo de evento baseado nos princípios de colaboração e auto-organização. Ao contrário das conferências tradicionais, não há uma pauta pré-definida de apresentações e grupos de trabalho. Os participantes decidem a grade de programação e formam os círculos de debate conforme seus interesses, invertendo o modelo top-down das reuniões de especialistas e adotando um modelo emergente, bottom-up. O trabalho da organização é mais facilitar do que comandar. Por isso, costuma-se dizer que os BarCamps são "desconferências".

    O BarCamp POA acontece nos dias 9 e 10 de dezembro. O local será a Federação dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação, na Jerônimo Coelho, 303, centro da cidade. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas na página do evento. Aceitam-se doações voluntárias para a compra do material necessário. Outra forma de colaborar é comprar uma camiseta. Quem quiser ajudar na organização, pode se juntar à lista de discussão também. Por favor, colaborem também na divulgação.

    Para saber como funciona a tal "desconferência", leia o relato do BarCamp Brasil, que aconteceu em Florianópolis em setembro.

    24 de novembro de 2006, 10:20 | Comentários (6)

    mondo estudo

    Amanhã, às 10h30, apresentarei o trabalho "O papel do webjornalismo participativo" no IV encontro da SBPJor. Será lá na Fabico, mesmo. Quem se interessa em saber como o público vai tomar conta do jornalismo e acabar com nossos empregos, apareça.

    Tá, tá, a parte de "tomar conta do jornalismo" foi piada.

    5 de novembro de 2006, 20:35 | Comentários (3)

    pinta lá, magrão

    Hoje a Adriana Amaral lança o livro Visões Perigosas: uma arque-genealogia do cyberpunk no bar da Carol Teixeira, o Casa de Loulou. Fica na Mariante, 170 e o coquetel começa às 19h30.

    6 de outubro de 2006, 11:02 | Comentários (4)

    almoço de amanhã: boi ralado

    Leitores de Florianópolis: amanhã e domingo estarei na ilha, participando do Barcamp. Quem quiser tomar uma cerveja nas horas de folga, envie uma mensagem para o meu endereço de correio eletrônico, aí na coluna ao lado. Ou simplesmente apareça no Café Matisse, lá no CIC.

    15 de setembro de 2006, 23:04 | Comentários (4)

    se amas teu filho, não lhe poupes a vara
    The problem might be, for example, that people have come to believe that the satisfaction of choice, no matter how ill-informed, whimsical or deleterious, however childish or child-like, is the whole meaning of existence, at all the ages of man, from the very moment of birth onwards. Clearly, this has a connection with the notion of consumer choice: it is the wrongful extension of a principle that, in the right context, is obviously an excellent one.

    Theodore Dalrymple destrincha as razões mais óbvias para o surto de obesidade infantil em um artigo na New English Review. É assunto marginal no texto, que trata na verdade do preconceito politicamente correto em artigos científicos, mas levanta uma das questões mais irritantes hoje em dia: a incapacidade de assumir responsabilidades. No caso, a responsabilidade de educar os filhos, aspecto que preocupou o Pedro Doria.

    Como os adultos esperam educar os filhos se eles mesmos agem como pivetes mimados, sem a menor habilidade em lidar com frustrações? Os marqueteiros tiveram sucesso em convencer as pessoas de que a vida DEVE ser só prazer. Pais criados sob o rigor de outro ambiente cultural não querem que seus filhos passem pelo mesmo "sofrimento" de ter suas vontades negadas. Por causa da crença no prazer constante, não conseguem ver o quanto as frustrações formam o caráter de um ser humano. Como criança que levou umas boas palmadas toda vez que mereceu, diria até que, se tivesse de escolher entre pais superrigorosos e pais idiotas, preferiria os primeiros. Poderia crescer com montes de neuroses, mas é mais fácil se livrar delas do que passar a tolerar a frustração depois de ter se tornado um narcisista. A queda é alta quando se entra em contato com a realidade.

    Responsabilidade é tomar atitudes dolorosas no presente, para atingir um bem maior no futuro. Não tenho filhos, mas imagino o quanto é doloroso negar algo a eles. Ter de ouvir deles que você é um fascista, um chato de galochas, que não os ama o suficiente, se não quer dar seja lá o que queiram. Convém não esmorecer nesse momento. Se ser pai é preparar para a vida adulta, mostrar que não se pode ter sempre o que se quer talvez seja a coisa mais importante. Por outro lado, limites costumam incentivar a criatividade. Nenhum pai sensato acha que os filhos se conformam sempre com o "não". É claro que vão tentar driblar de alguma forma aquele limite. Quando conseguem, aí, sim, talvez seja o caso de fechar um olho, deixar estar e admirar em silêncio a inteligência do garoto.

    E, em geral, quando a criança sai pela tangente e faz o que não deveria, logo descobre que os pais tinham bons motivos para negar alguma coisa.

    17 de julho de 2006, 10:10 | Comentários (32)

    plágio em dissertação da ufrgs

    A UFRGS cassou o diploma de mestre de Gilberto Kmohan por conta de plágio. Ele recorreu. Conforme o leitor Roger, isso significa que a sentença está suspensa até que o caso transite em julgado, sem mais nenhuma possibilidade de recurso. Na dissertação "O conceito de aura em Walter Benjamin", ele fez uma colagem de diversos autores, conforme a perícia. Acabou aprovado com louvor pela banca, mas foi denunciado pelo professor Luís Milman — o que aliás fez com que alguns doutores apelassem para a ignorância mais de uma vez — seu título está em jogo. Espera-se que o processo não leve muito tempo, porque a academia só tem a ganhar punindo este tipo de fraude.

    O Cisco acha que não apenas Kmohan, mas toda a banca e a direção da Fabico têm de ser punidos. Não concordo. A direção fez seu trabalho, dando início ao processo administrativo. Houve cinco anos de espera, mas o fato é que se inicou o processo e o diploma já está na berlinda. Ponto final. Já pretender culpar a banca e o orientador é desconhecer o funcionamento de uma pós-graduação. O orientador não tem total controle sobre o aluno e, neste caso, nem mesmo era especialista na área. Kmohan teve atritos com seu orientador original e Capparelli provavelmente aceitou orientá-lo para não prejudicar o PPGCOM.

    Uma banca nem sempre é formada por pessoas que conheçam toda a bilbiografia usada. Parece que muitos livros plagiados eram estrangeiros e só quem fosse muito especializado no assunto poderia conhecê-los a ponto de identifcar o plágio. Seria preciso conhecer de cor os trechos plagiados. Não teriam por que duvidar da boa fé de Kmohan. Além disso, o papel de uma banca é mais verificar a coerência argumentativa interna do trabalho, cotejar com outras obras não é o foco.

    Quem quiser conhecer o lado do Luis Milman, pode acessar o dossiê. Já as respostas da direção da faculdade e da comissão que avaliou a questão do plágio estão nos links ao final deste texto.

    15 de julho de 2006, 10:06 | Comentários (21)

    falta de laço

    O cientista Bruce Charlton anda propondo a teoria da neotenia psicológica, segundo a qual nossa sociedade desfavorece maturação dos seres humanos. Quer dizer, muita gente adulta segue com a mente em formação — o que é o lado bom —, retendo com isso as atitudes e comportamentos associados com a juventude — o lado ruim.

    Os principais fatores para isso seriam a educação continuada, que obriga a mente a se manter flexível, e a instabilidade da sociedade contemporânea. As duas coisas na verdade estão ligadas: porque os empregos não são mais para a vida toda, precisamos nos manter atualizados. Por outro lado, aqueles que estudavam a vida inteira no passado, como cientistas, contavam com um ambiente mais estável à sua volta. Isso de certa forma contrabalançava os efeitos da educação continuada. As pessoas além disso estão vivendo mais e mantém a saúde muito além da juventude — sem falar que precisam arranjar algo para fazer por maior número de anos.

    Pequena divagação: qualquer um que tenha acompanhado as ciências sociais, especialmente gente como Baudrillard, Virilio, Lipovetsky etc. pelos últimos anos, vai perceber que já se previa algo assim. Depois dizem que as humanidades não servem para nada...

    Voltando à teoria, isso é uma explicação para o fato de muitos gênios da ciência serem considerados loucos ou excêntricos? É, sim, conforme Charlton:

    People such as academics, teachers, scientists and many other professionals are often strikingly immature outside of their strictly specialist competence in the sense of being unpredictable, unbalanced in priorities, and tending to overreact.

    Além disso, o pesquisador diz que as pessoas imaturas tendem a atingir o sucesso e, parece, procriar mais do que no passado, devido ao ambiente social favorável. Ele teme que a juvenilização seja inscrita no código genético humano por causa disso, tornando-nos irremediavelmente adolescentes pela vida inteira. A maioria dos leitores vai concordar que é uma felicidade não estar vivo para presenciar algo assim.

    28 de junho de 2006, 10:45 | Comentários (16)

    pinta lá, magrão

    Se você não achou ainda sua alma gêmea, ou não tem nem mesmo uma amizade colorida, pode aproveitar hoje a exibição do filme A sociedade do espetáculo, de Guy Debord. O evento "Com Marx para além de Marx" ocorre na Casa de Cultura, às 19h. A entrada é grátis e haverá uma palestra de Jorge Paiva, do Instituto de Filosofia da Práxis de Fortaleza, sobre a "crítica do valor".

    É garantido que você passará a achar toda essa coisa de Dia dos Namorados uma mera tentativa de mercantilização do amor, típica de sociedades capitalistas baseadas na cultura da imagem. Ótima opção para gente solteira e com dor de cotovelo.

    12 de junho de 2006, 14:35 | Comentários (5)

    teóricos miguelão

    No lista de discussão do falecido Cardosonline, começamos certa vez a publicar os "clássicos miguelão": resumos de alguma obra clássica da literatura em no máximo um parágrafo. Hoje pensei em três obras para começar o "teóricos miguelão", aplicando o mesmo princípio às ciências humanas.

  • Edgar Morin — O método, vol. 1 a 6

    "Errar é humano."

  • Jean Baudrillard — Simulacros e simulação e tudo o que veio depois

    "Tudo é aparência."

  • Michel Maffesoli — No fundo das aparências

    "Aparência é tudo."

  • Theodor W. Adorno — Indústria cultural e sociedade

    "Rádio, televisão e cinema são coisa de gente pobre e ignorante. E o fim está próximo."

  • Karl Marx — O manifesto comunista

    "Perrrdeu, playboy!"

    10 de maio de 2006, 19:24 | Comentários (5)

    voschê é beu abiigo
    Uma equipe de pesquisadores franceses descobriu no cérebro dos alcoólatras uma molécula que nunca havia sido detectada no homem, mas sim na composição de algumas plantas, informa hoje o diário local Le Parisien.

    Trata-se de um açúcar complexo [scilo-inositol], cuja taxa é mais elevada em função do grau de dependência do alcoólatra, explica ao jornal o chefe do serviço de biofísica do hospital Timore de Marselha, na região sudeste da França, Patrick Cozzone.

    Conclusão: o álcool transforma você num vegetal.

    7 de maio de 2006, 12:13 | Comentários (11)

    antropólogo documenta metaleiros

    O antropólogo norte-americano Sam Dunn estréia nas próximas semanas o documentário Metal: a headbanger's journey. Muitas lembranças da adolescência, aqui.

    27 de abril de 2006, 13:02 | Comentários (21)

    samba do cogito

    Uma amiga envia a letra de samba abaixo, publicada na comunidade Ê Descartes velho de guerra, do Orkut.

    Pensei, pensei, pensei
    E entrei pelo cano
    Sem encontrar solução
    Pro problema do conhecimento humano
    E descobri
    – e descobri, oooi –
    Que a certeza era importante pra caramba
    Pra filosofia virar um samba

    Fiz um método do discurso
    No Discurso do Método
    E o que não tinha solução aparente
    O problema das outras mentes
    – oi outras mentes –
    Fez se claro como a água
    A água virou vinho
    E o espinho virou flor

    Penso
    Logo existo
    E Deus
    Existe comigo
    – AI MEU DEUS –
    Duvidar é minha prova
    Pra escola
    Da filosofia

    3 de abril de 2006, 12:06 | Comentários (5)

    somos todos gérson

    Pesquisa mostra que 75% dos brasileiros cometeriam atos ilegais. Foi feita pelo Ibope. Conforme os dados, os brasileiros mais honestos são os menos instruídos e mais pobres. A classe média já aceita muito melhor dar uma gorjeta para o guarda esquecer a multa, sonegar impostos ou empregar um parente em cargo público.

    Ainda mais interessante, as pessoas mostraram uma tendência a condenar os atos, mas praticá-los mesmo assim. Assim, 78% acham inaceitável fazer trem da alegria com parentes em viagens oficiais. Mas só 57% disseram que não fariam isso. Outra boa:

    40% dos entrevistados nunca compraram produtos que copiam os originais de marcas famosas, mesmo sabendo que são falsificações. Mas eles dizem que apenas 11% dos seus conhecidos tiveram o mesmo comportamento. E acreditam que míseros 2% dos brasileiros nunca fizeram algo parecido.

    Os dois conjuntos de dados acimam só podem ter um significado: o brasileiro tem tendência a mentir em pesquisas. É óbvio que todo mundo já comprou produtos piratas, ou fez gato na TV a cabo. Só que mentem ao responder aos questionários, talvez por medo de represálias. Ou para não encarar a própria falta de ética.

    Por outro lado, indicam também o quanto esse é um país de merda. O sujeito tenta garantir o seu porque nunca sabe como será o futuro. Tem consciência de que determinadas atitudes são erradas, mas no contexto em que vive, sabe que é preciso ser desonesto às vezes. A isso se chama sobrevivência. Por que pagar impostos se vão ser roubados e poderiam financiar uma boa parte da escola das crianças? Ou multas? É chato botar meu irmão como meu assessor, mas por outro lado o mercado de trabalho está difícil... Estou orgulhoso do brasileiro. Essa pesquisa mostra que é completamente realista.

    Claro que, enquanto continuar assim, o país também não melhora. Se toleramos a corrupção no cotidiano, é natural que o Congresso ainda esteja em pé depois de tudo o que rolou por lá nos últimos meses. Fosse em um país onde a transgressão não vale a pena no dia a dia, já estaria em chamas. Só toleramos o que se parece conosco. O problema é que uma mudança de atitude viria só a longo prazo e a maioria das pessoas, aliás muito sabiamente, não pretende ser trouxa sozinha até que a massa crítica se forme.

    Isso é um trabalho que fica para gente idealista.

    29 de março de 2006, 10:07 | Comentários (10)

    ê, provincianismo

    Ele foi o primeiro empresário de comunicação do país a fazer a regionalização. Além disso, se preocupava com a comunidade. Sabia que a educação era a única forma de ajudar as crianças carentes — Cristina Ranzolin.

    Faz falta aquela presença amiga, boa-praça, que trazia alegria para onde quer que fosse — Paulo Sant'anna.

    Está de fato comovente a rasgação de seda pelos 20 anos da morte do "jornalista" Maurício Sirotsky Sobrinho, fundador da RBS. Nada menos que metade do Jornal do Almoço foi gasto nisso. Dá vergonha pelos jornalistas que trabalham lá.

    24 de março de 2006, 12:40 | Comentários (14)

    socialização

    Duas formaturas neste final de ano deram chance de pensar na interessante relação que algumas pessoas estabelecem com essas obrigações sociais. A maioria fica fascinada e leva muito a sério este tipo de evento. Comemorá-los e cuidar que tudo corra perfeitamente é necessário. Qualquer contratempo ou imprevisto tem chance de se tornar uma tragédia. Aí, quando algum sujeito começa a pensar um pouquinho, logo enxerga a falta de sentido disso tudo. O problema é que aí fica revoltado com a "falsidade" das relações sociais. Alguns deixam de comparecer a formaturas, casamentos e quetais. Outros dão um jeito de avacalhar a festa, ou fazer protestos mais pacíficos, como usar uma camiseta do Iron Maiden por baixo da camisa social. Se conseguir pensar um pouco além, no entanto, acontece um fenômeno engraçado: o cara percebe que se revoltar contra a mise en scène tampouco faz sentido. Volta a se fascinar e até a se emocionar ao desempenhar suas obrigações. Passa a enxergar a beleza das coisas que o homem cria para se manter em sociedade, ou simplesmente se divertir, ter o que fazer. No fundo, começa até a invejar o primeiro grupo, que consegue se entregar totalmente nestas ocasiões.

    23 de dezembro de 2005, 19:10 | Comentários (11)

    ainda outra impostura científica

    Chega a dar vontade de montar um blog só para reclamar de como a imprensa trata artigos científicos, ou dos próprios artigos, quando se lê este tipo de coisa:

    Depois desse processo, foram mostradas imagens neutras [uma letra, um homem montado numa bicicleta], e, em seguida, outras de violência [um homem apontando um revólver para a cabeça de outro], e uma imagem negativa, mas não violenta [um cachorro morto].

    Os pesquisadores concluíram que a resposta dos jovens que utilizavam com freqüência videogames violentos às imagens agressivas foi menor do que a dos demais.

    Os resultados desse estudo sugerem que os jogadores freqüentes de videogames violentos sofrem danos a longo prazo em suas funções cerebrais e em seu comportamento, na opinião dos especialistas.

    Perdão, mas não. Os resultados sugerem é que jogos violentos diminuem a resposta a IMAGENS de violência, não à violência em si. Além disso, homens apontando revólveres para a cabeça dos outros se vê na televisão todos os dias. Interessante seria ver a reação a fotos de pessoas estripadas, varadas de balas ou coisa do gênero.

    11 de dezembro de 2005, 23:19 | Comentários (4)

    alguém dê um fim nisso

    Estudo vincula testículos grandes a cérebro pequeno. Não vá medir os seus, seu afobado: eles compararam espécies diferentes. Entre membros da mesma espécie não há relação entre uma coisa e outra. Mais um caso de jornalistas fazendo sensacionalismo com estudos científicos, ainda por cima com um artigo muito mal escrito. É preciso tomar alguma atitude.

    6 de dezembro de 2005, 22:49 | Comentários (0)

    besteirol pseudo-científico

    Deveria ser proibido publicar o resultado de pesquisas mal-feitas como esta. Pega-se um bando de gente, mede-se uma variável — no caso, consumo de álcool — e conclui-se com base nesta única variável que ela influi no comportamento do objeto — aqui, obesidade. Dizer que consumo moderado de álcool diminui o risco de obesidade é ridículo sem estudar zilhões de outras influências, sobretudo as da personalidade. Pessoas que bebem com moderação provavelmente tendem a ser moderadas em todos os outros aspectos da vida, inclusive no consumo de comida. Já os bebuns contumazes possivelmente comem demais também. Quanto aos abstêmios, talvez sofram de retenção anal extrema que os leve a compensar as frustrações com chocolate. Vai saber... Em todo caso, o importante é que não é o álcool que influi na obesidade, mas sim a personalidade que influi no consumo de álcool. As pesquisas médicas em geral tomam o efeito pela causa e acabam desinformando o público.

    5 de dezembro de 2005, 10:43 | Comentários (8)

    esqueci de avisar

    Estou em Florianópolis para o congresso da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Jornalismo, na UFSC. Leitores que queiram tomar uma cerveja, enviem um email e lhes passo o telefone. Quem quiser assistir à minha apresentação, será na terça-feira, às 14h, na sala Aroeira.

    27 de novembro de 2005, 16:47 | Comentários (4)

    doutorar é preciso?

    Deve existir alguma pesquisa assim por aí, mas seria interessante saber se o nível de satisfação com a vida das pessoas pós-graduadas é maior, igual ou menor do que a felicidade do resto do povo. Inteligência e cultura favorecem uma boa vida?

    Às vezes, parece que não. Que diabo melhora a vida de alguém saber que a indústria cultural nos impõe um consumismo exacerbado, que as escolas, pretensamente emancipadoras do homem, reproduzem as relações de poder do resto da sociedade, que nem mesmo em nossa mente podemos confiar e que, de uma maneira geral, é tudo uma droga?

    Possivelmente, fabricar sapatos e consertar aparelhos de ar-condicionado seja muito mais recompensador. Dêem sua opinião aí nos comentários.

    20 de novembro de 2005, 23:27 | Comentários (46)

    ledo engano

    Um bom artigo sobre o papel da mentira na sobrevivência e manutenção da sanidade humana:

    Mentir para nós mesmos pode ser uma maneira de manter a saúde mental. Diversos estudos clássicos a respeito do assunto indicam que pessoas com depressão moderada na realidade enganam menos a si mesmas que aquelas ditas normais. Lauren B. Alloy, da Universidade de Temple, e Lyn Y. Abramson, da Universidade de Wisconsin-Madison, desvendaram essa tendência, manipulando clandestinamente o resultado de uma série de jogos. Indivíduos saudáveis que participaram dos jogos inclinavam-se a levar o crédito quando ganhavam e subestimavam sua contribuição para o resultado quando não se saíam bem. Os deprimidos, entretanto, avaliavam sua contribuição com muito mais precisão. Em outro estudo, o psicólogo Peter M. Lewisohn, professor emérito da Universidade de Oregon, mostrou que os depressivos julgam as atitudes das outras pessoas em relação a eles com maior exatidão que os não-depressivos. Além disso, essa habilidade na realidade degenera à medida que os sintomas psicológicos da depressão melhoram em resposta ao tratamento.

    Talvez a saúde mental repouse no auto-engano, e ficar deprimido resulte de uma falha na habilidade de enganar a si mesmo. Afinal de contas, todos vamos morrer, todos os nossos entes queridos vão morrer, e grande parte do mundo vive em abjeta miséria. Portanto, quase não há razões para ser feliz diante desse cenário!

    O artigo traz uma informação interessante: o cérebro só registra alguma atividade milésimos de segundo antes de tomarmos qualquer decisão. Isso pode provar duas coisas:

    — Que o inconsciente é responsável por todas as nossas decisões, então todos os métodos de seleção de recursos humanos e discursos gerenciais estão equivocados — o que, pensando bem, não surpreenderia;

    — Ou que o cérebro, embora seja o meio pelo qual os pensamentos são transmitidos ao organismo, não tem nada a ver com nossa consciência. Isso mais ou menos redundaria na existência de separação entre corpo e mente.

    4 de novembro de 2005, 15:14 | Comentários (19)

    homo economicus

    Uma pesquisa conjunta das revistas de economia e política Foreign Affairs e Prospect faz a lista dos cem intelectuais mais populares do mundo.

    Chama a atenção antes de mais nada o fato de os economistas das duas publicações, a primeira norte-americana, a segunda britânica, não entenderem nada de estatística. Ou entenderem bem o suficiente para saber que se prova qualquer coisa com elas. Para começar, a quantidade desproporcional de economistas na listagem indica sobretudo o fato de a maioria dos leitores de revistas de economia serem economistas ou gente que leva essa ciência nada exata a sério. Em segundo, votações via web são sempre distorcidas, já que a amostra não é aleatória, mas reúne somente indivíduos interessados — coisa que as próprias publicações admitem, no caso de Hitchens e Soroush, que pediram fotos em seus sites pessoais.

    Deixando de lado o fato de a pesquisa não provar absolutamente nada, dá para se divertir um pouco com a lista. O papa Bento XVI, por exemplo, está em 17º lugar. Não é o único religioso: o aiatolá iraniano Ali Al-Sistani está em 30º e Paul Wolfowitz, um tipo de aiatolá norte-americano, está em 19°. Ninguém explica quando foi que fanáticos religiosos ganharam o título de intelectuais. Para não ser injusto, um fanático de esquerda ficou em primeiríssimo: Noam Chomsky.

    Dos franceses mais conhecidos, somente Jean Baudrillard entrou na lista dos cem melhores, em colocação relativamente boa no 22º lugar. Para a vergonha do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, em 43°, é nosso único homem popular lá fora. Enfim, ao menos sabe escrever quase direito — Lula em uma lista de intelectuais seria ainda pior. Há muitos pensadores de origem árabe ou asiática na listagem, o que indica alguma abertura do Ocidente a um intercâmbio cultural com esse outro mundo, ao menos no campo econômico. O fato de dois biólogos atingirem boas posições — Dawkins em 3° e Diamond em 9° — entre um monte de economistas sugere um futuro negro para o humanismo.

    Alguns que realmente merecem estar lá são Umberto Eco [2°], Hitchens [5°], Krugman [6°], Habermas [7°], Hobsbawm [18°], Lessig [40°] e Sloterdijk [78°]. Surpreendemente, Jaron Lanier [89°], um dos mais sensatos críticos da informática, embora um pouco desconhecido, entrou na lista.

    2 de novembro de 2005, 13:38 | Comentários (14)

    comunicação não existe

    David Foster Wallace e Daniel Galera estão certos: é admirável que as pessoas consigam entender, mesmo que mal, umas às outras. Quando se começa a estudar lingüística, semiótica ou cognição humana, parece que tudo concorre para fazer com que ninguém seja capaz de estabelecer contato com as outras pessoas. E, no entanto, conseguimos nos entender.

    Infelizmente, muito pouco. Maturana & Varela mostram como nossos sistemas nervosos se constroem de forma totalmente única dependendo da pessoa e como isso determina diferenças em maneiras de reagir ao mundo, de forma que seja impossível duas pessoas enxergarem as coisas exatamente da mesma forma. Por outro lado, mostram que a mente tem caráter relacional, ou seja, não está exatamente dentro de nossas cabeças, mas nas interações que estabelecemos com as coisas e os outros seres. Um pardoxo: estamos condenados à solidão em um mundo particular, mas este mundo só existe por causa de nossas relações com os outros.

    O problema da comunicação é sentido em especial quando se tenta explicar seus sentimentos a alguém que você ama e depende disso magoar ou não a pessoa. Simplesmente desesperador notar que é impossível transmitir com exatidão o que se passa dentro de si. Nesses casos, as ações possivelmente sejam melhores do que palavras.

    27 de outubro de 2005, 10:30 | Comentários (12)

    treinadores de prestadores de vestibular

    O Parada já comentou, mas esta entrevista é tão boa que merece toda repercussão possível. Trechos:

    As escolas são lugares abandonados do ponto de vista intelectual. Nisso a escola privada e a escola pública não têm diferença significativa. A estratégia do abandono dos alunos da escola pública tem a sua contrapartida na teatralização da escola privada. Em ambas, pouco de inteligente se constrói.

    [...]


    As escolas privadas são a cara da elite brasileira. Fazem parte do seu "pacote existencial": academia, shopping, condomínio fechado, escola privada. Elas vendem aquilo que a elite quer: uma farsa com fachada de excelência. O processo de desinstitucionalização escolar, que na escola pública assume a forma de deserção, na escola privada confirma-se como fraude pedagógica.

    [...]


    Estamos cercados desses repetidores midiáticos, como o Gilberto Dimenstein. Gente que prega o "aprender a aprender", "aprender a fazer", "aprender a ser" etc. Clichês que pouco significam quando confrontados com a prática escolar. A educação exige uma certa solidez clássica. E não me venham dizer que as novas gerações não estão interessadas nisso. Elas são a cara do que a gente oferece para elas. Damos alfafa e reclamamos da falta de massa crítica.

    21 de outubro de 2005, 10:26 | Comentários (10)

    por isso que o lama é o lama

    Em uma palestra hoje no CEBB, o lama Padma Samtem falou sobre o sentido da vida, transitoriedade e tudo o mais. Ninguém perguntou sobre a questão do apego, mas suas ações respondem. Às 22h, disse ao público:

    — Bom, preciso encerrar. Deixei dois seres me esperando e, se não for agora, o samsara vai ficar ainda pior.

    Levantou e foi, depois de passar duas horas explicando como o objetivo do budismo é chegar à compreensão de que todo suposto movimento, tudo o que acontece, é na verdade ilusório e, portanto, não devemos nos apegar.

    11 de outubro de 2005, 22:49 | Comentários (5)

    desapego

    Não entendo nada de budismo, mas ao contrário do Galera, discordo. Não parece que seja exatamente esta a noção de desapego de que os budistas estão falando. Ou, ao menos, não todos os budistas. Deve ser algo como a noção de pecado no cristianismo, em que há desde as definições mais radicais e simplistas até as mais complexas e amplas. Parada? Bruno?

    10 de outubro de 2005, 14:29 | Comentários (16)

    iniciado o plano de dominação mundial

    Dois trabalhos aceitos em congressos de comunicação. O primeiro será apresentado na tarde de 3 de novembro, no Seminário Internacional de Comunicação da PUCRS, GT Tecnologias do Imaginário e Cibercultura. O segundo, no encontro da Sociedade Brasileira de Pesquisa em Jornalismo, em Florianópolis, entre 27 e 29 de novembro. Ambos tratam do Wikinotícias. Aceito convites para tomar uma cerveja com leitores que estejam por perto.

    1 de outubro de 2005, 15:52 | Comentários (8)

    daslufrgs

    Porto-alegrense não pode ficar atrás dos outros brasileiros em nada. Agora, a capital do Rio Grande do Sul já tem a sua Casa do Saber Gaúcho.

    Há alguns meses, imaginando que logo alguém copiaria a DaslUsp, cheguei a prospectar o interesse de algumas pessoas endinheiradas em investir num projeto do gênero. Infelizmente, não tinha cacife. Em todo caso, estou à disposição como consultor criativo para agências de publicidade interessadas. O caso acima comprova a competência em identificar modas que pegam.

    26 de setembro de 2005, 21:20 | Comentários (8)

    nota de rodapé 17

    Embora o dicionário American Heritage (Boston: Houghton Mifflin) registrasse em 1996 que geek é "uma pessoa estranha ou ridícula" ou "um artista de circo cujo show consiste em atos bizarros, como arrancar a cabeça de uma galinha com os dentes" (p.753), na gíria a palavra em geral se refere a "uma pessoa com conhecimento enciclopédico sobre informações triviais aleatórias, especialmente aquelas altamente obscuras", "uma pessoa interessada em tecnologia, sobretudo informática e novas mídias", ou a "uma pessoa com devoção a alguma coisa que de certa forma a coloca ao largo da normalidade", conforme a Wikipedia (Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Geek. Último acesso em: 11/9/2005.). O termo é às vezes sinônimo de nerd.

    ATUALIZAÇÃO: Fosse o caro leitor, aproveitaria que a Livraria Cultura está fazendo um preço camarada no dicionário: R$ 20,25. É importado e tem 950 páginas. Use os links publicados aqui, ou na "sugestão do mês" na coluna da extrema direita, e doe 4% de sua compra para este blogueiro.

    11 de setembro de 2005, 19:54 | Comentários (10)

    blog acadêmico

    Se já não estivesse planejado antes de minha entrada no PPGCOM, teria de inventar durante o mestrado o blog do Laboratório de Interação Mediada por Computador. É irresistível comentar sobre a vida acadêmica.

    O design foi criado por Paula Quintas e Alex Primo, o Movable Type foi instalado pelo Gabriel e alguns ajustes no design e na configuração do sistema foram feitos por mim, com ajuda da Ana Reczek.

    6 de setembro de 2005, 10:04 | Comentários (2)

    que nem sutiã

    A primeira publicação em uma revista acadêmica a gente nunca esquece. Não é grande coisa, mas com dois mil caracteres ficava difícil fazer melhor.

    31 de agosto de 2005, 22:52 | Comentários (3)

    considerações após dois artigos de epistemologia

    É impossível freqüentar uma faculdade ou pós-graduação em qualquer ramo das Ciências Humanas sem sair com a desagradável sensação de que tudo o que lhe ensinaram na escola era franca mentira, fato discutível ou, no mínimo, incompleto.

    Daí segue-se que a escola não serve para aprender nada sobre o mundo. Escola serve mesmo é para socializar. Não passa de preparação para a vida adulta. Considerando que o conteúdo é irrelevante, exceto pela alfabetização e as operações matemáticas, as escolas fariam melhor em investir na capacidade de pensar, no incentivo ao raciocínio, a qualquer custo.

    28 de agosto de 2005, 18:01 | Comentários (26)

    troca um deleuze por um walter benjamin?

    cadsteoricos.jpg

    Nerd que é nerd coleciona figurinhas de pensadores.

    24 de julho de 2005, 21:20 | Comentários (9)

    a filosofia na alcova

    Schopenhauer aparentemente lidava mal com as mulheres:

    Quando [o instituto da poligamia] não existe, os homens são, durante metade de suas vidas, fornicadores e, durante a outra metade, maridos traídos; e as mulheres se dividem, de acordo com isso, em traídas e traidoras. Quem se casa jovem arrasta-se depois com uma mulher velha. Quem se casa tarde tem primeiro as doenças venéreas, depois cornos.

    Outro trecho:

    A pergunta sobre se seria melhor casar ou não casar encontra resposta, em muitos casos, questionando-se se as preocupações com o amor são melhores do que as preocupações com o sustento.

    Casamento = disputa e escassez!
    Situação do solteiro = paz e abundância.

    23 de julho de 2005, 15:13 | Comentários (3)

    eu fiz uma cienciazinha

    Quer ganhar este belíssimo selo, colega blogueiro?

    Take the MIT Weblog Survey


    Basta preencher o MIT Weblog Survey e ele é seu!

    Mas na verdade o selo com a frase mais legal é esse aqui:

    Take the MIT Weblog Survey

    10 de julho de 2005, 21:33 | Comentários (5)

    invente sua própria revolução

    What is at stake here is something fundamental to the way we see innovation, design and creativity and the way we organise our economy around them. We are moving from an era of mass production to one of mass innovation.

    Interessante artigo sobre como os usuários, mais do que os pesquisadores, estão produzindo inovações em produtos. Saiu também em português na edição impressa da Carta Capital desta semana.

    Para Charles Leadbeater, a nova dinâmica da inovação força um debate sobre direitos autorais. O sistema de patentes foi criado para especialistas que podem dizer de antemão para quê uma invenção serve. Mas quando os consumidores começam a usar o produto de maneira "errada" e criam novas possibilidades, fica difícil dizer a quem pertencem os direitos. A patente, afinal, é dada a uma idéia, não à maneira como ela é concretizada em uma máquina ou software.

    4 de julho de 2005, 10:19 | Comentários (1)

    mais um grande avanço da ciência moderna

    Cientistas descobrem a área do cérebro responsável pelo sarcasmo. Não chega a ser uma grande surpresa, porque trata-se do lobo frontal. Há tempos sabe-se que a região lida com jogos lingüísticos. Ao menos abre a esperança da lobotomia como cura no caso de jornalistas irremediavelmente antisociais.

    27 de junho de 2005, 23:03 | Comentários (2)

    jornalismo vs. blogs 357 - a missão

    A resposta abaixo, dada a uma estudante de jornalismo, pode ser usada por quem mais quiser perguntar sobre este tipo de assunto. É interessante também para quem nunca entrou em uma redação saber como se fazem o jornalismo e as salsichas.

    Vc. é contra ou favor do Jornalismo Participativo [levando-se em conta que qualquer pessoa pode publicar noticias/ escrever matérias]? Pq? Quais as vantagens e desvantagens dos "repórteres-cidadãos"? Como vc encara essa nova prática?Como avalia a credibilidade das informações? Como acreditar na autenticidade/veracidade dos dados?E a imparcialidade/neutralidade/transparência dessas matérias. Por exemplo, em matérias de cunho político? Como podemos identificar os possíveis "erros de conduta"? Qual o seu prognóstico quanto ao futuro do "fazer jornalismo"? O jornalista ainda será necessário, a partir do momento em que todas as pessoas podem gerar notícias, com no Wikinews, OhmyNews e no Centro de Midia Sem Fronteira, por exemplo? Isto pode abalar o mercado de trabalho? Vc. considera o Blog um tipo de jornalismo participativo? Pq?

    Não acho que seja questão de ser contra ou a favor. A Internet está aí para ficar e, assim como a troca de arquivos P2P, não há jeito de impedir o jornalismo participativo. Acho engraçado ver repórteres e comunicólogos que defendiam a democratização dos meios de comunicação há 20 anos reclamarem do jornalismo participativo. É exatamente o que eles pediam.

    É preciso saber dividir as coisas. O jornalismo de massa feito por jornalistas não vai terminar. É uma exigência da democracia que existam veículos para cobrir a generalidade da vida social. Mas os repórteres cidadãos podem contribuir para aumentar a pluralidade de pontos de vista, hoje ainda restrita, deste jornalismo tradicional. Podem produzir matérias que tenham muito mais a ver com as necessidades de suas comunidades. Hoje em dia, o cidadão pode se informar sobre como anda a sociedade em um jornal comum. Depois, entra na internet e procura publicações do mundo inteiro [revistas online, rádios online, até televisão online, blogs, sites pessoais, etc.] que tenham a ver com seus interesses. Ou vai a uma banca e compra uma revista especializada. Uma coisa não exclui a outra.

    Quanto à credibilidade: e como acreditar no que um jornalista formado escreve em um jornal cujo dono é um empresário, e não um jornalista? Repórteres formados também erram — e muito. Agem com má fé, ou simplesmente são preguiçosos. Tem gente boa e tem gente ruim, como em qualquer outro campo. Não vejo diferença entre um jornalista e um cidadão que, incomodado com algum problema, pegue sua câmera digital, seu bloco de notas e saia à rua para arranjar uma explicação. Talvez ele até faça melhor o trabalho, já que o faz por prazer, em geral, e não simplesmente para justificar o salário.

    Quanto à imparcialidade:
    1- Ela não existe. O repórter tem de ser honesto, e não imparcial. Ou alguém vai ser imparcial numa matéria sobre assassinato, por exemplo? Ou sobre corrupção no governo?
    2- Existe algo aproximado à imparcialidade nos jornais de massa, na medida em que não se posicionam politicamente, aqui no Brasil. Quem quiser imparcialidade, pode ler um deles.

    A Veja comete erros de conduta jornalísticos o tempo inteiro. O Estadão, a Folha de São Paulo, a Zero Hora, todos fingem imparcialidade, ou são parciais até de maneira inconsciente. Acho que nesse sentido os repórteres cidadãos são mais honestos, porque deixam explícito logo de cara qual é o posicionamento político. O leitor pode levantar seus filtros, a partir daí.

    Com as novas tecnologias, finalmente se abrem grandes possibilidades para o jornalismo. Hoje, um repórter pode pegar sua câmera, seu notebook, montar um blog e transmitir notícias diretamente do local, sem um editor ou proprietário de jornal para encher o saco. Um sujeito que fez isso muito bem foi o autor do Back to Iraq. Levantou alguns milhares de dólares entre seus leitores com a promessa de ir para o Iraque e cobrir de forma independente a guerra. E conseguiu. Como a tecnologia fica cada vez mais compacta e simples de usar, enquanto a Internet se massifica, o futuro é promissor para os repórteres com espírito empreendedor.

    Claro que o jornalista continuará necessário. Cada vez mais, por sinal. Talvez a profissão mude um pouco de foco e passe a ser cada vez mais o de editor, no sentido de pegar toda profusão de informação circulante e dar um sentido a ela para seu leitor. Já é bastante assim hoje em dia: boa parte das notícias vêm de agências. Um repórter da Reuters ou AP vai lá, faz a matéria e depois a mesma é distribuída para jornais ao redor do mundo inteiro. Os redatores então só pegam aquela informação e dão sentido a ela, enquadrando-a no contexto local.

    Quanto ao mercado de trabalho, dificilmente os repórteres cidadãos terão algum impacto. Mas os jornalistas terão de ser cada vez mais "multimídia" para se manter no mercado. Creio que a maioria das críticas aos efeitos das novas tecnologias vem daí: medo de se tornar obsoleto. E, claro, sempre haverá setores que vão precisar de um jornalismo com a credibilidade conferida por repórteres com formação acadêmica. Empresários não podem basear suas decisões em matérias da Wikinews. precisam de um Valor Econômico ou Gazeta Mercantil para operar.

    De resto, quem é competente sempre dá um jeito de se manter no mercado.

    Avaliar se um blog é jornalismo participativo ou não é complicado. Um blog coletivo é um caso evidente. Mas num blog escrito por uma só pessoa há algumas nuances. Se o sujeito pega uma sugestão de leitor e transforma em pauta — o que aliás acontece na maioria dos casos — pode-se considerar participativo, creio. Os comentários também são uma forma de participação, já que os leitores podem acrescentar dados e corrigir erros. Mas acho que participativo mesmo é o resultado jornalístico de todo um conjunto de blogs tratando de algum assunto. Observados em particular são apenas a opinião de uma pessoa, mas em conjunto, dão uma idéia muito melhor da verdade sobre um assunto do que um jornal tradicional.

    9 de junho de 2005, 12:42 | Comentários (2)

    sem prepúcio, mas com qi

    Um pesquisador anda dizendo por aí que a seleção natural pode ter deixado os judeus mais inteligentes. O que seria, no mínimo, irônico, diriam os eugenistas.

    Gregory Cochran acha que a contribuição desproporcional dada por judeus ashkenazim como Freud, Einstein e Wittgenstein à cultura ocidental — têm muito mais intelectuais influentes per capita — se deve ao fato de eles terem tido de utilizar mais o cérebro para sobreviver ao longo da história. Aqueles que conseguiam podiam manter mais filhos vivos e, assim, espalhavam mais seus genes ligados à inteligência.

    Por outro lado, o dr. Cochran acredita que a homossexualidade é causada por uma doença infecciosa na mãe durante o período de gestação, que provocaria mudanças no organismo do feto.

    As implicações são grandes, se a descoberta for confirmada. Caso a inteligência seja realmente favorecida por genes, muita gente boa pode se ver tentada a tachar os alunos ruins, por exemplo, de irrecuperáveis. Cargos poderiam ser preenchidos em empresas de acordo com padrões genéticos. Enfim, como já se disse aqui mesmo há pouco tempo, reler Admirável Mundo Novo pode ser uma boa. É encontrável às carradas em qualquer sebo.

    6 de junho de 2005, 0:01 | Comentários (30)

    candidatas a epígrafe

    niepupbig.gif

    518
    Quem pensa mais profundamente sabe que está sempre errado, não importa como proceda e julgue.

    585
    Aos homens sucede o mesmo que aos montes de carvão na floresta. Apenas depois de terem queimado e se carbonizado, como estes, os homens jovens se tornam úteis. Enquanto ardem e fumegam, sçao talvez mais interessantes, mas inúteis e freqüentemente incômodos. — De modo implacável, a humanidade emprega todo indivíduo como mateiral para aquecer suas grandes máquinas: mas para que então as máquinas, se todos os indivíduos [ou seja, a humanidade] servem apenas para mantê-las? Máquinas que são um fim em si mesmas — será esta a ummana commedia?

    Porque há tempos não se publicava nada sobre o bigodudo. Aliás, quem quiser retribuir as horas e horas de diversão na rede mundial de computadores proporcionadas pelo signatário, pode começar por aqui.

    4 de junho de 2005, 10:42 | Comentários (2)

    replicantes

    O Jornal Nacional mostra cenas de uma criança de cinco anos sendo presa por "mau comportamento" nos Estados Unidos. Pelo menos dois policiais algemam a menininha de cinco anos, que estava pulando por toda a sala da diretora e ignorando os apelos para que parasse.

    Não se trata apenas de dureza emocional ou simples imbecilidade de norte-americanos. Quando crianças são presas por, bem, serem crianças, trata-se de algo ainda mais profundo. É a tentativa de extirpar qualquer possibilidade de desvio e erro. A busca de uma sociedade uniforme e previsível.

    Pode parecer bom a muita gente, mas cabe lembrar que toda criatividade nasce do erro e do desvio. Ou seja, toda humanidade nasce do erro e do desvio. No limite, querem retirar toda humanidade do convívio social. Para ocupar seu lugar, hoje em dia, só existe um imaginário: o da tecnologia. Os norte-americanos querem transformar a eles mesmos em autômatos.

    20 de maio de 2005, 10:30 | Comentários (44)

    aldous huxley falou, aldous huxley avisou

    Os juízes do Tribunal Superior do Trabalho só podem estar brincando ao decidir que as empresas podem vigiar o correio eletrônico corporativo do funcionário. Este tipo de verificação por parte das organizações é o mesmo que gravar conversas dos funcionários junto à máquina de café ou testar o sangue dos empregados em busca de traços de drogas.

    O argumento de que o correio eletrônico corporativo é uma ferramenta de trabalho e não pode ser usado para fins pessoais é na verdade razoável à primeira vista. O problema é que email e instant messengers não são ferramentas como as outras.

    Estas tecnologias favorecem a socialidade, ao mesmo tempo em que permitem maior rapidez na comunicação. É do caráter destes instrumentos o incentivo ao reforço dos laços comunitários. Eles fascinam, e a tentação de utilizar IMs e email para a convivência com os colegas é quase irresistível. Bem ao contrário de uma picareta, por exemplo, cujo uso para a interação humana redundaria provavelmente em assassinato.

    Além do mais, nenhum funcionário tem a opção de se negar a utilizar o correio eletrônico corporativo por causa da vigilância. Convenhamos, ninguém, mas ninguém mesmo escaparia ileso se seus chefes resolvessem ler toda a troca de mensagens. É da natureza dos funcionários reclamarem entre si sobre os superiores, ou sobre a política da empresa. Este é um cimento corporativo tão ou mais importante do que as palestras motivacionais de relações-públicas bem intencionadas.

    Deste modo, a decisão da Justiça poderia ser usada para demitir por justa causa qualquer funcionário que esteja na mira da chefia. Basta verificar seu correio eletrônico e logs do instant messenger e algo vai surgir. Qualquer frase mal construída que possa ser usada como prova de conspiração ou insulto.

    Notem este trecho da matéria em especial:

    O ministro Dalazen registrou o voto revisor do juiz Douglas Alencar Rodrigues, do Tribunal Regional, no qual ele observa que "os postulados da lealdade e da boa-fé, informativos da teoria geral dos contratos, inibiriam qualquer raciocínio favorável à utilização dos equipamentos do empregador para fins moralmente censuráveis", ainda que no contrato de trabalho houvesse omissão sobre restrições ao uso do e-mail.

    O "moralmente censuráveis" evidencia a essência do recente movimento de vigilância de cidadãos e integrantes de instituições no mundo inteiro. O pensamento tecnológico que domina ao menos as sociedades ocidentais implica a extirpação de todo erro, de todo desvio, de toda "despesa improdutiva", pois são antitecnológicos e, assim, imorais. Talvez uma nova leitura de Admirável Mundo Novo seja útil por essas épocas.

    16 de maio de 2005, 21:04 | Comentários (29)

    doutor apela para a ignorância

    Nilson Lage tem um ataque histérico no Observatório da Imprensa, por conta da decisão de incluir estudos sobre o Jornalismo entre os estudos de Publicidade, Relações Públicas e outros processos de produção, tomada pelos coordenadores de cursos de Pós-Graduação em Comunicação. Enfim, uma discussão bizantina que interessa a muito poucos leitores deste blog. Mas os argumentos imbecis utilizados por Lage podem ter mais apelo popular.

    É também notável a desinformação das doutas criaturas que consideram a internet mídia desligada das outras, quando tanto se especula sobre a congregação de todas as mídias em futuro relativamente próximo na rede ou em outra com maior capacidade, que já está sendo desenvolvida..

    No trecho acima o autor atravessa a rua para escorregar na casca de banana que está na outra calçada, ao tentar desqualificar seus inimigos. Não acrescenta nada ao artigo e só mostra que Lage não entende nada de Internet. Primeiro, confunde a rede mundial com hipermídia. Segundo, sugere que pode-se pensar sobre a Internet usando teorias feitas para televisão, rádio ou imprensa, o que é simplesmente ridículo. Conforme este argumento, o inverso seria mais aceitável.

    Lage propõe ligar os cursos de Jornalismo aos de Biblioteconomia, com um argumento até razoável:

    Organizar informação em bancos de dados e captá-la por softwares inteligentes é cada vez mais necessário em jornalismo; ao mesmo tempo, os cientistas de informação deparam com a necessidade de tratamento semântico, que depende da produção de textos e imagens...

    No entanto, retirar o jornalismo do contexto da comunicação, onde estão inseridas Publicidade e Relações Públicas, parece no mínimo temerário, quando estas duas últimas especialidades têm relações cada vez mais incestuosas com os repórteres e empresas jornalísticas. Melhor seria integrar as Ciências da Informação aos cursos de Comunicação.

    A legislação atual, que atribui o título de bacharel aos jornalistas, estará superada, uma vez que se refere a cursos de jornalismo (não previstos no esquema dos comunicólogos) e a cursos de comunicação, habilitação em jornalismo, que deixarão de existir.

    Francamente, um artigo deste quilate faz o sujeito pensar que seria melhor, mesmo, acabar de uma vez com a habilitação em jornalismo. Já que o jornalismo é prática, como diz Lage, estaria muito melhor como uma especialização de um ou dois anos.

    O sujeito faria a graduação em qualquer outra faculdade, como Direito, Filosofia ou História — e por que não Física ou Biologia, já que temos editorias de ciência? Depois, aprenderia as técnicas do jornalismo em um curso de especialização, ou as teorias em um curso de mestrado. Isso acabaria com muitos dos erros grosseiros que se vê todos os dias na imprensa.

    Se dá para dizer algo em favor de Lage, é o fato de ele ter deixado mais ou menos claro no artigo que está em franca luta pela manutenção de seu próprio emprego na UFSC.

    11 de maio de 2005, 18:18 | Comentários (16)

    infochapação

    O fluxo contínuo de emails, mensagens instantâneas, chamadas em celulares pode prejudicar mais o desempenho de uma pessoa na resolução de tarefas do que fumar maconha. Uma pesquisa fez 80 voluntários trabalharem em um ambiente quieto, depois em um ambiente imerso no caos informativo. Embora tenham sido orientados a não responder, o simples alerta de novas mensagens já serviu para desviar consideravelmente a atenção. Em média, os voluntários tiveram uma diminuição de dez pontos no QI durante a experiência.

    24 de abril de 2005, 10:38 | Comentários (10)

    olhe, sem as mãos!

    Pesquisa indica que mulheres não gostam de homens que se arriscam em fúteis demonstrações de habilidade. O estudo diz que apenas os outros homens se impressionam com os feitos, ao contrário do que pensa a maioria dos rapazes. Agora falta alguém provar às mulheres que só outras mulheres se impressionam com a magreza anoréxica das modelos, chapinha, bolsas Louis Vuitton e implantes de silicone.

    Bem, vá lá, implantes de silicone bem que podem impressionar alguns homens.

    20 de abril de 2005, 12:24 | Comentários (9)

    maravilhas do mundo acadêmico

    Testar uma teoria no mundo concreto é mais ou menos como fazer pesca submarina. O sujeito desce até o fundo do mar e arpoa o peixe que considerar mais saboroso. Antes de comê-lo, no entanto, precisa subir aos poucos, compensando a pressão. Se tentar levar o peixe à superfície de uma só vez, acaba com uma bela de uma embolia.

    3 de abril de 2005, 15:10 | Comentários (2)

    apologia do amor

    Há dois ou três anos escrevi um dossiê sobre o amor. Fez sucesso. Muita gente me pediu que o enviasse por e-mail, quando a revista eletrônica Fraude, onde fora publicado, saiu do ar. Pois então: há tempos este texto merece uma retratação.

    Continue Lendo...

    2 de abril de 2005, 0:40 | Comentários (18)

    coisa feia!

    Expor casos como a "coincidência" entre as entrevistas com Woody Allen feitas pelo site Suicide Girls e a revista Istoé é um dos melhores aspectos dos blogs. Se o jornalismo fiscaliza o poder estatal e econômico, agora o cidadão pode fiscalizar o poder midiático do jornalismo.

    E falta do que fiscalizar, não há. Com muito otimismo, poder-se-ia imaginar que o repórter leu diversas entrevistas com o diretor, repetiu algumas perguntas e o cineasta repetiu as respostas. Pesquisar entrevistas anteriores é comum entre repórteres, mas os mais espertos usam o recurso para fazer perguntas diferentes. No mínimo, Osmar Freitas Jr. peca por falta de imaginação.

    Algo que incomoda nas diversas teorias a respeito do jornalismo é a falta de lugar para a incompetência, burrice, ou simples preguiça dos repórteres. A maioria dos pesquisadores vê conspirações ou constrangimentos econômicos em todos os erros e casos de má-fé, quando na maior parte das vezes não passam de resultado da falta de saco.

    Mas esta entrevista parece ser má-fé, mesmo. Só resta esperar a demissão de Osmar Freitas Jr., ao se comprovar o plágio. E que a cabeça, após rolar, seja pendurada na praça Júlio Mesquita, como exemplo.

    30 de março de 2005, 0:41 | Comentários (8)

    especial de páscoa ou análise do discurso aplicada à oração

    Ó Fonte da Manifestação!
    Pai-Mãe do Cosmo
    Focaliza Tua Luz dentro de nós, tornando-a útil.
    Estabelece Teu Reino de unidade agora.
    Que Teu desejo uno atue com os nossos,
    assim como em toda a luz e em todas as formas.
    Dá-nos o que precisamos cada dia, em pão e percepção;
    desfaz os laços dos erros que nos prendem,
    assim como nós soltamos as amarras que mantemos da culpa dos outros.
    Não deixe que coisas superficiais nos iludam.
    Mas liberta-nos de tudo que nos aprisiona.
    De ti nasce a vontade que tudo governa,
    o poder e a força viva da ação,
    a melodia que tudo embeleza
    e de idade a idade tudo renova.

    Continue Lendo...

    27 de março de 2005, 22:00 | Comentários (6)

    trabalho é uma merda

    Em uma coluna recente em Carta Capital, o historiador Nicolau Sevcenko registrava uma modificação na maneira como encaramos o trabalho. Na Idade Média, trabalho era coisa de servos. Cavalheiros de verdade dedicavam-se à caça, à música, à guerra e às cortesãs. Escravizávamos para viver. Com a ascensão da burguesia, o trabalho tornou-se um meio de conseguir desfrutar um pouco do ócio antes reservado aos nobres. Passamos a trabalhar para viver.

    Hoje, muita gente passou a viver para trabalhar. Num mundo com uma parcela cada vez maior da população alijada da economia de mercado, a competição acirrou-se. Ninguém mais sente-se seguro. Isto leva muitos a ficar 12 horas por dia na empresa, tentando mostrar aos chefes que é indispensável. Os gerentes então acabam percebendo que podem muito bem dispensar algumas cabeças e deixar aquele trabalhador mais pró-ativo fazendo o serviço delas. Com isso, ainda mostram ao CEO sua própria competência. O CEO observa, e vê que é bom. Mas não leva uma vida muito melhor. Só workaholics chegam ao topo da pirâmide corporativa.

    Continue Lendo...

    5 de março de 2005, 3:05 | Comentários (16)

    quo vadis?

    [...] Ora, se a ciência proporciona cada vez menos alegria e, lançando suspeita sobre a metafísica, a religião e a arte consoladoras, subtrai cada vez mais alegria, então se empobrece a maior fonte de prazer, a que o homem deve quase toda a sua humanidade. [...] O curso posterior do desenvolvimento humano pode ser previsto quase com certeza: o interesse pela verdade vai acabar, à medida que garanta menos prazer; a ilusão, o erro, a fantasia conquistarão passo a passo, estando associados ao prazer, o território que antes ocupavam: a ruína das ciências, a recaída na barbárie, é a conseqüência seguinte; novamente a humanidade voltará a tecer sua tela, após havê-la desfeito durante a noite, como Penélope. Mas quem garante que ela sempre terá forças para isso?

    — Friedrich Nietzsche, Humano, Demasiado Humano, página 173.

    O velho bigodudo previu diversas conseqüências da cultura de massas ainda no século XIX. O que são a nova era, os livros de auto-ajuda e os fundamentalismos religiosos, senão uma reação à total transparência e conseqüente desencanto da vida devido à ciência? Muito embora a ciência ainda esteja no auge como instrumento para explicar o mundo, o movimento contrário, para o bem e para o mal, já começa. O obscurantismo certamente já tomou conta da maioria das discussões em torno de questões como transgêncios, meio ambiente, aborto, energia nuclear — enfim, do uso das descobertas mais sensíveis da ciência. Tanto entre os grupos pessimistas, quanto entre os grupos otimistas.

    27 de fevereiro de 2005, 10:47 | Comentários (4)

    para entender o fórum

    "Cem homens cultos" reunidos sob um tema comum, segundo Barzun, surtem um efeito "diretamente proporcional ao quadrado da distância viajada, multiplicada pela papelada ao cubo". Essa combinação de "proximidade, caras novas e mudança de cena" alicia "os nervos" dos conferencistas, garantindo que todos saiam dali dizendo que a ocasião foi "estimulante".

    Deu vontade ler Jacques Barzun, mesmo o livro tendo 900 páginas.

    24 de janeiro de 2005, 21:30 | Comentários (6)

    jornalismo colaborativo

    O Wikinews se propõe a ser uma agência de notícias gratuita para veículos ao redor do mundo. A idéia é que qualquer cidadão possa participar da difusão de informações jornalísticas. Ainda está em fase de testes e de discussão dos processos operacionais. Por enquanto, utiliza as línguas inglesa e alemã. É necessário que ao menos cinco pessoas se interessem em participar ativamente, para que se abra uma comunidade em determinada língua. Alguém se propõe a criar e editar notícias em português, sem ganhar nenhum dinheiro e tendo trabalho à beça?

    17 de janeiro de 2005, 2:56 | Comentários (7)


  • follow trasel at http://twitter.com

     

    Sindicalize:





     


    somerights20.gif

     

    Get Firefox!



    OmManiPadmeHum.gif

     

    Site Meter


    Design por Soviete Supremo Produções. Otimizado para Firefox.