Comentários sarcásticos, crítica vitriólica e jornalismo a golpes de martelo por Marcelo Träsel


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jornalismo apriorístico

A revista Veja está se especializando na sistemática destruição de todos os valores jornalísticos. Desta vez, um repórter entrevistou o Marcelino Freire e agiu como... bem, como agem os repórteres da Veja:

Estranhei: o que tem a ver o cu com a cara da carranca? Respondeu-me, cheio de artimanha: você é um dos "líderes" do Movimento. E mais: farei uma lincagem, na reportagem, com o lançamento do seu novo trabalho. Não acreditei. Não pode ser verdade. Comentei com o Ademir. Mas vamos lá. Não fujo dos meus algozes. Até espero que eles gozem primeiro.

E foi no que deu: o cara perguntou tudo e molecou as respostas, minhas e as do Ademir, a serviço do seu discurso. Seu não, o da revista. Não é à toa que lá, ao lado da matéria de uma página inteira, note, há uma outra, assinada também por ele, sobre outro nazista, o Adolfo Hitler. Confira, se puder. Mas não compre a revista.

O título da reportagem é "movimento quer dinheiro público na produção literária". Não tem como ler na internet sem comprar ou assinar a revista, mas pelo jeito o jornalista não considera uma reivindicação justa. O que é bobagem, já que o cinema, o teatro, a música e as artes plásticas recebem dinheiro público. A literatura, muito menos. E, francamente, o Brasil precisa muito mais aprender a ler do que a ouvir música e assistir a filmes ou peças — e ainda menos interpretar instalações. Ler é o início de tudo, incentivar a leitura é o que busca o movimento.

No entanto, ainda que fosse uma reivindicação sem base, não se trata de um "trem da alegria" de escritores, como diz o próprio Marcelino. Que, aliás, publicou a maioria de seus livros, senão todos, sem um tostão do dinheiro do contribuinte. A editora Abril pode dizer o mesmo? Considerando que a importação de papel é subsidiada para revistas e jornais, não. O MLU quer um ínfimo quinhão das verbas do Ministério da Cultura para divulgar a literatura e dar bolsas que permitam aos escritores viver de sua arte. Mas o repórter acha demais, argumentando que para escrever só é preciso lápis e papel.

O raciocínio demonstra que o repórter sofre da Síndrome do Escritor Maldito. Trata-se de uma doença que acomete gente que pensa conhecer a literatura e a maioria dos escritores ruins. Faz o sujeito pensar que, quanto mais pobre e fodido, melhor se escreve. Assim, o paciente logo conclui que os escritores não apenas não precisam, como se dão até melhor sem dinheiro.

Atualização: Consegui a matéria através do Walter. Cliquem aí embaixo e se irritem.

Há uma longa tradição de escritores brasileiros que ganham a vida como
funcionários públicos – uma linhagem que já incluiu gente do naipe de
Machado de Assis e Graciliano Ramos. Até agora, contudo, os escritores
não haviam cultivado um mau hábito renitente de cineastas e outros
profissionais da cultura: pedir dinheiro ao governo para financiar suas
obras. Isso mudou. Formado no ano passado, o movimento Literatura
Urgente reúne um grupo aguerrido de autores que pedem ao Ministério da
Cultura a criação de "políticas públicas" que fomentem o
"desenvolvimento do trabalho criativo". Em português corrente, o que
eles querem é ganhar um troco. Reivindicam 30% do Fundo Pró-Leitura –
uma iniciativa ainda em gestação destinada ao fomento de bibliotecas e à
disseminação da leitura no país – para a "criação literária". Calcula-se
que o fundo, a ser constituído por 1% dos rendimentos de editoras,
distribuidoras e livrarias, movimentaria cerca de 40 milhões de reais
por ano. Ou seja, os escritores estão pedindo 12 milhões. "Somos a base
da cadeia produtiva do livro, mas nunca fomos lembrados nas políticas
públicas. Escritor não vive de brisa", justifica-se o poeta Ademir
Assunção, um dos redatores do manifesto do Literatura Urgente.

Para escrever um livro são necessários papel e lápis. Um lápis basta, se
o sujeito não apertar muito. Depois disso, a melhor esperança é que haja
na vizinhança um público leitor amplo e ávido. Nesse ambiente, os
escritores conseguirão vender e serão remunerados com direitos autorais.
Os que venderem mais poderão até ficar ricos (J.K. Rowling, da série
Harry Potter, é hoje mais rica que a rainha da Inglaterra). Os que
venderem menos talvez tenham de complementar a renda com outros
trabalhos. Mas, se dinheiro público precisa ser gasto, que seja com o
fomento à leitura, e não com pensões para escrevinhadores tiradas do
bolso do contribuinte.

"Ninguém quer mamata do governo. Só queremos a valorização do criador",
diz o contista Marcelino Freire, membro de primeira hora do movimento. A
tal valorização, porém, inclui propostas descaradas (veja quadro). Entre
elas, "bolsas de criação" e intercâmbios com Portugal e países
latino-americanos (sim, um trem da alegria letrado). O movimento foi
iniciativa de um grupo de escritores da nova geração, mas seu manifesto
arregimentou 181 signatários, incluindo veteranos como Ignácio de Loyola
Brandão e Sérgio Sant'Anna. O documento foi redigido com base em
informações equivocadas. Somente na semana passada, em reunião com o
coordenador do Programa Nacional do Livro, Leitura e Bibliotecas do
Ministério da Cultura, Galeno Amorim, o grupo descobriu que o Fundo
Pró-Leitura não é exatamente do Estado: está sendo constituído pela
contribuição espontânea da indústria editorial, como uma espécie de
contrapartida a uma isenção de tributos que o setor recebeu no ano
passado. É um fundo para fins públicos, mas com gestão privada. O
Literatura Urgente desanimou, mas não se deu por vencido. A
reivindicação de 30% ainda está na mesa, enquanto novas opções são
exploradas. "Começamos a pensar em leis municipais de fomento à
literatura", anuncia Assunção.

Mamata das letras

Um movimento de escritores reivindica 30% de um fundo de 40 milhões de
reais para a "criação literária". Eis algumas propostas

• Financiamento de caravanas de autores que viajariam pelo país para
divulgar seus livros em universidades

• Compras governamentais de livros editados pelos próprios escritores,
eliminando a intermediação das editoras

• Concessão de vinte bolsas por ano para os escritores criarem seus
livros, totalizando uma despesa anual de 700 000 reais

12 de julho de 2005, 18:43 | Comentários (16)



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mãos de cavalo,
por daniel galera

 

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