Comentários sarcásticos, crítica vitriólica e jornalismo a golpes de martelo por Marcelo Träsel


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villa daslu deveria estar na ilha fiscal

Dêem um copo de sangue aos canibais. Eles estão com sede. No caso Kroll, prenderam-se cinco funcionários acusados de grampo. Feita a perícia, tratava-se de antigrampo. No caso Schincariol, fez-se aquele carnaval antes mesmo que a empresa fosse autuada pela Receita. Não querem arrecadar. Querem punir para tirar o peso das suspeitas e das acusações dos próprios ombros. Reitero: se Eliana for culpada, que pague. Mas nada disso era necessário. A Polícia Federal não está defendendo o Estado de direito. Está ocupada em fazer videoclipe.

[...]

PS: A Justiça acaba de determinar o fim do regime de isolamento, ou que nome tenha, para Fernandinho Beira Mar. É isso mesmo. Um bom país é aquele em que Eliana Tranchesi fique presa, e Beira Mar, mais solto. Estamos escolhendo o nosso futuro.

Desta vez, é o colunista Reinaldo Azevedo que defende a empresária Eliana Tranchesi, na Bravo!. Trata-se de uma interessante amostra do que pensam as elites nacionais sobre o Estado de direito.

Comparando-se os dois trechos, salta aos olhos que o Estado de direito só pode servir aos ricos. Empresários não podem sofrer ações policiais, nem ser presos em frente às câmeras, muito menos permanecer detidos antes do julgamento. Não interessa o quanto tenham roubado — é, "roubado" mesmo, porque sonegação é só um nome bonito para roubo.

Criminosos pobres, por outro lado, têm mais é de ser enquadrados com rigor e de preferência levar uns cascudos na delegacia, mesmo que seja apenas um sujeito de pele mais escura que estava no lugar errado na hora errada. Enfim, sendo pobre, alguma coisa ele deve ter feito. É como aquele marido que bate na mulher e diz: "eu não sei por que estou batendo, mas ela sabe por que está apanhando."

Um bom país é aquele em que a Justiça sabe colocar os pobres em seu lugar. Meliantes de quinta categoria não podem jamais ser beneficiados pelo sistema legal com relaxamento de prisão, habeas corpus ou vantagens por bom comportamento. São reservados aos ricos. Beira Mar, por exemplo, tem de ficar isolado, para não poder comandar seus traficantes de dentro do presídio.

Só os ricos podem responder a processos em liberdade devido a habeas corpus, ficar em cela especial numa cadeia bem tranqüila, para que possam continuar comandando seus negócios fraudulentos sem maiores obstáculos. Caso o rigor da lei seja aplicado a eles, é porque o juiz é comunista e tem inveja dos ricos. Não sabe que a lei só serve para ser aplicada aos pobres.

A elite continua em seu eterno baile da ilha fiscal, enquanto a cannaile se arma até os dentes na periferia. Há três dias atrás um feriado nacional francês poderia ter lembrado aos hedonistas como podem terminar essas coisas.

Para ler a coluna inteira, clique aí embaixo.

A Daslu e a sede dos canibais
Os canibais fiquem certos. Não me arrependo de uma miserável linha
do texto que escrevi em defesa da Daslu ainda que Eliana seja culpada
de tudo de que a acusam. Eu o assino de novo

Por Reinaldo Azevedo

Dêem um copo de sangue aos canibais, Eles estão com sede. Se Eliana
Tranchesi cometeu um ou todos os crimes de que é acusada, que pague
por eles. Mas já foi julgada e condenada? Digamos que seja inocente,
algo a fazer com a sua reputação? Que Estado de Direito é este que
primeiro pune para depois investigar? Todo empresário "deste país",
como diz aquele, deve recorrer ao STF para conseguir um habeas corpus
preventivo. Sob qual pretexto? Qualquer um. A democracia à moda
Putin-Lula-Chávez não precisa de motivos. Precisa de pretextos.

Dêem um copo de sangue aos canibais. Eles estão com sede. Quer dizer
que a investigação está em curso há dez meses, e só agora se decidiu
pela punição, invadindo a empresa e a casa de Eliana Tranchesi com
homens armados até os dentes e coletes à prova de bala? Nada menos de
240 foram mobilizados. O que acharam que ela faria? Agredi-los com
vestidos Chanel e gravatas Ermenegildo Zegna? Ainda que ela seja
realmente sonegadora e tenha formado quadrilha, como se diz: a
portaria de Márcio Thomaz Bastos (publicada nesta edição) foi
respeitada? Vamos demolir a Daslu, como sugere ironicamente um leitor.
Assim como se fez com o Carandiru. Vamos fazer da Daslu um monumento
ao ressentimento e à vigarice.

Dêem um copo de sangue aos canibais. Eles estão com sede. Na TV, a
casa de Eliana é chamada "mansão". Vamos comer os ricos. Ricos não
têm casa. Ricos têm mansão! Vamos prender Eliana Tranchesi e deixar
os contrabandistas da 25 de Março à solta, já que cumprem uma função
social. Vamos prender Eliana Tranchesi e deixar Marcos Valério, com
seu habeas corpus preventivo (tenha o seu), à solta. E, junto com
ele, Waldomiro Diniz e aqueles que compram congressistas e também os
congressistas que se vendem.

Dêem um copo de sangue aos canibais. Eles estão com sede. A operação
se chama "Narciso", uma referência, sei lá, às pessoas que recorrem à
Daslu para satisfazer a própria vaidade, esse sentimento pernóstico
nestes dias. Bonito é roubar merenda escolar. É nomear maganos do
partido para a comissão de licitação nas estatais. É superfaturar
serviços de propaganda para pagar mensalão. É lotear cargos públicos
para achacar empresas privadas. Isso é bonito. E, depois, bater no
peito e arrotar moralidade. Sim, é verdade: o governo Lula,
finalmente, começou para valer.

Dêem um copo de sangue aos canibais. Eles estão com sede. No caso
Kroll, prenderam-se cinco funcionários acusados de grampo. Feita a
perícia, tratava-se de antigrampo. No caso Schincariol, fez-se aquele
carnaval antes mesmo que a empresa fosse autuada pela Receita. Não
querem arrecadar. Querem punir para tirar o peso das suspeitas e das
acusações dos próprios ombros. Reitero: se Eliana for culpada, que
pague. Mas nada disso era necessário. A Polícia Federal não está
defendendo o Estado de direito. Está ocupada em fazer videoclipe.

Dêem um copo de sangue aos canibais. Eles estão com sede. Sem a
visibilidade dada à Daslu, nada disso estaria acontecendo. Não
enfrentassem o governo e o partido oficial um tsunami de acusações, é
provável que mesmo as irregularidades eventualmente comprovadas
ganhassem um outro encaminhamento, extralegal talvez. Mas chegou a
hora de dar a carcaça dos ricos aos pobres. Começou a fase Chávez do
governo Lula. Que, atenção!, continuará, a exemplo do venezuelano,
diga-se, absolutamente servil aos mercados e à jogatina financeira.
Ou alguém acha que o Maluco de Caracas dá murro em ponta de faca? O
risco da Venezuela está sempre pertinho do risco do Brasil.

Dêem um copo de sangue aos canibais. Eles estão com sede. Recebi mais
de 40 e-mails sobre a Daslu. Os que me elogiam ou criticam, sem ofensa
pessoal, estão publicados. Alguns ainda serão. Boa parte é
impublicável, tal a grosseria — não contem comigo para me ofender,
cambada! E tudo porque, há alguns dias, escrevi um texto sobre o
preconceito e o ressentimento de que a loja e a empresária estavam
sendo alvos. Ainda na coluna da Folha desta quarta, Elio Gaspari faz
um gracejo com a sacola da Daslu, usada em seu texto como símbolo de
alienação e elitismo. A moda pegou. Falar mal da Daslu, de Gaspari ao
mais cretino dos homens, rende simpatia. Parece que foi ela que
mandou Delúbio Soares ser quem é e fazer o que fez com o seu partido
e com o Brasil.

Dêem um copo de sangue aos canibais. Eles estão com sede. As redações
já estão coalhadas com as "provas" enviadas pela Polícia Federal.
Vocês conhecerão todos os "horrores" de Eliana Tranchesi antes que
ela mesma saiba o que se diz dela. Assim entendem ser o Estado de
Direito. Acham que, assim, não há discriminação. A regra de ouro é a
seguinte: já que não há Estado de Direito para os pobres, que não
haja também para ricos. Se um pobre e preto pode ser preso a qualquer
momento, sem justificativa, por que não uma loura rica? É o
socialismo da miséria material e da indigência intelectual. Não nos
ocorre dar ao preto pobre os mesmos direitos da loura rica. A
primeira coisa que se faz é cassar os da loura rica. Igualando todo
mundo por baixo. Enquanto Lula faz discursos enérgicos na França
sobre as injustiças sociais no... Haiti. Luta para presidente do
Haiti! Eis o meu lema.

Dêem um copo de sangue aos canibais. Eles estão com sede. Um homem
plantado pelo PT na Abin refere-se aos parlamentares da CPI como
"bestas-feras num picadeiro". O seu exagero de agora revela o
escândalo pregresso: o da sua nomeação. Recuperem o que disse este
senhor quando foi nomeado. Está hoje no site. Ofereceu-se para ser
esbirro de um projeto de poder, não para servir ao Estado brasileiro.
Assim começam a se desenhar as instituições no país sob o PT. O chefe
da Abin deve cair porque ou se precipitou no seu juízo (isso deveria
ser para uma etapa posterior da revolução de costumes) ou porque
tornou pública a razão que sempre o animou no cargo. Mas é isso o que
eles dizem lá entre eles sobre o Poder Legislativo. Mas quem merece a
ameaça armada de 240 agentes é Eliana Tranchesi, presa em sua
"mansão". Vamos invadir o Palácio de Inverno dos ricos,
expropriá-los, comê-los, satanizá-los, fuzilá-los. A menos que
colaborem.

Dêem um copo de sangue aos canibais. Eles estão com sede. Márcio
Thomaz Bastos, de fato, está sendo exemplar. Nunca um ministro
colaborou tanto com um projeto de poder. Ninguém, como ele, consegue
transgredir os limites do Estado de Direito, embora a sua ação
mimetize o cumprimento de todas as suas regras. É seu mais fino e
delicado operador. Chávez conta com a sua pantomima de Guarda
Vermelha, os seus bolivarianos armados. O ministro da Justiça está
armando a sua tropa de elite da Polícia Federal. É como se dissesse,
em tom de desafio: "Vocês não reclamam da impunidade? Então, tomem!".
Reitero: se Eliana Tranchesi errou, que pague pelo seu erro. Mas será
ela a merecer a companhia de agentes armados? Faz-se aqui o que Putin
faz na Rússia com os seus adversários políticos, a exemplo do dono da
Yukus. Arruma-se o pretexto legal para a prisão, escondendo os seus
reais motivos. Democracias lidam com motivos. Ditaduras lidam com
pretextos. Os canibais fiquem certos. Não me arrependo de uma
miserável linha do texto que escrevi em defesa da Daslu ainda que
Eliana seja culpada de tudo de que a acusam. Eu o assino de novo.
Porque suas eventuais transgressões não diluem a névoa de
ressentimento e canalhice invejosa que cobriu a inauguração de sua
loja. Os que a hostilizavam não o faziam porque ela sonegava, mas
porque a queriam responsável pelas misérias do Brasil. A nova Daslu,
se não me engano, consumiu R$ 100 milhões em investimentos. Eliana
trabalha há mais de duas décadas. Marcos Valério, sem produzir um
parafuso ou vender uma gravata, movimentou R$ 1,5 bilhão em cinco
anos. Mas o governo Lula, que começa para valer neste dia 13, já
escolheu os bandidos dos Brasil. Já decidiu quem vai para a cadeia e
quem ajuda a governar o país. Os canibais podem rosnar e soltar a sua
baba vermelha. Não arredo pé.

PS: A Justiça acaba de determinar o fim do regime de isolamento, ou
que nome tenha, para Fernandinho Beira Mar. É isso mesmo. Um bom país
é aquele em que Eliana Tranchesi fique presa, e Beira Mar, mais
solto. Estamos escolhendo o nosso futuro.

17 de julho de 2005, 22:12 | Comentários (11)



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mãos de cavalo,
por daniel galera

 

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