A irrelevância da política

A "Entrevista da 2ª" da Folha de São Paulo desta semana foi com o sociólogo Chico de Oliveira. Ele é um dos caras que compunham a "base intelectual" do PT (que hoje se sabe que nunca serviu para nada, estava lá apenas para bonito) e que deixou o partido para fundar o PSol. As opiniões de Oliveira, no entanto, são bem menos óbvias que o punhado de chavões bradados por Heloisa Helena e seus companheiros. Tanto que menospreza o poder de fogo de seu próprio partido, principalmente devido ao que chama de "irrelevância da política" no contexto econômico atual. Chico de Oliveira vê a redução da política no cotidiano das pessoas como "uma clara regressão". Não me faltam motivos, cada vez mais, para discordar dele neste ponto. Talvez o fim da política seja o melhor para todos. De qualquer forma, aí vão os trechos mais interessantes – com destaque para a análise do capitalismo periférico, a partir do advento do PCC:

HELOISA E PSOL

"Ela pode subir mais um pouco, mas não passa de 15%. A única coisa que o PSol pode fazer é ser uma espécie de Grilo Falante, uma consciência crítica, mas sem possibilidades de pautar a política brasileira. É uma conclusão muito dura, para mim e para os militantes em geral. O PSol está em busca de uma miragem."

IRRELEVÂNCIA DA POLÍTICA

"O fenômeno da irrelevância da política é muito profundo. No Brasil, ela tem um efeito devastador. No nosso caso, o fundo da irrelevância da política é a desigualdade. É preciso pesquisar as razões. A política interna perdeu a capacidade de dirigir a sociedade. Qualquer que seja a relação, ela tem que passar pelas relações externas. Isso quebra a espinha da política. Todos agora tem que seguir as mesmas regras. Caso emblemático: na última declaração de bens de Lula, metade de seu patrimônio está em aplicações financeiras. O paradoxo é que ele está à testa de um governo que endivida o país, e essa dívida é parte de seu patrimônio. A posição política do presidente é completamente irrelevante."

BOLSA FAMÍLIA

"O Bolsa-Família é algo que se pode entender a partir da irrelevância da política. Dizer que é assistencialista é o óbvio. Poderíamos dizer que o Bolsa-Família é uma criação foucaultiana: um instrumento de controle em primeiro lugar. Restaura um clientelismo que não leva à política. Ele faz com que a política se construa pelas carências, o que é abominável. Acabou a história de você depender das relações de força para desenhar as políticas sociais. Elas são desenhadas por um dispositivo foucaultiano: quanto você tem de renda, qual é o seu estatuto de miserável. É uma clara regressão."

PT

"Talvez o PT tenha o destino do peronismo. Com essa política de Bolsa-Família, ele vai muito fundo, até as camadas mais pobres. E isso ficará como legado para o PT pós-Lula. O que é perigoso, porque o partido peronista pós-Perón se tornou uma confederação de gangues. Eu não descarto esse cenário para o PT."

PCC

"O capitalismo periférico não respeita nenhuma institucionalidade. Ele está se lixando para elas. A institucionalidade criada nos últimos dois séculos não agüenta o capitalismo periférico. Não tem uma regra que possa ser obedecida durante três meses. Nenhuma, em qualquer atividade econômica. Tudo ultrapassa a regra institucional. O Brasil não tem condição de acompanhar esta marcha. A velocidade dessa espécie de remodelação permanente é espantável e desbarata qualquer regra."

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