Leia a última parte da entrevista com Manuela

manuela.jpgNesta última parte da entrevista, a vereadora Manuela dÁvila aprofunda a análise sobre a Câmara de Vereadores e explica por que se aprovam tantos nomes de ruas. Também comenta o fisiologismo, a influência do poder econômico e a presidência de Aldo Rebelo na Câmara dos Deputados — à qual Manuela concorre nesta eleição. Mostra mais uma vez ser uma comunista sui generis, ao criticar a esquerda que pretende fazer política social com o dinheiro dos outros.

Lamentamos a demora na publicação desta última parte, mas a visita de Lula ao Estado concentrou todos os esforços de nossa equipe no final da semana passada.

Träsel: Tem projetos que tu achava que ia conseguir aprovar quando entrasse na Câmara...

Manuela: Tem.

Träsel: ...e ficaram parados por algum motivo?

Manuela: Eles demoram muito na burocracia, mas tem muitos projetos que a gente não conseguiu aprovar ainda por... Enfim, pelos caras acharem que quem vai aprovar um projeto vai ganhar o bônus do projeto, quando na verdade não acontece isso. Eu tenho uma tese muito clara: ninguém vira pai e mãe de nada, entendeu? Ninguém consegue, não adianta. Tu sabe quem inventou a lei que cria a Lei do Passe [Livre] em Porto Alegre? Não. É isso. Foi inventado por alguém, pelo autor dela. As verdadeiras conquistas, elas não têm pai e mãe. Tipo, o meio-passe aos domingos: que é fundamental para quem é uma parcela muito grande de estudantes. É que a gente tem qual visão? A visão da Manuela, que estudou no Dohms e que "ó mãe, vou ali no Brique. Me dá o dinheiro da passagem". Agora, tem jovem que mora na Vila Farrapos, estudando no Primeiro de Maio, que não conhece o Brique. Não conhece a cidade. Por quê? Trabalha a semana inteira. É uma coisa super simples, que não altera. A gente fez todo um projeto para não alterar os custos da cidade e das empresas de ônibus. Eu sou contra essa esquerda que acha que tem que dar subsídio pra tudo e só os empresários pagam o pato. Não, tem que ser com o dinheiro do Estado, da cidade. O ônibus é um exemplo disso, de modo que o Estado tem que bancar o que ele acha que tem que ser gratuito, que tem que ser investimento do Estado na cidadania, na vida das pessoas. Então a gente fez um cálculo para não lesar, sabe? Os caras não aprovam.

Träsel: Daí como é que fica? Em tramitação eternamente, nunca vai a votação?

Manuela: Nós vamos levar daqui a um tempinho, uns 15 ou 20 dias. A gente também acabou de aprovar a entrada, né? Já foi um parto para nascer a criança. Um parto de algum bicho que levou um ano e meio para parir.

Träsel: Mas para as pressões contrárias a esse tipo de projeto são mais de concorrência política mesmo, ou...

Manuela: Não. Eu dei um exemplo. E acho que tem — e não estou falando com relação a esse projeto —, mas que é a relação que sempre se falou. Os caras não gostam que eu fale, mas é verdade, que é a relação do poder econômico. É isso. As campanhas nesse país não são financiadas publicamente — pelo menos em tese. As pessoas representam diversos interesses aqui. Nós, qualquer parlamentar, ele é financiado por alguma empresa, pessoas, enfim. O nosso compromisso é político. Eu não sou do toma-lá-dá-cá. Todo mundo sabe que eu defendo a redução de juros. A redução interessa a um setor do nosso país: o setor produtivo. Isso significa que, em qualquer agenda de redução de juros, eles têm em mim uma parceira. Eu não preciso fazer nada. É o que eu defendo, eles me dando ou não dando dinheiro. Nunca me deram, mas tudo bem. O que acontece? Assim como tem essa relação, é política essa relação. Eu não estou mudando o que eu acredito. Eu acredito nisso. Tem pessoas que têm relações mais... Enfim, que tem outros interesses, que querem outro tipo de mundo, que acabam tendo influência mais permanente em todos os espaços do Legislativo. Não estou me referindo só à Câmara aqui. E a gente tem um exemplo claro disso que foi, enfim, de um ex-vereador que vendeu um Projeto de Lei do Plano Diretor a R$ 26 mil, embora a empresa não tenha trabalhado muito. É uma prova. E a Câmara de Porto Alegre talvez seja um dos melhores espaços nesse sentido no país.

Träsel: Qual vereador?

Manuela: Wilton Araújo (PPS/ RS), ex-vereador. Vocês não viram isso? Não estou acusando que foi. É uma sentença judicial.

Träsel: Quando foi que saiu essa sentença?

Manuela: Ah, pois é. Teve pouca visibilidade.

Träsel: Por algum motivo, né?

Manuela: É, por algum motivo. Ele trabalhava no gabinete do prefeito [José Fogaça (PPS/ RS)], talvez esse tenha sido o motivo. Talvez se fosse em Brasília tivesse dado uma crise numa proporção... Era isso. E eu repito, a Câmara de Porto Alegre talvez tenha a melhor nesse sentido. Porque Porto Alegre é uma cidade mais politizada, os eleitores são mais politizados. A Câmara tem um nível muito grande em relação às câmaras de outras capitais.

Träsel: Todas essas críticas que aparecerem de vez em quando no jornal, na Zero Hora: "A Câmara aprova 70% dos
projetos para nome de rua"...

Manuela: Primeiro, tem uma coisa: eu acho que a Câmara produz pouco perto do que poderia produzir mais. Sempre falo isso na tribuna. Tem gente que fala só para aparecer na imprensa. Porque é só abobrinha, entende? Acho que a gente pode produzir mais. Acho que podemos ser menos pautados pelo Executivo do que a gente é. A Câmara aprova projetos polêmicos, e a ampla maioria tem ligações com o poder Executivo. Quem envia para cá é o Executivo municipal. Claro que eles têm que enviar. Não vou dizer: "Parem de enviar projetos". Só que nós acabamos priorizando os projetos do Executivo, porque eles têm um prazo. Os últimos projetos polêmicos, quase todos têm vínculo com o poder Executivo. Para além disso, tem uma tentativa, na minha opinião, da imprensa de deslegitimizar o poder Legislativo. Se for pegar toda a crise que aconteceu... E na minha opinião, tudo o que é investigado é bom. Até porque aí me sobra poucos concorrentes. Não é verdade? [risos] Sobra só os nossos, gente. Os únicos que não têm acusados na Câmara Federal.

Gallas: Mas tem o presidente da Câmara [Aldo Rebelo] agora...

Manuela: Exatamente. E nunca, nem com isso, aconteceu alguma coisa. Acho que é a maior prova, né?

Träsel: Se não acharam nada até agora...

Manuela: É, comunista presidente da Câmara, se não aconteceu nada até agora. Vocês não acham que eles não devem estar procurando, né? Se tem problema mesmo, ele deve ser investigado até o final. Agora, fazer espetáculo disso, serve para alguém. E serve para quem governou esse país a vida inteira. É muito claro isso, gente. Parlamentar do PSDB não tem partido na Globo. Isso indigna. Indigna mesmo. Eu tenho partido. Pro bem ou pro mal, é o meu partido. Qualquer lugar que eu vou, todo mundo sabe que eu sou do PCdoB. Se eu faço uma coisa pro bem, vá lá: "Manuela PCdoB". Se eu faço uma cagada, vai ser : "PCdoB faz isso". É isso. O PSDB não tem. O PPS não tem. O Wilton foi condenado e não tem partido. Pô, o cara trabalhava no gabinete do prefeito. Não estou acusando alguém, foi comprovado. A Câmara nem tratou disso. A polícia investigou e julgou. Saiu na Zero Hora, mas quem conhece jornal sabe o espaço que vale e o espaço que não vale. Então, sair na página par, no canto da página pra dentro, é o espaço que menos se lê, né? Então, existe essa coisa de desvalorizar. Se existe homenagem demais, eu só vou nas que eu acho justas. Nem consigo ir em todas porque acho que têm coisas mais prioritárias para o meu mandato do que algumas homenagens. Nome de rua é o processo que anda mais rápido aqui. Por que se vota tanto? Porque ele só tem que passar pelas comissões. E passa muito rápido.

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