"Não falo com a Veja. Há tempos."

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Pê Tê fora de controle no III Encontro dos Petistas da Europa, que está sendo realizado neste final de semana aqui em Paris.

Fui ontem na abertura do Encontro. O presidente do Pê Tê, deputado Ricardo Berzoini, e o Secretário de Relações Internacionais do partido, Valter Pomar, abriram o evento e depois responderam a perguntas de brasileiros e franceses.

A cobertura, com algumas fotos, e a explicação do título do post está abaixo, no "Continue lendo...".

Antes, para animar a coisa, cito o trecho da entrevista que o Valter Pomar concedeu ao Mário Camera, da RFI, falando sobre a felicidade petista suprema com a não-renovação da concessão da RCTV por Hugo Chávez:

"O Pê Tê, enquanto partido, não tem uma posição oficial sobre isso [não-renovação da concessão da RCTV], nem eu acho que deva ter. Mas posso te dar com muita clareza a minha opinião: eu acho que o Chávez está certo em não renovar a concessão da RCTV. Ele não renovou a concessão; é diferente de cassar a concessão, ou seja, a concessão se expirou, havia um prazo, a concessão expirou e não foi renovada. A pergunta é: havia motivo para não renovar? Na minha opinião havia motivo. Por quê? Por que essa televisão, ela patricinou abertamente um golpe. Não se trata de incitar, não se trata de defender uma opinião, não se trata de fazer oposição, ela participou de uma operação golpista. Imagina se a BBC participasse de uma operação golpista contra um governo conservador ou contra um governo trabalhista... A questão foi isso. Não é que a televisão faz oposição. Há jornais na Venezuela que fazem oposição diuturna, nenhum está sendo cassado, nenhum está sendo fechado. O que tem é uma concessão de uma televisão que participou de um golpe. Eu fico espantado porque há setores que acham normal isso. Esqueceram o que aconteceu na América Latina? Esqueceram do papel do Mercúrio no golpe contra o Salvador Allende? O papel dos meios de comunicação em todos os golpes militares que custaram vidas humanas, fim da democracia e retrocesso econômico e social? Então o que aconteceu na Venezuela, na minha opinião, é algo previsto em lei: alguém utilizou uma concessão pública de maneira indevida.

Mário Camera - O senhor acha que existe um paralelo, no Brasil, em relação a essa questão de não renovar uma concessão de algum meio de comunicação?

Pomar - Falando francamente, eu adoraria que houvesse. Mas não há correlação de forças no Brasil para questionar a atitude de determinados meios de comunicação. Agora, há espaço no Brasil para fortalecer a comunicação social, a comunicação pública, para democratizar os meios de comunicação. Se uma televisão ou um rádio, no Brasil, que são concessões públicas, assumisse uma postura golpista nos termos que assumiu a RCTV na Venezuela, caberia também não renovar a concessão.

Mário Camera - Atualmente, o senhor acredita que existe algum meio de comunicação que faça esse tipo política - não uma política golpista, porque isso realmente não existe - mas uma política que leve a uma não renovação de concessão?

Pomar - Golpista... que tipo de golpismo teve nos meios de comunicação brasileiros? Nós acusamos a imprensa brasileira de golpista. Qual é a diferença? A diferença é que o golpe aconteceu na Venezuela. No Brasil ele não chegou a acontecer. Eu acho que se a situação no Brasil tivesse chegado perto do que aconteceu na Venezuela, alguns desses meios de comunicação teriam se comportado da mesma maneira que a RCTV se comportou, ou seja, apoiando abertamente os golpistas e sonegando informações da população num momento crucial. Ou seja, ela se transformou de concessão pública em um instrumento do golpe. Isso não chegou a acontecer no Brasil por quê? Por que no Brasil o golpe não chegou a acontecer. Agora, havia uma vontade visível, em alguns setores - não estou generalizando -, em alguns meios de comunicação, em algumas empresas, de que a coisa chegasse até esse ponto. Só que a correlação de forças não permitiu isso. Ou seja, a correlação de forças existente no Brasil não permitiu que se chegasse a uma situação de golpe. Portanto, esses meios de comunicação que tinham atitude pró-golpista não puderam se desmascarar. Então o que está colocado para nós hoje, na minha opinião, é trabalhar na democratização dos meios de comunicação. Não está posto - porque não há base para isso - você cassar ou não renovar concessões. Isso não quer dizer - quero deixar isso muito claro - que eu ache bom o que tem hoje no Brasil. Não é bom porque essas concessões, na prática, sustentam o sistema de monopólio privado da comunicação, e se a comunicação, na Constituição Brasileira, está previsto que ela é privada e pública, e ela tem um papel social, não é correto que ela seja fundamentalmente privada. Ela tem que ter também, primeiro, uma parte pública, e tem que ter, no todo, uma orientação social, ou seja, um serviço que é prestado à sociedade. Portanto, não pode ser, como é no Brasil e em grande parte do mundo, um serviço que é prestado no interesse de uma pequena parcela da sociedade e em detrimento, em prejuízo, da maioria."

Abaixo, Berzoini responde a uma pergunta sobre mídia má, corrupção e CPIs:


Berzoini no Encontro dos petistas da Europa
Postado por waltervaldevino


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Bandeira do Pê Tê decorando a mesa.

Realizado no primeiro dia na Casa da América Latina (Maison de l'Amérique Latine), onde também foi montado o QG de campanha da socialista Ségolène Royal, o III Encontro dos Petistas da Europa tem por objetivo, segundo os próprios petistas, aumentar os tentáculos internacionais do partido. Certamente estão morrendo de inveja com as reuniões de cúpula do PSDB em Nova Iorque.

Mas a coisa é antiga. O núcleo petista na França existe desde fevereiro de 1994 e o núcleo em Portugal já tem 13 anos, o mais antigo na Europa. Marcaram presença neste Encontro petistas da Espanha (vários deles), Inglaterra, Bélgica e Dinamarca.

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Bandeira da Banana decorando a mesa na entrada do auditório.

O evento faz parte da preparação para um encontro maior que aconterá no Brasil dia 10 de agosto e que reunirá os núcleos internacionais do Pê Tê.

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Berzoini conversa com o Embaixador do Brasil (no centro) na França.

Esses dados mais informativos foram apresentados rapidamente pelo Valter Pomar, que abriu o encontro. Em seguida, o Berzoini mergulhou fundo no petismo. O discurso foi praticamente na linha do vídeo acima - ou seja, delírio completo e deslocamento total da realidade - e pode ser resumido em alguns itens:

- O Pê Tê passou por uma grave crise que tinha por objetivo destruí-lo.
- Mas superou tudo e conseguiu maioria no Congresso e ainda eleger 5 governadores.
- A coalisão governista é heterogênea, mas mesmo assim o Pê Tê tem que lutar para manter a identidade partidária.
- O Pê Tê deve continuar se mantendo à esquerda porque a população identifica o governo Lula como sendo um governo do Pê Tê [achei essa a melhor de todas].
- Méritos do governo Lula: ter recuperado a economia, ter investido em uma política social e ter adotado uma nova política externa e um ambicioso programa de educação.
- O Pê Tê precisa se preparar para a eleição de 2010 tentando ganhar força nas eleições municipais de 2008.

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A entrevista que Berzoini concedeu ao Mário Camera depois da conferência de abertura pode ser ouvida lá no site da RFI. A íntegra da entrevista do Valter Pomar entrará no site da rádio ainda hoje.

Para concluir, a antecipação do trecho em que Pomar fala sobre us cumpanhêro do Baath. Na sexta-feira Pomar e Berzoini foram a Damasco, na Síria, assinar um acordo de cooperação com o afável partido que prega a criação de Estado árabe único na região e que está metido no assassinato do ex-primeiro ministro do Líbano, Rafik Hariri, em 2005.

"Nós [Pê Tê e Baath] temos um ponto em comum, que é a idéia de que não haja hegemonias no mundo, é a idéia de não aceitar, portanto, que os Estados Unidos tenham qualquer tipo de direito de tutelar, de controlar, os demais países ou a impor a sua vontade principalmente por meios militares. Esse é um ponto em comum. Temos muitas diferenças históricas, políticas, ideológicas, mas há um forte ponto em comum que faz com que inclusive partidos com origens e tradições muito distintas se reúnam, que é a luta contra o comportamente imperialista dos Estado Unidos, que está patrocianando na região um processo de desestabilização em larga escala. A invasão ao Iraque, a guerra no Afeganistão, o apoio que dão a Israel, o estímulo que deram - é bom lembrar - ao longo da história para organizações que hoje eles chamam de terroristas... É bom lembrar sempre que os líderes do Al Qaeda foram financiados pela CIA no combate aos soviéticos. Então o comportamento norte-americano na região é um comportamento que só serve aos intessses norte-americanos e, para ser mais preciso, só serve aos interesses das grandes empresas norte-americanas, especialmente das petrolíferas."

Ah, é claro: o título do post. Após conceder a entrevista para a RFI, Berzoini perguntou se havia mais algum jornalista presente. A moça responsável pela sua assessoria apresentou o Antonio Ribeiro, correspondente internacional da Veja aqui em Paris. Sem saber quem era, Berzoini perguntou:

Berzô - "De qual veículo você é?"
Ribeiro - "Da Veja."
Berzô - "Não falo com a Veja. Há tempos."

Genial demais. Mídia má e bobona!

Se eu vou hoje e amanhã no Encontro? ÓBVIO que não. Há limite para tudo.

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