por Marcelo Firpo

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FEPs

Consegui achar um bom restaurante. Na verdade, reencontrei-o, costumava almoçar ali em 98. Além de ser vegetariano, está sempre meio vazio, e deve haver alguma conexão oculta entre estes dois dados, mas para a minha alma alquebrada é realmente o paraíso em forma de restaurante.

Pois bem. Todas as vezes que vou lá, tem esse cara, 45-50 anos, barbudo, cabeludo, cheio de buttons motociclísticos, jaqueta e botas de couro e um anel de caveira com capacete em cada dedo da mão. Um perfeito Hell´s Angel, sempre quieto, comendo seu pasto descansado.

Ontem, entretanto, ele sentou ao lado de um conhecido e ficou contando de uma viagem que fez até o Ushuaia, e só não foi a FEP perfeita porque ele não comentou nada sobre a sensação de liberdade e o vento nos cabelos.

FEP, Frase Esperada da Pessoa: a primeira vez que você ouve alguém dizer algo e essa coisa é exatamente aquela que o clichê daquela pessoa que você construiu na sua cabeça diria.

A primeira vez que tive consciência de uma FEP. eu tinha pouco mais de onze anos, meu pai estava lançando um livro em Cachoeira do Sul, na sede de um jornal local. O jornal esse se restringia ao noticiário comunitário: política paroquial, agricultura, a opinião do bispo etc etc etc. Quando mais criança, manuseando o tal jornal, que recebíamos em casa, sempre pensava: “Eles só falam da cidade porque são pequenos.” Então, naquele dia, entreouvindo uma conversa do dono do jornal, a primeira vez que ouvi o bom homem falar, ele me veio com “Sabe como é, não temos condições de brigar com os grandes jornais do Estado, por isso é que só tratamos do noticiário local.” Frase Esperada da Pessoa. Fiquei imaginando que ele sempre dizia isso pra todo mundo, ao entrar num elevador, ao atender o telefone, ao brigar no trânsito, meio corpo pra fora da janela do carro, dedo em riste: “Sabe como é, não temos condições de brigar com os grandes jornais do Estado, por isso é que só tratamos do noticiário local, seu filho da puta!”

Desde então, me tornei um colecionador obsessivo de F.E.P.s: a gorda no ônibus que confidencia pra amiga “Eu não dou bola pra esse negócio de dieta”, o síndico de edifício que passa esbravejando “Tinha que matar esses vagabundo tudo!”, o radical de esquerda que respira fundo e, como se fosse uma grande revelação, como se não estivesse escrito na sua testa, desabafa: “Eu me decepcionei muito com o Lula, sabe?”

29/04/2005 11:00 | Comentários (4) | TrackBack (0)