por Marcelo Firpo

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Amei Salvador

Eletricistas que marcam e não aparecem.

30/11/2005 17:57 | Comentários (2) | TrackBack (0)


Muçulmano errante

Minha mudança ideal: tenho cinquenta anos bem vividos, minha polpuda aposentaria privada acaba de sair, meu filho já é um homem feito. Pego as minhas coisinhas todas e vou para uma casa, no alto de um morro, no litoral nordestino. Depois de entregues os móveis e livros, entro em casa, respiro fundo e sei que morrerei naquele lugar, ali pelos cento e trinta anos. A areia branca passeia pelo chão de madeira.

Minha mudança real: o apartamento é um potreiro de grande e um puteiro de caro. Um pouco barulhento, também. Os problemas técnicos da chegada incluem a não-instalação do chuveiro elétrico e dos ventiladores de teto. Com alguns quartos ainda às escuras, as janelas todas abertas por causa do calor e o som dos engarrafamentos atravessando a peça, me sinto um pouco naquele apartamento da Av. Beira-Mar, em Florianópolis. Depressão pós-mudança. Vai passar. E, se não passar, um ano também passa rápido.

30/11/2005 10:23 | Comentários (10) | TrackBack (0)


Spooky

Sonhei que tinha uma barata do tamanho de um TAMANDUÁ no novo apartamento.

29/11/2005 10:54 | Comentários (7) | TrackBack (0)


Maior cineasta vivo

five-obstructions.jpg

Com a função das baratas e da mudança, quase deixei de ver Manderlay no cinema. Segue a escrita: nunca vi um filme deste sujeito que não tenha gostado muito. E esse da imagem aí de cima é especialmente massa.

28/11/2005 10:33 | Comentários (7) | TrackBack (0)


Fim, por enquanto

Mudança feita, luz ligada, devemos dormir no novo apartamento hoje.

Espero tempos melhores.

Se bem que, como o Dr. Manhattan disse pro Ozymandias, "nada nunca acaba".

28/11/2005 10:11 | Comentários (1) | TrackBack (0)


Estertores

Pesadelo do dia: o apartamento novo cheio de periplanetas do tamanho de LAGOSTAS.

A mobília vai ser empacotada hoje de tarde e a mudança começa no sábado de manhã.

Voltamos à pocilga ontem de noite, para pegar materiais de limpeza: QUARENTA exemplares no banheiro.

25/11/2005 10:12 | Comentários (4) | TrackBack (0)


"Aqui habitam dragões"

Em casa, esperando pela equipe de avaliação da mudança. Não, eles não vem dizer se acham uma boa eu me mudar, é mais pra ver quantos afegãos serão necessários.

Abro a porta do banheiro, CINQUENTA E SEIS periplanetas me esperam com as patinhas para cima.

Quando saímos corridos de casa, há dois dias, jogamos fora todas as iscas baygon. Essa mortandade é apenas um residual.

Limpo tudo com vassoura e pazinha, suando em bicas e pensando em como seria agradável tomar um banho, e o quanto isso seria impossível naquele lugar.

Muita pena dos próximos inquilinos, vontade de deixar mensagens escondidas pelo apartamento.

23/11/2005 14:02 | Comentários (10) | TrackBack (0)


Na casa de mamãe

Ah, os prazeres simples da vida:

-Entrar no banheiro pela manhã e não se preocupar em desinfetar o ambiente todo antes de qualquer coisa;

-Tomar banho tranquilamente, sem medo que o céu ou coisa pior caia sobre nossas cabeças;

-Saber que, à noite, um comichão na pele é apenas um comichão na pele;

-Não ficar esquadrinhando compulsivamente o chão, as paredes, o teto, as reentrâncias e os móveis de cada peça da casa.

Férias, enfim.

23/11/2005 09:53 | Comentários (2) | TrackBack (0)


Crucis

Lendo o contrato da nova imobiliária.

LEONINO, pra dizer o mínimo.

22/11/2005 10:32 | Comentários (6) | TrackBack (0)


The resolute urgency of now

A mulher saiu de lá nauseada. Pediu que fizéssemos um documento comunicando a saída e as razões. Se não estivesse à beira de colapso, teria escrito melhor:


À Imobiliária Today e ao proprietário do imóvel:


Por meio desta, venho comunicar que eu e minha família estamos deixando o imóvel que alugamos na Rua Dr. Florêncio Ygartua, 155/121.

O motivo desta decisão é uma enorme infestação de baratas, que começou há cerca de três semanas.

Pelo que pudemos perceber, o ninho se localiza dentro do teto rebaixado de gesso, em especial o do banheiro, e também atrás dos azulejos. Nas últimas semanas, tivemos que deixar de usá-lo, o único banheiro do apartamento, porque as baratas despencavam do teto sobre as nossas cabeças, a qualquer hora do dia.

Todas as manhãs, recolhemos algo em torno de trinta baratas do chão do banheiro.

Elas também têm circulado por todo o apartamento, tendo inclusive avançado sobre o meu filho, um bebê de um ano e meio de idade, que ainda engatinha. Ele desenvolveu uma inflamação no olho esquerdo, temos um laudo médico atestando o fato.

Desta forma, pela situação de sujeira generalizada que esta praga trouxe ao apartamento e pelos evidentes riscos à minha saúde e à saúde da minha família, não vejo outra alternativa que não deixar o apartamento, recomendando que seja feita uma nova dedetização completa, não apenas no telhado do edifício como também dentro do apartamento, em especial na parte interna do forro de gesso, para que os futuros locatários não venham a passar pelo que passamos.

Evidentemente, como estamos sendo obrigados a sair por um problema de ordem condominial, contamos com a boa vontade da administradora, no sentido de facilitar esta saída, sem a cobrança das multas contratuais ou qualquer outro empecilho que nos force a tomar atitudes mais drásticas no sentido de buscarmos nossos direitos judicialmente.


Grato pela sua compreensão,

Marcelo Firpo Vieira da Cunha.

Porto Alegre, 22 de novembro de 2005

21/11/2005 09:41 | Comentários (10) | TrackBack (0)


Tudo o que acontece é bom

TRINTA E SEIS agora de manhã.

Colapso total do apartamento como habitação humana.

Vou sair correndo pelado pela rua com uma cueca na cabeça.

Estamos nos mudando para a casa da minha santa mãezinha por uns dias, até assinarmos o contrato do novo apartamento.

Chamamos a mulher da imobiliária agora, pra dar uma olhada.

Vontade de trancafiá-la no banheiro por todo o sempre.

21/11/2005 07:51 | Comentários (6) | TrackBack (0)


Sunday morning

D-E-Z-E-N-O-V-E no banheiro.

Vou tomar banho no laguinho do Parcão.

20/11/2005 08:29 | Comentários (6) | TrackBack (0)


Miasmas

Depois de dois dias, o experimento do pote de baratas deve ser cancelado hoje, devido ao fedor inominável.

Pena, acho que não chegamos nem a trinta exemplares.

18/11/2005 09:22 | Comentários (8) | TrackBack (0)


Você faz maravilhas com ácido bórico

Amanhã vou fazer uns QUITUTES.

17/11/2005 10:12 | Comentários (23) | TrackBack (0)


Pandora

Instituimos aqui em casa o POTE DAS BARATAS: um vidro de nescafé transparente onde, a partir de hoje, começamos a fazer a nossa poupancinha de periplanetas. Família que poupa unida permanece unida, é fato.

Só lamento não ter começado este projeto há mais tempo, talvez já estivéssemos no segundo pote.

Quando estiver bem cheio, pretendemos levar até a imobiliária.

Se a negociação estiver emperrada, pretendemos jogar tudo em cima da pessoa encarregada.

16/11/2005 21:49 | Comentários (7) | TrackBack (0)


Oferenda

Hoje ao meio-dia, do lado de fora da fenda da parede do box onde descarreguei um tubo de inseticida ontem, um casulo.

Das duas uma: ou é uma campanha na linha "preserve as futuras gerações" ou é uma oferta de virgem para o Kraken.

Estou começando a me apegar aos bichinhos.

16/11/2005 16:27 | Comentários (6) | TrackBack (0)


Interlúdio

Agradeço a todas as manifestações sobre os últimos posts, e gostaria de esclarecer duas coisinhas:

-Ainda não dedetizei o apartamento em si porque tenho um bebê de um ano e sete meses, que passeia pra lá e pra cá, volta e meia ainda engatinha e tem o incivilizado hábito de levar tudo à boca. Se encher a casa de veneno, mesmo que faça uma baita faxina depois, vou ficar sempre com medo que ele ABOTOE O CASAQUINHO;

-Depois de me debater com a idéia de me mudar por algum tempo, começo a achar que é a atitude mais higiênica. Pra resolver o problema deste apartamento, só esvaziando, retirando os azulejos do banheiro, abrindo todas as aberturas do forro e DETONANDO O ROQUENROU. O problema é que se mudar nunca é lá muito fácil: além de ter que achar um apartamento que preste e não seja muito caro, ainda tem todas asquelas mumunhas burocráticas de fiadores e documentação.

Mas estamos nos mexendo, não se preocupem.


16/11/2005 13:56 | Comentários (6) | TrackBack (0)


Se você olhar dentro do abismo, o abismo olhará dentro de você

Bem lá no começo, na Noite dos Cristais, descobrimos que um dos ninhos ficava atrás do rejunte dos azulejos do box. Descarreguei um spray ali e na manhã seguinte a Giselle se prestou a tapar todos os buraquinhos com durepoxi. Não ficou lá muito bonito, mas nos deu a sensação de estar fazendo alguma coisa para resolver o problema.

Hoje pela manhã, ao tomar banho, percebi uns pedacinhos de rejunte no chão. Olhei para a parede e o buraco estava lá novamente, MUITO maior.

Sem rejunte, sem durepoxi.

Estou pensando em chamar a polícia.

15/11/2005 15:19 | Comentários (7) | TrackBack (0)


Quosque tandem?

Sim, se eu lesse alguma coisa assim, também não acreditaria, mas foi exatamente deste jeito que aconteceu: chegamos em casa ali pelas dez da noite, fizemos o recolhimento de corpos de praxe e, como o Santiago estava grudento e rançoso, achamos por bem dar-lhe um banho. Sabendo que não seria seguro fazê-lo dentro do box, porque à noite as Antigas estão à solta, resolvemos encher a banheira com a água do chuveiro, sob estrita vigilância, e, numa manobra ousada, levá-la até o quarto dele, território relativamente seguro.

Giselle ficou vigiando e, quando a banheira encheu, me chamou para pegá-la, um enorme receptáculo de plástico transparente contendo algo como que sete litros d´água. Imitando um halterofilista búlgaro, me abaixei, agarrei as bordas, respirei fundo e, num movimento que deveria ser enérgico, levantei o trambolho, um pé do lado de dentro do box e o outro fora, o ombro apoiando a porta de vidro que insistia em fechar. Balançando o corpo, fui trazendo lentamente a banheira para fora, tomando cuidado para não derramar. Quando meus ombros estavam prestes a cruzar a linha divisória do box, dei um suspiro de alívio, mas foi precipitado: ouvi um ploft e, boiando placidamente na área morninha, lá estava uma ninfa, que é o estágio intermediário, sem asas. Se tivesse prestado um pouco mais atenção, talvez tivesse ouvido-a gritar "iuuuuupiiiii", em seu mergulho lá do teto. E que bom que ela acertou a banheira e não o meu pescoço.

Tivemos que dar um banho com água de chaleira e paninhos no Santiago, entre mais promessas de que "AGORA a gente se muda, chega, passou dos limites etc etc etc".

Agora, depois de muito ponderar, toquei spray nas laterais do forro de gesso do box e do banheiro. Temo que isso apenas as espante para as outras peças. Meus olhos ardem e acho que respirei mais do veneno do que devia. Ouço barulhinhos no gesso, mas podem ser apenas alucinações.

14/11/2005 23:06 | Comentários (10) | TrackBack (0)


Into the dragon

"O ano de 1999 sete meses
Do céu virá o grande Rei do Terror.
Para ressuscitar o grande rei dos mongóis.
Antes e depois Marte reinará por felicidade."

Nostradamus, Centúria X, quadra 72.

Incrível, Nostradamus previu a invasão de baratas na minha casa. Ele pode ter errado nos números, mas isso dá pra desculpar, eu mesmo me atrapalho às vezes, mas se tivesse lido com atenção as centúrias, teria entendido que não adiantava descarregar um Baygon inteiro no buraco de interruptor da parede, quando era claro que o terror estava logo acima.

Desmantelamos apenas uma pequena colônia de desbravadoras do oeste selvagem. O verdadeiro ninho fica dentro do teto rebaixado de gesso.

Como descobri isso? Da pior forma possível.

Havíamos chegado da praia, onde fomos farofear com o Santiago. Abri a porta do banheiro, já esperando encontrar mais algumas agonizantes, e lá estavam elas, quatro. Enfadado, procedi a limpeza com o álcool de sempre, joguei os corpos fora e entrei pro banho. Ops, tem mais uma ali, como é que eu não vi essa? Botei o balde que estamos usando para tampar o ralo em cima dela e, ligeiramente consternado, segui me ensaboando. Eis que me dei conta da presença de mais uma no chão do box, e aí comecei a me dar conta que, não, ela não estava ali há segundos atrás. "Estranho", pensei. Do ralo ela não saiu, do buraco da parede também não. Então, de onde?" Como que respondendo a minha pergunta, uma terceira despencou do teto, mais precisamente de um dos cantos do forro rebaixado de gesso, e foi só então que entendi. "Do céu vira o rei do terror".

Com a ajuda de um espelho, vistoriei a parte interna do forro. Achava que pudesse haver um buraquinho por onde elas passavam, vindas do telhado. Estava, mais uma vez, enganado. O forro inteiro apresenta longas fendas, o que significa que todo o teto do banheiro, quiçá do apartamento, é um covil periplanético.

Hoje pela manhã, comprei mais um tubão de inseticida e um dedetizador doméstico, daqueles que tu abre uma válvula e ele dispara por dois minutos. Pretendo usar o spray em todas as laterais do forro do banheiro e depois colocar o dedetizador dentro do box, no alto de uma escada de mão, logo abaixo da abertura do forro, fechada por uma camada de tinta. Com muito cuidado para que o gesso não despenque todo, pretendo retirar a entrada, do tamanho de um compacto de vinil, abrir a válvula do dedetizador, sair correndo e fechar o apartamento.

Vai ser uma noite divertida.

14/11/2005 13:18 | Comentários (12) | TrackBack (0)


A ira de Cthulhu

O encanador e faz-tudo que foi lá em casa arrumar a pia do banheiro nos deu uma descrição lovecraftiana do telhado do edifício, que fica logo acima de nossas cabeças.

Quando, há mais ou menos uns dois meses, nós reclamamos da imobiliária de uma GOTEIRA em pleno corredor do apartamento, não fazíamos idéia das forças primevas que estávamos liberando.

O pobre homem nos contou que, ao subir ao telhado para consertar a infiltração, deparou-se com dezenas de pombas mortas e montes e montes de seus cocôs. O horror, contudo, emergiu quando eles começaram a levantar as telhas: zilhões de baratas, vivas e mortas, que ali habitavam desde a aurora dos tempos. Ele disse que as vivas fugiram parede abaixo, e que as mortas foram retiradas com PÁS, várias delas.

"Jamais tinha visto coisa igual. Acho que nunca limparam lá em cima.", nos disse, o olhar perdido.

Amanhã vão dedetizar o telhado. Estou aguardando um novo EXODUS, MOVEMENT OF JAH PEOPLE*, direto pro meu apartamento.


*Czarnobai, André, apud Marley, Bob.

11/11/2005 14:54 | Comentários (10) | TrackBack (0)


Fonoaudiologia

Pegue a sua Zero Hora de hoje, abra na página 14 e leia em voz alta o lead que começa com a palavra "Judiciário".

Talvez seja só no meu jornal, nada mais me espanta, mas não custa tentar.

10/11/2005 14:38 | Comentários (13) | TrackBack (0)


Ser pai é...

...saber que o seu bebê tem conjuntivite e mesmo assim não conseguir deixar de ficar com a cara grudada na dele.

09/11/2005 12:52 | Comentários (6) | TrackBack (0)


Carma periplanético2

Estourou o cano da pia do banheiro. Agora temos que lavar as mãos e escovar os dentes no tanque, ao lado da carcaça pestilenta da máquina de lavar. Ainda não foi possível sair pra comprar outra. Enxuta, a marca, Joelma.

O Santiago está não apenas gripado, com febre e tosse de cachorro, mas também com conjuntivite. Só consegue respirar pela boca, já que ainda não tem a manha de fungar ou assoar. Acorda berrando de dez em dez minutos.

Desde sábado, toda vez que entramos no banheiro encontramos mais duas ou três, periplaneteando a esmo. Cansei de contar quantas já foram, mas acho que deve estar chegando perto de cem.

A luz do banheiro fica sempre ligada, com um pano de chão lacrando a porta. Nunca mais entraremos num banheiro com a mesma nonchalance de antigamente.

A imobiliária prometeu arrumar o cano e chamar uma dedetizadora.

As imobiliárias são as baratas do reino corporativo.

08/11/2005 20:15 | Comentários (10) | TrackBack (0)


Carma periplanético

(Triiiim)

-Firpo.

-Marcelo, olha só... a tua sogra ligou, disse que a máquina de lavar está PEGANDO FOGO e ela pediu que tu fosse correndo pra casa.

-Gaaaaaaaaaa...

Bufando pela 24 de Outubro, me desviando de carros em sentido contrário, o coração saindo pela garganta.

Quando cheguei lá, a brava mulher, que estava cuidando do Santiago e do priminho, já havia tirado da tomada de dificílimo acesso a máquina em chamas, o painel de controle uma bolha de plástico derretido, uma névoa preta na área de serviço, muita muita muita ardência nos olhos.

Fora isso, ontem de tarde, o cano da pia do banheiro se soltou da parede, alagando o chão que tinha acabado de ser faxinado.

E não, não tenho cabeça pra pensar num final engraçadinho agora, mas aceito a sua simpática sugestão.

07/11/2005 16:57 | Comentários (14) | TrackBack (0)


My life as an interahamwe*

Ao chegar em casa nesta manhã e abrir a porta do banheiro, me deparei com cerca de setenta baratas agonizantes, de todos os gêneros, estágios e tamanhos.

Mais cedo, durante a madrugada, atravessando a Nilo de carro, eu podia jurar estar ouvindo o tropel de cavalos. Eu era os quatro cavaleiros do Apocalipse num só. Ainda assim, tinha a sobriedade e o senso de dever de um miliciano hutu, que vê a atrocidade como uma simples tarefa. No banco ao meu lado, dois tubos grandes (um deles, uma pechincha: 200ml grátis!) de Baygon, mais duas caixas de iscas, para as sobreviventes.

Como tudo começou? Os indícios mais claros - se desconsiderarmos o cheiro de ovos, que volta e meia eu sentia pela casa - se revelaram nas últimas duas noites, quando nos deparamos, aqui em casa, com umas duas ou três - separadas, não de braço dado, ainda - passeando distraidamente pelo corredor. Minha mulher tem (medo? pavor? pânico? fobia patológica? Difícil encontrar uma palavra adequada aqui, todas soam por demais suaves) de barata, o que nos garantiu alguns gritos dramáticos singrando a noite do Moinhos. Ainda assim, achei que era só o caso de comprar umas iscas de caixinha, na próxima ida ao super.

Eis que ontem, depois da tempestade bíblica que acometeu a cidade, chegamos em casa fazendo piadinhas sobre a possibilidade do nosso teto de gesso ter despencado, a exemplo do que aconteceu em duas lojas do Iguatemi, apenas para nos depararmos com uma catástrofe pior. Ao nos aproximarmos do banheiro, no final do corredor, já notamos uma incomum atividade artrópoda na área, mas a piece de resistance nos aguardava no box - isso mesmo, naquele lugar em que a gente toma banho: tinha umas seis ou sete baratas por ali, nas paredes, no chão, na porta de vidro, todas peripatéticas, e olha que eu nem sei bem o que peripatético significa, mas a sonoridade me sugere algo especialmente atarantado, confuso.

Minha mulher entrou em DESCONTROLE TOTAL NÍVEL DEZ, o Santiago começou a chorar e, no corredor, interrompidos animadamente pela passagem de uma ou outra mais assanhadinha, decidimos ir dormir na casa da vovó e, na manhã seguinte, antes de voltar, passar num supermercado.

Até este momento, o body count girava em torno de doze exemplares.

Aí eu resolvi dar mais uma olhadinha no banheiro, pra tentar entender de onde elas estavam vindo - achava que era do ralo - e me senti num filme do Indiana Jones, mais precisamente no "Caçadores da Arca Perdida", mais precisamente naquela parte em que ele e o gorduchinho ficam presos num templo subterrâneo cheio de cobras e, apavorados, descobrem que as bichinhas estão entrando no recinto pelas paredes.

Pois bem: olhando com atenção para uma coluna de azulejos numa das paredes, percebi diversas anteninhas. Elas estavam em buraquinhos atrás do rejunte, e a entrada da toca era, provavelmente, um buraco de interruptor - provavelmente uma entrada de chuveiro antiga - na parede, a cerca de dois metros do chão.

Foi ali que eu resolvi tomar uma atitude bastante cármica.

Fomos, retirantes, para a casa da vovó, esperei um Santiago ligeiramente assustado com a movimentação toda dormir e me toquei para a salvação da lavoura, o Nacional 24h do Iguatemi.

Ali, entre bandos de casaizinhos comprando cerveja para a balada, adquiri minhas armas e tomei o rumo do teatro de operações. Uma e vinte da manhã.

Chegando, fui metódico. Primeiro, providenciei um chinelo velho para acalmar as mais precisadas. Depois, espalhei as iscas pelo banheiro e área de serviço, para as eventuais sobreviventes. Por último, coloquei uma camiseta em volta do pescoço e peguei o tubo grande, 500ml de pura alegria química.

Sempre ponderado, comecei pelos ralos, só por via das dúvidas. Depois das descargas, tampei-os com baldes.

Aproveitei para matar com o spray uma grandona que se refugiou sob a máquina de lavar, na área. Sabe como é, testando a pontaria.

E, por último, a zona verde.

No banheiro, dentro do box, direcionei o spray para o buraco do interruptor, protegi o nariz com a camiseta e taquei-lhe o dedo, me esquecendo das vicissitudes da vida por alguns instantes. Fui desperto do meu êxtase por duas delas, absolutamente desesperadas, que avançando CONTRA o spray, se atiraram lá de cima para a morte certa, a chineladas.

Perfeccionista, ESPRAIEI também por toda a extensão da coluna de azulejos, encharcando o rejunte, que ninguém tem a obrigação de saber, mas é aquela massinha entre os azulejos.

Voltei pra sala, nariz correndo e olhos ardendo, esperei um pouquinho e repeti a operação mais duas vezes. Depois fechei tudo - um pano de chão vedando a porta do banheiro - e fui colocar o tubão vazio ao lado do lixo.

Voltei para a vovó, dormi o sono dos assassinos e agora de manhã retornei à cena do crime, me deparando com a cena descrita no primeiro parágrafo.

Deixei o Santiago gritando no berço e, munido do chinelo, esmaguei uma a uma as aproximadamente setenta. Só não dou a contagem certa porque me perdi, fascinado com o som dos plóc-plócs.

Quando a babá chegou, disse para ela dar uma olhadinha no banheiro. A mulher, diga-se de passagem, bastante RÚSTICA, quase vomitou ao abrir a porta e sentir o cheiro, veio me mostrar seus pelinhos do braço arrepiados. Combinei com ela que eu faria o recolhimento dos corpos e que depois ela passaria clorofina em cada milímetro cúbico da peça.

Por fim, com uma sacola plástica e quantidades industriais de papel higiênico, fui primeiro AMONTOANDO e depois recolhendo as criaturinhas do bom Deus. Sei que o Bruno vai ter um troço ao ler isso, mas a sensação de pegar, mesmo envolto em uma sacola de super, uma MÃO CHEIA de baratas esmigalhadas, algumas PINGANDO por entre os dedos, tal a quantidade, e especialmente, o CONTRASTE TÁTIL entre as partes cascudas e as partes gosmentas, é realmente uma experiência que levarei até final dos meus dias.

Acho que o problema está resolvido, pelo menos por enquanto.

Mas se alguém souber de um bom apartamento de dois quartos para alugar, minha senhora agradece.


*Também odeio títulos herméticos, mas este é o nome da milícia hutu que trucidou milhares de tutsis, coincidentemente chamados de "baratas", durante a guerra civil de Ruanda.

p.s.: como trauma pós-conflito, agora vejo anteninhas por toda a parte.

05/11/2005 09:58 | Comentários (24) | TrackBack (0)