Gnalf.

Finalmente consegui baixar o "Mad Monster Party?", e já vi quase metade, me segurando pra não gritar de alegria a cada cena.

Não me lembro de nada, impressionante, nem o mais leve déjà vu, com exceção do aspecto físico de alguns personagens. Francesca certamente foi um dos primeiros amores da minha vida. Grande trilha sonora, também.

Não vejo a hora do Santiago saber o que é um vampiro, um lobisomem, uma múmia e um frankenstein, pra poder ver com ele.

A entrega do prêmio foi ontem. Este filme rodou antes. Foi divertido.

Produção da Cápsula e Technologica, trilha do Cardoso.

Alguém já leu este aqui? Fiquei com vontade de comprar.

Depois do almoço, Santiago caindo de sono, a babá tenta naná-lo. Desiste depois de uns vinte minutos. Deixa-o assistindo um pouco de TV.

Dali a pouco, a faxineira passa pelo quarto e vê que ele está com muito sono, mas segue sentado.

"Santiago, por que tu não dorme?"

"Não posso. Tô de tênis."

* * *

Epílogo: a babá volta, tira os tênis e ele sucumbe instantaneamente.

Pós-escrito: lembrei de mim mesmo, no jardim de infância. Uns estudantes de jornalismo visitaram o Pato Donald para entrevistar as crianças. Perguntaram pra elas o que era morrer. Depois de tentar morder a espuma do microfone, respondi que era "dormir de sapato".

Vamos viajar. Eu, mulher e filho. Fim do mês. Inferno sobre a terra, vai ser. Nunca viajei com um filho antes. Em prol da minha coluna, preciso arrumar um carrinho pra ele. Apesar de tudo, acho que estou fazendo a coisa certa. Pelo menos não arrastarei correntes pelas ruas morrendo de saudades, como da última vez. Passagem de um bebê de dois anos=75% do preço de um adulto. Hotéis em vez de albergues. Mais de uma refeição por dia. Pedirei concordata na volta.

Um caminhante num caminho.

Um dia pretendo fazê-lo, também.

Não por fé nem nada, só por fazer mesmo.

Só porque o caminho está lá.

Com Santiago, é claro.

Assalto ao Banrisul perto da minha casa.

Tiroteio comendo entre seguranças e ladrões, Santiago declara:

"Gol do Inter."

Vai ser um dia interessante quando de manhãzinha você entreouve um sujeito de terno conversando com uma florista e testemunhando que "...eu fui da macumba por doze anos".

Já se foram há muito os dias em que eu achava que entendia um pouco de música e conhecia bandas novas. Hoje fico sabendo das novidades depois que já viraram trilha de novela, entre uma fralda trocada e outra.

Isso evidentemente não me impede de comentar coisas que acabei de descobrir.

Essas cocorosies, por exemplo. Primeiro li o nome delas na Vogue da babá, parece que foram a trilha de algum desfile. Depois, pude ouvi-las durante uma filmagem.

Baixei dois discos delas agora. Lembra um pouco Yann Tiersen. Lembra um pouco bandinhas que eu garimpava nos anos 90, tipo Kissyfur. E o mais legal é que no site tem indicações de outras bandas ou projetos legais.

UPDATE: Chega de ser blasé. Depois de ouvir durante uns dez minutos, estou em chamas. Santiago vai achar meio esquisito, mas vou ouvir isso o final de semana inteiro.

Pensando bem, tudo o que o Santiago ouve deve soar esquisito pra ele.

Boa a sensação de acordar, olhar pela janela e saber que, até onde a vista alcança, é tudo meu.

Poderia pintar o obelisco de Buenos Aires de fúcsia, se quisesse.

Poderia construir um estacionamento no lugar de Machu Picchu.

E o melhor é que isso está acontecendo agora, 2006, não em 1981 ou em 1812.

Agora.

Ok, estou indo pra casa me concentrar.

Realmente difícil trabalhar hoje.

Gol do Rentería, vai por mim.

Almoçando no shopping, bandeja na mão, todas as mesas cheias. Percebo que um velhinho está se preparando para se levantar. Ele tem uns 75 anos, franzino, usa boina, óculos, sobretudo, calças cinza e tênis de corrida branco.

Chego perto, pergunto se ele está saindo, me confirma, me sento. Ele recolhe de cima da mesa suas coisas.

Suas coisas: uma capanguinha de couro e um taser, com alça. Como o artefato bélico é a última coisa que ele retira da mesa, posso olhar com cuidado pra me certificar. Ele sai caminhando, a alça em volta do pulso, o taser sempre a postos na mão direita.

Passo por ele na rua de novo, uma hora e meia depois, voltando pro trabalho. Segue com o objeto na mão.

Eu daqui a 45 anos.

Caminhando pro trabalho passo por um sujeito de terno e gravata, bem alinhado, grisalho. Ele tem barba, bigode e cabelos em metade do rosto e da cabeça, e a outra metade pelada. A meia-barba e o meio-bigode são bem grandes, assim como o comprimento dos cabelos. O outro lado está raspado rente.

Não pensei em nenhuma psicopatologia.

Pensei na final da Libertadores.

A estatueta que eu acabo de ver no meu oftalmologista: colocada num nicho de estante projetada, bem na entrada do consultório, com uma luzinha instalada dentro do próprio nicho, mede cerca de 60 centímetros de altura por 30 largura e uns 20 de profundidade. Branca-leitosa, esculpida talvez em pedra-sabão, apresenta três personagens, conforme descritos a seguir:

DOUTOR: alto e imponente, está de pé e usa um avental comprido (e este é, na verdade, o único dado a indicar objetivamente sua opção vocacional pela Medicina, já que não porta estetoscópio ou aquelas luzinhas de cabeça tão comuns na descrição-padrão de um médico). Seu braço direito está estendido em linha reta e diagonal, para frente e para baixo, por motivos que explicaremos melhor a seguir. Seu braço esquerdo enlaça o corpo da segunda personagem, que vem a ser a

MULHER PELADA AGONIZANTE: Uma mulher, condição cromossômica facilmente apreensível pelos cabelos compridos - que inclusive tapam seu rosto, um tanto quanto aconchegado no peito do Doutor - se não principalmente pelos seios desnudos e de boas formas, como desnudo e de boas formas o é também o resto do seu corpo. A Mulher Pelada Agonizante tem os dois pés cravados no chão, mas está em ângulo ligeiramente diagonal, joelhos flexionados, como que semidesfalecida e apoiada pelo Doutor. Seu braço esquerdo, inclusive, segura o ombro direito do médico, e aqui voltamos a explicar o porquê deste último estar estendido em linha reta e diagonal, para frente e para baixo: sua mão repousa sobre a cabeça do terceiro personagem do nosso drama, que vem a ser o

ESQUELETO AJOELHADO: Semi-ajoelhado, se quisermos ser realmente acurados, haja visto que o Esqueleto tem o pé esquerdo plantado no chão, com o joelho flexionado em noventa graus, enquanto que a perna direita, esta sim, está realmente ajoelhada. Sua coluna vertebral, absolutamente visível pelo fato dele ser um esqueleto em carne e osso (por deslocada que soe aqui esta figura de linguagem) está ligeiramente flexionada, dando-lhe um aspecto servil. Seu braço esquerdo abraça as coxas da Mulher Pelada Agonizante, enquanto que sua mão direita se encontra com a mão esquerda do Doutor, junto à cintura da já citada fêmea. Sua cabeça baixa, por sua vez, ao mesmo tempo em que repousa sobre a coxa esquerda da mulher, é tocada pela mão direita do médico, a mesma do braço estendido em linha reta e diagonal, para frente e para baixo, do qual viemos falando há tempos. O Doutor parece repelir o Esqueleto Ajoelhado, empurrando a sua cabeça, mas também é possível interpretar a mão repousada no crânio como um carinho casual.

Acreditamos que o autor tenha pretendido, com esta alegoria, demonstrar que o trabalho heróico do médico é afastar o espectro da morte de seus pacientes.

Por outro lado, e aqui esta observação deve ser encarada como uma crítica construtiva, ficou parecendo muito, mas muito mesmo, uma escultura mostrando uma suruba num baile de carnaval, na qual um entusiasta do cross dressing e um sujeito fantasiado de esqueleto se aproveitam de uma bêbada.

Jostein Gaarder, autor do ubíquo "Mundo de Sofia", escreveu um artigo/panfleto/manifesto num jornal da Noruega comparando o governo de Israel ao apartheid sul-africano e ao governo sérvio circa Milosevic.

Foi acusado de ter escrito "a coisa mais medonha" desde o "Mein Kampf".

Complicadíssima essa confusão entre judaísmo e sionismo, é o que eu digo.

Massa esse negócio de conviver.

Tava pensando nisso hoje às quatro da manhã, atravessando a pé a 24 de Outubro, depois de uma garrafa de vinho com os insanus.

Preciso quase explodir mais vezes.

Nove horas da manhã, Santiago sai com a babá para ir no supermercado.

Olha pra mim muito sério e diz:

"Até amanhã."

Fui ver "Suíte Habana" ontem, finalmente.

Gostei, apesar das altíssimas expectativas. É um documentário que mostra um dia e uma noite de vários cubanos, praticamente sem diálogos, só com música e barulhinhos. É um filme que se vê num estado de atenção meio diferente, já que não há propriamente uma história a se seguir. É cinema como se pensava cinema lá no começo, aquela coisa de ficar simplesmente olhando as imagens de operários saindo das fábricas, locomotivas chegando e cenas do cotidiano. Não é chato, em absoluto.

No começo, cheguei a duvidar que ia rolar qualquer tipo de empatia com os personagens, justamente por saber que esta era a intenção do filme. No final estava chorando.

Muito interessante também o fato das pessoas serem tão indigentes quanto nós, mas viverem relativamente despreocupadas em relação à violência urbana.

Estava meio gripado antes de ir pra São Paulo, no domingo. Tosse, rouquidão, muco etc etc etc.

Depois de mais ou menos seis horas lá já estava curado. Talvez os germes não tenham resistido à qualidade do ar, mas eu apostaria minhas fichas todas em outro fator: umidade, ou no caso, falta de.

Foi chegar em Porto Alegre e me aterrorizar com a diferença: papel higiênico úmido, lençois úmidos, água escorrendo pelos azulejos do banheiro, as mãos grudentas, a pele viscosa. E, claro, tosse, rouquidão, muco etc etc etc.

Só uma pessoa muito burra escolheria esta charneca dos infernos pra fundar uma cidade.

Estou em São Paulo.

Vi um filme muito ruim, ontem, "A Assombração". Pretendo ver "A Criança" dentro de alguns minutos. Estou vendo filmes em ordem alfabética agora.

A maior diferença de São Paulo pra Porto Alegre são os motoristas de táxi. Os daqui arredondam as contas para baixo. Se não têm troco, a vantagem é sempre do passageiro. Somos uma terra de toscos, mesmo.

Preciso sair agora, tem uns caras querendo botar fogo no cybercafé.

UPDATES: Hermano e Tina, não consegui falar com vocês, já voltei pra roça.

Cheguei e já fui garfado em um real pelo taxista. Não é nem pela grana, mas a diferença na forma de encarar o trabalho é aterradora.

"A Criança" é muito legal.

Incendiamos o banheiro do Libertad.

Santiago, ontem de noite, antes de dormir, pede com sinais que eu retire alguma coisa de dentro da sua boca.

Vou conferir e acho uma pataca de um real.

Aguardo com ansiedade os dólares.

Saindo pra agência. Dou um beijo no Santiago e digo:

"Papai vai trabalhar."

Ele faz a cara mais pidona do mundo e articula:

"Santiago tabaiá junto?"