por Marcelo Firpo

links
Czar
Nihil
Galera, o jovem
Galera, o velho
Martelo
M.O. Joe
Insanus
Bensi
Válvula
Medina
Não irei
Prop
Livros
Organá
R.I.P.

arquivos
novembro 2008
outubro 2008
setembro 2008
agosto 2008
julho 2008
junho 2008
maio 2008
abril 2008
março 2008
fevereiro 2008
janeiro 2008
dezembro 2007
novembro 2007
outubro 2007
setembro 2007
agosto 2007
julho 2007
junho 2007
maio 2007
abril 2007
março 2007
fevereiro 2007
janeiro 2007
dezembro 2006
novembro 2006
outubro 2006
setembro 2006
agosto 2006
julho 2006
junho 2006
maio 2006
abril 2006
março 2006
fevereiro 2006
janeiro 2006
dezembro 2005
novembro 2005
outubro 2005
setembro 2005
agosto 2005
julho 2005
junho 2005
maio 2005
abril 2005
março 2005

categorias





« novembro 2006 | principal | janeiro 2007 »

Hoje

Acordo com o Santiago me chamando do quarto dele. Tento fazer com que durma mais um pouco. Desisto. Dou Nescau de caixinha pra ele. Vemos um pouco de TV, Backyardigans. Depois, andamos de bicicleta no Parcão e adjacências. Santiago se molha completamente nos bebedores. Voltamos pa casa, mamãe já acordou. Vamos no shopping almoçar. Mostro a decoração de Natal do Moinhos pro meu filho. Pegamos comida pra levar pra mamãe. Voltamos pra casa. Tentamos dar um tempo, mas Santiago está meio manhoso. Levo minha mulher pro trabalho. Deixo o Santiago na casa da minha mãe. Vou pro Praia de Belas, trocar um vale da Saraiva. Fico em dúvida entre "Os Detetives Selvagens" e "Cloud Atlas". Escolho o segundo, por ser no idioma original e por lembrar vagamente de um comentário positivo do Galera. Procuro por sungas. Acho só uns calções pra correr, também necessários. Como um sanduíche horrível da Feira da Fruta, acompanhado de um bom suco de morango, do mesmo lugar. Fico uns quinze minutos lamentando o sanduíche. Vou no Big Cristal fazer o rancho. Compro umas havaianas, também. E dois tenders pra festa de final de ano. Trago tudo pra casa. Guardo cada coisa em seu lugar. Deito por alguns minutos no sofá. Pés latejam. Tento não pensar muito. Pego meu celular pra ver se alguém ligou. Recado da minha mãe: caiu um poste de luz na rua dela, está sem luz. Ligo e combino de ir buscar o Santiago em meia hora. Queria que ele dormisse lá esta noite, pra jantar fora e talvez ir no cinema, mas sem luz na casa da vovó não dá. Saio pra dar uma corrida. Atravesso as ladeiras do Rio Branco como um fantasma. Ninguém por perto, atmosfera de sonho. Corro menos de vinte minutos, porque já escurece. Vou buscar o Santiago e quando chego lá a rua está um breu. Deixo o carro com o pisca-alerta ligado, subo sete andares de escada e depois desço com o Santiago no escuro, muito cuidado para não errar nenhum degrau. Busco minha mulher no trabalho. Chegamos em casa, tomo banho. Tento ler jornal na cama, Santiago fica brincando de me dar sustos, muitas e muitas vezes. Eu também costumava fazer isso com o meu pai. Pedimos massa, a maioria dos restaurantes já não funciona. Santiago come todos os meus camarões. Ficamos vendo desenhos, Lazy Town. Meu filho esmigalha repetidas vezes minha orelha com a mão. Vai diminuindo a pressão, até que dorme. Aproveito para cortar as suas unhas, dos pés e das mãos. Comento com a minha mulher como é estranho tanto tempo ter passado e o Santiago já estar usando cuecas durante dia. Ela coloca a fralda noturna nele, eu o levo até a sua caminha. Tomo mais suco. Escovo os dentes. Resolvo escrever um post. Desligo o computador e vou me deitar com a minha mulher.

Feliz aniversário.

30/12/2006 21:52 | Comentários (6) | TrackBack (0)


Retro

Tirando o Inter campeão do mundo, quais foram as coisas mais legais de 2006?

Tirando a partida do Gabriel, quais foram as coisas menos legais de 2006?

Vale tudo: acontecimento, filme, livro, música e até propaganda.

Vamos lá, gerem conteúdo aí.

Prometo fazer a minha depois.

29/12/2006 08:07 | Comentários (7) | TrackBack (0)


Parole

A cada dia que passa Santiago concatena melhor as palavras e monta frases mais interessantes. E os progressos são, por incrível que pareça, perceptíveis de um dia para o outro. Hoje de manhã mesmo ele acordou e me disse qualquer coisa sobre ligar a TV pra ver o DVD, mas construído de tal forma que eu fiquei pasmo, tipo "tu não falava desse jeito até ontem."

O mais legal, contudo, são as expressões que ele recolhe aqui e ali, de pessoas completas diferentes, e acrescenta ao próprio discurso. Coisas tipo:

"Eu quero tomar suco, pelamordedeus.", como se ele estivesse suplicando por isso há horas, mas na verdade apenas usando a expressão final como um reforço ou mesmo um "por favor". Na real, ele tem usado o "pelamordedeus" pra todo e qualquer pedido, como se tudo fosse urgente.

Quando ele pedia que eu o jogasse pra cima ou qualquer coisa esfalfante do tipo, eu costumava dizer "última vez", pra marcar que já estava cansado e, depois daquela vez, não teria mais. Agora, quando tenho que sair pra trabalhar e ele quer que eu fique brincando mais um pouco, sempre apela pro mesmo recurso, "Última vez", às vezes mesmo acompanhado do "pelamordedeus". Como não se atrasar?

As conclusões são interessantes, também. Estes dias, depois de sapatear repetidas vezes sobre uma pobre formiga, ele olhou pra mim e disse: "Agora tá nanando."

27/12/2006 14:54 | Comentários (10) | TrackBack (0)


Decantamento

Casa se arrumando aos pouquinhos, faltam agora praticamente só os livros e os CDs (e a estante de CDs soa cada vez mais como uma estante de fitas cassete). Telefone e internet devem chegar na sexta. A água segue fedida, mas resolvemos meio que esperar pelas grandes obras de janeiro, pra ver se melhora e o quanto melhora. O silêncio é realmente uma coisa legal, e há um pátio grande para levar o Santiago no final da tarde, jogamos bola ontem.

Fiquei vendo um documentário sobre o Gilberto Gil, ontem. Nem gosto tanto assim, mas o fato de quase todas as músicas serem apresentadas só com voz e violão me manteve assistindo. O que me constrange um pouco na obra dele e de outros medalhões da MPB são os temíveis arranjos do final dos anos setenta e começo dos oitenta, aqueles teclados. Boa parte se passava em Salvador, com bate-papos com uma mãe-de-santo, familiares, Jorge Amado e Pierre Verger, e também passeios pela beira do mar e uma visita ao cafundó onde ele nasceu, itanhaçu ou algo parecido. Paisagens boas de olhar, calmantes, vento, árvores, praias, praças, espaços abertos, casas antigas e arejadas. Um pouco de inveja. Quem sabe um dia.

27/12/2006 09:37 | Comentários (1) | TrackBack (0)


We´ll aim for the stars

Isso aqui me lembrou muito o Insanus. Mas muito mesmo.

26/12/2006 15:02 | Comentários (9) | TrackBack (0)


Desanuviando

Linda canção. Peguei lá do Sanduíche de Anzóis.

26/12/2006 10:26 | Comentários (1) | TrackBack (0)


Caos na terra aos homens de boa vontade

Mudança. Eu posso entender o conceito da mudança e me adaptar a ele. Já fiz isso várias vezes. Consiste basicamente em pegar todas as coisas de uma casa, encaixotar, levar para outra casa, desencaixotar, remontar tudo e fazer a contabilidade do prejuízo. Paralelamente, se pinta e se arruma a casa antiga e devolve pra imobiliária. Isso é relativamente simples. Claro, a gente acaba acrescentando alguns complicadores, talvez pra deixar tudo mais interessante, ou talvez por necessidade mesmo. O apartamento antigo era cheio de armários embutidos, por exemplo, e este novo não, então nada mais natural que comprar dois roupeiros novos. Não muito natural é a loja mandar uma equipe formada por UMA pessoa, que chega às 16:30 e sai um pouco depois de 00:30, isto é, OITO horas depois, e tu ter que ficar lá, esperando, tu e o teu filho de três anos incompletos, vendo e revendo todos os DVDs de desenhos e animações de massinha disponíveis. Mas enfim, são as vicissitudes do sistema, uma equipe de montadores de roupeiro maior sairia mais caro, ou cada trabalhador receberia uma remuneração menor etc etc etc. O que eu quero dizer é que tudo isso eu entendo, é do jogo. O fato da madeira dos móveis novos parecer ter sido tratada com isótopos radioativos, e feder por dias a fio, irritando olhos e garganta, também é do jogo.

O que realmente me incomoda é o que aconteceu desta vez. A sensação de, logo depois de ter chegado, se sentir a pessoa mais azarada do mundo, ou talvez a mais otária.

Já morei em apartamentos barulhentos, já sobrevivi a uma infestação massiva de baratas, já fui até brindado com crianças que jogavam basquete no andar de cima com algo que soava como um tijolo. Desta vez, entretanto, sinto que foi um pouco demais.

Água. Enferrujada.

O apartamento ficou fechado por quatro meses e, aparentemente, a água enferrujou os canos. Estranhamente, os canos são de ferro, mas o edifício não é antigo. Seria basicamente um problema de deixar as torneiras abertas por algumas horas, para a sujeira sair, mas não parece ser o caso.

Ontem de noite, pela quarta ou quinta vez, abrimos todas as torneiras da casa. Uma toalha branca que estava pendurada no box ficou laranja.

Além do problema do meu apartamento em si, a ferrugem parace ser uma issue em todo o condomínio. Conversando com o síndico, ele nos disse que a troca de todo o encanamento superior já está agendada para janeiro, também pelo problema da ferrugem. Em suma, é um problema dentro de outro.

Sério, nem se tivesse descoberto uma infestação de capivaras no forro da cozinha teria ficado tão cansado.

No apartamento anterior, nos demos conta um pouco tarde demais do barulho proporcionado pela confluência da 24 de Outubro com a Bordini. Foi uma sensação ruim, também, mas em poucos dias já estávamos meio surdos, então tudo bem. Desta vez é um pouco diferente.

Cada banho, cada escovada de dentes, cada lavagem de mãos é um pequeno suplício. A pele fica pegajosa, e respirar o vapor d´água quente no banho não parece ser uma das dez atividades mais saudáveis. Banhos do Santiago proibidos, porque volta e meia ele tomava a água da banheira no antigo apartamento.

Então é isso: vamos desencaixotar tudo, instalar a net, a internet, o telefone, a máquina de lavar, colocar os livros nas estantes e as roupas nos roupeiros, mas mesmo depois de tudo arrumadinho, ainda teremos essa vaga sensação de estar acampados. Dia e noite a água corre das torneiras, mas a cada vez que precisamos dela, é fácil perceber que ainda não está boa, e sente-se que dificilmente ficará.

Vontade de comprar um apartamento, um jk que seja, pra pelo menos, se der algum problema estrutural deste tipo, ser o meu problema estrutural, que eu vou ter que resolver e pronto, sem ter que ficar brigando com proprietário e imobiliária, ou amarrado a um contrato que prevê multas em caso de quebra e iadaiadaiada.

Muito azar. É difícil acreditar que um prédio tão bom ainda tenha um sistema de encanamento da Idade Média.

Não sei bem o que fazer, essa é a verdade.

26/12/2006 08:34 | Comentários (19) | TrackBack (0)


Neve artificial

No ano passado, por esta época, eu estava congelando o meu traseiro em Nova York. Não digo isso pra me exibir, até porque faria mais sentido me exibir se eu estivesse agora lá, e não em Porto Alegre, muito menos no meio de uma mudança. Digo isso porque lá, pela primeira vez, essa parafernália toda do Natal fez algum sentido pra mim. Não era nem o fato de estar distante da minha família, saudades etc etc etc. Era mais um sentido estético, mesmo. As árvores de Natal com luzinhas e neve, as roupas pesadas do Papai Noel, trenós, renas, as frutas cristalizadas, o brilho das embalagens de presentes e adornos como um alívio para a escuridão acinzentada do inverno, a própria festa em si como uma celebração de vida em meio ao frio, à neve e também à solidão própria da estação. Ali, naquele lugar e com aquele clima, tudo isso fazia um sentido que por aqui meio que se perde ou se transforma noutra coisa. Quero dizer: a chegada do verão já é uma festa em si, não precisaria de muito mais. Não que eu ache que o nosso Papai Noel devesse vestir bermudas e dizer "anauê" em vez de "ho,ho,ho". É só que essa pequena variação climática confere à festa toda um caráter um pouquinho mais surrealista do que o esperado, fica parecendo uma espécie de pré-carnaval.

Posto isso, Feliz Natal pra todo mundo.

22/12/2006 09:46 | Comentários (3) | TrackBack (0)


Ch-ch-ch-changes

Mais uma mudança na vida da pessoa. Amanhã, oito da manhã, começa a função. É o nono apartamento em que vou morar desde que saí da casa dos meus pais. Estávamos só esperando fechar um ano de contrato do atual para sair, porque ele é muito, muito barulhento, e também poluído, porque fica numa esquina especialmente movimentada. Santiago está sempre com os pés pretos de fuligem, às vezes me sinto morando na Londres da Revolução Industrial. Mas por que foi pra lá então, mané? Por causa do grande êxodo das baratas, é claro. Tivemos que alugar um apartamento às pressas, sem ligar pra amenidades tipo barulho e poluição. Agora, não. Quando começou a chegar perto de um ano de contrato, a partir do qual estamos livres para sair sem pagar multas, começamos a procurar, com relativa calma. É impressionante como criança faz a gente mudar de idéia sobre algumas prioridades na hora de escolher um apartamento. Agora, por exemplo, tem que ter uma pracinha por perto. E portaria. E tem que ficar perto de algum ônibus que leve a babá pra casa. Fora isso, algumas providências extras: redes nas janelas e na sacada, por exemplo. Ter filhos é basicamente logística e estratégia. Santiago, ao entrar no apartamento novo e ainda vazio, disse "Que bonito essa casinha."

21/12/2006 08:17 | Comentários (12) | TrackBack (0)


Manhã flamejante

Teve um final de tarde em que eu cheguei em casa, o Inter ainda nem pensava em ganhar a Libertadores, e o zelador do prédio, colorado doente, veio falar comigo muito sério: "Marcelo, tu viu o grito da torcida do Barcelona?" "Não", respondi, incauto. "' Colorado, pode esperar, a tua hora vai chegar.' Pra que isso, né?" Naquela hora, quando esta final era ainda um fiapo de esperança, foi um comentário muito engraçado, um pouco de surrealismo, um pouco de provincianismo, me lembro de ter passado adiante para várias outras pessoas. Era, a bem dizer, uma piada.

Domingo. Santiago foi dormir na vovó, porque sabíamos que ia ser uma noite de muito foguetório e buzinaço nas imediações da Goethe. Me revirei na cama durante muitas horas, um pouco pelo barulho mesmo, mas também por nervosismo. Ao contrário da maioria da torcida, achava que era meio certo que o Inter ganharia. Nem mesmo assisti Barcelona x América, para não contaminar minhas convicções. Consegui dormir um pouco a partir das cinco da manhã, quando a cidade ficou subitamente silenciosa. Dormi demais, porque quando acordei já era oito e quinze. Me vesti às pressas, tomei um copo de água, peguei o carro e fui pra Goethe. No caminho, curto, escutei pelo rádio os primeiros movimentos da partida. Estacionei do outro lado do parque, na Comendador Caminha, e atravessei um bom pedaço de chão absolutamente deserto, um mar de silêncio. À medida em que me aproximava da passarela da Goethe é que comecei a enxergar pessoas, e todas pareciam muito apressadas, tentando se posicionar entre as árvores, para enxergar nem que fosse um pedaço do telão.

Atravessei a passarela só pra ver a imensidão vermelha que tomava a rua e depois retornei, com o objetivo de me embrenhar nos morrinhos de macegas que margeiam a Goethe e dali ter algum tipo de visão da partida. No caminho de volta, passei por uma senhora que deveria ter uns cento e trinta anos, numa cadeira de rodas, empurrada por uma enfermeira. Na sua mão absurdamente enrugada, uma bandeirinha colorada. Foi o primeiro momento em que fiquei com os olhos cheios d´água. Ganhem por esta velha, foi o que eu pensei na hora.

Não consigo me lembrar muito dos lances da partida em si, apenas das ondas de alegria, alívio e indignação que se sucediam, cada vez que o Barça errava um passe ou chute ou o juiz marcava alguma coisa. Tentei praticar um pouco de sociologia, observar os tipos humanos, me dar conta de que pessoas muito diferentes interagiam afu naquele momento, mas não consegui. A tela mandava em tudo. Quando o Fernandão saiu, o Índio quebrou o nariz e aquele Xavi começou a fazer misérias no ataque, decidi que não conseguiria ver o final da partida no meio daquela gente. Se o Barça fizesse um gol, a tristeza coletiva seria avassaladora, e eu não queria testemunhá-la. Fora isso, sentia falta de uma narração do jogo, uma narração de rádio.

Decidi, então, que correria de volta até o carro e lá ficaria ouvindo a partida até o final. Saí das macegas e comecei a correr por entre as árvores, de volta. Quando estava no meio do caminho, a explosão. Parei, desnorteado, no meio do areião, tentando refletir se aqueles gritos eram realmente de alegria ou de mais indignação. Aí escutei os foguetes. Quando me dei conta, corria de volta para a Goethe, onde moradores da Restinga recebiam abraços afetuosos de moradores da Bela Vista. Um representante das classes menos favorecidas deste país me disse: "O Gabiru queimou a minha língua!" Ainda assim, ele parecia feliz. Ao meu lado, marmanjos choravam como crianças. Imaginei por um instante a senhora de cento e trinta anos se levantando da cadeira de rodas e fazendo dancinhas.

Mais uma vez, com medo de uma última reviravolta e achando que aquilo tudo era emocionante demais, resolvi voltar pro carro. Assisti, solitário, no conforto de um Peugeot preto estacionado ao sol, os últimos dez minutos. Quando terminou, atravessei de novo o parque aos gritos e em chamas, lembrando-me do meu avô, Santiago como o meu filho, ex-cruzeirense, a pessoa mais doce que eu tive a oportunidade de conhecer na vida, e que dizia torcer sempre por dois times, "o colorado e aquele que jogar contra o Grêmio".

No meio daquela bagunça toda, foguetes, garrafas plásticas e tampas de isopor voando aos céus, imaginar a felicidade que ele sentiria naquele momento foi o jeito de me sentir, eu mesmo, feliz.

18/12/2006 08:50 | Comentários (14) | TrackBack (0)


Apolíneo

Minha irmã deu à luz uma priminha para o Santiago. Durante a gravidez, procuramos explicar pra ele que a titia estava com a barriga grande porque tinha um nenê dentro dela.

Hoje de manhã, estou tomando banho, Santiago entra no banheiro. Me olha um pouco e pergunta:

-Tu também tem nenê na baíga?

15/12/2006 21:41 | Comentários (11) | TrackBack (0)


Le Parkour

Se tem uma coisa que eu achei massa no Casino Royale foi a perseguição no começo do filme, inspirada no parkour. Depois, pesquisando um pouquinho, descobri que o fabricante de bombas perseguido pelo Bond é Sébastien Foucan, um dos criadores de uma dissidência mais estetizada, o free running. Abaixo um dos vídeos que eu catei ontem, começa meio chatinho, mas melhora bastante depois de dois minutos:

Massa, né? Me deu vontade de fazer, tem uns guris que treinam isso no Parcão de vez em quando.

Hm, pensando bem, deixa pra lá.

15/12/2006 08:00 | Comentários (3) | TrackBack (0)


Royale

Antes escrever sobre o filme do 007 que eu vi ontem, preciso evocar o Falcão Azul e o Bionicão.

O Falcão Azul e o Bionicão eram dois personagens da linha de montagem de desenhos desanimados Hanna-Barbera, que eu via na casa da vovó, comendo sanduíche de carne de panela, requeijão, queijo chisi, tomate e alface, ali pela metade final dos anos 70. Eu gostava do Falcão Azul, que estava para os ornitópteros como o Batman estava para os morcegos. Era um herói sério, tinha equipamentos legais, se não me engano até um avião a jato, boa voz, boa dicção. Por outro lado, o Bionicão, que era a versão ciborgue do Scooby-doo, me enervava profundamente, sempre fazendo micagens e se atrapalhando com as suas patas hidráulicas e outros recursos tecnológicos. Lembro até hoje da voz de locutor standard do Falcão Azul repreendendo seu parceiro na luta contra o crime: "Não faça isso, Bi-o-ni-cão" ou "Saia de cima de mim, Bi-o-ni-cão." Me angustiava muito com o fato do Falcão Azul ter que aturar aquele cachorro palerma. Ficava imaginando por que ele não o demitia e chamava um cachorro mais profissional para ajudá-lo. Eu era uma criança muito séria.

Posto isso, me sinto à vontade em dizer que este 007 é um dos melhores que eu já vi. Não é apenas que finalmente tenham achado um ator à altura; a própria escolha deste ator já denota uma mudança sensível na condução da franquia. Daniel Craig parece um agente secreto russo, tipo esse que foi envenenado há pouco, ou talvez um psicopata contumaz, e tem mais carisma do que todos os últimos zé-ruelas que desempenharam o papel nas últimas décadas juntos. Ouso dizer mesmo que me parece sensivelmente superior aos 007 clássicos. Parece bem à vontade no papel, isto é, dá a impressão de que vai passar o resto da vida fazendo isso, o que, ainda que não venha a acontecer, é uma coisa boa. Em outras palavras, leva o que está fazendo a sério. Acho que boa parte do fracasso da franquia nos últimos tempos foi ter se embretado numa espiral de auto-ironia contínua: os badulaques tecnológicos, o senso de humor exacerbado, os vilões de opereta querendo conquistar o mundo, escapadas mirabolantes montanha de neve abaixo num violoncelo improvisado como trenó. E não deixa de ser irônico que o filme que muda completamente esta perspectiva seja justamente a refilmagem de Cassino Royale, que era uma comédia destoante, apócrifa, quase um espantalho, um alerta de onde 007 poderia parar. Claro, ainda existem alguns excessos, como a UTI móvel no porta-luvas, e há também o problema do vilão não provocar nem de longe tanto medo quanto próprio Bond, mas isso não chega a incomodar.

Vi ontem, numa pré-estréia (valeu, Ana), e por estranho que possa parecer, as pessoas aplaudiram no final.

14/12/2006 08:04 | Comentários (7) | TrackBack (0)


Salvo hecatombes

Filmes que eu pretendo muito assistir nos próximos meses:

Inland Empire, David Lynch

Lady Vengeance, do mesmo doente que dirigiu Old Boy.

300, dirigido não sei por quem, guiado por Frank Miller.

Ah, e esse 007 novo não parece ser nada mau.

Ah2, espero de coração que consigam lançar o filme da Morte ainda neste século. Depois disso não garanto a presença.

E vocês, miguinhos?

12/12/2006 12:56 | Comentários (11) | TrackBack (0)


Reflexão post-post

Sobre o post abaixo, acredito que no fundo talvez até seja uma atitude saudável ter medo ou pelo menos um certo receio de um sujeito de roupas espalhafatosas que gosta de colocar criancinhas no seu colo e prometer presentes pra elas.

10/12/2006 19:25 | Comentários (2) | TrackBack (0)


Santiago versus Papai Noel

Fui almoçar no shopping com o Santiago, mais precisamente no El Fuego, porque precisava encher um prato de comida, sentá-lo numa cadeirinha de bebê e fazê-lo comer de forma mais ou menos tranqüila. Praças de alimentação não costumam funcionar muito bem, porque ele se distrai e acaba não comendo nada. Como ele tinha me acordado às sete da manhã e às oito já estávamos na rua, andando de bicicleta, e como de praxe o único item consumido antes de sair tinha sido um Nescau de caixinha tetrapack, achei que não podia arriscar no almoço.

Enchi um prato combinando coisas pra mim e pra ele (polenta, ovos de codorna, mini-espigas de milho em conserva e ervilhas, acho que você entendeu, coisas divertidas), mais um peito inteiro de frango. Fui servindo, ele muito interessado nos ovos e na polenta, especialmente, mas comendo também um bom terço do frango e intercalando com ataques ao canudinho de suco "Santiago-pega-sozinho" de laranja.

Teve uma hora em que ele começou a recusar a comida e parecia mais interessado em brincar com as ervilhas. À minha argumentação de que ele deveria comê-las, Santiago rebatia com "não é pra comer boinha", que vem a ser precisamente a frase que eu uso em casa, quando ele brinca com alguma bolinha de plástico que tenha a mais remota chance de ser engolida e engasgada.

Depois que eu comi, paguei a conta e o garçom veio retirar os pratos, Santiago foi tomado por intensa indignação. Achei que tinha a ver com o fato das ervilhas divertidas terem ido embora, mas ele ficava repetindo "qué comê mais!" Meio incrédulo, pedi pra trazerem mais um bife, que ele comeu sozinho (mesmo que a todo o tempo eu ficasse fingindo que a garfada era pra mim, fazendo com que ele a roubasse. Poucas coisas são tão prazerosas para um filho pequeno quanto achar que está sacaneando seu pobre pai).

Finalmente saímos e, do vão da escada do segundo andar do shopping, percebi que o Papai Noel estava sentado em sua poltrona vermelha, à frente da árvore de Natal, no térreo. Disse para Santiago que estávamos descendo para ver o Papai-Noel-que-traz-presente, no que fui saudado por interesse e sorrisos. Pequeno parêntese: começo a ficar meio preocupado com a monomania dos presentes. Pela manhã, ao falar com a avó ao telefone, sua primeira pergunta,logo após o "Aô" foi "Tem pesente?".

Descemos pela escada rolante, nos aproximamos da poltrona e, assim que algumas crianças e pais saíram da frente, mostrei ao Santiago o Papai Noel em toda sua magnificência. Isto é, fiz uma honesta tentativa. Em meu colo, Santiago não apenas se esforçava para olhar para qualquer lado que não fosse o do Papai Noel, como também fingia não ouvir meus incentivos para que interagisse com o legendário velhote. Pra ser bem sincero, ele me lembrava um daqueles ímãs com polaridades afins, isto é, aqueles lados que eletromagneticamente se repelem a todo custo. Tentei virar me próprio corpo, isto é, eu ficar de costas para o Papai Noel para que Santiago ficasse de frente, mas ele se contorcia e dava um jeito de evitar qualquer contato visual com o sujeito. No rosto,uma expressão férrea do mais estudado desinteresse. Não parecia que ele não queria ver o Papai Noel; parecia que ele ainda não tinha se dado conta de que ele estava lá, ainda que isso fosse impossível, dada a minha argumentação e tentativas de colocar ambas as partes frente a frente.

Depois de um bom tempo, acabei desistindo. No caminho de volta para a escada rolante, tentei refletir sobre o assunto. Santiago estava acostumado a ver o Papai Noel nos DVDs do Elmo e também em algumas aparições no Discovery Channel. Para ele, o bom velhinho é uma criatura tão mitológica quanto o Barney ou os Backyardigans. Relacionando com um post do Galera sobre o assunto, pra ele o Papai Noel é fábula. Seu terror ao vê-lo ali, em carne, osso e tecido adiposo pode ser comparado ao terror de Barbie ao ver, em plena Mannhatan, o gigantesco cachorro Martin Tenbones, que povoava as suas fantasias infantis, só pra fazer uma citação hermética envolvendo "A Game of You", do Sandman. Quando fábula e realidade se chocam sem grandes preparações, é sempre meio assustador, mesmo. Era no que eu pensava, subindo a escada rolante, quando fui desperto pela frase do Santiago, finalmente liberto do seu transe:

"Eu tem medo do Papai Noel."

09/12/2006 19:24 | Comentários (9) | TrackBack (0)


Incréu

E eu, que achava que a hiperdocumentação era um fetiche meio inútil. Nada mais longe da verdade.

09/12/2006 19:20 | Comentários (0) | TrackBack (0)


Popkid extraordinaire

5494.jpg


Terça agora ia ter vatapá na casa do Gabriel. Ele me disse isso na sexta, no aniversário da Dani e do Cavinato, no DNA. Esperava ansiosamente pela data não só por ficar imaginando como seria o vatapá em si, grandes cumbucas de barro cheias sobre a mesa, aquela pimenta absurda que eu já tinha provado outras vezes por lá e todo mundo equilibrando seus pratos no colo, mas também porque essas reuniões esporádicas na casa dele eram um oásis pra mim. Lá eu encontrava um monte de gente legal que, por conta dos descaminhos da vida, eu tinha meio que deixado de encontrar em bares e festas. E era mais civilizado, também, a gente podia escolher a música que queria ouvir, não tinha atrolho, nem fumaça, nem flanelinhas. Eu ficava sempre meio abismado com a qualidade das conversas que ouvia quando estava ali. Não era difícil imaginar que continuaríamos fazendo este tipo de reunião com 40, 50 anos, uns sumindo por uns tempos, indo estudar ou simplesmente morar no exterior, outros voltando, mas todos sempre unidos pelos blogs e pela lista do Insanus.

A primeira vez que eu vi o Gabriel foi no almoço do Ocidente, ele sentou comigo e com o Träsel. Achei gente boa, tranqüilão. Algum tempo depois fiquei sabendo que ele era o cara que tocava o Insanus. Como queria ter um blog mas não entendia nada do assunto, acabei pedindo ajuda e uma vaguinha pra ele, alguns meses depois. Estava trabalhando em Floripa na época, e o contato foi todo por e-mail. Em dois dias eu tinha o meu próprio blog Insanus, com layout do Cardoso e assistência técnica do Gabriel. Fiquei muito, muito agradecido. Através da lista, fui conhecendo-o melhor, mas a primeira sensação de realmente ter ficado amigo dele foi justamente na primeira vez em que fui numa janta na casa dos Pillar. Ali fui conhecer também o seu pai e a sua mãe, e entendi que estava diante de uma família especial. A sensação que eu tive é que ele era um filho muito, muito amado. Seus pais, babyboomers, davam a impressão de ter vivido intensamente os anos 60, sem por isso terem sido consumidos por eles. Davam a impressão de ter criado um filho de acordo com tudo o que acreditavam e, incrivelmente, terem tido sucesso nisso. Sei que parece estranho escrever isso agora, mas eu gostava de ficar lá, bebendo meu vinho e simplesmente olhando a família interagir, uns com os outros e com os amigos. Era como ficar admirando algo muito bonito, sei lá, um quadro, por exemplo, e ficar pensando na felicidade de cada pincelada sobre a tela. Era um pouco assim que eu via o Gabriel: como o resultado do trabalho de pais especialmente amorosos.

Mas o Gabriel também era o seu próprio work-in-progress: curioso, empreendedor, aglutinador, esperto e, para lembrar uma expressão que ele vinha usando, tech-savvy . A internet, as novas mídias, a tecnologia, esta era a sua pracinha, e é fácil imaginar que, em questão de anos ou mesmo meses ele já teria uma carreira brilhante nesta área. Era meu fornecedor informal, me ajudou a montar um cd-rom com meu portfólio e na própria sexta, meio do nada, me disse que tinha chegado numa solução interessante para colocar meus trabalhos online em formato de blog. Como ele ficava constrangido de cobrar, eu pagava com livros, os últimos deles o “Oblivion” e o “Consider the lobster”, do Foster Wallace. Também indiquei-o para alguns trabalhos aqui da agência, e também para outras agências e pessoas. Acalentava a idéia de trabalhar com ele ou tê-lo como sócio, e até conversamos mais um pouco sobre isso na última vez que eu o vi. Era uma questão de meses até começarmos a trabalhar de fato juntos.

Lembro da última vez que jantei na casa dele. Era a despedida do Walter, cheguei tarde e fiquei lá até as quatro e meia da manhã. Conversei muito com o Gabriel naquela noite, ele de laptop no colo, elétrico, falava sobre um assunto e já mostrava um site relacionado. Ali tive certeza de que era o cara certo para o que eu precisava. Voltei a pé pra casa, cambaleante e em chamas, umas quinze quadras madrugada adentro. Me lembro vivamente da gratidão que sentia em conhecer estas pessoas e poder conviver o pouco que seja com elas.

Na sexta passada o vi pela última vez na festa da Dani e do Cavinato. Chegou com o Träsel, e ficamos conversando eu, eles, a Carol Andreis e a outra Dani, a Hyde, que eu não conhecia, ao lado da pista. Quando dava uma música mais animadinha, dançávamos um pouco, mas ficamos mais tempo conversando. Eu estava feliz por revê-los, já que não tenho saído muito. Adorei a idéia do vatapá, e agora eu sei que adorei principalmente pela idéia de continuidade, isto é, estamos aqui agora, sexta-feira de noite, e vamos nos encontrar de novo, já na terça. Não perderemos contato. Seguiremos amigos, não importam as complicações do dia-a-dia, trabalho, falta de tempo, tarefas domésticas, diferença de idade, preguiça. Seguiremos amigos.

Eu estava a pé, na sexta-feira. Ia só na festa de aniversário e depois pra casa, minha mulher estava me esperando. O pessoal ficou botando pilha pra seguir pro Beco, e eu realmente queria, mas sabia que não dava. Como não tinha táxi nenhum na frente do DNA, peguei uma carona com eles até a Independência. Fomos conversando sobre a possibilidade de eu entrar, mas eu sabia que se entrasse ia ficar só cinco minutos, então dava no mesmo. Fomos pela Vasco e se não me engano dobramos na Santo Antônio, o Gabriel dirigindo. Achei que ele estava um pouco rápido, mas como não chegava a ser assustador, não falei nada. Estacionamos na João Telles, atravessei a rua com eles, entraram na minha frente. Quando o porteiro me disse que custava vinte ou vinte e cinco reais para entrar, fiquei ali, esperei que se virassem, lá do alto da escada, e dei tchau.

Se soubesse que esta seria a última vez que o veria, talvez tivesse dito alguma coisa diferente. Nada muito emotivo, porque não ia colar. Nada muito engraçadinho, também. Algo simples, de poucas palavras, que pudesse ser comunicado instantaneamente, uns caras no alto de uma escada, outro lá embaixo, um porteiro entre eles.

Um obrigado.

06/12/2006 07:48 | Comentários (15) | TrackBack (0)


"Aqui do lado, Pederneiras..."

Finalmente. Aqui.

01/12/2006 10:14 | Comentários (3) | TrackBack (0)