por Marcelo Firpo

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Teve um domingo que foi particularmente difícil. Já eram umas dez horas da noite, o Santiago já deveria estar dormindo há um par de horas, mas não se entregava. Choroso, ele se mantinha agarrado no meu pescoço, de vez em quando deitava a cabeça no meu peito, quase sucumbia, mas no último segundo levantava a cabeça e me abraçava mais, escalava o meu colo, choramingava mais um pouco, e assim ficou por uns vinte minutos.

Meu ônibus pra Florianópolis saía às onze e meia.

Não, ele não pressentia que eu estava indo embora e ia ficar sumido pelos próximos cinco dias, prefiro pensar que ele só estava rançando pra dormir. O problema é que, como metáfora, funcionava que era uma beleza: meu filho grudado em mim depois de dois dias de convivência, se recusando a dormir e acordar no dia seguinte numa casa sem pai. Acho que foi bem ali que eu vi que não ia levar essa situação por muito tempo.

Já tinha morado em Floripa, em 98, e não tinha gostado. Era solteiro, tinha uma enorme turma de amigos em Porto Alegre e sentia muita falta da vida noturna, de shows e de cinema. Ganhava o dobro do meu salário anterior em Porto Alegre e gastava bem menos, mas depois de quatro meses a idéia de voltar, mesmo sem nenhum emprego em vista, me pareceu não só natural, como também saudável.

Fevereiro de 2005. Recebo uma proposta bem interessante, não só em termos financeiros, mas também como projeto de trabalho, desafio etc. Gosto bastante do lugar onde estou trabalhando, a Matriz, provavelmente a agência mais organizada e humana que eu já vi, mas a idéia de criar o filho num lugar com praia e menos violento é bem atraente. Sim, é Florianópolis de novo, mas temos que considerar que somos outra pessoa agora: casados, pais de família, mais velhos.

Ainda assim, recusei a proposta da primeira vez, inclusive indiquei um amigo para o cargo, bem pra passar a bola adiante mesmo. Achei que ia me sentir aliviado, mas não.

Dois dias depois, nova investida, com uma nova proposta, ainda melhor. Mais uma conversa com a mulher e, desta vez, achamos que sim, devemos aceitar.

Eu venho primeiro, gasto todos os meus almoços nas duas primeiras semanas procurando por apartamentos pra alugar e, finalmente, penso ter achado um bom. A família vem, a escolha não se revela tão boa, consideramos a hipótese de procurar outro apartamento pra alugar e minha mulher se encarrega disso, o que a faz tomar contato com o peculiar mundo dos serviços insulares. Um mês é o suficiente pra ela se questionar sobre a vinda, se deprimir e, por fim, pedir para voltar, provisoriamente. Consigo entendê-la, plenamente, empatia sempre foi o meu forte.

Conforme postado anteriormente, fico morando num apartamento quente, barulhento e cheio de caixotes de mudança, a minha mudança, com a babá, o filho da babá e o marido da babá.

Na agência, depois de alguns entrechoques iniciais, tudo corre direitinho. A equipe que eu trouxe comigo é, realmente, maravilhosa.

É então que o provisório se torna permanente na forma de um novo apartamento alugado, desta vez em Porto Alegre e eu, que só vim pra cá contando com a presença e o apoio da minha família, me sinto como um pedreiro ucraniano, conforme postado anteriormente. Entrego o apartamento ruim e volto pro hotel mais ou menos. Nem financeiramente mais a brincadeira faz sentido: ganho mais do que antes, só que gasto bem mais do que antes, em diárias, telefone, aluguel e passagens.

Ao longo de dois meses fico indo e voltando toda a semana, mas sei que é uma solução temporária. Espero por algum milagrezinho, nenhum em especial, só um cataclismazinho qualquer, mas ele não acontece.

Na noite em que o Santiago fica pendurado em mim me dou conta que convivendo só sábado e domingo é impossível ser o tipo de pai que eu me propus a ser quando ele nasceu.

Eu trouxe essse guri pro mundo, sou o responsável por ele.

Até quando for preciso, tenho que estar presente, ajudando em cada passinho desta vida.

Não só por ele, mas também por mim.

Aí converso com a direção da agência, eles me entendem, e a equipe que eu trouxe me tranquiliza ao dizer que estão todos felizes aqui, melhor do que estavam em Porto Alegre, e vão todos permanecer. Fico aliviado, agora posso voltar em paz.

Não fiquei tanto tempo quanto eu pretendia, mas consegui fazer coisas legais, na agência e fora dela. As da agência eu não falo, porque este não é o lugar. Quanto às outras, este é justamente o lugar.

Comecei um blog, por exemplo, coisa que jamais teria feito se não tivesse vindo.

Estou começando a escrever uma história, também.

Não me sinto muito chateado em voltar, em abandonar um bom salário e uma ótima equipe, nem em ter ficado tão pouco tempo, porque no fundo sei que estou escolhendo a coisa certa.

Prioridade é isso: a vida nos coloca frente a grandes dilemas, aparentemente insolúveis, certamente excruciantes, mas se for prioridade mesmo, a gente fica com ela, sempre.

Ainda mais se essa prioridade adora colo de pai.

++++

Tudo isso pra dizer que dia 20 devo estar voltando em definitivo, absolutamente desempregado, mas tranquilo.

Por enquanto é só por mais um final de semana.

06/05/2005 17:42 | Comentários (26) | TrackBack (0)