por Marcelo Firpo

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Nos pântanos

"Uma Temporada de Facões" parece um livro de ficção.

Não, mais do que isso, parece um livro de fantasia, estilo Lewis Carrol.

Ler trecho após trecho de entrevistas de homens explicando que, ao longo de semanas e semanas o trabalho nas lavouras foi substituído pela caça e assassinato por decepamento de seus vizinhos e suas famílias, e que isto foi aceito como natural por todos, até mesmo com certa alegria, porque "decepar tutsis era menos cansativo que cuidar das plantações", traz uma sensação de irrealidade, parecida com a que eu experimentei lendo "A História do Olho". É como se fosse um grande sonho, do qual milhares de pessoas participaram e hoje mal se lembram.

O que tornou isso possível? Pelo que eu tô entendendo, além de anos e anos de ressentimento mútuo entre os grupos - que falavam a mesma língua, habitavam a mesma comunidade e fisicamente eram praticamente iguais - o fator econômico. A pilhagem de comida, bebida, vacas e folhas de zinco tornava as atrocidades aceitáveis, necessárias, e a pressão do grupo inviabilizava qualquer improvável resistência.

E não estamos falando apenas de lavradores estúpidos, mas também de advogados, professores, líderes comunitários e até padres, todos atuantes na mesma rotina quase burocrática de matanças, da manhã à noite.

Proporcionalmente, a máquina nazista, com suas câmaras de gás, metralhadoras e campos de concentração não atingiu, em nenhum estágio da Segunda Guerra, a eficiência dos hutus com seus facões.

Muito interessante, mesmo. Como História, claro, mas também como literatura, fazia tempo que um texto não me deixava tão desnorteado.

31/08/2005 09:43 | Comentários (6) | TrackBack (0)