por Marcelo Firpo

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Arte

A estatueta que eu acabo de ver no meu oftalmologista: colocada num nicho de estante projetada, bem na entrada do consultório, com uma luzinha instalada dentro do próprio nicho, mede cerca de 60 centímetros de altura por 30 largura e uns 20 de profundidade. Branca-leitosa, esculpida talvez em pedra-sabão, apresenta três personagens, conforme descritos a seguir:

DOUTOR: alto e imponente, está de pé e usa um avental comprido (e este é, na verdade, o único dado a indicar objetivamente sua opção vocacional pela Medicina, já que não porta estetoscópio ou aquelas luzinhas de cabeça tão comuns na descrição-padrão de um médico). Seu braço direito está estendido em linha reta e diagonal, para frente e para baixo, por motivos que explicaremos melhor a seguir. Seu braço esquerdo enlaça o corpo da segunda personagem, que vem a ser a

MULHER PELADA AGONIZANTE: Uma mulher, condição cromossômica facilmente apreensível pelos cabelos compridos - que inclusive tapam seu rosto, um tanto quanto aconchegado no peito do Doutor - se não principalmente pelos seios desnudos e de boas formas, como desnudo e de boas formas o é também o resto do seu corpo. A Mulher Pelada Agonizante tem os dois pés cravados no chão, mas está em ângulo ligeiramente diagonal, joelhos flexionados, como que semidesfalecida e apoiada pelo Doutor. Seu braço esquerdo, inclusive, segura o ombro direito do médico, e aqui voltamos a explicar o porquê deste último estar estendido em linha reta e diagonal, para frente e para baixo: sua mão repousa sobre a cabeça do terceiro personagem do nosso drama, que vem a ser o

ESQUELETO AJOELHADO: Semi-ajoelhado, se quisermos ser realmente acurados, haja visto que o Esqueleto tem o pé esquerdo plantado no chão, com o joelho flexionado em noventa graus, enquanto que a perna direita, esta sim, está realmente ajoelhada. Sua coluna vertebral, absolutamente visível pelo fato dele ser um esqueleto em carne e osso (por deslocada que soe aqui esta figura de linguagem) está ligeiramente flexionada, dando-lhe um aspecto servil. Seu braço esquerdo abraça as coxas da Mulher Pelada Agonizante, enquanto que sua mão direita se encontra com a mão esquerda do Doutor, junto à cintura da já citada fêmea. Sua cabeça baixa, por sua vez, ao mesmo tempo em que repousa sobre a coxa esquerda da mulher, é tocada pela mão direita do médico, a mesma do braço estendido em linha reta e diagonal, para frente e para baixo, do qual viemos falando há tempos. O Doutor parece repelir o Esqueleto Ajoelhado, empurrando a sua cabeça, mas também é possível interpretar a mão repousada no crânio como um carinho casual.

Acreditamos que o autor tenha pretendido, com esta alegoria, demonstrar que o trabalho heróico do médico é afastar o espectro da morte de seus pacientes.

Por outro lado, e aqui esta observação deve ser encarada como uma crítica construtiva, ficou parecendo muito, mas muito mesmo, uma escultura mostrando uma suruba num baile de carnaval, na qual um entusiasta do cross dressing e um sujeito fantasiado de esqueleto se aproveitam de uma bêbada.

14/08/2006 15:44 | Comentários (7) | TrackBack (0)