por Marcelo Firpo

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Popkid extraordinaire

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Terça agora ia ter vatapá na casa do Gabriel. Ele me disse isso na sexta, no aniversário da Dani e do Cavinato, no DNA. Esperava ansiosamente pela data não só por ficar imaginando como seria o vatapá em si, grandes cumbucas de barro cheias sobre a mesa, aquela pimenta absurda que eu já tinha provado outras vezes por lá e todo mundo equilibrando seus pratos no colo, mas também porque essas reuniões esporádicas na casa dele eram um oásis pra mim. Lá eu encontrava um monte de gente legal que, por conta dos descaminhos da vida, eu tinha meio que deixado de encontrar em bares e festas. E era mais civilizado, também, a gente podia escolher a música que queria ouvir, não tinha atrolho, nem fumaça, nem flanelinhas. Eu ficava sempre meio abismado com a qualidade das conversas que ouvia quando estava ali. Não era difícil imaginar que continuaríamos fazendo este tipo de reunião com 40, 50 anos, uns sumindo por uns tempos, indo estudar ou simplesmente morar no exterior, outros voltando, mas todos sempre unidos pelos blogs e pela lista do Insanus.

A primeira vez que eu vi o Gabriel foi no almoço do Ocidente, ele sentou comigo e com o Träsel. Achei gente boa, tranqüilão. Algum tempo depois fiquei sabendo que ele era o cara que tocava o Insanus. Como queria ter um blog mas não entendia nada do assunto, acabei pedindo ajuda e uma vaguinha pra ele, alguns meses depois. Estava trabalhando em Floripa na época, e o contato foi todo por e-mail. Em dois dias eu tinha o meu próprio blog Insanus, com layout do Cardoso e assistência técnica do Gabriel. Fiquei muito, muito agradecido. Através da lista, fui conhecendo-o melhor, mas a primeira sensação de realmente ter ficado amigo dele foi justamente na primeira vez em que fui numa janta na casa dos Pillar. Ali fui conhecer também o seu pai e a sua mãe, e entendi que estava diante de uma família especial. A sensação que eu tive é que ele era um filho muito, muito amado. Seus pais, babyboomers, davam a impressão de ter vivido intensamente os anos 60, sem por isso terem sido consumidos por eles. Davam a impressão de ter criado um filho de acordo com tudo o que acreditavam e, incrivelmente, terem tido sucesso nisso. Sei que parece estranho escrever isso agora, mas eu gostava de ficar lá, bebendo meu vinho e simplesmente olhando a família interagir, uns com os outros e com os amigos. Era como ficar admirando algo muito bonito, sei lá, um quadro, por exemplo, e ficar pensando na felicidade de cada pincelada sobre a tela. Era um pouco assim que eu via o Gabriel: como o resultado do trabalho de pais especialmente amorosos.

Mas o Gabriel também era o seu próprio work-in-progress: curioso, empreendedor, aglutinador, esperto e, para lembrar uma expressão que ele vinha usando, tech-savvy . A internet, as novas mídias, a tecnologia, esta era a sua pracinha, e é fácil imaginar que, em questão de anos ou mesmo meses ele já teria uma carreira brilhante nesta área. Era meu fornecedor informal, me ajudou a montar um cd-rom com meu portfólio e na própria sexta, meio do nada, me disse que tinha chegado numa solução interessante para colocar meus trabalhos online em formato de blog. Como ele ficava constrangido de cobrar, eu pagava com livros, os últimos deles o “Oblivion” e o “Consider the lobster”, do Foster Wallace. Também indiquei-o para alguns trabalhos aqui da agência, e também para outras agências e pessoas. Acalentava a idéia de trabalhar com ele ou tê-lo como sócio, e até conversamos mais um pouco sobre isso na última vez que eu o vi. Era uma questão de meses até começarmos a trabalhar de fato juntos.

Lembro da última vez que jantei na casa dele. Era a despedida do Walter, cheguei tarde e fiquei lá até as quatro e meia da manhã. Conversei muito com o Gabriel naquela noite, ele de laptop no colo, elétrico, falava sobre um assunto e já mostrava um site relacionado. Ali tive certeza de que era o cara certo para o que eu precisava. Voltei a pé pra casa, cambaleante e em chamas, umas quinze quadras madrugada adentro. Me lembro vivamente da gratidão que sentia em conhecer estas pessoas e poder conviver o pouco que seja com elas.

Na sexta passada o vi pela última vez na festa da Dani e do Cavinato. Chegou com o Träsel, e ficamos conversando eu, eles, a Carol Andreis e a outra Dani, a Hyde, que eu não conhecia, ao lado da pista. Quando dava uma música mais animadinha, dançávamos um pouco, mas ficamos mais tempo conversando. Eu estava feliz por revê-los, já que não tenho saído muito. Adorei a idéia do vatapá, e agora eu sei que adorei principalmente pela idéia de continuidade, isto é, estamos aqui agora, sexta-feira de noite, e vamos nos encontrar de novo, já na terça. Não perderemos contato. Seguiremos amigos, não importam as complicações do dia-a-dia, trabalho, falta de tempo, tarefas domésticas, diferença de idade, preguiça. Seguiremos amigos.

Eu estava a pé, na sexta-feira. Ia só na festa de aniversário e depois pra casa, minha mulher estava me esperando. O pessoal ficou botando pilha pra seguir pro Beco, e eu realmente queria, mas sabia que não dava. Como não tinha táxi nenhum na frente do DNA, peguei uma carona com eles até a Independência. Fomos conversando sobre a possibilidade de eu entrar, mas eu sabia que se entrasse ia ficar só cinco minutos, então dava no mesmo. Fomos pela Vasco e se não me engano dobramos na Santo Antônio, o Gabriel dirigindo. Achei que ele estava um pouco rápido, mas como não chegava a ser assustador, não falei nada. Estacionamos na João Telles, atravessei a rua com eles, entraram na minha frente. Quando o porteiro me disse que custava vinte ou vinte e cinco reais para entrar, fiquei ali, esperei que se virassem, lá do alto da escada, e dei tchau.

Se soubesse que esta seria a última vez que o veria, talvez tivesse dito alguma coisa diferente. Nada muito emotivo, porque não ia colar. Nada muito engraçadinho, também. Algo simples, de poucas palavras, que pudesse ser comunicado instantaneamente, uns caras no alto de uma escada, outro lá embaixo, um porteiro entre eles.

Um obrigado.

06/12/2006 07:48 | Comentários (15) | TrackBack (0)