por Marcelo Firpo

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Royale

Antes escrever sobre o filme do 007 que eu vi ontem, preciso evocar o Falcão Azul e o Bionicão.

O Falcão Azul e o Bionicão eram dois personagens da linha de montagem de desenhos desanimados Hanna-Barbera, que eu via na casa da vovó, comendo sanduíche de carne de panela, requeijão, queijo chisi, tomate e alface, ali pela metade final dos anos 70. Eu gostava do Falcão Azul, que estava para os ornitópteros como o Batman estava para os morcegos. Era um herói sério, tinha equipamentos legais, se não me engano até um avião a jato, boa voz, boa dicção. Por outro lado, o Bionicão, que era a versão ciborgue do Scooby-doo, me enervava profundamente, sempre fazendo micagens e se atrapalhando com as suas patas hidráulicas e outros recursos tecnológicos. Lembro até hoje da voz de locutor standard do Falcão Azul repreendendo seu parceiro na luta contra o crime: "Não faça isso, Bi-o-ni-cão" ou "Saia de cima de mim, Bi-o-ni-cão." Me angustiava muito com o fato do Falcão Azul ter que aturar aquele cachorro palerma. Ficava imaginando por que ele não o demitia e chamava um cachorro mais profissional para ajudá-lo. Eu era uma criança muito séria.

Posto isso, me sinto à vontade em dizer que este 007 é um dos melhores que eu já vi. Não é apenas que finalmente tenham achado um ator à altura; a própria escolha deste ator já denota uma mudança sensível na condução da franquia. Daniel Craig parece um agente secreto russo, tipo esse que foi envenenado há pouco, ou talvez um psicopata contumaz, e tem mais carisma do que todos os últimos zé-ruelas que desempenharam o papel nas últimas décadas juntos. Ouso dizer mesmo que me parece sensivelmente superior aos 007 clássicos. Parece bem à vontade no papel, isto é, dá a impressão de que vai passar o resto da vida fazendo isso, o que, ainda que não venha a acontecer, é uma coisa boa. Em outras palavras, leva o que está fazendo a sério. Acho que boa parte do fracasso da franquia nos últimos tempos foi ter se embretado numa espiral de auto-ironia contínua: os badulaques tecnológicos, o senso de humor exacerbado, os vilões de opereta querendo conquistar o mundo, escapadas mirabolantes montanha de neve abaixo num violoncelo improvisado como trenó. E não deixa de ser irônico que o filme que muda completamente esta perspectiva seja justamente a refilmagem de Cassino Royale, que era uma comédia destoante, apócrifa, quase um espantalho, um alerta de onde 007 poderia parar. Claro, ainda existem alguns excessos, como a UTI móvel no porta-luvas, e há também o problema do vilão não provocar nem de longe tanto medo quanto próprio Bond, mas isso não chega a incomodar.

Vi ontem, numa pré-estréia (valeu, Ana), e por estranho que possa parecer, as pessoas aplaudiram no final.

14/12/2006 08:04 | Comentários (7) | TrackBack (0)