por Marcelo Firpo

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Band-aid

Coisa linda é dar uma paradinha nos trabalhos e ouvir isto e isto.

Bruno, aquela banda ainda tá de pé?

Desenvolvendo: de certa forma, dá pra se dizer que Morrissey e Marr arruinaram a minha adolescência. Lembro bem da primeira vez que ouvi uma música dos mancunianos: um grande amigo me chamou na casa dele só pra mostrar a banda mais ridícula do mundo, que tinha vindo num flexi-disc de brinde da Bizz. A música era "Still Ill", e ficamos um bom tempo nos deitando da bizarrice toda, da voz esquisita do vocalista ao fato de que aparentemente ele não parecia estar cantando a mesma música que o resto da banda tocava. Não nos pareceu especialmente gay na época, e aí é bom lembrar que gente como o Duran Duran, Talk Talk e Spandau Ballet ocupavam as paradas de então, e perto deles os Smiths eram o Charles Bronson. O que realmente nos chamava a atenção e rendeu boas piadas foi a canhestrice da coisa toda. Os caras da Bizz enlouqueceram, concluimos.

Alguns dias depois, em plena prova de matemática da quinta série, o refrão ou a lembrança do que seria aquele refrão irrompeu na minha memória, desalojando de lá inclusive a fórmula de Báskara, não sem alguma violência. Na primeira oportunidade que tive de falar com o meu amigo, comentei: "Sabe aquela banda ridícula que veio na Bizz? Acho que talvez não seja tão ruim assim", ao que ele me respondeu "Não é não, eu ouvi de novo e gostei."

Nas semanas seguintes, recebi a visita de outro grande amigo, que na época tinha como hobby gatunar LPs das lojas da Galeria Chaves e me apareceu com o single de "The Boy With The Thorn in His Side". Não demorou pra que eu comprasse o "Hatful of Hollow", com inacreditáveis dezesseis músicas, entre elas a "Still Ill" e "Heaven Knows I´m Miserable Now". Acho que eu não tinha muita coisa pra fazer na época, porque decorei todas as letras como um estudante de madrassa decora o Alcorão. Depois vieram todos os outros, "Meat is Murder", "The Queen is Dead", "The World Won´t Listen", "Rank", "Louder Than Bombs" e "Strangeways, Here We Come".

Foi uma obsessão como só se pode ter na adolescência, com todos os ganhos e perdas que isso pode ocasionar. Um dos ganhos: minha pronúncia de inglês, elogiada algumas vezes, deve muito ao Morrissey. Perdas: sei lá, eu realmente acreditava naquela bosta toda de "spending warm summer days indoors, writing frightening verse to a buck-toothed girl in Luxembourg". Isto é, identificava uma espécie de clichê nerd naquilo tudo e, mesmo assim, me esforçava para me encaixar nele. Mais, chegava ao cúmulo de ficar meio decepcionado quando o Morrissey dava alguma declaração ou fazia algo não tão morrisseyano. E o curioso é que, mesmo assim, a vida fora da minha cabeça seguia mais ou menos normalzinha e dissociada do lenga-lenga todo, com as primeiras experiências sexuais com o sexo oposto e tudo mais se impondo aos poucos e prevalecendo. Gosto de pensar que, se não virei rosca depois de uma uma adolescência inteira idolatrando Smiths, nada mais me fará virar. Como diria o Seinfeld, não que haja nada de errado com isso, é claro.

Depois que a banda acabou, ainda tive uma certa boa vontade com o Morrissey, mas mesmo ao me empolgar com singles tipo "Suedehead" e "Everyday is Like Sunday", sentia que não era a mesma coisa. A guitarra do Johnny Marr era muito, muito importante mesmo, talvez até mais do que a voz do Morrissey, veja só. O bardo de Manchester nunca mais arrumou um parceiro à altura. Foi legal vê-lo cantando no Opinião, mas mesmo lá, a sensação de estar participando de um pastiche, de um revival, de estar vendo o Elvis gordo em Las Vegas não me abandonou nem por um segundo. A reunião dos Smiths, ou pelo menos do Morrissey e do Johnny Marr seria, na minha modesta opinião, o maior acontecimento da história da música ocidental de todos os tempos.

Mas posso estar exagerando um pouco, é claro.

03/01/2007 14:25 | Comentários (13) | TrackBack (0)