por Marcelo Firpo

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Dez anos depois o velho senhor que não sai mais descobre a banda

É sempre assim: tu tá meio distraído, olhando pra lugar nenhum, preocupado com os afazeres diários e a conta bancária quando, assim, a troco de nada, a Beleza vem e te dá uma cadeirada no pescoço.

Foi há duas semanas. Tava um pouco estressado demais com tudo e resolvi passar um final de semana sozinho na praia, pra tentar não pensar na vida. No meio da freeway, ouvindo a Cultura, me entra esse pianinho beatle, seguido de bateria, aí faz um floreio que imediatamente me lembra a segunda estrofe de "empty box blues" do opal, e então entra um vocal, e a primeira frase soa meio hesitante, eu cravo as unhas no volante pensando "putalamerda não vai me cagar essa música com um vocal ruim", mas logo a seguir ele engata a segunda frase e sim, é um bom vocalista, e isso nos libera pra prestar a atenção na letra, e é uma boa letra, e logo quando eu me dou conta disso sou praticamente atropelado pelo refrão, avassalador. "Preciso saber quem toca isso", arfo, um milhão de possibilidades passa pela minha cabeça, nenhuma se encaixa, tendo a achar que é um cantor novo de mpb, não me ocorre ser uma banda, porque soa tão autoral no bom sentido, e aí me borro de medo do locutor da rádio falar o nome do sujeito rápido demais ou inaudível demais ou, terror dos terrores, entrar direto um bloco de comerciais e eu jamais ficar sabendo quem era.

Aconteceu isso uma vez em Montevideo, eu tinha uns quatorze anos, demorei mais uns dois ou três pra descobrir que aquele trechinho de música que escutei pertencia a "so good today", dos woodentops. No auge do desespero, procuro me agarrar a um pedaço da letra, pra digitar no google depois e, com um pouquinho de sorte, chegar à canção, e é então que minha memória crava os dentes em uma frase que fala alguma coisa sobre encontrar algo que vale a pena no fundo do poço. A música termina, eu ouço com atenção todo o bloco, tentando identificar as músicas seguintes, o que facilitaria a localização quando o locutor anunciá-las pela ordem no final, mas ele jamais faz isso, simplesmente entram os comerciais e depois solta outro bloco de músicas e fodeu, brasil, jamais saberemos.

Hoje, lendo um blog que eu nunca tinha lido antes, o do Takeda, me deparo com um post lá por outubro ou setembro, sobre a Pública, e não me interessaria muito, porque tendo a achar, mui equivocadamente, que todas as bandas gaúchas novas cantam em inglês e são pastiches de britpop, só que no final do texto ele reproduz um trecho da letra de uma música chamada "Long Plays" e é simplesmente "no fundo desse poço achei algo que vale a pena".

Jamais imaginaria que essa música seria de uma banda daqui. Além de ser estupidamente boa, não parece com nada que veio antes, pelo menos não do róque. Me dá uma saudade de coisas que mal vivi, anos setenta, a época em que se falava em música popular gaúcha e não se estava sendo irônico, e tenho até receio de falar dos cantores que me vêm à cabeça, pra não parecer eu o irônico. Nostalgia de uma época em que parecia que as coisas iam dar certo ou pelo menos meio certo, em Porto Alegre e no Brasil.

No fundo deste poço achei algo que vale a pena.

06/02/2007 17:46 | Comentários (11) | TrackBack (0)