por Marcelo Firpo

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Nooooossa, com noçãããão, meeeeu!

O nome "Yann Tiersen" está associado a uma série de tags na minha cabeça, sendo algumas delas "francês", "gênio", "virtuose" e "maldito filho da puta". Depois do show da última quarta, vou precisar acrescentar mais uma, mesmo que inesperada: "guitar hero".

O show "On Tour" traz o compositor da maioria das canções de filmes como "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain", "Goodbye, Lênin!" e "A Vida Sonhada dos Anjos" em um novo formato, o de band leader, lidando com guitarras, baixo, bateria e teclados, e soando simultaneamente como pop perfeito e post rock, por impossível que pareça. Lembra um pouco, pela guinada estética, o movimento que o Caetano Veloso fez neste seu último disco, mas a comparação é meio descabida se formos avaliar o produto final. Nem mesmo uma molécula de oportunismo ou pastiche aqui, apenas um artista brincando com os seus limites.

O estranhamento só não é completo por duas razões, uma circunstancial e outra intrínseca. A primeira é que, aqui e ali, alguns dos timbres típicos da obra anterior do cara reaparecem: violino, acordeon, xilofone e pianinho de brinquedo. A segunda é que Yann Tiersen soaria como Yann Tiersen mesmo se tocasse tijolo.

O show começa e aí também começa a ficar realmente difícil de escrever. Confesso que tive um vago temor quando li o release do show falando sobre o formato rock do show, por a) medo do desconhecido, b) "porra, passei os últimos anos esperando pela oportunidade de ver um show deste cara e justo agora ele resolve inventar" e principalmente c) francês, quando inventa de tocar rock, geralmente caga tudo. Entretanto, aos dez segundos da primeira canção eu já estou plenamente convertido. Ser multiintrumentista é uma coisa, ser multivirtuose é outro departamento, em outra loja, em outra cidade.

Vendo o cara dedilhar a sua guitarra pendurada lá quase nos joelhos, me lembrei de uma sensação que sempre me acompanhou ao ouvir os discos: não é apenas o fato dele parecer não tocar nenhuma nota desnecessária. É mais como se cada nota fosse a melhor nota possível naquele momento, entre incontáveis outras, e assim sucessivamente. Estranhamente, o estilo dele me lembra o de Johnny Marr, só que com uma dose extra de testosterona. Se Johnny Marr e Neil Young tivessem um filho, talvez saísse assim.

Cada música é uma experiência avassaladora. Lá pela terceira, eu estou considerando seriamente em arrancar a orelha da mulher ao lado a dentadas, por pura felicidade. No começo de "Monochrome", é possível ouvir nitidamente uma outra mulher soluçar convulsivamente, a cinco ou seis cadeiras de distância.

À medida em que o show vai se aproximando do fim, a vertigem aumenta, com mais e mais músicas instrumentais que exploram a passagem da cavalice sonora para a delicadeza e vice-versa. Um vagalhão de guitarra, baixo, bateria e ondas martenot (o instrumento avô da eletroacústica, soa como um serrote musical) se arma a alturas celestiais e se quebra num silêncio absoluto. É paradoxal: quero que o show não acabe nunca e ao mesmo tempo quero que acabe de uma vez, pra que eu possa sair gritando em chamas pelas ruas.

Quando termina, ninguém pede bis (no meio do show tem um daqueles bis fajutos, mas este não conta). Não sei o que passa pela cabeça das outras pessoas, procuro não ouvir os seus comentários, mas a minha sensação é de que não precisa mais mesmo. O sublime não se mede em número de canções apresentadas.

Quando chego na rua, me dou conta de que passei por uma experiência culminante, da qual me lembrarei por muitos e muitos anos: acabo de ver um verdadeiro gênio tocar.

05/04/2007 18:07 | Comentários (7) | TrackBack (0)