por Marcelo Firpo

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Desvio-padrão

Estamos atendendo uma universidade aqui na agência e por conta disso tenho ido semanalmente pra Serra. Sigo meio deslumbrado com o lugar, as paisagens, a limpeza das cidades, os sinais evidentes de pujança econômica e uma certa dignidade difícil de explicar nas pessoas, mas não é sobre isso que quero escrever. A cada nova visita conhecemos mais e mais interlocutores e nos maravilhamos com o padrão acima da média de todas as reuniões, creio que isso tem muito a ver com o fato do cliente ser uma instituição de ensino. O fato é que na semana passada conhecemos o professor que dirige um dos programas de pós-graduação e um acadêmico no sentido mais amplo da palavra. Conversamos com ele por cerca de quarenta minutos, mas foi o suficiente pra eu vivenciar uma vaga epifania, a qual tentarei descrever a seguir. A conversa começou ampla, tratando dos descaminhos da educação no país, em especial da graduação. Uma das observações que ele fez foi a seguinte: "Todo o aluno da graduação deveria ser capaz de enxergar o caminho até o seu doutorado, e tornar isso possível é dever da instituição." No começo não concordei muito, porque minha própria experiência tinha sido bem diversa: enquanto estava na minha graduação só queria sair de lá pra nunca mais voltar. Ele seguiu adiante, dividindo com a gente a sua experiência de quem já deu aulas em várias universidades do mundo: "Esse negócio do mestrado ser uma fábrica de professores só existe aqui no Brasil. Lá fora as pessoas fazem mestrado e doutorado pra exercitar o cérebro, para serem desafiadas, para seguirem adiante. Tem presidentes de grandes companhias que fazem doutorado e não passa pela cabeça deles dar aula." À medida em que ele foi falando eu fui talvez pela primeira vez entendendo o que significa realmente uma trajetória acadêmica. Mais: "Esse negócio de separar academia de mercado não existe também. A academia trabalha pelo mercado, amplia os seus limites, faz com que ele se desenvolva através da pesquisa." Eu sei que foi me dando uma raiva da minha graduação - feita em outra instituição - tão grande, mas tão grande, não só pelo fato dela ter sido rasa, fraca, maçante, mas principalmente pelo fato dela ter sido rasa, fraca e maçante ao ponto de ter me afastado da idéia de uma pós-graduação por muitos e muitos anos. Na saída da reunião comecei a pensar nos professores que eu tive: no de pesquisa, que só nos fazia preencher questionários e tabular dados; na de mídia, que só se interessava pelos números e não no seu significado; na de redação, que usou o mesmo briefing da máquina de costura que caseia e chuleia por gerações e gerações de alunos; no de sei-lá-qual-cadeira, que todo semestre gastava uma aula inteira contando sobre o episódio em que foi assaltado, nos outros que consideravam a sala de aula como uma tribuna livre pra opinar sobre o universo e assim indefinidamente, com umas duas ou três exceções de professores que realmente estavam lá pra fazer alguma diferença. Pensei também no espaço de tempo e de energia que todo esse entulho ocupou na minha vida por quatro anos, e os conteúdos que poderiam estar ali. Não tive uma linha sobre empreendedorismo ao longo de todo o curso, e a falta que isso me faz hoje em dia é pungente. Também nunca percebi nenhum esforço no sentido de integrar as diferentes áreas técnicas da propaganda, era tudo estanque, ou mesmo de vincular o que estava sendo estudado ali com projetos futuros de pós-graduação. Não me admira, hoje, que eu tenha me formado como quem se livra de um fardo do qual não quer se aproximar nunca mais. Sinto um pouco de compaixão pelo formando que eu fui, das oportunidades que poderiam ter sido apresentadas pra mim e que nunca o foram. Enfim, passou, passou. O fato é que essa conversa da semana passada me animou pra tentar, talvez, voltar a estudar, provavelmente numa especialização. Vamos ver.

18/07/2008 13:57 | Comentários (12) | TrackBack (0)