por Marcelo Firpo

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Dançando sobre arquitetura

Maior invenção da Humanidade esse Captain Crawl.

Como teste, baixei o "Early Recordings", do Opal.

Opal foi o proto-Mazzy Star, só que bem melhor. Kendra Smith come uma tigela de Hope Sandoval todas as manhãs.

A música que abre esse disco, "Empty Box Blues" é apenas a música que eu mais adoro no mundo inteiro.

Começa com um dedilhado circular de guitarra, dolente, um timbre limpo, mas com um pouquinho de eco. Gostaria de entender o suficiente de pedais pra explicar, mas tem um efeito calmante.

Aí aos quatro segundos entra uma bateria, duas ou três batidinhas de caixa e um prato que se espalha, mais eco. A bateria segue. No rastro do prato, um baixo discreto e um tecladinho meio sixties, meio psicodélico, tocando uma melodia sobre o dedilhado, que segue circulando. Essa melodia, ainda que não seja a mesma da guitarra, conversa com ela

Aí entra o vocal, um vocal dos anos sessenta, feminino, grave e vivido, Nico, ainda que a música seja do final dos oitenta.

"I´ve heard what you said, it´s just that I don´t believe a world"

Você quer passar o resto da sua vida ao lado dessa mulher. Ela continua:

"Of what people say, I´m not even sure I´ve heard"

O tempo todo aquela frase de guitarra circular, David Roback, o mais subestimado dos guitarristas.

"I don´t remember your face, but I can still recall your name"

O dedilhado muda, entramos numa espécie de anti-refrão, um remanso no meio da música. É aqui que a parte "blues" do título se explica melhor.

"That´s all I want you to do"

Começa tudo de novo. Na segunda estrofe entra também um pianinho.

"We could go for a walk". Você quer aceitar o convite com todas as duas forças.

"Or I´ll sing you a song, but all my words sound funny." Você quer contrariá-la até a morte.

"We could go for a ride, down to the ocean watch the tide." É apenas evidente que esta música aconteça perto da praia. Mas é um inverno, no máximo um outono.

A música parece que não vai terminar nunca, e isso é ótimo, até que ela canta de novo a primeira frase da primeira estrofe de um jeito um pouco mais lento e cansado, e logo o vocal é substituído por assobios. Isso é muito, muito triste, porque sabemos que a música está terminando ou pelo menos se afastando de nós. Na verdade essa música nunca termina.

Escrever sobre música é como dançar sobre arquitetura. Mas quando se escreve sobre música na verdade estamos tentando escrever sobre sentimentos. Isso é mais impossível ainda, mas não o suficiente para nos impedir.

09/02/2009 17:42 | Comentários (1) | TrackBack (0)