michel.
O Michel Houellebecq tava mandando mal no começo do Plataforma. Aquele papinho de frieza frente à morte do pai parecia uma emulação vagabunda de Camus, L’Étranger. Me lembrei de cara daquele papo que, em 40 páginas de um livro, a gente decide se gosta ou não. Com o número vencido, eu já tava lendo de cara feia, por obrigação moral e financeira: ia ser o segundo Houllebecq que eu largava no caminho, que feio e, além de tudo, eu tinha colocado grana nessa droga. Segui.
O protagonista é o Michel. Ei, eu admiro esses autores que nem se dão ao trabalho de criar um nome para os seus alter egos. Mó mala esse Michel na sua viagenzinha pra Tailândia e a gente nem sentia de fato que estava lá, e eu pensando, pô, bota fraquinho esse livro que a contracapa coloca no nível de Marcel Proust (não que eu já tenha lido). Mas eis que de repente pinta uma mulher na vida do Michel, que antes se divertia com os peeps shows e as putas tailandesas (o Michel, não a mulher. Ah, mas esta língua portuguesa!). E é a partir dessa mulher, dessa relação, que o livro vira outro. Tá, tem umas duzentas e catorze cenas de sexo, alguns ménage à trois bem forçadinhos, by the way, coisa que era o desejo do escritor pulsando e ele achou que estava escrevendo no contoseroticos.com.br, arrumadeira cubana no bangalô com a tua mulher? Ah, tá. Executiva fazendo sexo oral noutra na piscina do spa? Ahãm, tá bom, Michel, suddenly somos todos meninos adolescentes espinhentos que nos divertimos com o absurdo. Enfim, fora essas farpinhas o livro flui beleza num belo panorama sobre o turismo, a prostituição, a sociedade contemporânea e todo esse papinho. Agora te deixo com uma citação contextualizada: na Tailândia, Michel está na beira da praia. Aproxima-se Valérie, que virá a ser sua mulher tempos depois. Mas o que as mulheres tailandesas tem que as ocidentais não tem?, pergunta, referindo-se não só à prostituição, mas ao fato de que muitos americanos e europeus efetivamente se casam com mulher tailandesas. Michel então mostra uma revista. O que se lê na revista:


There seems to be, observava Mr. Sawanasse, a near perfect match between the Western men, who are unappreciated and get to respect in their own countries, and the Thai women, who would be happy to find someone who simply does his job and hopes to come home to a pleasant family life after work. Most Western women do not want such a boring husband.
One easy way to see this, continuava, is to look at any publication containing 'personal' ads. The Western women want someone who looks a certain way, and who has certain 'social skills', such as dancing and clever conversation, someone who is interesting and exciting and seductive. Now go to my catalogue, and look at the girls say they want. It's all pretty simple, really. Over and over they state that they are happy to settle down FOREVER with a man who is willing to hold down a steady job and be a loving and understanding HUSBAND and FATHER. That will get you exactly nowhere with an American girl!
As Western women, concluía com audácia, do not appreciate men, as they do not value tradicional family life, marriage is not the right thing for them to do. I'm helping modern Western women do avoid what they despise.

postado por Carol Bensimon as 14:46 | trackBack (0)

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