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monet.
É fácil gostar de Monet, Monet é easy listening da pintura, todo a família burguesa média jeca brasileira gostaria de ter, ou tem, uma reprodução na sala. Vê-lo no Musée d'Orsay com seus colegas impressionistas e pós-impressionistas é conclusivo: Monet não tinha a tormenta que perturbava um Van Gogh ou um Toulouse-Lautrec. Sua obsessão por captar a luz na sua mais verdadeira forma é meio cansativa. Monet só foi artista porque não existia a fotografia. Senão, teria sido engenheiro, isso é certo.

postado por Carol Bensimon as 12:10 | pitacos (24) | trackBack (0)

=/
Tenho a nítida sensação de estar fazendo tudo ao contrário na "carreira" literária, e nessas vezes que penso coisas do tipo, tento encontrar o conforto na negação do maniqueísmo, "não, não, não há um caminho, cada um encontra o seu jeito" e etc e tal. Mas a verdade mesmo é que tudo está estranho. Cadê o livro publicado? Pois é precisamente a partir daí, da falta desse livro, que reside a bizarrice da situação. Não há livro, mas a Zero Hora me procurou há uns meses. Não há livro, mas estou lá na Bravo, e no começo havia um certo medo em escrever a pequena nota bibliográfica de pé da página. Eu disse assim pra um amigo: "Pô, que vergonha, eu tenho 23 e os outros escritores mais, eles tem sempre mil livros e coisas pra colocar nos pés de página, mas e eu?, vou dizer o quê?". E o meu amigo, talvez sábio ou talvez equivocado, disse assim: "Então quem tem que ter vergonha são eles por tu ter conseguido o mesmo espaço".
Mas e o livro? Pois a falta dele vem de turbulentos conflitos psicológicos. Bem, e a auto-crítica é destruidora sometimes, o que faz com que contos escritos há seis meses já sejam julgados como completo lixo. Além do mais, não tenho vontade de publicar um livro de contos.
Então estou trabalhando numa novela, mas, do jeito que vai, levará anos. Familiares já comparam a empreitada à eterna espera de Penélope, tecendo ao infinito sua tapeçaria enquanto espera o homem amado. Eu faço e refaço, procuro um método, acho só confusão. Já tentei por exemplo colocar cada capítulo num arquivo, evitando assim que eu leia o MONTANTE toda vez que sento no computador, o que leva inevitavelmente a uma nova reescritura. Isso também não funcionou. Outra: meu estilo econômico criou dificuldades no início para tentar a narrativa longa. Depois de escrever uma página, acontecia d’eu perceber que aquela ação ou descrição deveria durar umas cinco. Isso está se consertando, ao menos. Ok, dito isso, você leitor vai com certeza pensar algo do tipo "então desiste e volta pro conto". Mas a situação não é tão trágica quanto minha descrição: há avanços, e particularmente o último resultado me deixou bem satisfeita, a ponto de gritar a alguns: ENCONTREI O TOM! Ainda assim, não há certeza de que a próxima releitura manterá a mesma opinião, justamente aí reside o problema central.

postado por Carol Bensimon as 13:25 | pitacos (13) | trackBack (0)

mail corporativo
O mail corporativo que data da minha ausência tem um toque de poesia. Pergunta assim: alguém esqueceu um buquê de rosas no banheiro?
Beleza nonsense.

postado por Carol Bensimon as 18:45 | pitacos (1) | trackBack (0)

deixa vir (she said, e é lacaniana)
Voltei e voltei bronzeada. Não sei exatamente como isso aconteceu, mas deve querer dizer de uma certa alegria evidente. Os únicos dois problemas de toda a voyage aconteceram em solo brasileiro, por culpa da Varig. Isso também deve querer dizer.
Uma das coisas que aprendi nessa empreitada é que a noção de tempo é mucho louca e o ser humano psicologicamente adaptável com extrema facilidade. Isso quer dizer que um mês fora parece suficiente para fazer a vida de antes soar bem distante. E para dar também a sensação de não se encaixar mais. Imagino que isso se apague em poucos dias, do mesmo jeito que a realidade anterior desenhou-se, mas adaptar-me de novo a uma rotina que já não me faz sentido parece assustador.
A cabeça está zonza por causa do fuso horário, mas ainda encontra espaço pra remoer e remoer e tentar encontrar um caminho satisfatório nas próximas semanas, talvez meses. Há a tristeza do retorno que foi toda simbolizada quando uma mulher árabe de véu cor de rosa entrou no metrô, direção Charles de Gaulle, e encheu a despedida com um canto tão dolorido que fez um epílogo perfeito para essa história daqui. E há a alegria de abrir malas, encontrar e mostrar uns tesouros, mais tarde sentar pra cafés com fotos e histórias.
Fim do começo.

postado por Carol Bensimon as 18:08 | pitacos (2) | trackBack (0)

com teclado em ingles ate da pra tentar um sentimento.
Ontem tudo um pouco magico.
Primeiro as conexoes e coincidencias ja eram uma frequente desde a descoberta de que a menina que me recepcionou em pontos nao-turisticos parisienses tocou Femme Fatale num festival de musica francesa da escola, e eu ate hoje me embalando na memoria e na melancolia dessa. Depois diz ela ter um primo que esta aqui e coisa e tal, pulando de casa em casa, usando tanto labia que ate enxergava a notre-dame e meia duzia de outros monumentos da janela. Passou a noite na Cite Universitaire, um grande lugar arborizado com as maisons de cento e poucos paises. Bem, a garota que estuda direito ambiental e toca teclado e nos fins de semanas atua em curtas-metragens a little bit trash em Montpellier me levou pra conhecer esta residencia de muitas nacoes, logo chegando ha os contornos do seu primo, mesmo com oculos demoro pra perceber, mas finalmente vejo que ele me conhece desde quando eu tinha uns cinco anos, mais ou menos. Oh, grande. A menina vai escrever um artigo, ele me paga um cha e acende tres cigarros seguidos, um no outro, habito que veio do triste inverno europeu. Entre decepcoes e bukowskismos, entre relatos e livrarias insanas cujos donos tem 93 anos e oferecem residencia para escritores em troca de duas horas diarias de trabalho, vou sendo seduzida pelos dormitorios, pela som da flauta que sai da sala de musica, por uma grama comprida que ele diz que vira meio Redencao no verao, e podemos ai usar os dois sentidos do termo.
Depois eh hora de ver Fiona Apple. Um atraso de meia hora provoca quase uma manifestation ali no meio do teatro. Sorrio de canto para que nao percebam o que eu percebo. E depois ela aparece de vestido azul, as costas tao magras que me deixam com uma preocupacao materna. Estou vendo Fiona Apple, percebo, e uma alegria adolescente me toma por total. A voz dela eh a mais deliciosa do mundo, e nos silencios se nota, em movimentos, como a garota tem uma tormenta que nao consegue relaxar. Entre uma musica e outra, o publico joga frases simpaticas em ingles, e os aplausos sao fortes e interminaveis. Claramente emocionada e constrangida, ela vira uma garotinha que coloca o cabelo pra tras da orelha e balbucia palavras curtas.
Saio de la com uma vontade enorme de nao dormir nunca mais.

postado por Carol Bensimon as 07:19 | pitacos (4) | trackBack (0)

bravo.
Esqueci de dizer, mas o Gabriel ja passou o recado: saiu um conto meu na Bravo de abril.
E, sim, por essas surpresas da vida e esses donos de hotel que jogam na bolsa e tomam cha com brasileiras ate meia-noite e meia, eu vou fazer uma leitura dos meus textos em frances num simpatico sebo-cafe em Blois. Eh bom quando os low-profiles caem na frente de pessoas cheias de empolgacao etc e tal.
Bem, estou de volta em Paris, o momento de comprar uma mala e gastar todo o dinheiro que sobrou. Cheguei hoje de Etretat, uma cidadezinha de 1.500 habitantes da Normandia que tem as famosas falesias com formas bizarras. Ja era previsto que seria puro deslumbramento. Embora meu joelho estivesse doendo muito muito muito (digamos que ele esta ESTOURADO por causa do peso da mochila e de tantas escadas em igrejas, castelos, metros, estacoes e etc), fiz minha PROMENADE ecologica, cujo resultado pode ser conferido em muitos filminhos pateticos de no maximo um minuto.
Ah. Aqui tem kit&kat. Emocao extrema.
Bem, eu estou falando realmente muita bobagem e coisas irrelevantes, ms eh porque, bem, estah faltando tempo, a analise sociologica e as questoes existencialistas podem chegar depois.
As proximidades do Canal St. Martin parece um bom lugar para se morar. E obviamente Montmartre. Eu quero uma vida cliche.



postado por Carol Bensimon as 15:56 | pitacos (8) | trackBack (0)

les manif.
Acontecimentos aleatorios aumentaram minha estadia em Blois. Pra quem nao sabe, Blois eh uma cidade no Vale do Loire, onde ha a antiga residencia de Francois I e de onde eh possivel conhecer alguns dos mais importantes castelos da regiao, sobretudo o impressionante Chambord. Ha em torno de 50.000 habitantes aqui, o que digamos que eh a media das cidades francesas.
Hoje eh dia de greve geral e eu nao achei que isso seria aparente na tranquila Blois, mas o barulho da juventude ultrapassou o Yann Tiersen dos meus ouvidos. Fui ate a rua principal e havia gente ate onde os olhos podiam ver. Muita muita gente MESMO, nessa cidade de 50.000 habitantes. Havia estudantes, mulheres de cinquenta anos, criancinhas fofas com bandeiras de protesto. Call me paga pau dos franceses, mas nao pude resistir a beleza da manifestacao popular e lagrimas cairam.

postado por Carol Bensimon as 13:13 | pitacos (3) | trackBack (0)

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