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universidade, sp.
Sei que a vida andou enquanto eu andava discutindo o conceito de literariedade numa sala ou noutra. A vida anda, às vezes cai. Sei que Henry Sobel roubou gravatas, Brigada Militar mandou pobre colocar as mãos na cabeça e o dólar caiu até a mais baixa cotação. Para quem passou um ano de arcadismo escrevendo na beira da piscina, lendo debaixo da árvore, caminhando para "ter idéias" (o trabalho ($) quatro horas por dia, máximo seis, mínimo nada), agora atingi o máximo da contemporaneidade fazendo mil coisas ao mesmo tempo, me atrasando para todas elas, usando a Terceira Perimetral. Mas é a coisa que está dando certo, veja você. Não leve a mal se antes eu estava na federal e agora na privada, juro que isso não faz a menor diferença pro que vou dizer a seguir (mas mesmo assim já digo com as mãos na frente, calma lá): pela primeira vez, sinto que estou na universidade. E isso tem basicamente a ver com o salto que é sair da "área de conhecimento" publicidade para a literatura. (ok, pulando esse assunto para não ofender ninguém) Além disso, fui fagocitada pelo corpo acadêmico: sou bolsista. Tenho, durante três turnos por semana, uma sala com ar-central, um computador preto, literatura portuguesa, duas chaves, um porta-retrato com o professor e seu neto, uma bola azul que me reflete, os Açores colados na parede. Cada professor pode ter, veja só, oito bolsistas, e todos os outros devem se sentir tão especiais quanto eu. hehe. Há pressões para que eu siga uma carreira acadêmica. Vou tateando como quem não quer nada, low-profile. Às vezes me sinto culpada por não ter lido Madame Bovary, a obra do Eça, e Machado ser vaga lembrança de colégio. Tô por fora do cânone, e correndo atrás de new criticism e formalismo russo e Roland Barthes (que foi também um café na esquina da minha casa). Vou me saindo bem empolgada.
Para fechar com um salto de assunto: dias 4 e 5 de abril, tem show do Yann Tiersen em São Paulo. Esse cara é um gênio, eu se fosse você não perderia mesmo. Assisti um show dele já em Vichy, França, e foi arrasador. Saí atordoada, e também, como estava sozinha, desesperada pela impossibilidade de dividir todo aquele arrebatamento. Vou assistir de novo. Irei a São Paulo especialmente para isso. Já fui informada que tenho ingresso para a segunda fila. O Yann fuma para caralho, toda entrevista que vejo, tá fumando. Tem um ar blasé que me incomoda, mas nesse caso a arte cai como uma bigorna sobre o autor. É bretão. Fez a trilha do Amélie Poulain, mas não vai te guiar só por isso, mané. Baixa por exemplo Loin des villes e chora.

postado por Carol Bensimon as 14:01 | pitacos (16) | trackBack (0)

caos completo.
Começou meu mestrado, não dá nem mais tempo de se apaixonar. Talvez o surto diminua. Estou me adaptando. Estar na PUC ainda é muito bizarro, mas pra entrar no clima campus já prevejo escrever na grama com laptop no colo. Wireless, apenas na Famecos (mas só para alunos, os egoístas) e no 30, o prédio da engenharia (esse liberado). 21h30 e quero dormir, mas ainda tem coisinha pra fazer. Solução é colocar John Pizzareli. Desacelera sempre. Até a próxima brecha.

postado por Carol Bensimon as 21:22 | pitacos (10) | trackBack (0)

senão não sou mais tua amiga.
Aviso mais para a frente, mas também agora: na próxima terça, dia 20, rola aqui em Porto Alegre o lançamento do livro Rilke Shake, da respeitadíssima poeta Angélica Freitas e pela bem-cuidada e excêntrica Cosac&Naify (com co-edição da 7 Letras). Vai ser na Palavraria (Vasco da Gama, 165), às 19h30, e aconteceu assim de sopetão que a poeta confabulasse um duplo lançamento: o da obra já citada e da Revista Ficções (com um conto meu, lembra?). Fiquei responsável por levar uns convivas descolês.

postado por Carol Bensimon as 09:54 | pitacos (11) | trackBack (0)

complementando.
Com a tirinha que o Chico cita aí nos pitacos do post abaixo. Trimassa.

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postado por Carol Bensimon as 10:36 | pitacos (3) | trackBack (0)

aloprar.
Para fim de domingo, tô adequada na melancolia e ouvindo Yann Tiersen, e depois de um passeio vespertino e solitário pela Zona Sul, bateu aquele desconforto nas entranhas. Esses dias, me disseram que naquela famosa frase do Sartre, "O inferno são os outros", está implítico um princípio do existencialismo segundo o qual a gente só se enxerga e se percebe através dos outros, as pessoas são o inferno portanto por trazerem à tona nossa própria existência. Eu não saco muito de nenhuma teoria.
Mesmo assim, eu gosto de chafurdar nas análises (até que isso inclusive destrua grande parte das minhas relações, as amorosas no caso).
Sim, então eu estava pensando que a gente só existe mesmo através do contato com o outro, e isso parece fazer sentido especialmente agora. Eu sou o que aparece para o outro, e se não aparece, não sou. Daí o problema de ir perdendo amigos (morte, briga, mudança geográfica, afastamento natural) e ter cada vez menos pessoas com quem me sinto confortável e portanto posso agir do jeito que, hm, gostaria de agir, com a devida verdade e naturalidade, com cada vez menos pessoas. Ou seja, cada relação forte e brilhante que desaparece é um pedaço de mim que se vai e de repente já não sou. Com quantas eu posso aloprar ao invés de ficar dentro da armadurinha de latão? O que vai ser eu não puder mais me chamar de banana e dizer que estou vestida de amarelo em homenagem ao meu bananismo?

postado por Carol Bensimon as 21:18 | pitacos (8) | trackBack (0)

ficções.
A Editora 7 Letras está lançando essa semana a décima sexta edição da revista Ficções. Estou lá contando uma história com algodões doces no parque de diversões. A função no Rio acontece bizarramente às 10h da manhã de sábado, com café da manhã. E segunda o lançamento rola em São Paulo. Em Porto Alegre no hay evento nenhum, mas ela será vendida na Livraria Bamboletras. Clica na imagem para ver maiorzinho.



postado por Carol Bensimon as 15:13 | pitacos (3) | trackBack (0)

mais para cá, por favor.
Eu assistia Denis o pimentinha quando eu era pequena, e na verdade a única coisa relacionada a isso que sou capaz de lembrar é que, em certo episódio, colocavam a casa do senhor Wilson sobre um enorme caminhão e a levavam inteirinha até a beira de um lago. Fiquei fascinada e guardei fundo na memória. A possibilidade de transportar uma casa inteira e com tudo dentro porque simplesmente decidiu-se que não queríamos mais estar naquele ambiente, mas por outro lado estávamos apegados a todo o resto, fazia uma pequena revolução na minha cabeça infantil. Não muito diferente do que aconteceu esses dias no meu horário habitual de Discovery Channel e suas variações: durante o intervalo de um programa de criminalística, engenharia, ou grandes desastres que abalaram o mundo, lá estava a propaganda de um programa que tratará exatamente disso, casas sobre caminhões indo de um lugar para o outro. Naquela noite, brinquei de pensar que algum engenheiro maluco que assistia Denis o pimentinha inventou recentemente essa tecnologia. Parece mais interessante do que ter vivido quinze anos sem saber que aquilo de fato existia.

postado por Carol Bensimon as 10:31 | pitacos (6) | trackBack (0)

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