« novembro 2006 | Principal | janeiro 2007 »

gabriel.
Desde que o Gabriel morreu, ficou impossível não pensar nele a cada instantezinho do dia, como se não havendo mais o corpo fosse necessário que ele tomasse as nossas cabeças como lugar. Num primeiro momento a cidade se tornou perigosa e ameaçadora, além de cheia de Gabriéis em todas as ruas que andávamos falando besteira e muito de planos. Quando estamos nesse luto, o sol estar lá fora chega a ser ofensivo. No começo eu não conseguia escrever sobre, porque quando há muito o que dizer, não há nada. O Gabriel foi o cara que na noite do seu aniversário me chamou para ir ao Atelier das Massas com os seus pais. Eu espero que isso queira dizer muito sobre a enorme amizade que tivemos, bem como as inúmeras briguinhas que nossos orgulhos faziam durar mais do que deveriam. Mas eu tenho certeza que só quem pode nos tirar do sério é alguém de quem gostamos além da conta.
Como para qualquer um da nossa idade, morrer sempre esteve fora de cogitação. O que me consola é saber que o Gabriel nunca deixou para fazer no dia seguinte o que podia ser feito já, o que provavelmente nunca poderei dizer a meu respeito.
Quando eu voltei da França, vim com a idéia de um projeto, eu ia escrever e ele tiraria as fotos. Estávamos entusiasmados. Queríamos falar sobre o singular, o insólito desse sul do Brasil. Fomos para Pinhal e Cidreira num dia feio que ressaltava o feio que sempre está lá. Não foi um dia excepcionalmente divertido e cheio de risadas, mas havia uma alegria tranqüila, um estar tirando o melhor de um lugar onde não há muita coisa porque tínhamos a companhia imprescindível e às vezes silenciosa um do outro. O Gabriel sempre fez com que eu me sentisse muito à vontade, e por isso eu fiquei saracoteando lá naquela praia sem graça e imitando o caminhar e os ruídos hilários de umas aves catadoras de tatuíras. No fim da viagem, encontramos umas dunas perto de Cidreira. O céu estava incrível, a areia era branquíssima e não havia nada em volta, até o mar tinha ficado longe. Eu me lembro da clara sensação de estar na superfície de um outro mundo.
Tenho pensado muito nesse dia porque, embora exista uma quantidade incrível de imagens do Gabriel no hd de todos os nossos computadores, as fotos que eu tirei dele nessa viagem por alguma razão foram as que as pessoas devem ter julgado como as mais expressivas ou sei lá, talvez as mais Gabriel, sem o sorriso do entusiasmo de uma festa ou no meio de uma coreografia exagerada, embora isso também fosse ele, mas simplesmente estar ali assobiando numa praia nublada. Elas foram para o jornal, para a capa do Insanus e estavam também no site pessoal que o Gabriel estava construindo. E logo vão estar na sua lápide. Eu jamais poderia imaginar que estava tirando a foto da tua lápide, Gabriel. Fico vivendo essa cena de novo e de novo e não há nada nela que me indique onde é que tudo ia parar.
Penso então no que fazer para diminuir o avalanche de memórias. Quando saio, tento evitar a descida da Mostardeiro. Mas evitar já é de novo estar pensando.

postado por Carol Bensimon as 17:24 | pitacos (1284) | trackBack (0)

aceite.
Mulher de quarenta e tantos vestida de guriazinha é o tipo da coisa que só pode contar ponto contra, algo semelhante a um sutiã de enchimento: quando a verdade se revela no rosto que vira (antes havia só as pernas trabalhadas na academia numa saia chóven de 15 anos que logo se revelaria completamente inadequada), o choque é grotesco.
Senhores de tênis com mil amortecedores poderá ser a discussão do próximo tópico.

postado por Carol Bensimon as 08:54 | pitacos (16) | trackBack (0)

olá, academia.
Como até quem anda passando de cantinho pela vida, meio olhando pro chão encabulada etc e tal merece bem merecido uns dias de pavão, anuncio aqui que entrei bonito no mestrado da PUC, em primeiro lugar, área de teoria literária, ênfase em escrita criativa. Tô na área, mundo acadêmico. Me pega pela mão e fui.

postado por Carol Bensimon as 21:35 | pitacos (18) | trackBack (0)

tá na boca do malandro.
Há uma gíria que circula por aí, diz ela assim: fulano me deu um godô / ele sempre dá godô / e variações sobre o tema. Quer dizer dar bolo, não aparecer. Pois esses dias percebi que a coisa toda só pode ter saído da peça do Samuel Beckett, Esperando Godot (que nunca chega), embora como gíria a coisa funcione tão na linguagem do malandro que é praticamente inconcebível relacioná-la com referências artísticas tão refinadas. Mas coincidência é que não pode ser. Estou abismada. A propósito, Bruna Beber diz que não existe essa expressão no Rio. Será um gauchismo?

postado por Carol Bensimon as 21:42 | pitacos (16) | trackBack (0)

a fila sem fim.
A carioca poeta talentosíssima Bruna Beber chegou na área para comer xis coração e achar que em Porto Alegre todo mundo mora pertinho pertinho. Enquanto ela ainda nutre curiosidade pela Zona Sul da cidade e se recupera de uma festa furadíssima da gente DO TEATRO (tempo de dizer Vamos embora), lança então seu livro hoje, segunda dia 11, a partir das 19h na Palavraria.

c64dc46e-convite_bb_poa_0.gif

postado por Carol Bensimon as 07:50 | pitacos (1) | trackBack (0)

impossível ainda dizer qualquer coisa.


no.jpg

postado por Carol Bensimon as 16:02 | pitacos (24) | trackBack (0)

smart playlist.
Para aqueles que usam itunes + ipod, uma boa dica é montar uma smart playlist com as últimas 25 ou 50 músicas que tu baixou. Eu pelo menos tinha esse problema de baixar as coisas e esquecer completamente de ouvi-las, ou ouvir pouco. Agora essa smart playlist que criei foi uma solução: sozinha ela se atualiza com as últimas X músicas, e se sincroniza com o ipod. Aí é só ouvir até gastar. Faz assim, coloca:

date added / is before / 01/01/08
limit to ( ) itens selected by / most recently added
(x) Live updating

Eu devia ter pensado nisso bem bem antes.

postado por Carol Bensimon as 08:28 | pitacos (9) | trackBack (0)

arquivos

insanus



Kongo.gif