sublinhar.
Tem livro que eu sublinho à caneta. Não acho agressão. Ou alguém que sublinha com lápis já apagou o sublinhado? É só uma segurança boba. Sublinhar vem no impulso, é aquela coisa que tu teme perder no meio do texto e nunca mais achar. E quem é que fica lendo livro de novo e de novo, hein? Tem muita coisa pra ler no mundo. Sublinhar permite que eu pegue o livro na pressa anos depois e saboreie pedaços. Dou umas mordidas bem onde sobra o recheio.
Quem pega meus livros emprestados, não entende o sublinhado. Sublinhariam outros trechos, dizem. Mas é claro. Quem pega meus livros emprestados, meio que me desnuda, porque descobre o que me bate.
Agora eu trouxe uns livros pra cá, explico noutro post o porquê, e antes sentei espichada no sofá da sala pra folhear procurando a caneta, o lápis, tenho um prazer particular em fazer essa busca toda a vez que um livro me cai de novo nas mãos. Há diversos tipos de sublinhado. Os literários são os que menos se fazem entender, mui particulares, frases que acho belas, artifícios de linguagem e etc. Coisa boba, sometimes. Hoje então, esticada na sala, abri o Virgens Suicidas e li:

Sentou no carro olhando para a casa, vendo as luzes do térreo trocarem de lugar com as do andar de cima (...)

Mais adiante:

Enquanto isso, um programa de televisão local enfocou o tema dos suicídios dos adolescentes, convidando duas garotas e um rapaz para explicar por que o haviam tentado. Nós assistimos, mas ficou evidente que, depois de tanta terapia, eles já não sabiam o que era verdade.

O Tipo 1 e o Tipo 2. Em Jon McGregor, "Se ninguém falar de coisas interessantes:

Há uma pausa, e posso ouvi-la empalidecer.

Um recurso bastante simples, na verdade. Hoje em dia, acho que não sublinharia. E logo mais:

Todos os e-mails que recebo agora começam com desculpe mas tenho estado tão ocupado, e não entendo como podemos estar tão ocupados e depois não ter nada a dizer um ao outro.

Preciso reaver meu Lolita, by the way, e ler de novo os sublinhados. Eram particularmente interessantes e numerosos.

postado por Carol Bensimon as 15:46 | trackBack (0)

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