os brotos literários.
os brotos literários
Muitas meninas me causam agradáveis surpresas e eu pediria, se tivesse condições de oferecer alguma coisa: desliguem os computadores, por favor. Claro que a coisa parte do exagero que me é peculiar, mas tanto jeitinho repousando só em blog, isso é que é o mau. Ainda teve sujeito de São Paulo essa semana me falando em ousar, num espírito meio FSM, outro mundo editorial é possível. Isso que o papo era revista. Se fosse livro, tanto pior. Dá vontade mesmo é de desplugar todas, me desplugando também. Fazer de tudo papel para ser vendido em banca.
Listando os novos, o que me acorda mais, fato, são as novAs. E isso que estão em número bem menor. Homem só tá ganhando em quantidade (sem desmerecer os realmente talentosos, claro), e não me tirem daí pra feminista radical. Contudo, creio eu, da minoria se faz vantagem: ainda que o mercado editorial brasileiro nunca seja animador, às meninas rola um discreto benefício, que vem do próprio fato de serem elas, uau, meninas (melhor que isso, só as escritoras de 30-40, essas sim, preenchem demanda, que é mulher quem mais se interessa por cultura, tu sabe, vá lá contar os homens que estão no teatro aos domingos. Há muito o que ler e assistir sobre marido insensíveis e sobre o processo de envelhecer). Algo precisa ser feito, e talvez com um destino que já nasce promissor: conglomerados de meninas, fazendo o que seja, sempre geram pautas.
No entranto, cai-se daí no velho problema, detectado e discutido conjuntamente com Bruna Beber, e me desculpa, bru, se agora espalho nossas rabugices. É para um bem maior: quando surgem iniciativas fora do mainstream literário, creio que o destino das produções é fatalmente triste. O objetivo primordial de tais coisas é, com certeza, chamar a atenção da imprensa, e, nesse processo, arrecadar leitores. Pois na imprensa começam os desapontamentos: o que vira pauta invariavelmente é a iniciativa de meter a cara, de bancar a própria arte em suor e trocados. Sim, a pauta é A INICIATIVA, nunca a obra, a qual passa bem longe dos jornais. Para quem lê tal coisa, pode acontecer o seguinte:
a) cara acha curioso e very brave o sujetinho, mas, ué "se ele não foi publicado por uma grande editora, algo errado há". O leitor do jornal já carrega essa idéia. Cabe ao jornalista dissuadi-lo, "não, o fulano é bom mesmo", mas como?, se ele nem leu o livro, ou então a publicação é tão ruim que ele preferiu se ater à porcaria da nobre e bela e corajosa iniciativa?
b) sendo o leitor um carinha que digita uns pensamentos, vai logo ver nascer dentro de si um desejo de também colocar sua coisinha na praça. Daí começa o Festival da Mediocridade.
Do ítem B, parto então para a crítica principal. O lance é antropofágico, galera. Quem consome "nova literatura" são os "novos autores". Sim, tudo bem, quem escreve, lê, lê muito, e por isso vai dos clássicos aos nomes que surgem todo dia? Hm, também. Mas, na minha opinião, o principal da coisa passa por uma via bem menos nobre: quem escreve quer saber como diabos os outros autores estão viabilizando sua arte. Veja, primeiro INICIATIVA, agora VIABILIZANDO. Pasmem, nós estamos falando de literatura. Mas assim é, e digo com pesar. Dos encontros mais informais de jovens autores nos bares brasileiros às palestras sobre o assunto em algum evento cultural, sempre o que vejo é a mesma coisa: discute-se como se fazer aparecer, mas nunca O QUE. Assim, cada autor é um pequeno mundinho de idéias que não aceita qualquer interferência dos outros que estão na mesma busca. Ou melhor: não aceita porque não há nada nesse sentido. Discutir a carpintaria da coisa, as entrelinhas, enfim, fica soterrado em iniciativas quase únicas, como a oficina do Assis Brasil aqui em Porto Alegre, enquanto que o tempo, longo tempo, que se perde de fato é falando em orçamento de gráfica, distribuição, e então compre logo o meu livro que eu compro o seu.
Não me parece que esteja funcionando.
Por isso eu falo em desplugar. Mundinho de blog e de zine, todo mundo se linka, se lê, num círculo apertado onde não entra mais ninguém. Os que estudam direito, estatística, medicina estão fora, aqui só tem lugar pra publicitário, jornalista, estudante de letras e de filosofia, baby. Também estão fora os que cumprem sua meta de uns vinte livros ao ano, freqüentam livrárias aos sábados, mas nunca tiveram pretensões literárias, em blog ou jornal de bairro. E os de mais de quarenta, não ouso nem falar.
Mas isso é apenas uma das coisas que enxergo como parte da resolveção.
Para não terminar em desesperança, cito algumas meninas admiráveis. Cecília Giannetti, essa carioca é uma promessa, mas que já se cumpriu, logo estréia aí solo, tem contrato e tudo, aqui fica o blog. Julia Dantas, agora tá dividindo o blog com um cara, mas procura os posts dela, a menina é muito boa. A Dani Sigaud eu nunca consegui falar, ou porque ela é muito antipática ou porque o mail dela não é mais o que tenho, mas gosto, o texto flui. E essa menina eu não conheço, li o blog hoje por acaso. Nem sei, na verdade, se ela produz alguma coisa literária, mas ela tem uma boa pegada, e só dezoito anos. E daí eu fecho com Bruna Beber, a primeira que olha minhas coisas quando nascem, em quem confio nos julgamentos e nos talentos literários e, importante, com quem eu converso sobre o que realmente importa.

postado por Carol Bensimon as 16:57 | pitacos (11) | trackBack (0)

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