Comentários sarcásticos, crítica vitriólica e jornalismo a golpes de martelo por Marcelo Träsel


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proprietário do guion também não entende a internet

Há poucas semanas circulava um e-mail pelas caixas de entrada de muitos porto-alegrenses [cuja íntegra pode ser conferida clicando em "continue lendo", lá embaixo]. O autor era Carlos Schmidt, proprietário da rede de cinemas Guion. Ele pedia a solidariedade dos cinéfilos da capital gaúcha depois que um estudante de Direito resolveu processar sua empresa por causa de um filme em que aparecia uma cena de swing. O problema, conforme o futuro doutor de porta de cadeia, é que a casa falhou em informar sobre a safadeza na tela e assistir àquelas cenas pecaminosas e abjetas teria lhe causado danos psicológicos irreparáveis. Todos os que receberam aquela mensagem amaldiçoaram os advogados até a décima geração e lamentaram pela sorte de Carlos Schmidt.

Só que não deu para ficar simpático ao proprietário dos cinemas Guion, Guion Sol e AeroGuion por muito tempo. Há alguns dias, ele resolveu destratar um cliente por e-mail. Engraçado como esse Sr. Carlos Schmidt acha que o correio eletrônico serve para denunciar os abusos de bacharéis deslumbrados, mas não para propagar sua própria falta de educação. Está certo que o cliente pegou um tanto pesado ao comparar o péssimo som do AeroGuion com roubo — creio que, como não houve uma arma apontada contra ele, cobrar R$ 12 por um serviço e não entregar configura no máximo furto —, mas nada justifica a absoluta falta de modos e noção do Sr. Carlos Schmidt.

No final de toda discussão, o proprietário do Guion chama o reclamante de afetado e ainda diz que é "ridículo fazer esta onda toda por míseros R$ 12,00". Pode até ser que o Sr. Carlos Schmidt seja rico o suficiente para doar esse dinheiro a maus prestadores de serviço. Espero realmente que ele esteja ganhando milhões suficientes para não se preocupar em ser enrolado na oficina mecânica ou em ser ofendido por garçons e ainda pagar 10%, porque gosto de ver as pessoas se dando bem na vida. Só que sou contra o desperdício e, portanto, não vou acrescentar meus níqueis aos seus milhões, apenas para vê-lo ser perdulário com eles. Doravante, boicotarei os cinemas Guion. Recomendo que os leitores façam o mesmo.

---------- Forwarded message ----------
From: carlos@guion.com.br
Date: May 16, 2007 5:04 AM
Subject: PINTAR OU FAZER AMOR gera ação judicial contra ocinema Guion
To: carlos@guion.com.br


FILME QUE SAEM DE CARTAZ NA SEXTA


AeroGuion 3– SCOOP– 18h45 ÚLTIMAS SESSÕES 96 MIN/ 12ANOS

GUION CENTER 3– UM AMOR ALÉM DO MURO – 17h40 128MIN/ 14ANOS

GUION SOL 2 – HOLLYWOODLAND- Sáb/11 e Dom/ 12 – 18h ÚLTIMAS SESSÕES
128 MIN/ 14ANOS

GUION SOL 2 – A RAINHA – 20h30 ÚLTIMAS SESSÕES 103 MIN/ LIVRE

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A NÃO MENÇÃO DE SWING DE CASAIS NA SINOPSE DO FILME

PINTAR OU FAZER AMOR

GERA AÇÃO CONTRA O CINEMA GUION


No mínimo, o que podemos depreender da ação abaixo é muita falta do
que fazer e uma grande necessidade de aparecer. E, como parece ser
este o desejo, tornamos pública a ação de censura que somos vítimas
pelo cidadão abaixo.

A reclamação de que a sinopse não contempla menção ao swing de casais
e isso ter originado a ação é um absurdo. Em que medida um filme de
censura até 16 anos pode prejudicar um cidadão adulto com os cursos
que possui o referido cidadão?

As sinopses são fornecidas pela distribuidora e, independente disso,
achamos totalmente estapafúrdio o mote que move a ação a que somos
vítimas.

Quantas vezes ouvimos em uma fila de cinema a revelação de
determinados fatos referentes a um filme e isso suscitou reclamações
de quem vai assistir ao filme .

Por isso não é aceitável que o cinema altere a sinopse oferecida pela
distribuidora , que por conseguinte representa a visão e intenção do
diretor.

Nos perguntamos se uma visão tão estreita justifica uma ação judicial,
tomando o nosso tempo e do judiciário.


GUION CENTER 2– PINTAR OU FAZER AMOR – 100 MIN/ 14ANOS 14h50 – 18h40
– 20h30 – 22h15


Algumas manifestações que recebemos sobre o momentoso caso
de alguém que não sabe PINTAR OU FAZER AMOR.


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De: NEIVA MELLO
Enviada em: terça-feira, 15 de maio de 2007 08:24
Para: carlos@guion.com.br
Assunto: PINTAR OU FAZER AMOR gera ação judicial contra o cinema Guion


Esses são os advogados que teremos no futuro. Acho que este marmanjão
deveria deixar de ser hipócrita e ir tratar de causas mais justas e
necessárias para o País. O filme é bonito, não é grosseiro e faz
pensar sobre muitas coisas que não somente esse tipo de gente é a que
mais mente, mais trai, mais engana.
O Guion é um dos melhores lugares para assistir a um filme em Porto
Alegre, geralmente tem filmes de qualidade e o ambiente é tranquilo e
agradável!
Parabéns.

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Não riam.
É sério.
Tem maluco pra tudo.
E o cara ainda admite que não só jornais publicaram textos sobre o
tema, como também que uma destas publicações estava afixada no mural
do próprio cinema, em seu saguão de entrada.
Sem falar que ele termina admitindo que as cenas (para ele) polêmicas
são "românticas, sensíveis e líricas".
Será que ele exigiu que a amiga fosse de burka, ao cinema?
Ney

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Mas esse cara é um retardado. Ou está querendo se promover. Ridícula
e descabida a alegação dele, e acredito que nenhum juiz vai levá-lo à
sério. Um abraço do Eduardo

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Oi Carlos, tudo bem?
Olha, sei que não tenho nada a ver com isso, mas se serve de consolo,
uma sugestão que te dou, caso precises de argumentos, é que, a
qualquer momento, ele poderia ter se retirado da sala de cinema,
certo?
Solidária com tua causa
Um abraço
Paola Coelho

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Para: carlos@guion.com.br
Assunto: Re: PINTAR OU FAZER AMOR gera ação judicial contra ocinema Guion

Prezados Senhores,

Incrível! Fantástico! Extrordinário!. Não tenho palavras para
expressar em relação ao fato narrado por Vs.Sas. O autor da ação deve
estar em busca dos seus "15 minutos de fama". Solidarizo-me com os
proprietários do Cine Guion, perante a agressão descabida, solerte e
sem fundamento. É o mínimo que posso fazer em relação a um grupo de
pessoas honestas e trabalhadoras, que vem me proporcionando nos
últimos anos, serviços de lazer de primeira qualidade.

Atenciosamente,

Arthur Torelly Franco.

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Subject: Ação judicial contra o cinema Guion

Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito

Venho com esta interpor ação judicial contra os Cinemas Guion pelos
fatos que exponho a seguir:
Domingo, dia 29 de abril, recebi o convite de uma amiga para ir ao
cinema Guion Center, sito à av. Lima e Silva, às 20h20min, para
assistir ao filme francês "Pintar ou Fazer Amor". O critério de
decisão de escolha foi a leitura da sinopse disponibilizada na
internet, http://www.guion.com.br/pinar.html (ver impressão em anexo),
cujo conteúdo aqui reproduzo:

"Um casal se muda para uma nova casa, onde faz amizade com outro
casal. Quando a casa dos novos amigos incendeia eles aceitam
acolhê-los em sua nova residência. Com Daniel Auteuil e Sergi López.
(seguem-se informações do filme como gênero, diretor, elenco etc.)
Sinopse William e Madeleine vivem em uma cidade nas proximidades de
uma montanha. Casados há um bom tempo, e certos de seu amor, seguem
sua vidinha pacata. Sua filha, única, está de mudança. Agora eles não
têm mais ningu! ém para cuidar a não ser eles mesmos. Durante uma de
suas caminhadas nos bosques, Madeleine acaba chegando em frente a uma
antiga casa e conhece Adam, um homem refinado, culto e cego. Ele
mostra uma casa nos arredores que está a venda, pela qual ela se
apaixona a primeira vista. William e Madeleine decidem comprá-la. Nas
semanas seguintes a venda o casal está contente e satisfeito. Eles
planejam suas vidas próximas a Adam e sua jovem companheira Eva, cuja
casa é algumas quadras dali. Quando a casa de seus amigos incendeia,
William e Madeleine não têm dúvidas em acolhê-los."

Durante a sessão, surpreendemo-nos com a prática sexual de "swing" de
casais, em que o casal anfitrião adere ao dito comportamento a partir
de uma experiência com um casal amigo e vizinho. Algumas pessoas se
retiraram do cinema durante a sessão, antes e depois do principal
evento referido. No final da sessão, constatamos que se encontrava no
mural de entrada do cinema um recorte do jornal Zero Hor! a que
mostrava um artigo que trazia uma crítica - comentários e consid
erações - a respeito da característica essencial do filme, que é a
abordagem do tema swing de casais, que fora suprimida ou omitida na
sinopse residente na internet na página do cinema fornecedor.
Creio que não há que se falar em "bons costumes", pois parece que
todas as moralidades estão disponíveis hoje em dia nas bancas de
revista, nos canais de televisão aberta e fechada, na internet e nas
locadoras de vídeo. Entretanto, requereiro a devolução dos dois
ingressos pela omissão de informação essencial do filme a respeito de
uma prática sexual específica, impedindo-me, como consumidor, de
exercer minha livre escolha, optando por um filme que pensei tratar-se
ingenuamente da história de amizade entre dois casais, sem práticas
sexuais bizarras.
Aliás, apenas para raciocinar, sem no entanto consentir, até é
possível que no futuro não exista amizade sem sexo (o que levaria ao
fato de as pessoas virem a recusar a amizade de outros que viessem a
se negar a fazer amor).! Entretanto, atualmente, pelo menos por
enquanto, amizade é um conceito que não inclui a prática sexual - até
há um termo para esse novo tipo de amizade que é a "amizade colorida".
É possível , portanto a existência de amizade com ou sem swing de
casais, o que não é possível é a satisfação do consumidor com a
supressão de uma informação essencial do produto ou serviço na hora de
sua soberana e livre escolha, principalmente do que se deseja consumir
nos produtos e serviços culturais nos aspectos da moral e da
sexualidade.
Vice-versa, é possível imaginar a frustração de um filme que tivesse
no título a expressão "swing de casais" para aquelas pessoas que
fossem ao cinema para ver essa prática sexual acontecer e se
deparassem apenas com um filme ingênuo, puro e enfadonho a respeito da
amizade sem sexo.
Os Cinema Guion violou o Código de Defesa do Consumidor ao ferir o
princípio da boa-fé que inclui o dever de informação essencial na
venda de um produto ou serviço.
As! sim, solicito a condenação dos Cinemas Guion, com a conseqüente
devolu ç ão das duas entradas e a alterarção necessária do conteúdo de
sua página informativa da internet para que inclua explicitamente a
característica essencial do filme em relação à pratica de swing de
casais, pena de outros consumidores continuarem sendo lesados por
serem induzidos a acreditar que o filme trata-se de uma apologia à
amizade desinteressada e não à abordagem da prática de swing de
casais, ainda que romântica, sensível e lírica.
Salvo Melhor Juízo,

Marcel Stock Rego
Bacharel em Administração, Analista Judiciário TRT da 4ª Região,
estudante de Direito UFRGS.

4 de junho de 2007, 21:02 | Comentários (40)



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