Comentários sarcásticos, crítica vitriólica e jornalismo a golpes de martelo por Marcelo Träsel


de como o jornalismo pode não ajudar em nada

Uma jovem de 13 anos e um professor de 31 são encontrados mortos em um motel, em um aparente pacto de suicídio. Deixaram cartas às famílias. Em que a principal rede de mídia gaúcha se concentra? Em discutir os motivos que levam dois amantes a cometer um ato desses? Entrevistar psicólogos, criminalistas? Em tentar descobrir por que os dois se viram em um beco cuja única saída era a morte? Não. Concentra-se no fato de os motéis permitirem a entrada de menores. Assistindo aos telejornais do grupo RBS, tem-se a impressão de que a ida ao motel foi a principal causa da tragédia.

É um grande desserviço. Está certo, os motéis estão infringindo a lei e é papel do jornalismo noticiar infrações e crimes. Mas também é papel do jornalismo colocar as coisas em perspectiva e, nesse caso, a lei é hipócrita e inútil. Motéis servem para pessoas que moram com os pais — ou cônjuges, ou etc. — transarem em paz. A maioria dos adolescentes faz sexo. A maioria mora com os pais. Logo, motéis são úteis para eles. Não apenas isso, como qualquer menino ou menina de 14 anos hoje em dia sabe o que é sexo, se é que já não pratica. Com 16 anos, podem até votar, isto é, são considerados cidadãos responsáveis o suficiente para decidir quem vai foder com o país, mas não para quem vai foder só com eles mesmos. O mais lógico seria que a maioridade fosse reduzida para essa idade. Nem sombra dessa discussão toda nas matérias sobre motéis. Ninguém dizendo "ei, vamos deixar de besteirol, deixem a gurizada trepar em paz".

De todas as outras possibilidades de abordagem do fato, nenhuma daria tanto trabalho quanto visitar cinco motéis da cidade com uma atriz de 14 anos, apenas para mostrar o que todo mundo já sabe: ninguém dá bola para a lei da Criança e do Adolescente. Então não existe a desculpa de falta de recursos, comum para justificar a ausência de reportagem que preste. O único recurso escasso nesse caso talvez fosse capacidade intelectual, mesmo.

Há alguns dias, publicou-se aqui um link para um artigo reclamando de como os jornalistas só usam as declarações mais idiotas de pesquisadores. Agora, o Mojo envia a dica de um blog dedicado exclusivamente às bobagens que se diz sobre resultados científicos, sempre com uma grande ajuda da imprensa:

The constant bombardment of news of hypothetical dangers, and our increased intolerance of risks, contrasts with the reality that we live in a safer world and are healthier than ever. The media could be a positive influence and help us understand complex issues so that we can make health decisions that are best for ourselves. As much as we think we don’t, most of us on some level do believe the health news we see on television and printed in prominent publications. The way that a risk is depicted and how often it is repeated can make a big difference in how serious it seems. Even the most wary of us can be seized by alarming soundbytes. It is easy to scare us in a soundbyte, but impossible to really confer understanding of an issue in a few words.

Por que isso acontece? De uma forma geral, porque os repórteres são ignorantes. A maioria não sabe nada de matemática e estatística e cada vez menos estudantes têm uma boa formação humanista, embasada em história, sociologia e filosofia. Por causa disso, são facilmente enrolados pelas fontes, ou facilmente entendem errado as declarações das mesmas. Isso para não entrar na questão dos salários baixos e carga absurda de trabalho, que realmente pouco incentivam um jornalista a fazer algo além do necessário para enviar a matéria ao editor, atendendo a padrões mínimos de publicação. Quando o repórter é bom, em geral o editor barra suas idéias. E se calhar de ambos serem bons, aí o mais normal é subestimarem o leitor, crendo que não entenderá qualquer texto mais complexo.

A solução seria transformar os cursos de jornalismo em uma especialização, obrigando os candidatos a repórteres a se aprofundar em alguma outra área, como economia, ciência política, história ou mesmo engenharia e biologia, antes de chegar às redações. Na especialização, sim, seriam ensinadas as técnicas de reportagem e algumas noções de teoria seriam fornecidas. Melhoraria bastante a qualidade do que lemos, ouvimos e vemos.

28 de novembro de 2006, 10:41 | Comentários (25)

homem se mata em protesto e ninguém percebe

E o prêmio de loser do ano já tem um vencedor.

Dica do Láudano.

28 de novembro de 2006, 10:36 | Comentários (4)

a volta dos que não foram

O Eduardo Fernandes, vulgo Eduf, voltou a fazer música.

28 de novembro de 2006, 10:21 | Comentários (0)

quero te pegar no colo, te deitar no solo e te fazer mulher

É bastante educativo ler os depoimentos de mulheres enganadas por cafajestes no site Não saia com ele. O serviço se destina a servir de alerta para as donzelas incautas por aí, para que não se metam em encrencas com rufiões do pior tipo. Vejamos alguns exemplos:

"sair com ele é tudo de bom, mais ai é só não te liga, e nem te procura mais, nunca mais."

"Cara safado ta ai. Bom de cama mas cafajeste até os ossos. Quando consegue o que quer (sexo) some igual fumaça no vento. Muito bom de cama, mas é só isso. Enquanto esta te cantando é todo cheio de romance e presentinho, mas depois...ninguém consegue achar ele. Mulheres fujam desse cara!"

"O cara é gostoso, bom de cama, mas se envolve com muitas mulheres ao mesmo tempo, ate ai, tudo bem, mas dizia q qria um filho homem e nunca usava camisinha dizendo isso, acontece q engravidei e o cara sumiu, no orkut, tem nova mulher se dizendo casada com ele qrendo filhos, fora o meu, ele tem mais 3 meninas e nada de pensão, nem de registro Gostoso é, mas CANALHA"

"Tudo começa com um olhar e uma conversa louca, logo dá pra ver o quanto ele é gostoso. Ainda por cima bonitão, te trata como uma princesa, além de ser cheio da grana, te enche de presentes caríssimos, q ele mesmo faz, pois é um artista. Em pouco tempo você já está apaixonada, daí descobre que ele também é bom de cama. É o homem perfeito. Porém descobrí que ele tem outras!! Depois de um tempo dá uma loucura porque ele só fala coisas sem nenhum nexo... e ainda usa suspensórios ridículos! :/ "

Esses quatro depoimentos estavam entre os dez perfis na página principal do site. Donde, conclui-se que a verdadeira cafajestagem não é algum traço de caráter, mas fazer um serviço bem feito na cama e depois deixar as moçoilas a ver navios.

Ah, mulheres!

27 de novembro de 2006, 10:51 | Comentários (20)

aceitamos cheque pré-datado


My blog is worth $43,469.58.
How much is your blog worth?

Valho mais que o Reinaldo Azevedo.

Gentileza do Láudano.

26 de novembro de 2006, 16:43 | Comentários (6)

a primeira vez a gente nunca esquece

O Infomedia TV publicou em seu podcast minha primeira entrevista na condição de pesquisador, a respeito de jornalismo open source. Foi gravada durante o 4º Encontro da SBPJor.

Só queria saber quem é o dono dessa voz estranha que ficou repetindo todas as respostas que eu dei no podcast.

26 de novembro de 2006, 14:17 | Comentários (4)

só a ficção se aproxima da verdade

Ontem falei mal da Globo, hoje falarei bem. A série Antônia está muito boa. Assisti ao primeiro e ao segundo capítulos. Até agora, conseguiram mostrar a periferia de São Paulo sem cair no oba-oba paternalista daquele tenebroso Central da Periferia. Nada contra as bandas péssimas que a Regina Casé põe a tocar, mas a tentativa de fazer lugares miseráveis parecerem mais divertidos que o Leblon é patética. Nesse sentido, a série de ficção sobre as rappers de Brasilândia é muito mais verdadeira do que o programa supostamente não-ficcional.

Destaque do capítulo de ontem foi quando a personagem Bárbara, logo após sair da cadeia, encontra um agroboy e vai com ele para o motel. Depois da putaria, ele vira para ela e diz: "esqueci de perguntar uma coisa superbásica: quanto custa o programa?". Como é televisão, os dois acabam fazendo as pazes, mas sem cair em melodrama, porque quando o sujeito diz que faz qualquer coisa para perdoá-la, ela manda pagar o programa. Com o dinheiro, ajuda uma colega. Mas também, a direção foi de Tata Amaral, com roteiro de Jorge Furtado e Cláudia Tajes. Assim é fácil sair coisa boa.

A Globo, é claro, não resolveu colocar negros pobres como protagonistas porque percebeu que black is beautiful. Percebeu mesmo foi o mercado potencial: os filhinhos de papai que admiram a cultura hip-hop e serão vendidos como público-alvo às agências de publicidade. Se conseguirem favorecer a causa negra e ainda fazer boa dramaturgia no caminho, tanto melhor.

25 de novembro de 2006, 19:17 | Comentários (5)

crítica de mídia, porque sou mestre em comunicação

No capítulo de agora há pouco de Páginas da Vida — que deveria se chamar "panela velha é que faz comida boa", ou algo assim — duas personagens que não identifiquei por estar de costas para a televisão comentavam o assassinato da ex-cunhada de Gerdau, ocorrido no bairro Leblon, Rio de Janeiro. Trocaram frases sobre o horror da violência nas grandes cidades, a ineficiência do Estado etc. Manoel Carlos, autor da novela, mora no Leblon e tem usado sempre o bairro como cenário. Deve ser legal usar uma novela da Globo como blog.

Aliás, a presença constante na mídia de um Leblon habitado por Reginas Duartes já deu nojo do lugar, mesmo sem conhecer.

O Globo Repórter, porém, salva a emissora abordando um assunto inexplicavelmente ignorado pela imprensa nos últimos tempos: a armadilha que são esses empréstimos populares. Não lembro de já ter visto alguma reportagem aprofundada sobre o tema. Esse caso não é o ideal, pois enfoca mais a incapacidade das pessoas em lidar com a noção de juros e de planejamento financeiro do que a evidente má-fé dos bancos de fundo de quintal.

Num país decente, distribuir panfletos com "grana fácil", "faltou dinheiro? sem problemas" e outras enganações seria proibido — bem como o banco acrescentar o valor de empréstimos pré-aprovados em seu saldo, como se fosse dinheiro seu. Uma conhecida que já trabalhou em um desses bancos conta histórias tenebrosas. Demitiu-se por não agüentar prejudicar as pessoas todo dia. E isso que era ladra: saiu por justa causa do emprego anterior por tirar dinheiro do caixa.

24 de novembro de 2006, 22:03 | Comentários (13)

barcamp porto alegre vem aí

O BarCamp é um modelo de evento baseado nos princípios de colaboração e auto-organização. Ao contrário das conferências tradicionais, não há uma pauta pré-definida de apresentações e grupos de trabalho. Os participantes decidem a grade de programação e formam os círculos de debate conforme seus interesses, invertendo o modelo top-down das reuniões de especialistas e adotando um modelo emergente, bottom-up. O trabalho da organização é mais facilitar do que comandar. Por isso, costuma-se dizer que os BarCamps são "desconferências".

O BarCamp POA acontece nos dias 9 e 10 de dezembro. O local será a Federação dos Trabalhadores na Indústria da Alimentação, na Jerônimo Coelho, 303, centro da cidade. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas na página do evento. Aceitam-se doações voluntárias para a compra do material necessário. Outra forma de colaborar é comprar uma camiseta. Quem quiser ajudar na organização, pode se juntar à lista de discussão também. Por favor, colaborem também na divulgação.

Para saber como funciona a tal "desconferência", leia o relato do BarCamp Brasil, que aconteceu em Florianópolis em setembro.

24 de novembro de 2006, 10:20 | Comentários (6)

vote no rei
Muitos brasileiros ficam espantados com o simples fato de saber que no Brasil existe uma família imperial, os poucos que conhecem conheceram a face desta família, que fora construida sobre o imaginário republicano. Depois de 114 Anos de República, e tendo nossa Pátria resistido os mandos e desmandos de infelizes mandatários que se estendem até os dias de hoje. A Família Imperial Brasileira ainda é tida como a reserva moral da nação. Nossos príncipes remontam a época da Indepêndencia do Brasil, e poucos sabem que na realidade remontam a Hugo Capeto (940-996) que fora Rei da França em 987. Isto a precisamente a 1017 Anos!

É com um português pedestre como esse que a Casa Imperial do Brasil pretende restaurar a monarquia. Analfabeto por analfabeto, é melhor ficar com o Lula, que ao menos tem mandato limitado.

23 de novembro de 2006, 10:41 | Comentários (11)

contribuinte morto não paga
Costuma-se dizer que, no Brasil, para cada real arrecadado um outro real é sonegado. É possível que não seja exatamente essa a proporção, mas dificilmente alguém duvidará de que sonegar impostos é um dos esportes nacionais mais praticados. Vamos então supor que essa relação de um para um seja verdadeira e que, por algum milagre, tudo o que, pela lei, de fato deve ser recolhido em impostos, taxas, tributos e contribuições venha a pingar nos cofres públicos de um dia para o outro.

O que aconteceria? Obviamente, a carga tributária dobraria, alcançando monumentais 80% do PIB. Mas isso não significaria um grama de aumento de carga para os que já recolhem e, simplesmente, implodiria o déficit público, com todas as vantagens do equilíbrio fiscal.

Agora, imagine um corte drástico e linear nos impostos diretos e progressivos sobre a renda individual. Isso, num primeiro momento, aliviaria a vida de todos os que ganham o suficiente para não serem isentos de recolhimento do imposto de renda. Mas, é lógico, favoreceria proporcionalmente mais quem ganha mais. O resultado seria um colapso econômico, com estímulo à produção de bens supérfluos e a falência definitiva de serviços públicos tipo segurança, controle ambiental, pesquisas etc.

O economista José Paulo Kupfer combate o festival de besteiras a respeito da carga tributária que tem assolado a mídia. Mostra que na economia, como em qualquer outra área, nada é tão simples assim. Não que qualquer pessoa em sã consciência possa ser a favor de impostos mais altos, mas há tributos e tributos, e alguns são justos.

22 de novembro de 2006, 11:04 | Comentários (10)

trocando seis por meia-dúzia

A Prefeitura quer, definitivamente, acabar com a Cidade Baixa. Por causa da mania de mudar o nome dos equipamentos públicos, muita gente não percebeu que o largo Zumbi dos Palmares, onde está prevista a instalação de um terminal de ônibus, é na verdade o largo da Epatur. Esse largo é famoso pelas feiras livres e por ser local de espetáculos e festividades de Porto Alegre. A Prefeitura não poderia ter escolhido pior.

O principal objetivo do projeto é desafogar o Centro, tirando boa parte da circulação de ônibus na região. Para isso, resolveram afogar a Cidade Baixa. O grande problema é que se trata de um bairro residencial, ao contrário do Centro. Os moradores terão de agüentar ruído de ônibus indo e vindo até altas horas da noite e rafuagem de uma maneira geral. O terminal atrairá camelôs e criminosos e a vida noturna ficará ainda mais lotada. De qualquer modo, o trânsito no bairro será prejudicado.

A idéia fica ainda mais ridícula quando se pensa que há vastos espaços livres perto do Centro Administrativo do Estado. Um bom local para esse terminal seria o espaço entre a avenida Praia de Belas e a Borges de Medeiros, no limite da zona residencial da Cidade Baixa. Ou ainda mais longe, perto do prédio da Receita Federal, conhecido como "chocolatão". Lá não mora quase ninguém. Talvez fosse até uma forma de despovoar a região de todos os moradores de rua e pivetes cheiradores de cola.

21 de novembro de 2006, 12:17 | Comentários (16)

medo e delírio no festival do anchieta

A minha advogada sefaradi comentou em uma mesa de bar na semana passada que iria ao Festival Interno da Canção Anchietana, ou Fica. Como estava já umas sete doses acima do resto da humanidade, deixei uma onda de nostalgia tomar meu aparelho vocal e pedir a ela que me comprasse um ingresso também. Quando me recuperei da ressaca, era tarde. Só restou ir à antiga prisão de Abu Ghraib* no último sábado, às 16h30.

A idéia na verdade era encher a cara antes de entrar, para que pudesse perder a vergonha de me misturar a adolescentes e pais de candidatos a músicos para ver péssimos shows. Infelizmente, a única droga que posso tomar por algumas semanas são antibióticos pesados. Talvez seja uma boa coisa, já que no fundo o álcool era o culpado por me levar a assistir completamente sóbrio ao Fica. Revoltado com o destino, comprei uma lata de Fanta Uva no posto de gasolina em frente ao Anchieta.

Corante roxo deve ser uma droga forte. Só isso explica ter dado de cara com um bando de pagodeiros na entrada do ginásio. Em 1993 seria impensável uma banda de pagode tocar no Fica. Bandas de reggae costumavam ser recebidas com uma artilharia de latas para Carlinhos Brown nenhum botar defeito. A gurizada da época só aceitava o Metauuuuu — e tolerava o Grunge. Sim, só podia ser alucinação.

Não parou por aí. Os efeitos psicotrópicos da Fanta Uva me fizeram ver os nerds bem vestidos, enquanto os mauricinhos pareciam estar prontos para sentar no sofá e assistir à Sessão da Tarde. Bermudas, chinelos, calças fuzô, malhas de ginástica. Do lado dos nerds, All Star e Adidas, paletós, malhas listradas, acessórios. Apenas uma menina parecia ter se inspirado na Nina Hagen dos anos 80, mas ainda assim parecia ter se preocupado mais com a roupa do que qualquer nerd que se prezasse nos anos 90: basicamente, você se vestia como um pedreiro gótico ou um contador daltônico. Isso para não falar que, enquanto nós tomávamos vodca Walesa ou cachaça Sete Campos antes de entrar no Fica, os rebeldes de hoje compram cerveja no posto de gasolina em frente ao colégio. Maricas!

Para meu alívio, a onda passou quando estava prestes a entrar numa bad trip. É que pareceu que tivesse visto um cabeludo gordinho de óculos — aliás, o fato de que a proporção de cabeludos e normais se inverteu nos últimos dez anos também chamou a atenção — agarrando uma loirinha gostosa. Isso já era demais! Apesar do geek pride, a situação era... Errada! Comecei a ficar paranóico, achando que tinha tomado Fanta Uva demais, mas aí notei que eram apenas irmãos. Ou será que...?

Os shows foram todos lamentáveis até que a banda Spitfire entrasse no palco tocando Aces high. Quase chorei de emoção ao lembrar da minha jaqueta de brim com patches do Sepultura, o símbolo do anarquismo e de meus coturnos. Nem deu para sentir vergonha do vocalista de uns 30 anos que pensava ser o Bruce Dickinson. Ainda assim, não me animei a pogar com a gurizada. Hoje em dia os hematomas levam muito mais tempo para se curar.

A Spitfire tocou bem, mas na minha opinião o prêmio iria para a Gádot, uma banda de pré-adolescentes fãs de NOFX. Tocaram Deus é gaúcho em versão hardcore, mandaram todo mundo tomar no cu e chutaram as latas que povoavam a beira do palco na platéia. Os amigos da banda promoveram uma sessão de violência que não ficou devendo nada aos metaleiros dos anos 90. Quando terminaram suas quatro músicas e a próxima banda já estava no palco, emendaram com a versão do Tequila Baby para Love me do — e nem devem saber quem foram os Beatles. Gurizada responsa.

Depois disso, o Fica tinha acabado para mim. Nem fiquei para ver quem ganhou. Até porque, ao contrário dos anos 90, quando era apresentado por gente como Astrid e trazia bandas como Kid Abelha [é, pois é], Bandaliera e até Rosa Tattooada, se não falha a memória, o festival daquele domingo terminaria com Os Bacanas.

* Lembro especificamente de quando minha mãe foi chamada para conversar com a orientadora pedagógica, sob alegação de que meus textos eram imaginativos DEMAIS.

20 de novembro de 2006, 12:06 | Comentários (20)

a imprensa nunca tem culpa

O filho do casal de idosos morto em São Paulo passou ontem o dia inteiro como suspeito de parricídio. Agora, a polícia voltou atrás e tirou o homem da lista de suspeitos. Além da dor da perda dos pais, o homem ainda teve de agüentar o linchamento moral de ser considerado um dos piores tipos de criminosos, senão o pior. Sua casa amanheceu pichada com palavras como "assassino".

Nem vale a pena entrar no mérito da notícia em si. Crimes passionais ou familiares não contribuem em nada para o interesse público — embora possam ser muito interessantes para o público. Ao contrário de um caso como o da Escola Base, que atingia uma comunidade considerável, esse parricídio não influi em nada fora do círculo familiar. O valor informativo para o cidadão é nulo. Notícias sobre assaltos a banco ou ladroagem de uma maneira geral ao menos permitem conhecer pontos críticos e formas de se proteger. Parricídio é apenas circo.

Como não podia deixar de ser, os jornalistas se apressaram a limpar a própria barra após a lambança. Um repórter do Jornal Hoje perguntou ao delegado se não havia sido uma irresponsabilidade indicar o filho como um dos suspeitos. Este deu uma resposta meio enviesada, sugerindo que não foi irresponsabilidade. E deve ter razão. O mais provável é que tenham falado em diversas linhas de investigação. Os repórteres, obviamente, escolheram a mais saborosa para noticiar. Qual a graça de outro casal de velhos morto por assaltantes? Já um caso de parricídio fornece meses e meses de tragédia grega para narrar, como até hoje demonstra o caso de Suzane Richthofen. No entanto, as matérias sobre o assunto jogam a culpa apenas nas declarações da polícia, não na descontextualização malfadada feita pelos repórteres.

Isso lembra um artigo do blog especializado em neurociência Mixing Memory. O autor, Chris, chocado com as declarações de um colega em uma matéria sobre o assunto, chega à conclusão de que os repórteres escrevem sobre uma pesquisa quando "conseguem fazer o autor dizer alguma bobagem". É triste, mas o blogueiro tem razão na maioria dos casos. Devido aos constrangimentos de tempo e espaço da narrativa jornalística, é preciso fazer com que as fontes simplifiquem o assunto o máximo possível, de preferência em uma frase. Melhor ainda se for uma frase de efeito, que renderá boas "aspas" no texto, vídeo ou áudio. Além disso, repórteres não aceitam "não" como resposta. Enchem o saco do entrevistado até que ele solte alguma declaração. Se ainda assim não diz nada, a pessoa pode contar com toda má vontade do mundo por parte da mídia.

Como se sabe, nada é simples. As coisas são complexas e sempre existem ressalvas, poréns e exceções. O problema é que o jornalismo odeia a complexidade. Contradição é coisa para as ciências e as artes. No jornal, só se tem espaço para um aspecto do assunto ou, no máximo, dois lados de uma mesma questão. É preto ou branco. Todos os 256 tons de cinza existentes na vida real ficam de fora.

O que houve no caso do casal de idosos mortos em São Paulo, portanto, faz parte da rotina jornalística. O delegado falou algo, os repórteres destacaram a informação de seu contexto e publicaram. Infelizmente, dessa vez a coisa andou para outro lado e a descontextualização se mostrou um erro com conseqüências graves. Na maior parte das vezes isso não acontece e alguns repórteres conseguem mostrar a complexidade das questões, mesmo com todos os constrangimentos impostos pelo tempo e pelo espaço. O único problema é que, quando as coisas dão errado, os jornalistas sempre tentam se eximir, dizem que estavam apenas relatando os fatos e deixam a batata quente na mão das fontes que viram suas declarações usadas de forma simplificadora.

Em vez de culpar o delegado Rodolfo Chiarelli, a mídia deveria fazer um mea culpa e pedir desculpas ao pobre sujeito que foi acusado injustamente.

18 de novembro de 2006, 14:30 | Comentários (12)

dez dicas para não fazer um blog

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O cartunista Hilton Himmler, do Guarda Nacional, se supera a cada novo post.

17 de novembro de 2006, 15:27 | Comentários (8)

moral da educação está baixa

O Ibope fez uma pesquisa sobre educação básica, aferindo seu lugar entre as prioridades do Brasil na visão da população. Ficou em sétimo. Em primeiro lugar está a saúde [43%], em segundo o emprego [41%], em terceiro, fome e miséria [31%]. À frente da educação básica, que ficou no topo da lista para apenas 15% dos entrevistados, ficaram ainda a segurança pública, corrupção e até drogas. Um dado pitoresco é que a cultura vem em 24º lugar, com 1% de votos.

É interessante notar que todos os problemas citados antes da educação poderiam ter seu impacto reduzido significativamente, se os brasileiros tivessem acesso a boas escolas. Qualquer médico pode atestar que muita gente tem problemas de saúde por ser ignorante. Ao mesmo tempo, cada vez mais empresários têm reclamado que não conseguem preencher vagas por causa da má qualificação dos candidatos. Isso tem relação direta também com a miséria. Os problemas sociais evidenciados na corrupção, crime e uso de drogas também podem ser mitigados pela educação, seja garantindo perspectivas e emprego às pessoas, seja ensinando a elas como fazer valer seus direitos de cidadão.

Não que a educação possa resolver tudo, mas note-se que combater de forma isolada qualquer um dos problemas listados nas primeiras posições não necessariamente influencia os outros seis, enquanto a educação é o único que influencia a todos sem sombra de dúvida. O pior dado, entretanto, indica que as pessoas que mais precisam da educação não têm capacidade nem de ajudar a si mesmas:


O percentual de entrevistados que coloca a Educação como prioritária se mantém praticamente inalterado entre os que têm nível de escolaridade até o Ensino Médio. No entanto, entre os que completaram o Ensino Superior, 31% acreditam que a Educação vem em primeiro lugar. A diferença de percepção quanto à qualidade da Educação Básica oferecida às crianças e jovens brasileiros também varia de acordo com o nível de escolaridade e a classe social.

Quanto mais baixas a escolaridade e a classe social, menos importância as péssoas dão à educação. Isso faz com que não apenas desistam de mandar os filhos à escola quando há obstáculos, mas também com que não tenham incentivo para cobrar melhores condições para os filhos ao governo. Por outro lado, a elite educada, embora se preocupe com o ensino básico — até porque a má qualidade a obriga a pagar pelo ensino — também não tem motivos para chiar, pois não manda os filhos para a escola pública. Assim fica difícil melhorar qualquer coisa.

Não é que as pessoas estejam erradas em identificar na saúde, emprego, miséria, corrupção, insegurança e drogas as piores mazelas do país. O problema é ver a árvore e perder a floresta, ou seja, não perceber que os fatores que levam a eles são complexos e têm relação direta com a ignorância.

17 de novembro de 2006, 10:36 | Comentários (12)

miolos... miolos...

16 de novembro de 2006, 14:07 | Comentários (14)

brasileiro não desiste nunca

Eduardo Azeredo recuou sobre a identificação de usuários em seu projeto substitutivo sobre o combate aos crimes cibernéticos. No entanto, faz beicinho quanto a isso e ainda tem esperanças de que seja aprovada ao menos a armazenagem dos logs de IP por três anos — o que a maioria dos provedores já deve fazer de qualquer jeito.

Melhor assim. Mas ainda melhor seria se, em vez de criar mais alguns artigos no Código Penal, os deputados se dessem conta de que a maioria dos "novos" crimes cai em alguma das categorias de fraude, estelionato e formação de quadrilha, ou em injúria, calúnia e difamação. Em vez de se preocupar em criar condições para que a Polícia Federal investigue melhor, ou mesmo com a educação dos usuários, o que reduziria muito a eficiência das táticas usadas pelos criminosos, preferem criar uma lei bonitinha para dar a impressão de que algo concreto foi feito.

14 de novembro de 2006, 18:40 | Comentários (6)

mais uma chance de criar caso

A Secretaria Municipal de Planejamento promove nesta terça-feira, dia 14, uma oficina sobre a revitalização do Centro. Supõe-se que os participantes poderão dar suas sugestões para o programa Viva o Centro. Infelizmente a oficina acontece no horário de trabalho da maioria dos mortais, das 8h30 às 18h, no Hotel Everest — cujo coffee break, por sinal, é muito bom.

13 de novembro de 2006, 10:10 | Comentários (0)

google não entendeu a linguagem

Se entende a Internet, o Google não entende a linguagem. Estão chateados porque as pessoas transformaram o nome da empresa em verbo. Não satisfeitos em fazer beiço, ainda dão sugestões de como usar e de como não usar a palavra "Google". O texto todo tem um certo tom ameaçador:

Usage: 'Google' as verb referring to searching for information via any conduit other than Google.
Example: "I googled him on Yahoo and he seems pretty interesting."
Our lawyers say: Bad. Very, very bad. You can only "Google" on the Google search engine. If you absolutely must use one of our competitors, please feel free to "search" on Yahoo or any other search engine.

Alguém por favor envie obras sobre lingüística à diretoria da empresa e a seus advogados. Se entrar nessa briga, o Google vai parecer tão patético quanto a RIIA processando usuários para tentar acabar com a troca de arquivos MP3 em redes P2P.

Dica da Sabrina.

11 de novembro de 2006, 14:02 | Comentários (15)

bússola política

Quer saber sua posição política? Tente o questionário do Political Compass. Já o quiz de frases atribuídas a políticos e pensadores famosos traz muitas surpresas.

O resultado aqui foi de -4 para visão econômica e -5,9 para visão de mundo, o que resulta quase no meio do quadrante "esquerda libertária". Na mesma posição do espectro político estão Gandhi, Nelson Mandela e o Dalai Lama. Uma companhia nada desprezível.

10 de novembro de 2006, 11:19 | Comentários (32)

azeredo for dummies

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Preencha o formulário em três vias indicando seu nome, endereço, RG, CPF, o site para o qual você quer enviar o conteúdo e o comentário que você quer que seja postado online. Não esqueça de assinar.

Saiba como será a nova Internet brasileira, caso a proposta de Azeredo seja aprovada.

9 de novembro de 2006, 10:53 | Comentários (8)

as palavras não valem mais nada
Assim, o antigo aliado dos Estados Unidos foi sentenciado à morte por crimes cometidos quando era o melhor amigo de Washington no mundo árabe.

Sobre a condenação de Saddam Hussein à forca, pouco mais pode ser dito do que a coluna de Robert Fisk reproduzida abaixo. E que qualquer ser humano consciente deveria ser contra a pena de morte, mesmo para — e talvez principalmente — os monstros.

Continue Lendo...

8 de novembro de 2006, 11:12 | Comentários (25)

azeredo tem nome manchado mundialmente

O caso do substitutivo de projeto de lei proposto pelo senador Eduardo Azeredo e atualmente em suspenso no Congresso deu no Boing Boing. Agora Azeredo não se elege mais nem para síndico não apenas no Brasil, mas nem mesmo em Burkina Faso.

Não se metam com os nerds, excelências.

8 de novembro de 2006, 9:30 | Comentários (7)

free the internet!

Será que o Láudano está recebendo dinheiro do Marcos Valério? CPI já!

Em outras notícias, o Rodrigo Alvares apurou que o Bradesco, um dos maiores interessados na exigência de certificação digital, financiou a campanha de Azeredo. Haverá fogo na origem dessa coluna de fumaça?

O Senado, por sua vez, retirou da pauta de votação o projeto substitutivo proposto por Azeredo. Ficou para daqui a duas semanas, quando provavelmente ninguém mais se lembrará do assunto e poderão dar uma morte discreta à proposta.

7 de novembro de 2006, 17:27 | Comentários (5)

o bananão nunca decepciona

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Olhe bem para o rosto do homem acima. Este senhor de meia-idade, até um pouco simpático, é o inimigo público número um da Internet brasileira. Este homem, o senador tucano Eduardo Azeredo, é o responsável por um projeto de lei medieval que pretende controlar o fluxo de informação no ciberespaço.

De forma bem resumida, qualquer transação — no sentido informático do termo — feita entre servidores ou pessoas físicas e jurídicas brasileiras deverá ser armazenada por três anos, junto com dados como o CPF/CNPJ, endereço e telefone da pessoa. O Láudano dá uma explicação extensa e fala com muito mais propriedade sobre as conseqüências da aprovação desse projeto. Solon promete se mudar do Brasil, enquanto o Walter lembra que quem ganhará com isso serão os "cartórios" de autenticação digital.

Não há muito a acrescentar sobre os textos dos três, exceto que eles não se propõem a fazer nada. Como este é um blog de esquerda, é preciso inventar alguma comunistice. Logo, sugere-se usar os dados para contato com o senador para aporrinhar-lhe o saco. Aproveitem para pegar os dados da Comissão de Constituição e Justiça e enviar mensagens de apelo e informação a seus integrantes.

Abaixo, uma lista de endereços eletrônicos da CCJ e um modelo de cartinha.

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6 de novembro de 2006, 19:09 | Comentários (23)

leitura na escola é um fracasso

O Ibope fez uma pesquisa sobre os hábitos de leitura dos gaúchos e concluiu que o índice no Estado é quase três vezes maior do que a média no resto do Brasil e o dobro da América Latina. Outro ponto interessante é que os livros de auto-ajuda, sempre no topo da lista de mais vendidos, não são os mais lidos. Mas as boas notícias terminam aí.

Os livros religiosos respondem por 24% do total de leitura dos gaúchos. Outros tipos de ficção, como romance, conto e infantil, ficam com 20% cada um. A auto-ajuda soma apenas 9%. Nada contra ler sobre religião, o problema é saber até que ponto este tipo de livro não compreende a auto-ajuda classificada de forma errônea. De qualquer modo, não se pode dizer que todo mundo está lendo Balzac, Dostoiévski, Rosa ou Melville, como o alto índice de leitura poderia fazer pensar. A pesquisa também jogou por terra a idéia de um mercado literário gaúcho, já que somente 32% dos entrevistados costumam comprar livros.

O mais grave, entretanto, é o seguinte dado: "Do público geral da pesquisa, 12% lê para a escola ou universidade, mas a porcentagem aumenta para 35% entre aqueles com até 15 anos, caindo para 21% entre os 16 e 24 anos." Ou seja, depois de ler obras abjetas como Escrava Isaura e Ana Sem Terra ou difíceis como Memórias Póstumas de Brás Cubas, boa parte das pessoas desiste de manter a leitura como hábito. Isso, mesmo com a média relativamente alta de livros lidos por ano. É preciso mudar urgentemente o modelo da disciplina de literatura no ensino médio, se a idéia for mesmo formar leitores.

6 de novembro de 2006, 11:16 | Comentários (19)

mondo estudo

Amanhã, às 10h30, apresentarei o trabalho "O papel do webjornalismo participativo" no IV encontro da SBPJor. Será lá na Fabico, mesmo. Quem se interessa em saber como o público vai tomar conta do jornalismo e acabar com nossos empregos, apareça.

Tá, tá, a parte de "tomar conta do jornalismo" foi piada.

5 de novembro de 2006, 20:35 | Comentários (3)

a única saída para o brasil é guarulhos

Então, por que não emigrar para o Québec? O requisito fundamental é falar francês e ser capaz de se adaptar a culturas diferentes — e ao frio, claro.

4 de novembro de 2006, 10:45 | Comentários (4)

da série "coisas que eu queria ter criado"

Melhor blog de todos os tempos.

Dica do Pilger.

2 de novembro de 2006, 12:28 | Comentários (16)



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