nós que aqui estamos.
Minha mãe tava na sala vendo uns pedaços do "Nós que aqui estamos por vós esperamos". Procurava uma música do Wim Mertens que, tinha certeza, fazia parte da trilha. Sentei pra relembrar um pouco. Logo mais entrou a música, junto com a vida preto e branco de uma série de pessoas. Bem, vocês conhecem o filme. Sentada ali, revendo a coisa toda, me arrepiei todinha e logo percebi que é realmente muito simples causar esse efeito. Não estou dizendo isso pra desmerecer a obra ou qualquer coisa assim, que acho excelente. É apenas uma constatação de que colocar imagens de gente na fila da sopa em 1929, cenas de guerra, operários pendurados em arranha-céus em construção, tudo isso acompanhado de uma música sensível, triste e grandiosa, só pode dar nisso (no espectador minimamente instruído): a evocação de um certo pertencimento na dor de todo o planeta, e de que tu ali é um produto de tudo isso que veio antes.

Algumas "tragédias" históricas marcaram muito a minha infância. O Hindenburg pegando fogo e sobretudo o desespero na voz daquele homem. Aquela ponte indo pra cima e pra baixo como se fosse um maldito mar. O Titanic e o Jack, o estripador (sim, eu devia ter ALGUNS problemas).

Quanto mais vastas ficam as coisas, mais a gente se AFUNDA, essa é a real. Que insatisfação enorme. Pode rir aí, mas domingo aquele tempo horroroso e eu num sítio em Gravataí e bateu uma tristeza, porra, eu podia estar entrando num barzinho enfumaçado de Nova York, desses que tem que descer escadas. É, eu ainda não devo ter crescido. Deitada na rede e ouvindo um John Coltrane, pensei na quantidade de arrependimentos e frustrações que eu vou acumular na vida. É injusto que a gente só possa começar uma vez, e que às vezes nasça com tão pouco dispoção ao risco.
Fiquei tremendo de medo.

postado por Carol Bensimon as 13:24 | pitacos (4) | trackBack (0)

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