alô? tô na agência.
Uma morte fez alguém fazer as pazes comigo (pelo menos até o começo da tarde).
Semana passada, um publicitário conhecido do mercado e professor da Fabico descobriu que estava com leucemia. Ontem ele morreu. Eu achava que nós já tínhamos nos encontrado numa entrevista, mas vi fotos dele e identifiquei meu engano. De qualquer maneira, a morte abalou aqui, como sempre abala a morte e sobretudo as súbitas e muito precoces. A morte assim tem um raio imenso de conseqüências. Uma delas, a de que ela (a amiga, não a morte) fez as pazes comigo. A morte é, como ela disse, um Natal exagerado: chega perto e os desentendimentos se encolhem, passa-se por cima das picuinhas.
Ontem eu fiquei em casa, mas pensei em sair por causa da morte. A morte, além de amenizar os atritos, também dá uma pressa enorme de viver, e nos deixa intolerantes com a rotina, com o trabalho, com os compromissos, "Por que eu tô aqui me incomodando se a vida é tão frágil e eu preciso é curtir?". A morte nos deixa meio imaturos também.
Se a morte mexe em tudo que está em volta, mexe mais é quanto mais perto, aí sim tem o poder de fazer rodar: está provado que os que tiveram doenças terminais, escaparam por pouco de um tiro ou presenciaram a agonia final de um filho, de um marido, esses partem logo pras mudanças radicais. As mudanças radicais que a gente sempre quer fazer, mudar de profissão, de país, enfim, mudar completamente a vida toda, enquanto a preguiça e o conforto da situação nos mantém na linha reta.
Hoje eu fui comer com os guris dos computadores ao redor. Adensou-se o papo depois da sobremesa, cheguei a me assustar. Todos reclamavam, mas sem energia, resignados, decepcionados consigo mesmo, profundamente tristes, exatamente como eu. Houve, na dor, um sentimento quase místico de coletividade. E eu me lembrei que ainda essa semana ria do Vinicius, que em certa altura dizia assim: "É melhor sofrer junto do que ser feliz sozinho".

postado por Carol Bensimon as 15:53 | pitacos (7) | trackBack (0)

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