berlim.
Para saciar a curiosidade daqueles que me perguntam de Berlim, e pedindo desculpas antecipadas pela rima, Berlim não é para mim. Dormimos pela Alsácia e acordamos quase em Berlim. A experiência do trem noturno fora excepcionalmente divertida. Chegamos em Berlim e seguimos as instruções do site do albergue. Um bom albergue exalando coolzice. Algo bem Berlim. Rock tocando alto na recepção a partir das sete da manhã. Depois de um tempo, essas coisas tão mudeeerrnas começam a irritar, e eu ficava torcendo por uma toalha floreada no café da manhã, uma faxineira assobiando Frank Sinatra, mas nem. O tempo estava cinza e chuvoso, não mais cinza do que Paris em alguns dias - o problema lá é que não há nada que COMPENSE o cinza, do tipo uma simpática boulangerie ou uma fila interminável de prédios art nouveau. Em silêncio pensando no quanto sou old fashioned - porque não há nada pior do que ser uma companheira de viagem reclamona - fomos em direção à Alexanderplatz. Nada melhorou. Há supostamente uma fonte lá que merecia uma visita. Não merecia coisa nenhuma. E havia muitos buracos, guindastes, barulhos. Entramos numa loja de departamento e compramos coisas mudeeerrnas. Saímos e continuamos turistas, passamos por grandes avenidas, ou pedaços do antigo muro, ou prédios novos de vidro, ou prédios que choravam e cartazes de festas com música eletrônica e grafites e muito pouca gente, impressionantes pouquíssimas gentes mesmo onde se espera encontrar grande quantidade, como numa estação importante de metrô. Então há esse grande número de restaurantes e bares que parecem não receber ninguém. Estranha impressão, e caminhávamos por uma rua que me foge o nome, supostamente Champs-Elysées de Berlim, e eu pensava Onde é que se meteram todos?, e que talvez fosse ainda um tipo de hábito criado pela guerra ou sei lá. Nesse dia visitamos o Topografia do Terror, uma espécie de museu a céu aberto onde antes a SS estava concentrada. Saí de lá pesada e quieta.
Cadê o centro dessa cidade? Obviamente não há. Nos divertimos em seguida tentando compreender os anos de muro. Fomos ao Checkpoint Charlie, um dos pontos de passagem de um lado para o outro da cidade, e que é agora um museu desorganizado, mas interessantíssimo, sobre histórias de fuga para berlim ocidental e coisas do gênero. Ficamos lá um bocado de tempo e sem querer roubamos dois mapas, que achávamos ser gratuitos. Decobrimos horas depois as etiquetas com os preços e ficamos mais leves e criminosas.
Enfim, fizemos mais do que isso, mas não convém ficar relatando detalhe por detalhe. Ainda quando estava lá, li um amigo comentando aqui mesmo no blog: conhecer Berlim é um mal necessário. A frase se encaixou um pouco com o que eu estava sentindo, e virou meio que o mote daqueles dias. Dois dias atrás, no telefone, um outro amigo que esteve recentemente lá me perguntou E aí, que achou? Disse que não gostei. É, ele disse, é uma cidade sem alma. Um clichê absolutamente verdadeiro (ele também é judeu, o que talvez explique parcialmente as nossas opiniões).
Há duas razões bem claras para eu não ter gostado de Berlim. Em primeiro lugar, não conseguia me desligar dos pensamentos a respeito da Segunda Guerra. Confesso que, toda a vez que via uma pessoa idosa, pensava, ahá, você estava lá. O fato de não haver quase imigrantes na cidade aumentava consideravelmente o meu desconforto. Em segundo lugar, Berlim é uma cidade para um tipo de gente o qual não me incluo. Eu sou o tipo de sentar no parque com um livro, com gosto por um pouco de provinciano e sobretudo pelo antigo. Por isso Praga me caiu tão bem, e claro que Paris. Old fashioned, é o que disse lá no começo. Berlim é pra quem está absolutamente integrado na contemporaneidade.


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Memorial aos judeus mortos no Holocausto.

postado por Carol Bensimon as 17:19 | pitacos (8) | trackBack (0)

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