deus não é grande.
Não é a primeira vez que, ao abrir o Correio do Povo a fim de conferir os comentários sobre a palestra do Fronteiras do Pensamento da véspera, tenho a impressão de que assistimos, eu e a jornalista, eventos muito distintos. Achei que deveria relevar, até abrir o jornal de hoje. Ontem foi dia de Christopher Hitchens, que fez uma ótima palestra para acabar com qualquer tipo de crença religiosa. Seu livro "Deus não é grande" já é best-seller (mais um best-seller pregando a descrença. Me faz ser otimista em relação ao futuro da humanidade). Hitchens fez uma palestra controlada e racional. Não sei o que estavam achando os crentes da platéia. A única manifestação negativa na verdade veio de uma única pessoa na hora das perguntas, quando Hitchens falou coisas sobre intervenção militar, um rápido e solitário uh.
No Correio do Povo de hoje, a manchete é "Hitchens provoca até risos". A legenda da foto: "Público riu das ironias de Christopher Hitchens ontem, no Copesul Cultural". Uma frase do texto: "O público achava até cômica a fúria do homem".
Bem, eu estava lá, e NADA disso aconteceu. Eis o que se passou. Como é habitual, após os 45 minutos de palestra, metade do público saiu e simplesmente ignorou que havia ainda mais meia hora de perguntas, como se fossem adolescentes que só foram na aula pra responder a chamada (ESSA é a elite intelectual portoalegrense? ah, ok). Bem, lá estava Hitchens então sentado na sua poltrona e esperando que chegassem as perguntas. E quem conduzia ontem a cerimônia toda (sempre muda o apresentador) era nada mais nada menos do que Anonymus Gourmet. Guarde bem esse dado. Bom, como também acontece habitualmente, por mais brilhante que sejam os conferencistas, eles sempre são umas toupeiras na hora que ganham os seus fones de tradução simultânea e não se ligam que, após ouvir a tradução da pergunta, devem tirá-los. Quase nunca o fazem, o que resulta em resposta quebradas e difíceis de acompanhar (o conferencista vai responder a uma pergunta e diz cinco palavras, escuta o tradutor fazendo o seu trabalho, diz mais cinco palavras, pára de novo, e assim sucessivamente). Ontem não foi diferente, de modo que, com essas pausas, ficava difícil saber se Hitchens já tinha terminado de responder a pergunta e portanto Pinheiro Machado podia ler a próxima, ou se ele ainda não tinha terminado o seu raciocínio. Mas não TÃO difícil assim quanto parecia ao Anonymus Gourmet, que conduziu mal pra burro todo o cerimonial. Vergonha alheia. E daí as risadas. As risadas do público (meia dúzia de pessoas, talvez) vinham pela confusão do Anonymus frente às pausas de Hitchens.
Portanto distorcer dessa forma ou é erro jornalístico, ou é para fazer-nos lembrar que o Correio agora pertence à Record. Não sei se aí já não seria paranóia demais. De todo o modo, fica registrado.

postado por Carol Bensimon as 09:51 | pitacos (11) | trackBack (0)

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