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retrato do bananão
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retrato do bananão
Estava prestes a enviar um e-mail de desculpas ao governo e a Lula, ao ver a manchete da Veja da semana passada, mas nem o erro cometido pelo comandante do vôo TAM 3054 consegue eximir esse governo da parcela de culpa que se imaginava terem no acidente: a boa e velha falta fiscalização e planejamento. Em resumo, ausência de Estado.
O piloto cometeu um erro durante o pouso, deixando o manete em posição errada e impedindo o avião de frear — ao menos é o que as informações das caixas-pretas sugerem, mas a investigação da Aeronáutica ainda precisa comprovar. Isso já aconteceu duas vezes com o Airbus de mesmo modelo, uma em Taipei, outra em Manila. Nessas duas ocasiões, apenas três mortes. Motivo? Não existe uma megalópole em volta de uma pista curtíssima de aeroporto.
Como o Solon já apontou no caso da queda do avião da Gol, raramente um desastre aéreo acontece por uma causa isolada. Mesma coisa nesse caso. Os fatores envolvidos até agora no acidente parecem ser:
1. Erro do piloto.
2. Preguiça da Airbus em melhorar o sistema de travamento do reverso (se é que isso é possível).
3. Submissão ao lobby imobiliário pelo governo paulista, que permitiu até a construção de um hotel de 50 metros nas cercanias de Congonhas (Kassab, prefeito chegado num factóide, prometeu cassar o alvará).
4. Submissão ao lobby das companhias aéreas, que desviam até vôos Porto Alegre-Buenos Aires para São Paulo, porque é mais lucrativo.
5. Preguiça dos passageiros em pousar em Guarulhos e depois viajar até São Paulo, para evitar o congestionamento em Congonhas.
Onde entra o presidente? Não entra, esse é o problema. É verdade que a situação chegou a esse ponto por décadas de descuido. Mas essa explicação não serve. Se não queria resolver os problemas deixados pelos militares, por Sarney, Collor, Itamar e FHC, que Lula não tivesse se candidatado à presidência. E o governo nem mesmo pode se dizer surpreso com problema, porque o caos aéreo está instalado já há mais de um ano e nada foi feito para resolver.
Pior, quando Lula decidiu se meter, foi para quebrar a hierarquia da Aeronáutica e aprofundar ainda mais o problema com os controladores de vôo. Todas as medidas que foram tomadas pelo governo na semana do acidente deveriam ter sido tomadas há um ano, pelo menos. O fato de se ter resolvido agora desafogar Congonhas mostra apenas que o governo não teve vontade de fazer isso antes, porque não queria contrariar os interesses das companhias aéreas, nem irritar ainda mais os passageiros. Tentou evitar perdas maiores de popularidade. Inclusive, a rapidez com que as medidas foram anunciadas prova que os planos já deveriam existir, mas não foram concretizados sabe-se lá o porquê.
Isso sem falar na escolha de um político, em vez de um especialista em aeronáutica, para dirigir a agência responsável pelo setor, e na manutenção de um ministro da Defesa que se mostrou incompetente para eliminar o problema. Ambos se preocuparam apenas em jogar a responsabilidade um no outro pelas pendências estruturais. Pode até ser que exista um vácuo de responsabilidade hoje no setor aéreo, mas o responsável último pela aviação é o governo federal.
Repito: Lula e seus assessores e ministros poderiam ter começado a fazer algo para resolver a crise aérea há mais de um ano. Não fizeram nada. Agora que mais centenas de pessoas morreram, diz que, para variar, não sabia de nada. Trata-se em minha opinião de um irresponsável cuja única preocupação é se aferrar com unhas e dentes ao poder. Enquanto isso, algumas pessoas afirmam com a maior nonchalance que a mídia está se aproveitando do caso para derrubar o governo. Deve ser por isso que estão se adiantando às investigações e condenando os pilotos, o que livra a cara do governo. Aliás, é preocupante que o vazamento no mínimo impróprio de informações das caixas-pretas, que interessa apenas ao governo, tenha ocorrido em uma CPI cujo relator é do PT.
Para finalizar, dois comentários. Não critiquei a TAM por reconhecidamente adotar práticas selvagens de capitalismo, o que leva a esse tipo de coisa, porque no fim das contas esse é o papel de uma empresa. O papel dos governos é fiscalizá-las e não permitir que os interesses dos acionistas ponham os cidadãos em risco.
Em segundo lugar, engana-se quem diz que essa é uma indignação burguesa, porque só a classe média alta seria prejudicada pelo caos aéreo. Quando negócios deixam de ser fechados, cargas deixam de ser transportadas, investidores começam a procurar outros países porque o Brasil não oferece infraestrutura decente, o proletariado têm menos empregos à disposição.
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