disarm you with a smile.
Algumas coisas bagunçadas sobre o desarmamento, porque realmente descobri que não vou ter tempo nunca de escrever um tratado decente.

Mesmo que a vitória do Sim não venha a fazer muita diferença prática, seja por incompetência em manter o estatuto, seja porque o próprio não apresenta mudanças drásticas, acho inconcebível que pessoas "esclarecidas" se alinhem ao Não e seus argumentos simplistas e furados. Já viu a propaganda? E esqueça que uma tem o padrão Globo e logotipozinho aqua e a outra seja um tanto quanto amadora. É claro que não é essa a diferença que estou apontando. O que a propaganda do Não faz? Mostra que há violência. Mostra que a polícia é incompetente, ou insuficiente. Então os caras vão lá entrevistar um sujeito que mora num sítio e o sujeito É, eu tenho uma arma, porque vá saber o que pode acontecer e quanto tempo demorará pra chegar alguém. Mas, ei, ninguém pergunta se o cara já usou a arma, e se ela efetivamente salvou, ou poderia salvar, sua família. Por que o Não não mostra reações que deram certo então? Pessoas que foram salvas por uma arma, que deram tiros pra cima e espantaram ladrões. Não é nisso que os alinhados com essa posição acreditam que as armas podem fazer por eles? Então porque não vemos nunca esses exemplos bem-sucedidos? Ao invés disso, nos mostram pessoas dizendo Eu nunca pensei em ter uma arma, mas não quero perder o direito de ter. Ah, qualé, isso parece birra de criança. Liberdade, livre-arbítrio? Então quem sabe não brigamos pelo direito de não usar cinto de segurança ou coisa assim? Sim, é absurdo e burro, mas parece mais plausível, afinal, o não uso do cinto só prejudica ao que dele abre mão, enquanto a arma, na maioria dos casos, é usada contra o outro.

Outra: mais de uma vez eu ouvi os Não argumentando que Ó, se alguém for assaltar a tua casa, tu vai ter a certeza que nenhum vizinho virá te ajudar, porque ninguém terá arma. Bem, em primeiro lugar, os vizinhos, ao menos os meus, não parecem tão altruístas assim. Em segundo, e mais importante: se alguém me assalta, eu digo Leva. Não quero que ninguém venha dar de herói, porque daí a probabilidade de dar merda é gigantesca. Estar num banco com um brigadiano, por exemplo, que certamente reagiria a um assalto, me causa enorme tensão. Não preciso dizer que isso vemos no jornal todo dia – heroísmos que viraram pesadelos. Já os sucessos, bem, eu juro que não tenho visto nenhum.

E essa história de "bandido" e "cidadão de bem"? A simplicidade desse raciocínio me revolta. Para um cidadão de bem virar bandido, é uma barbada. Basta uma dose de agressividade, por exemplo, outra de álcool, uma mulher traindo e pronto. Falar em bandido e cidadão de bem é mais do que maniqueísmo, é um preconceito gritante. Porque dentro de suas cabeças estão todos pensando em gente pobre e gente de classe média. Give me a break.

O que o desarmamento espera é justamente diminuir as mortes entre os "cidadãos de bem". Esses que, por um impulso, atiram. Mas eu nao preciso dizer tudo isso, não é mesmo?, porque todo mundo já sabe que o que está em discussão não é uma vã tentativa de acabar com a violência e blá blá blá. E não me venha dizer que, quem mata, mata com faca, cinto no pescoço e etc. Para isso, tenho certeza que é preciso estar MUITO mais determinado. A arma de fogo banaliza a morte.

Votar Não é acreditar na agressividade, na que o outro e na que você pode produzir. Nenhuma das duas coisas me parecem muito saudáveis. Primeiro, porque o melhor jeito de salvar a sua vida caso ela esteja em risco é provavelmente não fazer nada. Segundo, porque enxergar tudo como uma ameaça, na rua, em casa, no carro, torna a vida pesada demais.

postado por Carol Bensimon as 17:27 | pitacos (11) | trackBack (2)

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