100 livros essenciais.
A Bravo lançou esse mês uma edição especial, 100 Livros Essenciais da Literatura Mundial, como já haviam feito com a literatura brasileira e o cinema.
Apesar de uns erros grostescos de revisão, não pude desgostar: me amarro além da conta em listas. Sempre sei que lá estará O grande Gatsby, Ulisses, Crime e castigo, Lolita, O retrato de Dorian Gray. Mas há, claro, as surpresas: A ilustre casa de Ramirez (porque esse entre todos os Eças? Porque é mais curto e não chateia tanto quanto Os Maias?), O náufrago (boa surpresa), A epopéia de Gilgamesh ("...trata-se do mais antigo texto literário preservado". Não, obrigada).
Mas o mais divertido é prever os novos desafios literários, ou contemplar pela enémisa vez aquela obra que jamais lerei, ou pensar em quantas pessoas leram a primeira parte de A la recherche du temps perdu e quantos dessa chegaram até a última (e que bonito será caso eu consiga terminar lendo no original e em voz alta. Nada mais será preciso para provar o sentido da existência, ha).
Mas, de fato, o mais importante que fiz com a lista, com o apoio logístico e intelectual do Diego, foi contabilizar a quantidade de dinheiro que se gastaria comprando todos os 100 livros sugeridos, considerando a edição apontada pela Bravo (e, no caso de o livro estar esgotado, procurando uma cópia usada de preço mais baixo na estante virtual).

Resultado: R$ 5.667,96

Ou seja, nada que a gente não soubesse: impossível querer que se leia nesse país.

Mas então fomos além na trabalheira. Resolvemos procurar todas as 100 obras na amazon francesa e ver quanto um francês gastaria para ler a mesma centena recomendada.

Resultado: € 1.187,44

O que quer dizer que, além do francês poder comprar Medéia, Tartufo, Madame Bovary e outros por 1,90, provavelmente um brasileiro francophone poderia encomendar tudo isso e, depois da conversão e da taxa de importação, ainda assim sair no lucro.

A tabela de Excel ficou realmente assustadora. Por exemplo, a primeira obra da lista, que é a Ilíada, sai aqui por R$150 (dois volumes, R$75 cada), enquanto que, na França, paga-se €5,23 por ela.

Mas é claro que comparar literariamente Brasil e França só podia produzir uma anomalia. Ainda assim, diante dessa quase impossibilidade, me parece possível pensar uma coisa ou outra. A primeira delas é que vejo com bons olhos o surgimento progressivo de livros pocket produzidos no país. O pocket é a salvação mundial, e finalmente o Brasil se deu conta disso. A segunda delas é que a obra mais barata da lista, no Brasil, é Memórias Póstumas de Brás Cubas, única representante nacional dos cem livros essenciais (edição da Record por R$11 e, se não me engano, tem uma da L&PM Pocket baratésima também). Me parece lógico que isso aconteça sobretudo por razões pedagógicas. Fala-se sobre Machado na escola e obriga-se a lê-lo (para o vestibular). Talvez se, nesse contexto, se desse um pouco mais de atenção à literatura mundial, poderíamos ter um 1984 ou um Apanhador no campo de centeio muito mais acessíveis.

postado por Carol Bensimon as 13:29 | pitacos (19) | trackBack (0)

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