Comentários sarcásticos, crítica vitriólica e jornalismo a golpes de martelo por Marcelo Träsel


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jornalista irado

À moda do Angryjournalist.com, publico o desabafo de um amigo sobre a vida na imprensa:

Fora a espécie em extinção dos repórteres-especiais, caras que podem ficar um mês fazendo uma matéria sem se meter muito com o dia-a-dia, todos os outros que demonstram alguma competência são imediatamente promovidos a cargo de chefia e são afastados da produção de conteúdo. Sistematicamente, as pessoas que produzem bom conteúdo deixam de fazê-lo; sobem hierarquicamente, em cargo mais bem pagos e supostamente de mais responsabilidade. O pior é que seus colegas passam a ser pessoas que nunca produziram nada que preste, que estão naquela pelo jogo corporativo mesmo, se dariam tão bem numa empresa de comunicação ou numa fábrica de salame.

Por que a Eliane Brum ganhou o prêmio Jabuti com um livro compilando matérias da Zero Hora, apesar de estar há quase 10 anos na Época? Porque na Época ela tem que ficar fiscalizando besteiras como o Projeto Generosidade, uma idiotice vendida para meia dúzia de anunciantes que obriga todas as revistas da casa a fazer matérias sobre ONGs durante seis meses e premia com R$ 100.000 o melhor projeto assistencial. Por que o Laurentino Gomes aproveitou o sucesso do 1808 pra cair fora da Abril? Porque lá ele tinha que ficar imaginando projetos caça-níquel para iludir patrocinadores e criar maracutaias de empurrar assinaturas goela abaixo das donas de casa.

Ou o Fabio Massari, o cara que mais entendia de música na geração dele, pedindo demissão para não ter que apresentar game show patrocinado por celular. Aí tu pega uns caras tipo Guilherme Kalil, que nunca parou em redação nenhuma e teve 'Meu Nome Não é Johnny' adaptado pro cinema. O Xico Sá, que desde que 'ó meu deus, foi demitido da Folha' só aumentou o passe e a popularidade dele. Agora não ocorrem tantos nomes, mas fora o Caco Barcellos, os autores dos melhores livros-reportagem dos últimos 15 anos não estavam empregados. São 'writers' no sentido americano da palavra, status almejado por XXXXXX XXXXX e tantos outros. Some-se a isso o fato de que os colunistas, muitas vezes pára-quedistas (sem demérito, sou contra obrigatoriedade do diploma), tipo Contardo Calligaris e Diogo Mainardi, que fazem seus veículos venderem.

E aí tu chega à conclusão de que quem quiser escrever uma grande reportagem, fazer um documentário bala, tem que sair da redação. Deixa a redação pra quem quer aumentar tiragem, audiência, produtividade, eficiência, borderô, quer bolar novas estratégias para marca, criar novos produtos editoriais. A lógica, me parece, é que as empresas se especializem na embalagem, e os frilas no conteúdo. Mas cadê bolas pra testar a teoria?

Retirei um nome próprio que poderia permitir identificar o autor da mensagem, enviada a uma lista de discussão.

3 de maio de 2008, 16:45 | Comentários (16)



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