=D
Estou lendo O Jogo da Amarelinha, do Cortázar, que eu já tinha começado a ler outras duas vezes há anos, mas, por um motivo ou outro, havia abandonado. E há um trecho - não, na verdade há muitos trechos, mas o que interessa pro que vou dizer é esse trecho que fala em solidão e diz que somos como árvores, os troncos distantes e imóveis que nunca se encostam, e os galhos então fazendo leve contato uns com os outros nos seus movimentos. E de repente eu estava pensando num tipo de relação fascinante, que não são as amizades concretamente estabelecidas, essas como galhos que se tocam todo o tempo e sim, são ótimas, mas estava era pensando nessas ligações etéreas, dum rápido encostar, que é como receber pelo correio um pedaço de jornal sobre hotwheels (porque um dia comentei que os usaria no meu romance) com um post-it rosa escrito "para carol bensimon"; enviar o vídeo da dancinha a uma garota na Namíbia e saber que ela ia sentir igualzinho a mim (e chorar-de-pertencimento); ter combinado de ler um livro ao mesmo tempo com meu amigo dos mails longos, só pra podermos comentar depois (e lemos, e comentamos); passar uma noite gelada em São Chico com uma estufinha que estava a ponto de incendiar o quarto com esse amigo que vejo uma vez por ano, mas que, quando vejo, me faz repensar toda a vida; trazer pra Porto Alegre o guarda-chuva de cavalheiro de São Paulo; receber, em São Paulo (agosto), vinte deliciosos bombons de cupuaçu de uma menina de Belém do Pará que nunca vi.
Eu sei, parece bandeja do McDonald's, mas parece também o sentido da vida.

postado por Carol Bensimon as 22:28 | pitacos (10) | trackBack (0)

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