Comentários sarcásticos, crítica vitriólica e jornalismo a golpes de martelo por Marcelo Träsel


nada como ganhar dinheiro para fazer o que se gosta

Alguns de vocês devem ter percebido o banner animado ali na coluna da direita. Trata-se de um projeto capitaneado pelo Cardoso para a agência Sinc: o blog O de sempre nunca, patrocinado pela Bavária Premium. Um convite que me animou bastante, porque volto a escrever junto com gente que admiro, como o Daniel Pellizzari, a Cecília Gianetti, o Parada e o próprio Cardoso, todos amigos. Não conheço pessoalmente o Arnaldo Branco, mas sempre admirei os quadrinhos dele.

Espero que gostem.

26 de outubro de 2008, 18:04 | Comentários (10)

dissertação premiada

Recebi hoje a tarde a notícia de que minha dissertação de mestrado, A Pluralizacão no Webjornalismo Participativo: uma análise das intervenções no Wikinews e Kuro5hin, foi considerada a melhor dissertação na área de Jornalismo no ano de 2007 pela SBPJor e portanto agraciada com o Prêmio Adelmo Genro Filho.

É uma grande recompensa pelo esforço que dediquei a esse trabalho e, também, um sinal de que os pesquisadores em Jornalismo no Brasil estão cada vez mais com os olhos voltados para os desafios e mudanças colocados pela Internet. Prova disso é que Marcos Palácios foi premiado como pesquisador sênior e a melhor tese foi a de Suzana Barbosa. Ambos são da UFBA, referência em Jornalismo Digital no país.

Em novembro estarei na Universidade Metodista, em São Bernardo do Campo, apresentando um trabalho sobre o Twitter e recebendo o prêmio no 6º encontro da SBPJor.

22 de outubro de 2008, 16:34 | Comentários (15)

a questão do diploma de jornalismo

O Alex Primo recentemente publicou um texto criticando o movimento em defesa da manutenção de exigência do diploma de jornalismo para exercer a profissão, por ter objetivos corporativos e perder de vista questões mais profundas, como a qualidade da formação dos jornalistas. Vinha acompanhando o debate meio de longe, mas como o Alex perguntou o que tinha achado do texto e não se ignora pergunta de orientador de mestrado, andei refletindo sobre o problema.

A conclusão é que as ferramentas de publicação na Web contemporâneas permitem a qualquer pessoa com acesso a um computador conectado manifestar-se na esfera pública e, portanto, neutralizam de saída argumentos em ambos os lados do debate.

Por um lado, é ridículo e absurdo o argumento de defesa da liberdade de expressão apresentado pelos que exigem o fim da exigência de diploma. Dizem eles que essa exigência bloqueia o acesso de todos aos meios de comunicação de massa e, assim, seria inconstitucional. Porém, hoje em dia ninguém precisa ter acesso aos meios de comunicação de massa para expressar sua opinião. Basta criar, gratuitamente, um blog, ou mesmo enviar artigos para os dezenas de projetos de webjornalismo participativo que existem por aí -- muitos deles, aliás, dentro dos próprios veículos digitais da mídia de massa.

Além disso, a exigência de diploma não impede ninguém de fazer jornalismo. Qualquer um pode se inscrever no vestibular de qualquer boa universidade, estudar, passar na seleção, freqüentar o curso de Jornalismo por quatro anos e obter seu diploma. Aliás, o melhor argumento da oposição ao diploma encontrável na Web pode ser resumido da seguinte forma, nas palavras de seu próprio autor:

1. Não se verifica essa condição necessária porque existem pessoas capacitadas para exercer o jornalismo sem serem graduadas em jornalismo.

2. Não se verifica a condição suficiente não é válida porque existem pessoas graduadas em jornalismo e que não são capacitadas para exercer essa profissão.

3. Conseqüentemente, a graduação em jornalismo não é condição necessária nem condição suficiente para a capacitação para o exercício dessa profissão.

Nessa linha de raciocínio, se alguém estudar a bibliografia do Direito e conseguir responder corretamente o suficiente à prova da OAB, deve-se imediatamente eliminar a exigência de formação na área para ser "doutor". Da mesma forma, se juízes elaboram sentenças completamente desprovidas de conhecimento de causa em, digamos, processos envolvendo o uso da Internet, a condição suficiente do diploma em Direito não seria válida, porque existem pessoas graduadas na área incapazes de exercer a profissão. Aliás, o fato de existirem médicos, contadores e engenheiros incompetentes levaria à mesma conclusão sobre a exigência de diploma nessas profissões. Esse argumento é tão falacioso que faz acreditar quando as associações de jornalistas e acadêmicos denunciam uma conspiração dos empresários do setor.

Por outro lado, o diploma pode até garantir um nível mínimo de qualidade para o jornalismo, mas isso se restringirá apenas à mídia de massa e a alguns portais de notícias. Os jornais cada vez mais perdem leitores para a mídia social na Web, onde de qualquer maneira conteúdo produzido por amadores se mistura ao conteúdo produzido por profissionais em um grande carnaval. Não se pode negar que muitos desses amadores são mais competentes em suas áreas do que jornalistas, embora a maioria esteja bem abaixo do nível dos profissionais. É saudável que os amadores hoje possam disseminar suas idéias e opiniões via Internet, porque em casos específicos sabem mais sobre determinados assuntos do que os profissionais. Porque essa possibilidade se concretizou, também, os jornais podem ser deixados para os jornalistas.

É difícil simpatizar com a Fenaj e os sindicatos, no entanto, porque estão adotando estratégias de luta política em lugar de promover um debate racional. Isso não seria problema se estivessem tentando avançar uma agenda trabalhista qualquer. Quando se defende a formação universitária em Jornalismo como forma de garantir a qualidade da notícia, porém, espera-se que ao menos os defensores do diploma pratiquem bom jornalismo. Só que bom jornalismo raramente combina com agendas políticas. Um exemplo: na academia e nos círculos de debate ético da profissão é comum criticar o uso de sondagens de opinião como material noticiável durante campanhas eleitorais. Porém, a Fenaj não se furtou de usar as armas do inimigo na luta pelo diploma e está se valendo de uma sondagem como se ela representasse a verdade. Atitudes como essa servem apenas para dar argumentos a quem os acusa de mero corporativismo.

As associações também têm sido acusadas de não dar espaço para o outro lado no debate. Não que o "outro lado" esteja se comportando melhor, mas, de novo, é preciso dar o exemplo se queremos defender o jornalismo.

O fato é que atualmente a comunicação é um bem não-rival. Há 20 anos faria sentido combater a exigência de diploma com base no direito à liberdade de expressão. Apenas aqueles que tinham concessão do governo para usar o espectro eletromagnético com emissões de rádio e TV ou aqueles com poder econômico suficiente para imprimir um jornal ou revista podiam atuar midiaticamente. A. J. Liebling sintetizou essa situação em sua célebre frase: freedom of the press is guaranteed only to those who own one. Hoje, não mais. A Internet contrabalança o poder da mídia de massa. É claro, ainda é mais fácil um discurso ganhar relevância aparecendo em rede nacional de televisão do que num blog, mas há casos suficientes de denúncias partindo da mídia social e ganhando a imprensa para se postular a insuficiência do argumento da liberdade de expressão.

Infelizmente não se tem visto essa idéia sendo levantada pelos defensores do diploma. Talvez a explicação esteja na desconfiança que determinados setores da imprensa e academia nutrem pela mídia social -- desconfiança da qual o Sindicato dos Jornalistas gaúcho dá um exemplo em sua posição sobre os blogs informativos. Se não estivessem preocupados em colonizar os novos canais de comunicação com interesses corporativos, talvez pudessem perceber que a mídia social é a maior aliada do Jornalismo nesse momento, porque permite o acesso à esfera pública por vias exteriores à imprensa.

Se a exigência de diploma não garante por si só uma maior qualidade da informação, como lembra o texto do Alex Primo, muito menos é um atentado à liberdade de expressão e à Constituição. Os interesses da qualidade da informação e da liberdade de expressão estão assegurados, a meu ver, pela mídia social. Isso torna a exigência do diploma mais uma questão trabalhista do que de democratização da comunicação. E avaliando a exigência de diploma como questão trabalhista, considero melhor mantê-la.

Os sindicatos e a Fenaj têm razão quando dizem que a eliminação da necessidade do diploma pode dar margem a abusos por parte do patronato. Também têm razão quando denunciam as estranhas coincidências nas manifestações do poder Judiciário e Executivo sobre a questão. Pode-se até discutir o fim do diploma, mas particularmente prefiro que não seja através do ministro Gilmar Mendes, presidente do STF, ou de um governo petista com histórico de autoritarismo nas relações com a imprensa. Como estratégia política de curto prazo, é necessário garantir a manutenção da exigência de diploma para o exercício profissional do jornalismo.

ATUALIZAÇÃO: Como o artigo estava ficando longo, não abordei o papel da formação universitária específica em Jornalismo e como ela influi no debate. Isso já foi discutido por gente suficiente, dei preferência a abordar os pontos relativamente inéditos. Fica para um próximo post desenvolver, mas considero a educação na área uma vantagem importante para repórteres e, principalmente, empresas. Não à toa, futuros jornalistas continuam freqüentando faculdades de Comunicação onde o diploma não é exigido.

14 de outubro de 2008, 14:00 | Comentários (32)

área vip da abril ainda repercutindo

O caderno Link, do Estadão, traz essa semana uma matéria sobre o caso, para a qual fui entrevistado:

Marcelo Träsel, de 30 anos, do blog Martelada (www.insanus.org/martelada), não aceitou. “Teria de montar um blog novo. Seria muito trabalho. Se me pagassem, daí poderia considerar.”

Tenho a impressão de que essas aspas me fazem parecer preguiçoso (sou, mesmo) e mercenário (não sou).

A editora responde através de Aline Sordilli: "A Abril já produz muito conteúdo. O que queremos com os VIPs é povoar a nossa nova ferramenta de blogs.”

Deveras! Conforme inclusive sugere a matéria principal sobre o assunto, as empresas de mídia estão buscando não o conteúdo dos blogs, mas a infinidade de novas páginas diárias que são capazes de gerar todos os dias. Cada novo post é uma nova página que pode ser usada para veicular anúncios. E anúncios significam dinheiro para a Abril ou qualquer outro portal que esteja recrutando blogueiros, mas em geral não para os blogueiros.

A exigência de cessão de direitos autorais provavelmente era apenas uma proteção jurídica para a Abril, embora em tese permitisse à empresa usar textos de blogueiros em suas revistas sem remuneração, por exemplo.

O engraçado nisso tudo, no fim das contas, é que se a Abril simplesmente tivesse pedido para reproduzir trechos dos meus blogs em suas páginas, fornecendo o devido crédito na forma de um link, teria permitido na boa -- como, aliás, aconteceu com o Yahoo! Posts. Sou daqueles ingênuos dos primórdios da Internet que acreditaram no ideal de Tim Berners-Lee: um grande repositório de documentos perfeitamente intercambiáveis e relacionáveis. O que está na Web é para ser linkado. Ter de pedir autorização para citar um trecho e criar um link para determinada página é uma degradação causada por uso excessivo de advogados.

E como se ganha dinheiro com isso? -- perguntarão os probloggers. Ora, da mesma forma que os criadores da infraestrutura usada para publicar blogs, veicular anúncios contextuais e banners de programas de afiliados: convertendo reputação em oportunidades. Os inventores do modem, do correio eletrônico, do IRC, do HTML, todos o fizeram por amor à causa. Uma resposta que o repórter não usou na matéria:

Com os blogs eu angario muita reputação na Web. Esse capital social eu converto em capital financeiro através de oportunidades de emprego. Não tive um emprego sequer até hoje em cujo processo seletivo minha produção cultural na Internet não tenha contado muitos pontos.

Infelizmente, não há ideal que resista ao capital.

7 de outubro de 2008, 12:50 | Comentários (9)

centenário do cardosonline

Na noite de ontem, os felizardos que se registraram no www.inventamosainternet.com receberam a histórica edição de 100 anos do Cardosonline. Há exatamente dez anos, era publicada a primeira edição do fanzine por e-mail do qual participei junto com o André "Cardoso" Czarnobai, os Daniéis Galera e Pellizzari, o Hermano Freitas, os Guilhermes Pilla e Caon e a Clarah Averbuck. Como na Internet cada ano vale por dez, estamos comemorando o centenário.

Abaixo, a minha COLuna, para quem prefere ler aqui.

A VERDADEIRA MAIONESE

--Marcelo Träsel

Consultado a respeito de sua COLaboração nesta edição de centenário do Cardosonline, o COLunista Marcelo Träsel expressou a preferência por se manter em silêncio na varanda de casa, esperando as hordas que vêm destruir a cultura e a civilização com a espingarda calibre 12 herdada do avô e preparada para "proteger minha família, a tradição e a propriedade". O antigo co-fundador da publicação acrescentou que "teria mais prazer se vermes comessem as minhas bolas ainda em vida" do que tendo um texto seu publicado novamente junto aos "daqueles pederastas drogados filhinhos de papai". Assim, optamos por convidar o eminente crítico prof. dr. Buarque para realizar uma análise de um texto da obra de Marcelo Träsel no Cardosonline.

-- Os editores

AGORA ERA FATAL

Uma coisa é você andar por aí procurando nada e achar ouro. Antes de voltar, eu sei, precisamos provar para nós mesmos o sentido de tudo. E andar. O Cardosonline foi um veículo de suma importância no caldo de cultura primordial da Internet brasileira e, quiçá, mundial. O veículo de fato inaugurava em outubro de 1998 um novo formato, o e-zine, mailzine ou fanzine em suporte eletrônico. Era um caleidoscópio, um espelho quebrado de egotrips e opiniões motorizadas pela testosterona juvenil - sim, temos conhecimento da presença de uma colunista, ou como prefeririam os autores do dito periódico, COLunistas, a hoje escritora e mãe Clarah Averbuck, que naquelas priscas eras apresentava, outrossim, níveis muito mais altos de masculinidade do que seus COLegas - que, no entanto, ganha foco sob o prisma pós-moderno.

O COL engendrou imitadores na esteira de seus enfoques e desfoques, uma miríade de e-zines ou mailzines que colonizaram as mentes dos nerds pioneiros. Foi o blog avant la lettre. Foi o pai, a mãe e o filho do umbiguismo cultural rampante uma década depois. Destarte o interesse ora perseguido de analisar a escrita destes formadores de opinião pubescentes. Selecionamos o primeiro texto do COLunista Marcelo Träsel, tendo em conta a indiscutível importância histórica do mesmo.

>DR. ZAPATA - O Nosso Bolchevique

No título escolhido para sua coluna o autor já apresenta o leitmotif que balizará sua obra na maior parte dos três anos de duração do Cardosonline. A vida se encaminha muitas vezes diluída nas questões da modernidade. Os parâmetros se desfazem, é difícil encontrar um norte. Questões antigas - democracia, soberania, liberdade, a afirmação dos valores de um povo - ressurgem diante das nações como o fizeram em outros tempos. A globalização a tudo confunde e exige respostas a novos e a antigos desafios. Talvez nem tão novos. Talvez os mesmos de sempre. A diferença fundamental é que a luta pela liberdade já não ocorre de dorso nu e tanguinha. Nesse contexto excruciante, um jovem universitário volta seus olhos famintos de verdade e transcendência para o comunismo. Lênin. Trótski. Emiliano Zapata. Subcomandante Marcos. Apela aos bolcheviques e aos revolucionários mexicanos.

>Dis Uêi Uálcs de Iumeniti

Transformar-se ou transmutar-se? Mais que reles semântica, a indagação está no cerne da nossa experiência mesma. No caso, o autor cita o Angeli do magazine "Chiclete com Banana" para transmutar a língua inglesa em seus mínimos múltiplos comuns fonéticos, (re)significando e assim problematizando a questão do imperialismo ianque.

>Domingo passado, como todo bom brasileiro, você também foi exercer sua
>cidadania, utilizando-se do sagrado direito ao voto que a constituição lhe
>garante. Até porque, se não aproveitasse tal direito, seria simplesmente banido
>de qualquer concurso público e impossibilitado de candidatar-se a qualquer
>cargo. Ou então, foi selecionado para colaborar com o processo democrático,
>chegando na zona (eleitoral, pessoal, eleitoral) às 8hs da matina e saindo só
>às 5hs da tarde, depois de passar o dia suando em bicas e dando à sua bunda um
>certo formato cúbico, característico de traseiros que ficam muito tempo
>sentados em cadeiras duras. Ou então, teve que agüentar a reclamação da galera
>por causa daquele velho que levou 5 minutos para votar na urna eletrônica. E,
>pior, esqueceu que o estado não fornece rango para os mesários e o babaca do
>presidente de mesa, que certamente vota no PRONA, não te deixou sair nem para
>comprar um lanchinho Dizzioli. Mas, tudo bem, nada como ser um cidadão que
>colabora com a democracia.

No microcosmo das relações familiares ou no macrocosmo das intrigas políticas, o que se dá é o enfrentamento encarniçado da célula com o organismo. A premissa original (e se eu me tornasse um mesário?) é grávida de gêmeas múltiplas. E se o funcionário se tornasse patrão? O lúmpen se tornasse aristocracia? E se o Outro se tornasse o Igual? Não surpreende que Porto Alegre, palco de tantas revoluções fracassadas, seja cenário desta fábula em que um filho da Fabico manipula uma narrativa para atingir liberdade, igualdade e fraternidade. Sem embargo, a imagem da cena eleitoral é a história de todos que buscam. Logo, de todos que sonham. Logo, de todos nós.

>Mas, afinal, que tipo de direito é esse, que o cara é obrigado a exercer? Votar
>é direito ou dever? A julgar pelas penas impostas a quem não aproveita a chance
>de escolher seu candidato, certamente um dever. Em qualquer país decente,
>inclusive nos EUA, que nossos governantes tanto gostam de copiar, o voto é
>facultativo. Quem se interessa por política, sente-se um cidadão responsável,
>deposita seu voto na urna e ajuda a definir o futuro do país. Quem tá cagando e
>andando pra isso pode ficar em casa tomando cerveja ou aproveitar o feriado na
>praia, mas sabe que vai ser governado pelos que gostam de participar. Por quê
>no meu Brasil varonil, salve! salve! não é assim? Simples: se assim não fosse,
>as pessoas mais pobres, as mais ignorantes e as que moram longe das zonas
>eleitorais não iriam votar. Ou vocês acham que um agricultor que mora no sertão
>nordestino, não sabe ler nem escrever, ganha menos de 50 pilas por mês e passa
>fome ia se interessar por eleger presidente? Geralmente eles nem fazem idéia de
>quem está ocupando o trono no palácio do planalto, e certamente não gostariam
>de sair de seu santo sossego e viajar quilômetros em caçamba de caminhão por
>estradas esburacadas só pra votar num cara cujo nome vai esquecer assim que
>deixar a urna, não fossem as sanções legais que acometem os não-votantes.
>Acontece que os coronéis e a direita precisam desses votos para se
>(re)elegerem. Portanto, acharam por bem colocar na constituição escrita na
>abertura da era Figueiredo que o voto é um direito obrigatório, só para
>garantir a transição "democrática". Afinal, depois de 20 anos de ditadura,
>podia ser que o brasileiro tivesse perdido a vontade de votar.

Se é real o sonho, não me assanho. Se o agora é utopia, não topo. Lutar pelas causas políticas é dissolver-se novamente em sua sacralidade totalizante, uma transubstanciação tão sedutora que a própria sobrevivência, ainda que acidental, é que torna-se desonrosa. Enquanto a fragilidade do humano se revela na inconformidade com as mazelas sociais e na escritura de panfletos que nunca serão fundamentais, a tenacidade sobre-humana ganha contornos palpáveis no enfrentamento dos moinhos de vento da política brasileira.

=================

>Vocês viram? A RBS finalmente aprendeu. Naquela eleição para prefeito em que
>Olívio, que estava dezenas de pontos abaixo de Britto até o dia D, acabou
>tornando-se nosso alcaide e o barbudo dentuço ficou em terceiro, foi difícil
>para o Sirotski e o Ibope explicarem a mudança na cabeça do eleitor.

A mídia, ávida mídia, primeiro colocou Britto sobre um palco, depois no banco dos réus e agora no leprosário. Nas rodas intelectualóides, ao menos, a suposta intelligentsia galhofa do fenômeno político, considerado o mais recente capítulo da Grande História do Charlatanismo. Mas será mesmo?

>Provavelmente, a maioria dos portoalegrenses errou ao marcar o voto na cédula,
>ou todos ouviram uma voz lhes mandando mudar de candidato na hora em que
>entraram na urna.

E a comédia, onde há de estar? Na superfície da estética bovino-periodística. Mas por detrás das ironias, hipérboles e metáforas, sob a fartura material advinda do newsbusiness, corre o arroio seco e árido do rancor das feras feridas.

>Dessa vez, Sirotski foi mais esperto: uma semana antes da eleição, Britto
>estava 15 pontos na frente de Olívio, e tudo seria decidido no primeiro turno.
>Nos últimos 7 dias, a diferença foi diminuindo ponto a ponto, até parar em
>Britto na liderança por 5 pontos. Hoje, domingo, às 10:30hs da noite, Olívio
>conta 51% dos votos e Britto 41%. Como é que vão explicar dessa vez?

Para fazer frente a tanta espetacularização hiper-real, nosso autor, epítome de uma Porto Alegre pós-eleitoral polarizada e grenalizada, precisa resgatar primeiramente a sua própria ferocidade, num processo pungente de desconstrução do sujeito e de seus referenciais, em pleno Hades cloacal. A partir daí, e com o resgate de um sentimento de uma tribalidade até então sublimada, tão bem representada pelo uso da adaga e garrucha autóctones, é que se inicia a reação.

=================

>Domingo, 9hs da noite. O brique acabou faz tempo, você já tomou aquela ceva na
>Oswaldo e acha que sua noite vai se resumir a assistir a finaleira do
>Fantástico e o Sai de Baixo. Esquece. Dirija-se até a Protásio Alves, 1333, e
>aproveite uma noitada de domingo no Subjazz, regada a cerveja barata (Skol,
>infelizmente, mas tb tem Budweiser), som eclético e sinuca, tudo isso na
>agradável companhia da galera da cena clubber alternativete de Porto Alegre. O
>lugar é um estúdio que abre para festas aos domingos à noite, quando geralmente
>há shows de bandas dos mais diferentes estilos. Há uma mesa de sinuca (fichas
>por R$0,50), pista e uma salinha ao fundo para aquele relax consagrado. A ceva
>de 600ml custa R$2,00 , e o público feminino é ligeiramente maior que o
>masculino.

O bar não existe. A sinuca não existe. Os clientes e a cerveja também. Não existem. De ilusão em ilusão a biografia se revela. O bar é o verdadeiro eu por trás da máscara do personagem. O buraco é o vazio de uma existência anônima e solitária numa metrópole moderna. A cerveja é aquilo que somos realmente.

>---Träsel

A obra de Träsel não é um depositário, é sim um espelho para nosso aufklärung. E ao mirar nossa alma, que reflexo vemos: a alegria ou a vergonha?

Deveras!

--- Buarque

6 de outubro de 2008, 13:48 | Comentários (7)


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