hiperdocumentação 2.
Já que estamos por aí repetindo sem parar a palavra hiperdocumentação, enquanto quatro ou cinco câmeras nos atacam simultaneamente, acho que cabe citar um trecho da Italo Calvino, do conto "A Aventura de um Fotógrafo":

O passo entre a realidade que é fografada na medida em que nos parece bonita e a realidade que nos parece bonita a medida em que foi fotografa é curtíssimo. Se você fotografa Pierluca enquanto ele está fazendo o castelo de areia, não há razão para não fotografá-lo enquanto está chorando porque o castelo desmoronou, e depois enquanto a ama o consola fazendo-o encontrar no meio da areia uma casquinha de concha. É só você começar a dizer a respeito de alguma coisa: "Ah, que bonito, tinha era que tirar uma foto!", e já está no terreno de quem pensa que tudo o que não é fotografado é perdido, que é como se não tivesse existido, e que então para viver de verdade é preciso fotografar o mais que se possa, e para fotografar o mais que se possa é preciso: ou viver de um modo mais fotografável possível, ou então considerar fotografáveis todos os momentos da própria vida. O primeiro caminho leva à estupidez, o segundo à loucura.

postado por Carol Bensimon as 09:46 | pitacos (3) | trackBack (0)

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